Trovadorismo

Trovadorismo é um estilo de época medieval. A poesia trovadoresca era feita para ser cantada. Assim, na Idade Média, trovadores produziram cantigas de amor, que falam do sofrimento amoroso vivenciado pelo eu lírico ao desejar uma mulher inalcançável. Também criaram cantigas de amigo, nas quais o eu lírico é uma mulher do campo que expressa a saudade que sente do amante.
Além dessas cantigas líricas, foram criados também dois tipos de poesia satírica, ou seja, as cantigas de escárnio e de maldizer. Nas de escárnio, ocorre uma crítica sutil, já que o indivíduo alvo do ataque não é identificado. Já nas de maldizer, de caráter ofensivo, o alvo da crítica é nomeado.
Leia também: Humanismo na literatura — detalhes sobre o estilo de época que sucedeu o trovadorismo
Resumo sobre o trovadorismo
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O trovadorismo é um estilo de época medieval.
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A poesia trovadoresca era cantada e tematiza o amor cortês e a saudade, além de fazer crítica social.
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Fazem parte do trovadorismo, as seguintes cantigas e suas temáticas:
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cantigas de amor (sofrimento amoroso);
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cantigas de amigo (saudade).
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cantigas de escárnio (crítica sutil).
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cantigas de maldizer (crítica explícita).
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O que é o trovadorismo?
O trovadorismo é um estilo de época da Idade Média cuja literatura é composta por cantigas líricas e por cantigas satíricas.
Características do trovadorismo
A poesia da Idade Média era composta por trovadores, os poetas da época. De forma geral, tais cantigas tematizam o amor cortês, fazem crítica de costumes e apresentam caráter teocêntrico. Segundo sua temática, essas cantigas são assim classificadas:
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líricas — cantigas de amor e cantigas de amigo;
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satíricas — cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.
A poesia trovadoresca apresenta características de literatura oral, já que era feita para ser cantada; em grande parte, tinha a função de entreter. Era chamado de “trovador” o poeta de origem nobre que compunha tais canções. Havia também a figura do “jogral”, artista que apenas interpretava ou cantava as cantigas alheias.
Cantigas do trovadorismo
Existem dois tipos de cantigas trovadorescas: líricas e satíricas. Elas se subdividem em outros dois tipos cada uma: de amor e de amigo (líricas) e de escárnio e de maldizer (satíricas).
→ Cantigas líricas
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Cantigas de amor
As principais características das cantigas de amor são:
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temática amorosa;
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sofrimento do eu lírico ou trovador;
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mulher idealizada e membro da nobreza;
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a dama é tratada como “senhora” e não tem o nome revelado;
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vassalagem amorosa (a dama é suserana, e o trovador é vassalo);
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recorrência de versos em redondilha maior e de refrão.
Exemplo:
A Bonaval quer’eu, mia senhor, ir
e des quand’eu ora de vós partir
os meus olhos nom dormirám.
Ir-m’-ei, pero m’é grave de fazer;
e des quand’eu ora de vós tolher
os meus olhos nom dormirám.
Todavia bem será de provar
de m’ir; mais des quand’eu de vós quitar
os meus olhos nom dormirám.
Bernal de Bonaval.
De acordo com explicação no site Cantigas medievais galego-portuguesas: “O trovador vai partir para Bonaval (o seu lugar de origem), mas sabe que, assim que se afastar da sua amada, as suas noites serão passadas em claro. Nas três estrofes há uma gradação na referência à partida, dolorosa (2a estrofe), mas que tem de tentar (3a estrofe)”.
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Cantigas de amigo
As principais características das cantigas de amigo são:
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temática da saudade;
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sofrimento da mulher pela distância do “amigo” (amante);
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eu lírico feminino (camponesa);
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possível presença de outros interlocutores além do “amigo” (como amiga ou irmã);
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recorrência de versos em redondilha menor e de refrão.
Exemplo:
A que mi a mi meu amigo filhou
mui sem meu grad’, e nom me tev’em rem
e nom mi o disse nem mi o preguntou,
mal lhi será, quando lho eu filhar
mui sem seu grad’, e non’a preguntar.
