Trovadorismo
O Trovadorismo é um movimento literário medieval que tem representações principalmente nas regiões onde hoje estão localizados a França, a Espanha e Portugal. As produções literárias do Trovadorismo são chamadas de cantigas.
Conceito
O termo Trovadorismo faz referência à palavra trovador, que pode ser definido como o cantor e compositor das cantigas. Essas, por sua vez, eram as principais atividades literárias da Península Ibérica. Normalmente, as cantigas eram cantadas e acompanhadas por instrumentos musicais – em uma clara herança da poesia lírica grega.
Contexto
O Trovadorismo teve suas primeiras manifestações por volta do século XI e XII, em um período da Idade Média em que os países que conhecemos hoje estavam em formação. O modelo social vigente era o Feudalismo, e a principal força político-religiosa da época era a Igreja Católica.
Além disso, especificamente na macrorregião que abarca França, Espanha e Portugal, a presença de menestréis – poetas e músicos itinerantes –, assim como casamentos e outras relações políticas entre os reinos citados, produziu um intenso intercâmbio cultural na região que culminou na proliferação do Trovadorismo.
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Características
De maneira geral, o Trovadorismo pode ser definido como um estilo literário herdeiro da lírica grega. Isso porque o estilo medieval manteve características da arte clássica, tais quais a presença de canto e acompanhamento musical. Além disso, a idealização amorosa, presente nas cantigas “de amor” e “de amigo”, era uma marca também presente na literatura da Grécia Antiga.
Para além das heranças gregas, o culto ao catolicismo era presente e notável em algumas trovas. Além disso, é perceptível a reprodução de estruturas feudais metaforizadas por meio das relações amorosas presentes nas cantigas de amor. Exemplos dessas estruturas são a vassalagem e o reconhecimento do senhor feudal como autoridade máxima da sociedade.
Cantigas
A produção literária trovadoresca pode ser dividida em dois grupos:
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Cantigas líricas
Esse grupo contém as cantigas “de amor” e “de amigo”. Ambas têm como principal característica a manifestação dos sentimentos do sujeito lírico, com predominância de discursos sobre o amor. Tais cantigas são herdeiras da tradição lírica grega. Não obstante, existem algumas diferenças entre essas duas cantigas. Confira na tabela a seguir:
Cantiga de amor |
Cantiga de amigo |
- Sujeito lírico masculino; |
- Sujeito lírico feminino; |
- Origem provençal e nobre; |
- Origem ibérica e popular; |
- Linguagem mais erudita; |
- Linguagem mais simples; |
- Coyta d’amor: sofrimento pela impossibilidade de realização amorosa; |
- Estrutura paralelística, com repetições; |
- Vassalagem amorosa: amada colocada como Senhor Feudal e o poeta enquanto seu vassalo; |
- Tom confessional: a mulher dirige-se a Deus, à mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um elemento da natureza; |
- Ausência de paralelismo ou refrão. |
- Presença de refrão; |
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- Lamento pela ausência do amado, que partiu para a guerra ou desapareceu. |
A partir das observações das características acima descritas, leia a seguir duas cantigas, uma de amor e outra de amigo, traduzidas para o português atual:
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Cantiga de amigo
ONDAS DO MAR DE VIGO
Ondas do mar de Vigo
acaso vistes meu Amigo ?
Queira Deus que ele venha cedo!
Ondas do mar agitado,
acaso vistes meu amado?
Queira Deus que ele venha cedo!
Acaso vistes meu amigo,
aquele por quem suspiro?
Queira Deus que ele venha cedo!
Acaso vistes meu amado,
por quem tenho grande cuidado?
Queira Deus que ele venha cedo!
(Martin Codax)
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Cantiga de amor
CANTIGA DA RIBEIRINHA
No mundo ninguém se assemelha a mim
Enquanto a vida continuar como vai,
Porque morro por vós e - ai! -
Minha senhora alva e de pele rosadas,
Quereis que vos retrate
Quando eu vos vi sem manto.
Maldito seja o dia em que me levantei
E então não vos vi feia!
E minha senhora, desde aquele dia, ai!
Tudo me ocorreu muito mal!
E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, parece-vos bem
Que me presenteeis com uma guarvaia,
Pois eu, minha senhora, como presente,
Nunca de vós recebera algo,
Mesmo que de ínfimo valor.
(Paio Soares de Taveirós)
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Cantigas satíricas
As cantigas satíricas são obras poéticas com forte tom de crítica social. Muito comum no mundo boêmio medieval, o gênero foi praticado por jograis – trovadores que não pertenciam à nobreza –, bailarinas e até mesmo alguns fidalgos e membros da Igreja. As cantigas satíricas gozavam de uma espécie de código de ética próprio – ali era permitido cantar versos que não seriam admitidos em outras situações.
Podemos dividir tais produções literárias em dois grupos: as cantigas de escárnio e as de maldizer. A diferença entre elas é, em muitos casos, extremamente sutil. No primeiro caso – cantigas de escárnio –, pode-se dizer que há uma predominância de críticas indiretas, sutis, sem nomear os criticados. Já no segundo caso – cantigas de maldizer –, a crítica costumava ser direta, rude e mencionando diretamente o nome do criticado.
Veja, a seguir, exemplos dessas cantigas:
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Cantiga de escárnio
Ai dona fea! Fostes-vos queixar
Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea! Se Deus me pardon!
E pois avedes tan gran coraçon
Que vos eu loe, en esta razon,
Vos quero ja loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora ja un bon cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
(João Garcia de Guilhade)
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Cantiga de maldizer
Maria Pérez se maenfestou
noutro dia, ca por [mui] pecador
se sentiu, e log'a Nostro Senhor
pormeteu, polo mal em que andou,
que tevess'um clérig'a seu poder,
polos pecados que lhi faz fazer
o Demo, com que x'ela sempr'andou.
Maenfestou-se ca diz que s'achou
pecador muit', e por en rogador
foi log'a Deus, ca teve por melhor
de guardar a El ca o que a guardou;
e mentre viva, diz que quer teer
um clérigo com que se defender
possa do Demo, que sempre guardou.
E pois que bem seus pecados catou,
de sa mort'houv'ela gram pavor
e d'esmolnar houv'ela gram sabor;
e log'entom um clérigo filhou
e deu-lh'a cama em que sol jazer,
e diz que o terrá, mentre viver;
e est'afã todo por Deus filhou.
E pois que s'este preito começou
antr'eles ambos houve grand'amor
antr'ela sempr'[e] o Demo maior,
atá que se Balteira confessou;
mais, pois que vio o clérigo caer
antr'eles ambos, houv'i a perder
o Demo, des que s'ela confessou.
(Fernão Velho)
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Autores e obras
Os principais autores do Trovadorismo foram Ricardo Coração de Leão, Afonso Sanches, Dom Dinis I de Portugal, João Zorro, Paio Soares de Taveirós, Paio Gomes Charinho, Paio Soares de Taveirós, Martim Codax, Pedro III de Aragão, entre outros.
As cantigas trovadorescas podem ser encontradas em publicações compiladas de diversos autores, chamadas Cancioneiros. Os principais cancioneiros são o “da Ajuda”, “da Vaticana” e “da Biblioteca Nacional”.