Padre Antônio Vieira
Padre Antônio Vieira nasceu em Portugal, em 6 de fevereiro de 1608. Em 1614, ele e sua família mudaram-se para o Brasil, onde estudou em colégio de jesuítas e, mais tarde, ingressou na Companhia de Jesus. Em 1633, proferiu seus dois primeiros sermões, ambos de caráter político: o primeiro falava da invasão holandesa; o segundo, atacava a escravidão indígena. Essa sua postura, atrelada à sua defesa dos cristãos-novos, gerou inimizades entre os colonos e membros da Igreja.
Os sermões do Padre Antônio Vieira fazem parte do Barroco e apresentam características como: culto ao contraste, rebuscamento da linguagem, além do uso de antíteses e paradoxos. Além de sermões, Vieira também escreveu cartas, textos proféticos, poesia e teatro. Sua vida e obra foram marcadas pelo envolvimento em questões políticas, na defesa da Coroa portuguesa e da fé católica, apesar de Vieira sofrer perseguição da Inquisição portuguesa. Depois de ele viver períodos em Portugal e um tempo em Roma, sua morte ocorreu no Brasil, em 18 de julho de 1697.
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Biografia de Antônio Vieira
Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, Portugal, em 6 de fevereiro de 1608. De origem humilde, possuía ascendência judaica do lado materno e negra do lado paterno. Em 1614, Vieira e sua família mudaram-se para o Brasil. Aqui, estudou em colégio de jesuítas e, com 15 anos de idade, decidiu fazer parte da Companhia de Jesus. Seu primeiro sermão, quando o padre tinha 25 anos, foi pregado em 1633 e tratava da invasão holandesa.
Naquele mesmo ano, proferiu um sermão contra a escravidão dos índios, apesar de apoiar a escravidão dos negros africanos. Em 1634, foi ordenado padre e começou a trabalhar junto à população indígena. Em 1641, voltou a Lisboa para jurar fidelidade a D. João IV (1604-1656). Acabou transformando-se em conselheiro da Corte, embaixador e homem de confiança do rei. Porém, o padre mostrava-se defensor dos cristãos-novos, o que lhe gerou inimigos na Igreja.
Assim, retornou ao Brasil em 1652, para trabalhar na evangelização dos índios no Maranhão. Nesse estado, entrou em conflito com os colonos, pois manifestava-se contrário à escravização dos índios. Por isso, em 1661, depois de um ano preso, foi expulso do Maranhão e novamente voltou a Portugal. Ali, foi perseguido pela Inquisição portuguesa. Mas em 1669, depois de demonstrar arrependimento pelo crime de heresia, recebeu o perdão parcial, pois perdeu o direito de pregar.
O padre foi viver em Roma. E, devido à influência do regente Pedro II (1648-1706) de Portugal, readquiriu o direito de pregar e tornou-se o pregador oficial do papa. Vieira retornou ao Brasil, em 1681. De 1688 a 1692, foi visitador-geral do Brasil. E morreu em Salvador, em 18 de julho de 1697.
Sua vida foi marcada pelo envolvimento em questões políticas da Igreja e do Estado. Padre Antônio Vieira usou seus sermões para a defesa de suas ideias e a conquista de seus objetivos.
Estilo literário de Padre Antônio Vieira
Padre Vieira faz parte do Barroco, estilo de época que, no Brasil, durou de 1601 a 1768. Portanto, seus sermões podem apresentar as seguintes características:
- Fusionismo: combinação entre a visão medieval e a renascentista
- Culto ao contraste: oposição de ideias
- Uso de antíteses e paradoxos
- Pessimismo
- Rebuscamento: requinte da linguagem.
- Cultismo ou gongorismo: jogo de palavras
- Conceptismo ou quevedismo: jogo de ideias
- Carpe diem: aproveitar o momento
- Uso de hipérbole e sinestesia
- Temática religiosa
- Reflexão sobre a fugacidade do tempo
- Crítica à vaidade
- Razão a serviço da fé
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Obras do Padre Antônio Vieira
A obra mais conhecida de Padre Antônio Vieira é Sermões (1679). Esse livro é o primeiro volume, pois o padre tinha a intenção de publicar outros doze, como bem explicita no prólogo ao leitor. Assim, essa obra contém apenas quinze dos seus inúmeros sermões:
- Sermão da sexagésima
- Sermão primeiro de Quarta-feira de Cinza
- Sermão do Santíssimo Sacramento em Santa Engrácia
- Sermão de Nossa Senhora da Luz
- Sermão da terceira quarta-feira da Quaresma
- Sermão de Santo Inácio
- Sermão da terceira dominga da Quaresma
- Sermão do Santíssimo Sacramento no carnaval de Roma
- Sermão da quinta quarta-feira da Quaresma
- Sermão de Nossa Senhora de Penha de França
- Sermão no sábado quarto da Quaresma
- Sermão das lágrimas de São Pedro
- Sermão do mandato
- Sermão da bula da santa Cruzada
- Sermão segundo de Quarta-feira de Cinza
Além de Sermões, foram publicadas as obras Esperanças de Portugal (1659) e História do futuro (1718). E, em 2015, foi lançada a Obra completa, em 30 volumes, que contém sermões, cartas, textos proféticos, textos políticos, além de sua poesia e teatro.
Frases de Antônio Vieira
A seguir, vamos ler algumas frases de Padre Antônio Vieira, retiradas de seu Sermão do mandato, de 1643:
“No juízo dos males sempre conjeturou melhor quem presumiu os maiores.”
“Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.”
“Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor.”
“Se os mortos são tão esquecidos, havendo tão pouca terra entre eles e os vivos, que podem esperar, e que se pode esperar dos ausentes?”
“A ausência também se há de definir pela morte, posto que seja uma morte de que mais vezes se ressuscita.”
“O fogo pode-se apartar, mas não se pode esfriar.”
“O amor não é união de lugares, senão de vontades.”
“Os olhos são as frestas do coração.”
“O tempo é natureza, a ausência pode ser força, a ingratidão sempre é delito.”
“O tempo tira ao amor a novidade, a ausência tira-lhe a comunicação, a ingratidão tira-lhe o motivo.”
“O amigo, por ser antigo, ou por estar ausente, não perde o merecimento de ser amado.”
“O tempo e a ausência combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade.”
“A natureza e a arte curam contrários com contrários.”
“Dizem que um amor com outro se paga, e mais certo é que um amor com outro se apaga.”
“O amor que não é intenso não é amor.”
“É o amor entre os afetos como a luz entre as qualidades.”
“O maior contrário de uma luz é outra luz maior.”
Crédito da imagem
[1] Edições Loyola (reprodução)