Entrudo
O entrudo foi uma prática realizada no período do Carnaval aqui no Brasil e que foi muito popular entre os séculos XVII e XIX. Essa prática consistia em folguedos que aconteciam em locais públicos e que tinham como principal marca as brincadeiras envolvendo água e farinha, sendo bastante comum que ambos fossem lançados nas pessoas que estavam nas ruas.
O entrudo chegou ao Brasil por volta do século XVII, sendo trazido para cá pelos portugueses durante a colonização. O entrudo também era tradicional em Portugal, tendo se estabelecido durante a Idade Média. O entrudo foi bastante impopular no Brasil entre as elites, considerando a prática “selvagem” e “grosseira” e usando o poder público para reprimi-la a partir do século XIX.
Leia também: Qual é a origem do Carnaval?
Resumo sobre o entrudo
- O entrudo foi uma prática de Carnaval que foi muito tradicional no Brasil entre os séculos XVII e XIX.
- Ficou caracterizado pela realização de brincadeiras em locais públicos ou privados, com destaque para as brincadeiras de lançar água e farinha sobre as pessoas.
- Essa prática chegou ao Brasil por volta do século XVII, sendo trazida para cá pelos portugueses durante a colonização.
- O entrudo era uma prática comum entre as camadas populares e tomava as ruas de grandes cidades, como o Rio de Janeiro, dias antes da Quaresma.
- Era bastante criticado pelas elites econômicas e intelectuais, que passaram a usar do poder público e das polícias no século XIX para reprimir a sua realização.
O que é entrudo?
O entrudo foi uma prática carnavalesca muito tradicional no Brasil entre os séculos XVII e o começo do século XIX. Essa prática era realizada nos três dias que antecediam a Quarta-Feira de Cinzas, que iniciava a Quaresma, sendo marcada pela realização de brincadeiras e folguedos pelas ruas do Brasil.
Eram bastante comuns nas grandes cidades brasileiras, sendo realizados nas ruas de cidades como o Rio de Janeiro, mas também era realizado de maneira privativa, em residências de pessoas. Uma das brincadeiras mais comuns do entrudo era a utilização de bexigas de cera que eram cheias de líquidos para molhar outras pessoas.
Essa prática foi muito tradicional no Brasil no período do Carnaval, sendo comum entre as camadas mais pobres de nossa sociedade. As elites brasileiras consideravam o entrudo uma celebração grotesca e, por isso, criticavam bastante o costume. A repressão ao entrudo contribuiu para que a prática se enfraquecesse e desaparecesse eventualmente.
Quando acontece o entrudo?
O entrudo, como mencionado, era uma prática carnavalesca, e sua realização antecedia a Quaresma, sendo realizada no domingo, segunda e terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas. Era entendido como uma celebração dos prazeres antes dos dias de restrição que marcavam a Quaresma.
Por que o entrudo foi proibido?
O entrudo era uma festividade que foi trazida ao Brasil pelos portugueses. Tanto lá como aqui, era uma celebração popular, que até contava com a participação de membros da elite econômica e intelectual de Portugal e do Brasil, mas de forma muito discreta e privada. Essa elite econômica e intelectual do Brasil desprezava a festa, considerando-a selvagem e imoral.
Essa oposição das elites ao entrudo foi ganhando força no século XIX e sendo acompanhada de críticas em jornais e de leis que permitiam a repressão popular à celebração. Essa elite preferia que o carnaval brasileiro fosse “civilizado”, adequando-se à celebração tradicional europeia com os bailes de mascarados. Por isso, a força policial foi extensamente utilizada como meio de proibir a população de usar locais públicos para realização da prática.
Como parte dessa repressão ao entrudo foram incentivados outros tipos de celebrações populares, consideradas “mais civilizadas” e controladas. Daí surgiram os zé-pereiras e ranchos, que foram celebrações populares bastante tradicionais do Carnaval brasileiro no século XIX. As campanhas contra o entrudo por parte das autoridades fez com que o entrudo fosse, gradativamente, desaparecendo no século XIX, embora ainda tenha sido praticado de maneira mais tímida no começo do século XX.
