O nazismo era de esquerda ou de direita?
O nazismo foi um partido político que surgiu na Alemanha em 1919 e teve Adolf Hitler como grande líder. Segundo consenso entre historiadores e maiores especialistas no assunto, o nazismo foi um movimento político posicionado na extrema-direita do espectro político. Os historiadores concluíram isso a partir do estudo das bases ideológicas e do contexto de surgimento do nazismo.
Esse assunto é um tema muito explorado e debatido em virtude de todo o alcance que esse partido político alemão alcançou e das consequências de sua ideologia. Ultimamente, essa discussão a respeito da posição do nazismo no espectro político tem ganhado força. A dúvida é se o nazismo foi um partido político de direita ou de esquerda.
Esse é um debate que não existe nos meios acadêmicos, mas que tem grande repercussão entre as pessoas. A intenção deste texto, portanto, é trazer algumas informações baseadas nos principais trabalhos disponíveis sobre o nazismo.
Obs.: a bibliografia utilizada na elaboração deste texto está disponível no final da publicação. |
Por que o nazismo era de extrema-direita?
O consenso entre os historiadores é de que o nazismo foi um partido político que surgiu dentro do espectro político de direita. Assim, o nazismo é um partido político, com ideologia radicalizada, que nasceu dentro do conservadorismo nacionalista alemão.
Essa constatação baseia-se na análise dos eventos históricos e dos discursos de Adolf Hitler, líder do nazismo, que consolidam esse posicionamento. A análise da ideologia nazista e a identificação de suas origens também ajudam a ampliar nossa compreensão sobre o assunto.
O debate a respeito dessa questão pode ser iniciado pelo fato de que a destruição do marxismo (ideologia que inspirou o socialismo e o comunismo) era um objetivo essencial do nazismo alemão. Adolf Hitler demonstrou, diversas vezes, sua intenção de destruir essa ideologia. Quando ocupou o poder, por exemplo, iniciou uma doutrinação na sociedade alemã de que o marxismo e os judeus eram os maiores inimigos da sociedade alemã.
Durante as décadas de 1910 e 1920, o discurso político de Hitler abordou, várias vezes, a questão da destruição da ideologia marxista. O historiador Ian Kershaw, escritor de uma das mais respeitadas biografias sobre Hitler, afirma que, na década de 1910, já se acreditava que o futuro da nação alemã dependia da destruição do marxismo1.
Ian Kershaw também afirma que discursos de Hitler, enquanto líder do Partido Nazista, da década de 1920 também falavam da extinção do marxismo2. Também está registrada nesse período a formação de milícias nazistas, que tinham como objetivo perseguir comunistas alemães. O resultado prático disso foi que, quando Hitler alcançou o poder, social-democratas e comunistas alemães foram os primeiros a sofrerem as consequências das perseguições.
O historiador Richard J. Evans afirmou que, em 1933, os nazistas ordenaram a construção do primeiro campo de concentração na Alemanha3. Os presos seriam, como citado, os social-democratas e os comunistas, representantes, respectivamente, da centro-esquerda e da esquerda na Alemanha. Isso demonstra claramente a intenção nazista em perseguir e acabar com qualquer ideologia que se identificasse, automaticamente, com a esquerda.
Por fim, vale mencionar que, enquanto estavam no poder, os nazistas implantaram um verdadeiro sistema de doutrinação em seu país, convencendo a população de que os judeus e os bolchevistas (comunistas da União Soviética) eram os grandes inimigos da Alemanha e que, por isso, deveriam ser aniquilados. Em relação a isso, o historiador Max Hastings destaca4:
“A destruição do bolchevismo e a escravização da vasta população da União Soviética eram objetivos prioritários do nazismo, destacados em discursos e escritos de Hitler desde os anos 1920”. |
Por fim, vale destacar as afirmações do historiador Lionel Richard que dizem que o nazismo “em nada se distinguia das múltiplas seitas e associações de direita que proliferavam na Alemanha”5. Além disso, esse pesquisador destaca que o apoio de capitalistas alemães ao nazismo rendeu-lhe muitos simpatizantes entre pessoas da direita alemã6.
Outra questão que gera muita confusão é a respeito da posição do nazismo diante de questões relacionadas à economia, sobretudo em relação à posição antiliberal desse partido. De fato, o nazismo era antiliberal tanto nas questões das liberdades individuais quanto na economia, uma vez que, para Hitler, o capitalismo liberal estava nas mãos dos judeus – grupo que Hitler identificava como o causador de todos os males.
Ian Kershaw destaca que, na visão de Hitler, o capitalismo financeiro judeu (capitalismo liberal) era um mal, enquanto que o capitalismo industrial era considerado algo saudável7. Outro ponto importante a destacar-se é que o nazismo, em nenhum momento, pregou a destruição do capitalismo (apenas da parte que enxergava estar nas mãos dos judeus). Essa postura reforça o posicionamento dos historiadores e cientistas políticos de que o nazismo era de direita.
O que é nazismo?
Adolf Hitler durante um carreata nazista.**
O nazismo foi um partido que surgiu na Alemanha em 1919 e ocupou o poder desse país entre 1933 e 1945, implantando um regime totalitário que promoveu verdadeiro terror. O contexto de surgimento do nazismo era o de uma Alemanha arrasada e humilhada pela derrota na Primeira Guerra Mundial. Havia também a crise econômica que atingiu o país durante toda a década de 1920 e parte da década de 1930.
A população alemã, desalentada e desesperada por alternativas, passou a apoiar o partido de Hitler e todo seu discurso, que atacava o liberalismo, os judeus, os vencedores da Primeira Guerra, etc. O nazismo possuía um discurso nacionalista extremado que defendia a formação de um “espaço vital”, um território de “direito” dos alemães para a formação do Terceiro Reich.
O nazismo, além do nacionalismo exacerbado, tinha em sua ideologia o antissemitismo, a exaltação da guerra, o antimarxismo (encarnado, principalmente, no antibolchevismo), a xenofobia e a exaltação do líder como salvador do povo. Uma característica marcante do nazismo era a crença de que os alemães, chamados de arianos, eram um povo “superior”.
Após assumir o poder da Alemanha em 1933, os nazistas passaram a perseguir todos seus opositores, em especial os social-democratas, os comunistas e os judeus, e promoveram seu ideal de exaltação da nação o máximo possível. Além disso, desafiaram os ditames do Tratado de Versalhes e prepararam sua nação para a guerra.
O governo nazista na Alemanha fez com que o país, na busca desenfreada por formar o “espaço vital”, causasse a Segunda Guerra Mundial. Durante o conflito, os nazistas promoveram o Holocausto, genocídio que levou à morte seis milhões de judeus, a maioria morta por fuzilamento ou nas câmaras de gás.
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1 KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 84.
2 Idem, p. 125.
3 EVANS, Richard J. A chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2016, p. 420.
4 HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 154.
5 RICHARD, Lionel. A República de Weimar. Companhia das Letras, 1988, p. 126.
6 Idem, p. 128.
7 KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 126.
*Créditos da imagem: Everett Historical / Shutterstock
**Créditos da imagem: Everett Historical / Shutterstock