Tutu
O Tutu é um monstro que faz parte do folclore brasileiro e é muito mencionado em canções de ninar cantadas para fazer crianças dormirem. Ele é associado com o bicho-papão e sua lenda sofre variações regionais, por isso ele é conhecido por diferentes nomes ao redor do Brasil, como Tutu-Marambaia, Tutu-Zambê, entre outros.
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Quem é o Tutu?
O Tutu é um monstro presente no folclore brasileiro que é muito mencionado em canções de ninar cantadas com o intuito de fazer com que as crianças durmam. Não existem muitos detalhes sobre o Tutu na cultura popular, sendo ele definido como um monstro negro sem características físicas definidas.
Na prática, o Tutu é entendido como um bicho-papão, o monstro que devora as crianças que não dormem na hora certa. O Tutu é um de uma série de lendas usadas para amedrontar crianças e forçá-las a dormir, sendo essa uma prática muito comum na cultura europeia e que foi trazida para o Brasil durante a colonização.
Apesar disso, o Tutu é uma lenda que também sofreu influência da cultura africana, uma vez que o nome desse monstro se originou de uma palavra oriunda do quimbundo, um idioma que é falado em parte do território de Angola. A palavra em questão é “quitutu”, cujo significado é “ogro” ou “papão”.
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Características da lenda
A lenda do Tutu, como qualquer lenda presente no folclore brasileiro, sofre variações de acordo com a região do país em que se apresenta. Assim, ela pode ter algumas características distintas dependendo do lugar do Brasil em que estivermos. Uma primeira variação da lenda fala que o Tutu, além de ser um monstro, tem como características grande força e fama de brigão.
Outro aspectos em que podemos identificar as variações que a lenda sofre no Brasil é a forma pelo qual ela é conhecida. O Tutu pode ser chamado por diferentes nomes em nosso país, como Tutu-Zambê, Tutu-Cambê, Tutu-Marambaia, Tutu-do-Mato, etc.
Outra variação é encontrada na Bahia, estado em que a fama da força do Tutu fez com que ele fosse relacionado com um animal: o porco-do-mato. Segundo a explicação do antropólogo e folclorista Luís da Câmara Cascudo|1|, essa associação pode ter relação com a forma pela qual esse animal é conhecido nesse estado: caititu. Assim, a palavra “caititu” confundiu-se com “Tutu”.
No caso de Tutu-Zambê, o nome pode ser uma variação de nzumbi, palavra do idioma quimbundo para “fantasma”. Especula-se ainda que esse nome de Tutu pode derivar de “zambeta”, que significa “torto”; e “acan-apê”, que significa “degolado”|1|. Nesse último caso, haveria uma fusão de um idioma oriundo da África com tupi.
Levando em consideração esses casos, Tutu poderia então ser um monstro com uma perna só ou então sem cabeça. Já Tutu-Marambaia se apresenta com uma fusão proveniente de expressões do nhengatu e do quimbundo. Nesse último caso, a palavra faz uma associação do Tutu com tudo que é ruim e mau.
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Canções de ninar
Como citado, a lenda do Tutu se relaciona com as canções de ninar assombradoras que eram cantadas para as crianças dormirem. Nelas o objetivo é fazer com que as crianças durmam por meio de ameaças de monstros que podem devorá-las, caso elas não durmam. Essa prática não existia entre os indígenas e foi introduzida no Brasil por meio da influência da cultura europeia. Os indígenas cantavam canções desejando que os animais emprestassem o seu sono para as crianças.
Uma dessas canções de ninar aterrorizantes foi apresentada por Luís da Câmara Cascudo|1|:
Calai, menino, calai,
Calai, que lá vem tutu,
Que no mato tem um bicho
Chamado Carrapatu.
Notas
|1| CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012.