Guerra Franco-Prussiana

A Guerra Franco-Prussiana ocorreu entre 1870 e 1871. Ela terminou com a vitória prussiana, o fim do segundo império francês e a fundação do Segundo Reich alemão.
A Confederação da Alemanha do Norte venceu a França na Guerra Franco-Prussiana.

A Guerra Franco-Prussiana foi o confronto militar entre as duas maiores potências da Europa Continental no final do século XIX. A Prússia, cuja capital era Berlim, era o reino de língua germânica com maior poder econômico e militar. Liderada pelo monarca Guilherme I e pelo primeiro-ministro Otto Von Bismarck, ela iniciou um processo chamado de Unificação Alemã, conquistando diversos reinos e integrando-os à Confederação da Alemanha do Norte.

O crescimento da Prússia ameaçava a hegemonia francesa na Europa Central, e, após um encontro diplomático mal planejado e uma série de desinformações relacionadas a um telegrama de Guilherme I, a França decretou guerra à Alemanha.

Durante a guerra, o Império Alemão foi fundado e Guilherme I foi aclamado como kaiser, o imperador alemão, no Palácio de Versalhes. Após a vitória, a Alemanha impôs duros tratados aos franceses, que gerariam o chamado revanchismo francês, um dos motivos da Primeira Guerra Mundial. Outra consequência da Guerra Franco-Prussiana foi a Comuna de Paris.

Leia também: Bélle Époque — período de grande progresso que precedeu a Primeira Guerra Mundial

Resumo sobre a Guerra Franco-Prussiana

  • Ocorreu entre 1870 e 1871, entre a França e Confederação da Alemanha do Norte, liderada pela Prússia.
  • Foi parte do processo de Unificação da Alemanha. Nesse processo, a Prússia, que era uma potência econômica e militar, conquistou militarmente diversos territórios.
  • A Prússia era uma potência econômica e militar, e sua capital era Berlim. Ela era governada pelo monarca Guilherme I e pelo primeiro-ministro Otto Von Bismarck, conhecido como o Chanceler de Ferro.
  • O imperador Napoleão III governava a França no início da guerra. Ele foi capturado pelos alemães e acabou sendo deposto durante a guerra.
  • A França possuía armamentos mais eficientes e modernos, mas foi superada na guerra pela Alemanha, que tinha uma melhor rede ferroviária e melhores táticas bélicas.
  • A França foi derrotada na guerra e obrigada a assinar dois tratados, o Tratado de Versalhes e o Tratado de Frankfurt, ambos de 1871. Com base neles, ela perdeu Alsácia e Lorena para os alemães.
  • Durante a guerra, foi formado o Segundo Reich alemão e Guilherme I foi coroado como kaiser, o imperador.
  • A derrota na guerra e as humilhações impostas pelos tratados desenvolveriam o chamado revanchismo francês, um dos motivos da Primeira Guerra Mundial.
  • No final da Guerra Franco-Prussiana, ocorreu a chamada Comuna de Paris, o primeiro governo socialista da história.

Antecedentes da Guerra Franco-Prussiana

→ Contexto da França

A França no século XIX passou por diversos momentos revolucionários, de restauração monárquica e de golpes de Estado. Em 1848, um novo momento revolucionário ocorreu na França, levando à proclamação de uma nova república. Ainda nesse ano, Carlos Luís Napoleão Bonaparte, sobrinho de Napoleão, foi eleito presidente francês.

Em 1851, Carlos Luís Bonaparte Napoleão Bonaparte deu um golpe de Estado, fechando a Assembleia Legislativa francesa, elaborando uma nova Constituição, e passando a perseguir seus opositores. Em 1852, ele aboliu a república e se autoproclamou imperador da França, passando a ser chamado de Napoleão III.

Durante os primeiros anos do seu governo, ele teve grande apoio da elite econômica francesa, dos membros da Igreja Católica, dos militares e da população em geral. A França passou por grande desenvolvimento econômico e muitas modernizações, como a construção de ferrovias e modernização da cidade de Paris.

Contudo, no final da década de 1860, após quase duas décadas de governo, Napoleão III passava por um momento de crise, em que seu governo era criticado por boa parte da sociedade e recebia pressão dos militares para entrar em guerra com a Prússia, que ganhava força na Europa.

→ Contexto da Alemanha

A Alemanha ainda não era o país que conhecemos hoje. No início do século XIX, o território da atual Alemanha era composto por diversos reinos, ducados e principados. A partir da década de 1860, iniciou-se nessa região o processo que chamamos de Unificação da Alemanha.

A Prússia, reino de língua germânica mais desenvolvido economicamente e com maior poder militar, passou a dominar territórios, principalmente por meio de guerras. A Prússia era governada pelo monarca Guilherme I e pelo primeiro-ministro Otto Von Bismarck. Em 1864, a Prússia e a Áustria se uniram e venceram a Guerra dos Dois Ducados, contra a Dinamarca. Após a vitória, a primeira anexou o ducado de Schleswig, e a segunda, o ducado de Holstein.

