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Luís Carlos Prestes

Luís Carlos Prestes foi um dos nomes mais importantes da política brasileira no século XX. Iniciou sua trajetória como militar, tornou-se um revolucionário e lutou contra os governos oligárquicos da Primeira República. Na década de 1930, aderiu ao marxismo e foi um dos grandes nomes de oposição ao governo de Getúlio Vargas.

A partir da década de 1940, apoiou a democratização do Brasil e, quando a ditadura foi instituída, teve de se exilar em razão da perseguição exercida pelos militares. Um dos momentos mais conhecidos da vida de Prestes foi o seu relacionamento com Olga Benário, revolucionária alemã. Prestes presenciou a redemocratização do Brasil na década de 1980 e faleceu em março de 1990.

Primeiros anos

Luís Carlos Prestes nasceu em 3 de janeiro de 1898, na cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul. Seu pai chamava-se Antônio Pereira Prestes e era um militar com carreira de sucesso no Exército brasileiro, tendo, inclusive, um papel significativo na Proclamação da República, em 1889. Sua mãe chamava-se Leocádia Felizardo Prestes e era filha de um rico comerciante.

Luís Carlos Prestes e seus quatro irmãos acabaram sendo criados somente pela mãe, uma vez que o pai faleceu na primeira década do século XX. Leocádia tornou-se professora, atuando no ensino primário até o ano de 1930. Por essa razão, a vida de Prestes, durante sua infância, ficou marcada pelas dificuldades financeiras.

Prestes ingressou na carreira militar por meio do Colégio Militar no Rio de Janeiro e conseguiu formar-se como engenheiro militar em 1920. Nos meios militares, chegou a alcançar a patente de capitão, aderiu ao movimento tenentista e envolveu-se com a preparação da Revolta do Forte de Copacabana, em 1922. Foi enviado para o Rio Grande do Sul como punição pelo envolvimento com a revolta e acabou demitindo-se dois anos depois.

Acesse também: Entenda o movimento que levou Getúlio Vargas à presidência do Brasil

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Tenentismo e a Coluna Prestes

Depois de abandonar o Exército, Prestes atuou como engenheiro em uma cidade no interior do Rio Grande do Sul. Logo depois, uma revolta tenentista estourou no estado, e ele assumiu um papel de liderança no 1º Batalhão Ferroviário. Eles enfrentaram um cerco imposto pelas tropas do governo e marcharam até o Paraná para socorrer os tenentistas paulistas rebelados .

Luís Carlos Prestes (sentado, é o 3º da esquerda para a direita) foi um dos grandes líderes da Coluna Prestes.[1]
Luís Carlos Prestes (sentado, é o 3º da esquerda para a direita) foi um dos grandes líderes da Coluna Prestes.[1]

A ação dos militares revoltosos no Rio Grande do Sul e São Paulo ia ao encontro dos ideais tenentistas – um grande grupo de jovens oficiais que despontou durante a década de 1920, no interior do Exército brasileiro, e que pregava a ação armada como forma de modernizar o Brasil. Eles eram contrários ao domínio da política pelas oligarquias e defendiam melhorias no sistema eleitoral do país para colocar fim às fraudes eleitorais.

As tropas de tenentistas gaúchos liderados por Prestes reuniram-se com as tropas dos tenentistas paulistas na cidade de Foz do Iguaçu, em março de 1925. Prestes foi um dos defensores da união de paulistas e gaúchos para que eles pudessem marchar pelo país na luta contra o governo do presidente Artur Bernardes.

A proposta de Prestes acabou sendo adotada e dela surgiu a Coluna Prestes, um movimento de tenentistas rebelados que cruzou o Brasil entre 1925 e 1927. A coluna acabou adotando o nome de Prestes e ele acabou ficando conhecido no Brasil como o “Cavaleiro da Esperança”, tornando-se uma das lideranças mais importantes da Coluna.

Prestes dividiu a liderança da coluna com Miguel Costa e Isidoro Lopes. Ao todo, a Coluna Prestes foi formada por cerca de 1.500 homens, que, mal armados, cruzaram o país no enfrentamento contra o Exército. Ao todo, a Coluna Prestes marchou por 25.000 quilômetros, passando por treze estados, na luta contra Artur Bernardes.

