Operação Valquíria
Operação Valquíria é como ficou conhecida a operação realizada para matar Adolf Hitler, tendo acontecido em 20 de julho de 1944. Essa tentativa de assassinato do líder da Alemanha Nazista foi realizada por membros do próprio Partido Nazista que estavam insatisfeitos com a forma que Hitler conduzia o país. A tentativa de assassiná-lo, no entanto, fracassou, e a reação contra os opositores do nazismo foi ferrenha.
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Resistência Alemã
A Operação Valquíria foi resultado da insatisfação de membros da cúpula da Wehrmacht (exército alemão) com a forma como Adolf Hitler administrava a Alemanha. Os conspiradores que fizeram parte dela eram membros da Resistência Alemã, grupo que, desde 1938, cogitava a possibilidade de rebelar-se contra o líder nazista.
Essa resistência alemã, como mencionado, nasceu no seio do alto escalão do nazismo e teve como ponto de partida a crise envolvendo os Sudetos. Em 1938, Hitler manifestou sua intenção de invadi-los e anexá-los à Alemanha, e isso deu início a uma crise diplomática entre alemães, britânicos e franceses.
Membros do exército alemão preocuparam-se pelo fato de que esse acontecimento poderia arrastar a Europa inteira para a guerra. Os sucessos militares que a Alemanha teve na guerra entre 1939 e 1941, porém, fizeram com que muitos opositores abandonassem a ideia de depor o líder nazista do comando do país.
Apesar da resistência a Hitler ter sido enfraquecida no seio do exército a partir de 1939, ainda sim houve tentativas de assassiná-lo feitas por pessoas que agiam sozinhas. Esse foi o caso de Georg Elser, que tentou matá-lo por um ataque à bomba em uma cervejaria localizada na cidade de Munique, em novembro de 1939.
Alguns membros do exército e do partido, como Ulrich von Hassel, permaneceram opondo-se a Hitler, mesmo com as vitórias na guerra. Outros, porém, foram convertendo-se à resistência, na medida em que a guerra avançava e Hitler tomava decisões cada vez mais questionáveis. No segundo caso, podemos citar Henning von Tresckow, general que rearticulou a ideia de resistência a partir de 1941.
O que motivou Tresckow a fortalecer a ideia dessa resistência foi a chamada Lei dos Comissários, que ordenava membros do exército alemão a executarem comissários do exército soviético capturados na guerra. O general tinha sido formado na tradição militar prussiana e considerava indigno o ato de executar sumariamente inimigos capturados. A insatisfação de Tresckow deu origem à Operação Valquíria.
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Motivos para a resistência a Hitler
Acontecimentos no curso da guerra acabaram motivando que outros membros do exército e do partido acabassem aderindo às ideias de matar Hitler. O fortalecimento da oposição cresceu principalmente a partir de 1941 e 1942, quando as condições da guerra tornaram-se duras demais e os horrores do Holocausto ganharam forma.
Existiam muitos membros do exército que tinham apoiado o nazismo de maneira convicta, ao longo da década de 1930, mas que começaram a mostrar-se insatisfeitos com as decisões tomadas por Hitler na guerra, sobretudo pelas derrotas sofridas com a invasão da União Soviética. Outros, por sua vez, estavam indignados com os horrores promovidos pelo nazismo contra os judeus.
O historiador Richard J. Evans relata a existência de alguns membros importantes do exército alemão que se manifestaram contra o tratamento dedicado aos judeus e aos soviéticos no Leste Europeu|1|. Outros demonstravam ser contrários aos métodos utilizados contra os judeus e não pela perseguição em si.
Essa gama de insatisfação com a derrota militar, temor pela destruição da Alemanha na guerra e indignação com a forma que os judeus eram tratados durante o Holocausto foi que levou muitos oficiais nazistas para a resistência. Entre os nomes que a aderiram estão: Helmuth von Moltke, Johannes Popitz e Wolf Heinrich, por exemplo.
