Valdenses

Os valdenses, grupo surgido na França do século XII, foi considerado herético pela Igreja a partir de 1184. Hoje a Igreja valdense está instalada em várias partes do mundo.
Igreja valdense instalada em Turim, na Itália

Os valdenses formaram uma das heresias medievais que a Igreja Católica combateu durante o século XII, também conhecido como século herético. O grupo surgiu a partir das pregações de Pedro Valdo, rico comerciante de Lyon na França que abandonou tudo para seguir a vida eclesiástica e praticar o voto de pobreza. Apesar da perseguição da Igreja Católica, os valdenses não foram erradicados e hoje possuem igrejas espalhadas pelo mundo.

Origem dos valdenses

A heresia dos valdenses surgiu a partir das pregações realizadas por Pedro Valdo na região de Lyon, na França, durante o século XII. Pedro Valdo era um rico comerciante da região que, após realizar a leitura do Evangelho, converteu-se profundamente e optou por abandonar sua vida para seguir carreira eclesiástica, pregando para as pessoas e praticando o voto de pobreza.

O relato sobre isso é anônimo e afirma que a leitura realizada por Pedro Valdo aconteceu em 1173. No ano de 1176, abandonou sua vida de comerciante, deixando parte dos bens com sua esposa e doando o resto para os pobres. Pedro Valdo muito provavelmente utilizou parte de sua fortuna para poder pagar a tradução da Bíblia para o idioma local, uma vez que o relato anônimo afirma que Pedro Valdo era um homem pouco instruído.

A partir daí, Pedro Valdo passou a pregar pela região, trajando roupas bem simples. À medida que ganhava fiéis, estes passavam também a praticar o voto de pobreza e a trajar roupas simples. O voto de pobreza era uma forte tendência no século XII, havendo um grande número de pessoas que buscavam a salvação pela renúncia aos bens materiais.

Como os valdenses em suas pregações faziam fortes críticas ao clero local e às posturas divergentes demonstradas pelo clero em comparação com a Bíblia, o arcebispo local, chamado Guichard de Lyon, proibiu-os de continuar pregando sob a argumentação de não possuírem a autorização eclesiástica para pregar. Além disso, aponta-se que os valdenses pregavam em provençal, o que desagradava o clero local.

Pedro Valdo partiu ao Concílio de Latrão, em 1179, para obter a autorização do papa Alexandre III. No Concílio, os valdenses foram desaprovados pela comissão formada pelos cardeais da Igreja, mas receberam a aprovação do Papa Alexandre III sob a condição de estarem autorizados a pregar caso recebessem a autorização do Arcebispo de Lyon – Guichard de Lyon. Apesar da aparente aprovação de Alexandre III, essa condição representava uma negativa para os valdenses em virtude da inimizade com Guichard.

Como não obtiveram a autorização de Guichard, os valdenses continuaram a pregar baseando-se em Atos 5:29 (Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.). Assim, afirmavam que não obedeciam à autoridade humana – o clero, nesse caso –, mas somente a Deus. Isso consistiu em desobediência à Igreja Católica e, por isso, foram excomungados em 1184, no Sínodo de Verona, pelo papa Lúcio III. O principal motivo que levou os valdenses a serem perseguidos e excomungados pela Igreja Católica foi a negação da autoridade clerical. Isso era visto como perigoso e subversivo pela Igreja Católica.

Enfraquecimento da Igreja Valdense

Com a excomunhão, os valdenses passaram a atuar na clandestinidade, uma vez que a defesa aberta poderia levá-los à morte. Com a instituição da Santa Inquisição, a perseguição aos valdenses intensificou-se. Estima-se que milhares de valdenses tenham sido processados e mortos pela Igreja Católica.

Apesar disso, a Igreja valdense sobreviveu, diferentemente de outras heresias, que foram erradicadas. Hoje existem igrejas valdenses instaladas na Itália, Argentina, Uruguai, Estados Unidos etc. Aqui no Brasil, uma igreja valdense está instalada no estado de Santa Catarina, na região Sul do país.

Doutrina Valdense

A Igreja valdense possuiu dois grandes focos de concentração de fiéis: um na França e outro na Itália. O grupo italiano defendeu uma ruptura mais intensa com a Igreja Católica, negando a autoridade clerical e determinados princípios instituídos no catolicismo, como a crença no purgatório e o culto aos santos. Os valdenses aceitavam basicamente apenas o batismo, a eucaristia (comunhão) e a penitência.

Os valdenses desejavam restaurar o cristianismo aos tempos da Igreja Primitiva. Organizavam suas igrejas em diferentes cargos, cada qual com sua função. Os valdenses incentivavam a leitura das Escrituras por todo fiel, daí a importância da tradução para o provençal realizada a mando de Pedro Valdo.

Publicado por Daniel Neves Silva
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