A ação da Coluna contra as tropas do governo ficou marcada pela “guerra de movimento” e assumiu táticas de guerrilha, pois não tinha condições de suportar um confronto direto. Por esse motivo, ao longo dos dois anos de duração, a Coluna não perdeu uma só batalha. Os historiadores, no entanto, sugerem que a invencibilidade não garantiu apoio popular.

O historiador Daniel Aarão Reis indica que, em alguns casos no interior do Brasil, a chegada da coluna em algumas cidades trouxe pânico, uma vez que populações fugiam temendo que os membros da Coluna promovessem saques e massacres. Ele também fala que tudo que era recolhido pela Coluna era registrado com um recibo de pagamento para quando o governo revolucionário fosse estabelecido. O historiador relata, ainda, que os excessos cometidos pelos membros da Coluna pelos lugares que passavam eram duramente reprimidos por Prestes|1|.

Adesão ao socialismo

Apesar da invencibilidade e dos grandes feitos, a Coluna Prestes fracassou por não possuir recursos suficientes para sustentar o conflito contra o governo. A falta de armamentos foi algo crucial e, em 1927, os membros da coluna decidiram encerrar seu movimento. Luís Carlos Prestes resolveu exilar-se na Bolívia e lá trabalhou um período na Bolivian Company Limited.

Depois da Bolívia, Prestes ainda residiu na Argentina e no Uruguai e foi nesse período que aprofundou seu conhecimento na teoria marxista, fazendo leituras de teóricos como Marx, Engels e Lenin. Daniel Aarão Reis afirma, por meio de depoimento do próprio Prestes, que uma das leituras que mais o influenciaram no período foi O Estado e a Revolução, de Lenin.

Em 1930, foi convidado a participar da Aliança Liberal, a chapa eleitoral formada com o intuito de derrotar Júlio Prestes na eleição presidencial de 1930. Prestes negou o convite e criticou ex-parceiros da Coluna Prestes que aderiram à chapa. Nesse ano, ele publicou o Manifesto de Maio, no qual criticava o adesismo a Vargas e anunciava suas visões com uma plataforma socialista.

Sua aproximação com o socialismo foi resultado da influência de Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista do Brasil (PCB). Ele tinha feito diversos convites para que Prestes aderisse ao PCB, mas este recusou todos até 1930.

O crescente contato de Prestes com os comunistas acabou fazendo com que ele recebesse um convite vindo da Internacional Comunista, em Moscou. Nesse convite, Prestes foi incentivado a se mudar para Moscou, na União Soviética, para que pudesse trabalhar como engenheiro e aprofundar seus estudos na teoria marxista.

Acesse também: Tortura durante o Estado Novo

Intentona Comunista

Prestes permaneceu em Moscou até meados de 1935, quando resolveu voltar para o Brasil para se engajar na luta contra o avanço do fascismo, representado no Brasil pelo movimento integralista. Para isso, Prestes engajou-se na Aliança Nacional Libertadora (ANL), um grupo de orientação socialista que procurava lutar contra o fascismo. Prestes foi nomeado Presidente de Honra da ANL.

O fracasso da Intentona Comunista fez com que Prestes ficasse preso de 1936 a 1945.[1]
O fracasso da Intentona Comunista fez com que Prestes ficasse preso de 1936 a 1945.[1]

Foi durante a viagem de volta da União Soviética para o Brasil que Prestes conheceu Olga Benário, uma revolucionária alemã que tinha ficado responsável pela segurança de Prestes em seu retorno ao Brasil. Em razão da proximidade, eles acabaram engatando um relacionamento. Olga permaneceu no Brasil e presenciou o papel de Prestes no crescimento da ANL e na organização de uma tentativa de revolução no país.

O crescimento da ANL foi vertiginoso, e milhares de pessoas filiaram-se ao partido nos primeiros meses de 1935. Isso chamou a atenção de Vargas, e o partido foi colocado na ilegalidade. No fim de 1935, os membros da ANL realizaram uma insurreição em novembro de 1935 para derrubar o governo.

Esse levante ficou conhecido como Intentona Comunista e estourou em três lugares: Recife, Natal e Rio de Janeiro. O movimento foi um fracasso, pois as tropas do governo de Vargas rapidamente derrotaram os focos da revolta, que ficou marcada pela má organização. A resposta de Vargas aos comunistas foi implacável, e quase todos os envolvidos foram presos e torturados a mando do chefe de polícia, Filinto Müller.