E, se m’ela mui gram torto fez i,
Deus me leixe dereito dela haver,
ca o levou de mim sem meu prazer;
e ora tem que o levará assi,
mal lhi será, quando lh’o eu filhar
mui sem seu grad’, e non’a preguntar.
E bem sei eu dela que vos dirá
que nom fiz eu por el quant’ela fez;
mais quiçai mi o fezera outra vez,
e, pero tem bem que o haverá,
mal lhi será, quando lh’o eu filhar
mui sem seu grad’, e non’a preguntar.
Entom veeredes molher andar
pós mim chorand’, e nom lho querrei dar.
João Airas de Santiago.
De acordo com explicação no site Cantigas medievais galego-portuguesas: “Se uma outra lhe roubou o seu amigo, sem fazer qualquer caso dela e sem ter tido a decência de antes lhe perguntar, a donzela garante que não perde pela demora: vai voltar a roubar-lho exatamente da mesma maneira. E mesmo que ela alegue que fez por ele coisas que a donzela não fez, isso não quer dizer que ela não as tivesse feito, assim que entendesse. De modo que, quando recuperar o seu amigo, como antecipa a donzela, bem poderá a outra andar chorando atrás dela que não lho devolverá”.
→ Cantigas satíricas
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Cantigas de escárnio
As principais características das cantigas de escárnio são:
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ironia;
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crítica social;
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sutileza;
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trocadilhos;
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duplo sentido;
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ausência de identificação do indivíduo criticado.
Exemplo:
A dona fremosa do Soveral
há de mi dinheiros per preit’atal:
que veess’a mi, u nom houvess’al,
um dia talhado, a cas Dom Corral
e é perjurada,
ca nom fez en nada;
e baratou mal,
ca desta negada
será penhorada
que dobr’o sinal.
Se m’ela crever, cuido-m’eu, dar-lh’-ei
o melhor conselho que hoj’eu sei:
dê-mi meu haver e gracir-lho-ei;
e se mi o nom der, penhorá-la-ei:
ca mi o tem forçado,
do corp’alongado,
nom lho sofrerei;
mais, polo meu grado,
dar-mi-á bem dobrad’o
sinal que lh’eu dei.
Lopo Lias.
De acordo com explicação no site Cantigas medievais galego-portuguesas: “O trovador teria dado um adiantamento em dinheiro a uma dona, que não tinha muito boa reputação, para um encontro galante em casa de um tal D. Corral. Como ela teria faltado à promessa, o trovador exige-lhe, maliciosamente, pagamento a dobrar”.
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Cantigas de maldizer
As principais características das cantigas de escárnio são:
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sarcasmo;
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crítica explícita;
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identificação do indivíduo criticado;
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recorrência do uso de linguagem ofensiva.
Exemplo:
A mim dam preç’, e nom é desguisado,
dos maltalhados, e nom erram i;
Joam Fernandes, o mour’, outrossi,
Nos maltalhados o vejo contado;
e pero maltalhados semos nós,
s’homem visse Pero da Ponte em cós,
semelhar-lh’-ia moi peor talhado.
Afonso Anes do Cotom.
De acordo com explicação no site Cantigas medievais galego-portuguesas: “Breve cantiga, talvez incompleta, que compara o aspeto físico de três maljeitosos, o próprio Cotom, João Fernandes e Pero da Ponte, o qual, pelos vistos, levaria a palma aos outros dois”.
Autores do trovadorismo
Os principais autores do trovadorismo foram:
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Arnaut Daniel (século XI) — francês;
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Guilhem de Peitieu (1071-1126) — francês;
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Bernart de Ventadorn (1130-1200) — francês;
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Raimbaut d’Aurenga (1147-1173) — francês;
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Dom Afonso X (1221-1284) — espanhol;
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Dom Dinis (1261-1325) — português;
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Fernão Rodrigues de Calheiros (século XIII) — português;
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João Garcia de Guilhade (século XIII) — português;
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Martim Codax (século XIII) — galego;
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Nuno Fernandes Torneol (século XIII) — galego;
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Paio Gomes Charinho (século XIII) — galego;
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Paio Soares de Taveirós (século XIII) — galego;
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Pero Gonçalves Portocarreiro (século XIII) — português.