Em 1866, a Prússia e a Áustria entraram em guerra, que terminou com a vitória da Prússia. No mesmo ano, foi criada a Confederação da Alemanha do Norte, controlada politicamente pela Prússia.

Mapa da Confederação da Alemanha do Norte às vésperas da Guerra Franco-Prussiana.[1]

Nas vésperas da guerra contra a França, poucos reinos de língua germânica não faziam parte da Confederação da Alemanha do Norte. Esses reinos se localizavam no sul da atual Alemanha.

Veja também: Nacionalismo — ideologia que resultou na formação de diversas nações contemporâneas

Causas da Guerra Franco-Prussiana

→ O processo de Unificação da Alemanha

Esse foi um dos motivos que levaram à guerra. A Prússia saiu fortalecida após a vitória na Guerra Austro-Prussiana e ameaçou a França de perder o título de maior potência na Europa Continental. A França mantinha relações econômicas com os reinos de língua alemã que não faziam parte da Confederação da Alemanha do Norte, e os líderes prussianos, Guilherme I e Von Bismarck, buscavam integrá-los na confederação. Esse foi um ponto de atrito entre as duas potências.

Na França, Napoleão III estava com a popularidade em baixa e era pressionado, sobretudo pelos militares, para realizar um ataque à Prússia. Os comandantes militares franceses acreditavam na superioridade do seu exército e em uma rápida vitória contra a Prússia. Von Bismarck, o Chanceler de Ferro e primeiro-ministro da Prússia, acreditava que uma guerra contra a França faria com que os reinos do sul da Alemanha se unissem à Confederação da Alemanha do Norte.

→ Disputa pelo trono da Espanha

No entanto, foi um acontecimento na Espanha que levou à Guerra Franco-Prussiana. O trono espanhol estava vago desde a Revolução de 1868. Em 1870, os espanhóis anunciaram que ofereceriam a coroa ao príncipe de origem alemã Leopoldo Hohenzollern, que era primo de Guilherme I, da Prússia. Napoleão III afirmou que não aceitaria que um Hohenzollern fosse coroado rei da Espanha, pois isso fortaleceria ainda mais a Prússia e, em caso de guerra, a França teria que enfrentar dois exércitos poderosos.

Após pressão da França, Leopoldo Hohenzollern recusou o trono espanhol. O ministro das relações francês, o duque de Gramont, enviou o diplomata Vincent Benedetti para exigir que Guilherme I se comprometesse a nunca permitir que um Hohenzollern tentasse assumir o trono espanhol. Em 13 de junho de 1870, Guilherme I caminhava pelas ruas de Ems, quando o diplomata francês se aproximou afirmando que Napoleão III exigia que ele se comprometesse a não mais interferir na Espanha.

Guilherme I se sentiu incomodado e afirmou ao embaixador que essa questão já havia sido resolvida com o governo francês. Guilherme I enviou um telegrama para Von Bismark que ficou conhecido como Telegrama de Ems.

No telegrama o monarca descreveu o que ocorreu para Von Bismarck e afirmou que, se quisesse, este poderia divulgar para a imprensa o ocorrido. Von Bismarck editou o telegrama, cortando trechos dele e modificando seu conteúdo. A mídia alemã divulgou o telegrama modificado pelo primeiro-ministro, e parte da população alemã entendeu a postura da França como uma provocação.

Na França, a imprensa novamente modificou o comunicado de Von Bismarck, dando a impressão de que o embaixador francês havia sido humilhado pelo monarca da Alemanha. A pressão aumentou sobre Napoleão III, e, em 19 de julho de 1870, a França declarou guerra à Confederação da Alemanha do Norte. Os reinos do sul da Alemanha se uniram às tropas da Confederação da Alemanha do Norte para combater os franceses, como esperava Von Bismarck.

Como foi a Guerra Franco-Prussiana?

→ Batalha de Worth

A Prússia possuía mais ferrovias do que a França, e isso possibilitou que ela mobilizasse cerca de 380 mil soldados para a frente de batalha em duas semanas, tomando a iniciativa nos ataques. A primeira grande batalha da guerra foi a de Worth, cidade localizada na Lorena.

A batalha foi rapidamente vencida pelos prussianos, causando 5884 baixas para os franceses, entre mortos e feridos. Os prussianos ainda capturaram 9212 franceses na batalha. O restante das tropas francesas recuou. Os prussianos continuaram marchando para Paris, conquistando vitória após vitória.

→ Rendição de Napoleão III

Em 31 de agosto de 1870, as tropas prussianas cercaram a cidade de Sedan e obrigaram os franceses a se renderem; os prussianos capturaram mais de 100 mil combatentes; e o próprio imperador Napoleão III foi feito refém.

Quando a notícia da captura de Nepoleão III chegou a Paris, ele foi deposto e a Terceira República francesa foi proclamada. Em 19 de setembro, os prussianos iniciaram um cerco a Paris que durou quase quatro meses e dificultou a vida dos seus habitantes, deixando-os sem alimentos, carvão e água potável.

→ Criação do Império Alemão

Obra de 1885 mostra Guilherme I, figura central na parte alta, sendo proclamado imperador.