Prestes e Olga Benário também foram presos, em 5 de março de 1936. Ele acabou sendo condenado a 47 anos de prisão, e sua companheira foi deportada para a Alemanha, mesmo grávida. A deportação de Olga é entendida pelos historiadores como uma medida extremamente absurda, pois, além de grávida, tratava-se de uma judia sendo enviada para a Alemanha Nazista, regime que matou milhões de judeus em razão do antissemitismo.

A filha de Prestes nasceu em 1936, na prisão de Barnimstrasse. Uma campanha internacional acabou convencendo o governo alemão a devolvê-la para a família de Prestes. Olga foi morta em um campo de concentração em 1942, e a filha de Prestes, Anita Leocádia, só conheceu o pai depois que ele foi anistiado, em 1945.

Acesse também: Campos de concentração – um dos locais que simbolizam os horrores do Holocausto

Vida política

Depois de ser libertado em 1945, Prestes aderiu ao queremismo, um movimento que reivindicava a permanência de Vargas no poder. A adesão de Prestes a um movimento em apoio de Vargas, o homem contra quem ele lutou na década de 1930 e que enviou sua companheira para a morte na Alemanha Nazista, é explicada pelos historiadores como parte de uma orientação do governo soviético para que os comunistas espalhados pelo mundo apoiassem os regimes que lutassem contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) na Segunda Guerra Mundial.

Luís Carlos Prestes foi eleito senador brasileiro em 1945, mas a perseguição aos comunistas acabou lançando-o na ilegalidade em 1948. [1]
Luís Carlos Prestes foi eleito senador brasileiro em 1945, mas a perseguição aos comunistas acabou lançando-o na ilegalidade em 1948. [1]

Prestes ingressou no PCB e iniciou sua carreira na política como resultado da democratização que o Brasil experimentou a partir da deposição de Vargas, em outubro de 1945. Ele disputou a eleição de 1945 para os cargos de deputado federal e de senador (na época era permitido disputar diferentes cargos de uma só vez) e foi eleito deputado por três estados e senador pelo Distrito Federal. Acabou optando por assumir o cargo de senador.

A trajetória política de Prestes e de outros candidatos eleitos pelo PCB estendeu-se somente até 1948. Como resultado da repressão aos comunistas, uma consequência da aproximação do Brasil com os Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, o PCB foi colocado na ilegalidade. Assim, os políticos eleitos pelo partido tiveram seus mandatos cassados.

Prestes viveu um período de dez anos de clandestinidade e só pôde retornar à sua vida “normal” quando o pedido de prisão contra ele foi revogado, em 1958. Com o Golpe de 1964, Prestes teve de retornar para a ilegalidade porque teve seus direitos políticos cassados novamente e passou a ser perseguido pelo regime.

Com isso, ele novamente se exilou, em 1971. Mudou-se para Moscou e lá permaneceu até 1979, quando a anistia concedida pelos militares, durante o governo Geisel, permitiu que ele retornasse ao Brasil. A partir de 1980, Prestes rompeu com o PCB em razão de divergências ideológicas com o comando do partido.

Atuou ao longo da década de 1980 na defesa das forças da redemocratização do Brasil e apoiou candidatos comprometidos com valores democráticos nas eleições que aconteceram nesse período. Nos últimos meses de sua vida, apoiou a candidatura de Leonel Brizola para a eleição de 1989, ficando deprimido com a derrota de seu candidato.

Acesse também: Castello Branco – o governo do primeiro presidente militar durante a ditadura

Morte

No começo de 1990, os problemas de saúde de Prestes tornaram-se cada vez mais graves. Em 7 de março de 1990, ele faleceu na cidade do Rio de Janeiro, aos 92 anos de idade. Prestes foi homenageado por diversas figuras políticas da época, inclusive pelo então presidente, Fernando Collor de Mello.

Notas:

|1| REIS, Daniel Aarão. Luís Carlos Prestes: um revolucionário entre dois mundos. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

Crédito das imagens:

[1] FGV/CPDOC

Publicado por Daniel Neves Silva

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