Operação Valquíria
A conspiração para a Operação Valquíria nasceu em meados de 1943 e teve como grandes nomes Henning von Tresckow, Friedrich Olbricht e Claus Schenk Graf von Stauffenberg. Os conspiradores decidiram que era necessário assassinar Hitler, e, depois de matá-lo, realizariam um golpe militar para tomar o poder da Alemanha e realizar uma saída negociada da guerra. Muitos defendiam a possibilidade de negociar a manutenção de alguns dos territórios conquistados no curso da guerra.
Na medida em que a conspiração foi sendo organizada, os membros da Operação Valquíria foram buscando possíveis apoiadores dentro do exército. Duas tentativas de assassinar Hitler foram realizadas em 1943, uma em 13 de março e outra em 21 de março, mas ambas fracassaram.
Uma série de infortúnios acabou fazendo com que a operação atrasasse consideravelmente seus esforços. A Gestapo, a polícia secreta dos nazistas, estava no encalço de possíveis conspiradores, e isso fez com que alguns nomes da resistência fossem presos e mortos. Apesar dos percalços, os conspiradores definiram qual estratégia seria usada: Hitler deveria ser morto em seu próprio quartel-general.
Para que o plano desse certo, era necessário, claro, alguém disposto a realizar a tentativa de assassinato contra o líder nazista, e foi aí que apareceu Stauffenberg. O coronel alemão tinha decidido que era necessário eliminar Hitler por volta de 1942 e 1943. Os motivos que o fizeram decidir por matar Hitler foi sua percepção de que esse levava o país à ruína e sua indignação com o Holocausto.
Stauffenberg decidiu que ele mesmo conduziria o assassinato quando ele foi designado para ser chefe do Estado-Maior de Friedrich Fromm, um oficial alemão que sabia da conspiração, mas que não tinha grande envolvimento com ela. Com o novo cargo, Stauffenberg tinha acesso direto à Hitler no quartel-general do exército alemão.
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Atentado do dia 20 de julho
Foi fazendo uso de seu cargo que Stauffenberg resolveu agir. Em julho, ele participou de diversas reuniões do comando nazista no quartel-general do exército alemão chamado Wolfsschanze (toca do lobo, em português). Após algumas tentativas frustradas, Stauffenberg decidiu realizar o atentado no dia 20 daquele mês.
Em 20 de julho, ele armou uma bomba que estava em uma maleta e levou-a para o quartel-general citado, que ficava em Rastenburg, território da Prússia Oriental naquela época (atualmente faz parte do território polonês). Ele levou a maleta com a bomba para a sala de reunião onde estava Hitler e retirou-se da sala sob a alegação de atender um telefonema.
A bomba explodiu, fez um bom estrago no ambiente, feriu vários dos presentes e matou quatro. Nenhum dos mortos era Hitler. O líder alemão sobreviveu sendo protegido da explosão pela mesa de reunião que estava na sala (Hitler estava no lado oposto da mesa), e só teve alguns ferimentos, como pequenas queimaduras e seus tímpanos estourados. Logo após a explosão, Stauffenberg embarcou em um voo para Berlim.
Depois de informar outros membros da conspiração que Hitler provavelmente tinha morrido, o golpe militar foi iniciado em Berlim, mas fracassou quando a notícia de que Hitler havia sobrevivido espalhou-se. No mesmo dia, Fromm, procurando apagar vestígios que o pudessem relacionar com os conspiradores, prendeu os envolvidos com a Operação Valquíria, condenou-os e executou-os sumariamente.
No dia 21 de julho, Claus Stauffenberg, Friedrich Olbricht, Hans Bernd von Haeften e Albrecht Mertz von Quirnheim foram fuzilados. A repressão que se seguiu após isso fez com que outros envolvidos com a conspiração fossem presos e focos de resistência localizados em Paris, Viena e Praga também foram desmantelados. Alguns dos conspiradores, como Tresckow, para evitar serem presos, cometeram suicídio. Assim, em um grande fracasso, terminou a última e mais famosa tentativa de assassinar Adolf Hitler.
Nota
|1| EVANS, Richard J. Terceiro Reich em guerra. São Paulo: Planeta, 2016, p. 727-728.
Créditos das imagens
[1] IgorGolovnion e Shutterstock
[2] Szymon Mucha e Shutterstock