Entrudo no Brasil
O entrudo foi uma prática que foi trazida ao Brasil pelos portugueses durante o período da colonização. Os historiadores falam que a prática chegou ao Brasil em algum momento do século XVII, sendo uma prática muito tradicional em Portugal. Lá, o entrudo surgiu por volta do século XI, consolidando-se como um momento de excessos antes da Quaresma.
A prática foi se popularizando, ficando conhecida em Portugal como entrudo. Alguns historiadores acreditam que o nome seja uma referência à ideia de “entrada da Quaresma”. Em Portugal, o entrudo era uma festa popular, sendo muito comum entre a camada mais pobre. Esse recorte social, como vimos, também existiu no Brasil, e lá, assim como aqui, as elites intelectuais do país desprezavam a festa.
Apesar de ter chegado aqui no século XVII, foi a partir do século seguinte que a festa se tornou extremamente popular no Brasil.
Aqui no Brasil, o entrudo poderia ser realizado tanto em locais públicos como em locais privados. Geralmente, as práticas de entrudo privado aconteciam entre famílias e entre pessoas de classes sociais mais abastadas. A festa, no entanto, acontecia em grande parte nas ruas da cidade, envolvendo pessoas livres ou escravizadas.
Em locais públicos, era comum que a celebração do entrudo ficasse marcada pela utilização de água e farinha. Nos dias do entrudo, pessoas ficavam nas ruas das cidades com uma espécie de bexigas d’água, lançando-as nas pessoas que cruzavam o seu caminho. As bexigas eram, em geral, de cera e preenchidas com água ou outros líquidos.
Essas bexigas eram conhecidas como limões-de-cheiro e poderiam ter outros líquidos, como perfumes, e até líquidos com cheiro ruim, como urina. Além disso, era comum que pessoas ficassem na sacada de suas casas, esperando que pessoas passassem nas ruas para lançar água nelas. Ovos, papéis e laranjas também poderiam ser lançadas nas pessoas durante o entrudo.
Outra brincadeira comum era a de passar polvilho no rosto de pessoas negras e graxa no rosto de pessoas brancas, além de sujar pessoas com barro e realizar diversos outros tipos de brincadeiras entendidas como cômicas. Muitas pessoas que se arriscavam a sair nas ruas durante o entrudo levavam consigo guarda-chuvas, para se proteger da água e da farinha que eram lançadas contra as pessoas.
Leia também: Samba-enredo — a história de um dos principais elementos do desfile das escolas de samba
Origem do entrudo
Como citado, o entrudo se estabeleceu como prática cultural em Portugal no século XI, e celebrações populares semelhantes eram realizadas em outras partes da Europa durante a Idade Média e Idade Moderna. Ele acontecia nos três dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas. A prática chegou ao Brasil durante a colonização, acredita-se no século XVII.
O termo entrudo tem origem no idioma latino, derivando de introitos (entrada, começo) e pode ter relação com celebrações da primavera que aconteciam em tribos que habitavam a Península Ibérica na Antiguidade. Muitos historiadores entendem que o entrudo levou esse nome como forma de marcar a despedida dos valores da carne e a entrada do período da Quaresma e todas as suas restrições.
Curiosidades sobre o entrudo
- Apesar de ser um momento de festividade e liberação de normas, o entrudo não permitia o desrespeito a pessoas de classes superiores. Assim, pessoas de classes baixas não realizavam suas brincadeiras contra pessoas de classes superiores ou autoridades, pois isso poderia resultar em prisão.
- Era comum que famílias e amigos marcassem entrudos privados entre eles.
- Os limões-de-cheiro eram confeccionados por mulheres, em grande parte, e movimentam a economia dos locais em que o entrudo ocorria.
Fontes
ARAÚJO, Patrícia Vargas Lopes de. Outros tempos, outros carnavais: brincadeiras de entrudo e de Carnaval no Brasil (século XIX). Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/territoriosefronteiras/index.php/v03n02/article/view/994
ARAÚJO, Patrícia Vargas Lopes de. Os festejos de entrudo no século XIX. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/tecap/article/download/10331/8118/35616
MONTEIRO, Débora Paiva. O mais querido “fora da lei”: um estudo sobre o entrudo na cidade do Rio de Janeiro (1889-1910). Disponível em: http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276734712_ARQUIVO_MONTEIRO_2010__ANPUHRJ.pdf