Em 1º de janeiro de 1871, os reinos alemães do sul aderiram à confederação alemã, extinguindo a antiga Confederação da Alemanha do Norte e criando o Império Alemão, considerado o Segundo Reich. No dia 18 de janeiro, no Palácio de Versalhes, Guilherme I foi proclamado imperador.

Em 28 de janeiro de 1871, a cidade de Paris se rendeu aos prussianos, que permitiram que os parisienses realizassem eleições para eleger uma Assembleia Nacional, que assinaria um acordo de rendição posteriormente.

Fim da Guerra Franco-Prussiana

Os franceses assinaram, em 26 de janeiro, o chamado Tratado de Versalhes de 1871, também chamado de Tratado Provisório de Versalhes, uma vez que, nesse documento, os franceses aceitavam sua derrota militar e todas as futuras reivindicações alemãs, que seriam expostas em um novo tratado.

Em 10 de maio de 1871, os franceses assinaram Tratado de Frankfurt, considerado o marco final da Guerra Franco-Prussiana. Pelo tratado, os territórios da Alsácia e boa parte da Lorena passaram para controle germânico.

As populações francesas que viviam nessas regiões teriam duas opções: tornarem-se cidadãs do Império Alemão ou migrarem para território francês. Além disso, os franceses deveriam pagar pesadas indenizações de guerra e permitir que tropas alemãs ocupassem o território francês até quitação das indenizações.

Saiba mais: A importante participação das mulheres na Comuna de Paris

Consequências da Guerra Franco-Prussiana

→ Comuna de Paris

A primeira consequência da Guerra Franco-Prussiana foi a Comuna de Paris, considerada o primeiro movimento de ideologia socialista a conquistar o poder, embora por curto tempo, pouco mais de dois meses.

As classes populares de Paris tiveram grande participação na resistência ao cerco de Paris. Após a assinatura do Tratado de Versalhes de 1871, as classes populares se revoltaram contra a recém-instalada república francesa, considerando seus líderes incompetentes e covardes por assinarem a rendição. Em 18 de março, eclodiu a Comuna de Paris, com a tomada da cidade pelos revolucionários de ideologia socialista.

Um conselho eleito pelo sufrágio universal governou Paris durante a Comuna, tomando medidas como: desapropriação de residências vazias; redução da jornada de trabalho; legalização dos sindicatos, entre diversas outras. A repressão à Comuna foi violenta e contou com tropas francesas e alemãs. A Comuna de Paris serviu de inspiração para diversos movimento futuros, como a Revolução Russa. Para saber mais sobre esse tópico, clique aqui.

→ Revanchismo francês

Outra consequência da guerra foi o nascimento do chamado revanchismo francês. A derrota humilhante para os alemães, a coroação de Guilherme I como kaiser em pleno Palácio de Versalhes e principalmente a perda da Alsácia e da Lorena criaram um sentimento de revanche em boa parte da população francesa. Era uma questão de honra para a França retomar os territórios perdidos para os alemães. O revanchismo francês é apontado como um dos principais motivos da Primeira Guerra Mundial.

Exercícios resolvidos sobre a Guerra Franco-Prussiana

Questão 1 (Mackenzie) “Em 18 de março a insurreição estourou (...), não esperava mais lhe dar sinais de vida. Durante dois meses vivi na fornalha (...)”

(Émile Zola em carta a Paul Cézanne)

“Foi a primeira revolução proletária, o primeiro ensaio da ditadura do proletariado.”

 (Horácio Gonzáles)

O acontecimento do século XIX a que se referem as citações acima é:

a) o 18 Brumário de Luís Bonaparte.

b) a Revolução Francesa.

c) o Ensaio Geral.

d) a Comuna de Paris.

e) a Revolução de 1848.

Gabarito: letra D. Os relatos apresentados se relacionam diretamente à Comuna de Paris. Nela, pela primeira vez, um governo de ideologia socialista tomou o poder e governou por pouco mais de dois meses. A comuna serviu de inspiração para diversos movimentos, entre os quais a Revolução Russa de 1917.

Questão 2 (Ufrs) Leia os itens abaixo que se referem a possíveis resultados imediatos da guerra Franco-Prussiana de 1870.

I- A ocupação imperialista da Argélia pela França.

II- A fundação da Internacional pelos nacional-socialistas da Áustria.

III- O fim do II Império Francês de Napoleão III e a instauração do II Reich alemão.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas I e III.

e) I, II e III.

Gabarito: letra C. Com a sua captura na Batalha de Sedan, Napoleão III foi deposto e, dessa forma, finalizou-se o Segundo Império francês e se iniciou a Terceira República. Já do lado alemão, no início de 1871, foi proclamado o Império Alemão, considerado o Segundo Reich.

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons (adaptado)

Fontes

ELIAS, Norbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 1997.

FERMER, Douglas. Sedan 1870: The eclipse of France. Editora Pen e Sword Military, Estados Unidos, 2016.

VIDIGAL, Armando. “Guerras da Unificação Alemã”. In: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013.

Publicado por Jair Messias Ferreira Junior

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