Obras do trovadorismo
A poesia trovadoresca era feita para ser cantada, de forma que não foi publicada em nenhuma obra. Com o passar dos séculos, alguns pesquisadores compilaram algumas dessas cantigas, a maioria delas sequer apresenta título. As que mais se aproximam da língua portuguesa estão registradas em galego-português.
Em Portugal, a literatura portuguesa foi inaugurada com a obra trovadoresca A cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós, criada em 1198. Abaixo, uma adaptação para o português atual, extraída da Gramática contemporânea da língua portuguesa, de José de Nicola e Ulisses Infante:
No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a minha vida continuar como vai,
porque morro por vós, e ai
minha senhora de pele alva e faces rosadas,
quereis que vos descreva
quando vos eu vi sem manto
Maldito dia! me levantei
que não vos vi feia
E, minha senhora, desde aquele dia, ai
tudo me foi muito mal
e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia,
pois eu, minha senhora, como mimo
de vós nunca recebi
algo, mesmo que sem valor.
Acesse também: Quais são as características da literatura portuguesa?
Trovadorismo no Brasil
No Brasil, não houve trovadorismo, já que esse estilo de época é medieval e, portanto, anterior ao fato histórico conhecido como descobrimento do Brasil.
Origem do trovadorismo
A poesia trovadoresca surgiu na Provença, no Sul da França, entre os séculos XI e
XII.
Exercícios resolvidos sobre trovadorismo
Questão 1
Analise a seguintes estrofes de cantigas trovadorescas adaptadas para o português atual:
I- A Santa Maria fiz ir meu amigo
e não cumpri o que combinou comigo:
com ele me perdi
porque lhe menti.
(Pero de Ver)
II- Ai senhora formosa! por Deus
e por quão boa Ele vos fez
compadecei-vos alguma vez
de mim e destes olhos meus
que vos viram por mal de si,
quando vos viram, e por mim.
(Dom Dinis)
III- Por Deus, coitada vivo:
pois não vem meu amigo;
pois não vem, que farei?
meus cabelos, com sirgo
eu não vos liarei
(Pero Gonçalves de Portocarreiro)
Sobre os fragmentos de texto, é correto afirmar:
A) O fragmento I é parte de uma cantiga de amor.
B) O fragmento II é parte de uma cantiga de amigo.
C) O fragmento III é parte de uma cantiga de escárnio.
D) Os fragmentos I e II foram retirados de cantigas de amor.
E) Os fragmentos I e III foram retirados de cantigas de amigo.
Resolução:
Alternativa E.
O fragmento I é de uma cantiga de amigo. O fragmento II é de uma cantiga de amor. Por fim, o fragmento III é de uma cantiga de amigo.
Questão 2
Marque a alternativa que aponta características de uma cantiga de amor.
A) O eu lírico expressa seu sofrimento diante de uma mulher inalcançável.
B) O eu lírico expressa sentimento de saudade pela ausência do homem desejado.
C) Os versos apresentam crítica de costumes, em que o amor é vulgarizado e obsceno.
D) Os versos apresentam crítica de costumes, em que o amor é alvo de ironias.
Resolução:
Alternativa A.
A cantiga de amor apresenta a voz de um eu lírico que expressa seu sofrimento amoroso diante de um amor impossível, já que a mulher amada é idealizada e, portanto, inalcançável.
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
GOULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.
MENDES, Ana Luiza. Trovadores e jograis: mester de identidade sociocultural. Vernáculo, Curitiba, v. 1, p. 63-87, 2015.
NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 9. ed. São Paulo: Scipione, 1992.
PROJETO LITTERA. Cantigas medievais galego-portuguesas: Afonso Anes do Cotom. Disponível em: https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1641&pv=sim.
PROJETO LITTERA. Cantigas medievais galego-portuguesas: Bernal de Bonaval. Disponível em: https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1086&pv=sim.
PROJETO LITTERA. Cantigas medievais galego-portuguesas: João Airas de Santiago. Disponível em: https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1065&pv=sim.
PROJETO LITTERA. Cantigas medievais galego-portuguesas: Lopo Lias. Disponível em: https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1382&pv=sim.