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Gênero épico

O gênero épico engloba textos narrativos caracterizados pela presença de um herói e suas ações fora do comum. A origem desse gênero literário está na Antiguidade. Desse modo, as obras mais antigas pertencentes a ele são A epopeia de Gilgámesh, de autor anônimo e de origem mesopotâmica, além da Ilíada e da Odisseia, do poeta grego Homero.

As principais características do gênero épico são a presença de narrador, personagem heroico, enredo, tempo e espaço. Além disso, o poema épico apresenta proposição (ou prólogo), invocação, dedicatória, narração das aventuras do herói e conclusão (ou epílogo).

Leia também: Romance – gênero textual que teve como base o gênero épico

Origem do gênero épico

Gilgámesh, o herói mitológico da Epopeia de Gilgámesh.
Gilgámesh, o herói mitológico da Epopeia de Gilgámesh.

O gênero épico surgiu na Antiguidade. Originalmente, a epopeia tinha o objetivo de homenagear os heróis nacionais. Portanto, apresentava, também, um caráter histórico. Dessa forma, buscava estimular o povo a enfrentar as dificuldades de sua existência com a mesma coragem e determinação de seus heróis.

As epopeias primárias, isto é, as mais antigas, são a Ilíada e a Odisseia, do poeta grego Homero. Assim, elas foram produzidas, supostamente, no século VIII a. C. Contudo, existe um poema épico mais antigo do que os de Homero. Estamos falando da Epopeia de Gilgámesh (2000 a.C., aproximadamente), originária da Mesopotâmia e considerada o texto mais antigo da literatura mundial.

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Principais características do gênero épico

O gênero épico é composto por narrativas, as quais apresentam:

  • narrador: onisciente, observador ou personagem;

  • personagens: planas ou redondas;

  • enredo: a trama da história;

  • tempo: cronológico ou psicológico;

  • espaço: lugar onde ocorre a ação.

Contudo, para ser considerado épico, o texto narrativo precisa trazer um ou mais personagens heroicos e seus feitos extraordinários. A presença de um herói, portanto, diferencia um texto épico de outro puramente narrativo.

Assim, um poema épico (ou epopeia) é dividido em cantos e possui a seguinte estrutura:

  • proposição ou prólogo: indicação da temática e menção ao nome do herói;

  • invocação: o narrador pede inspiração a um ser divino;

  • dedicatória: o poeta dedica sua obra a alguém importante;

  • narrativa: o relato das aventuras vividas e dos obstáculos vencidos pelo protagonista.

  • conclusão ou epílogo: o final da história.

Portanto, uma narrativa épica possui um herói forte e corajoso, pronto para vencer os obstáculos que dificultam o cumprimento de sua missão. Para isso, o protagonista tem a ajuda de seres fantásticos, como deuses ou deusas. Porém, às vezes, essas divindades são as causadoras das dificuldades que surgem no caminho do herói.

Leia também: Haicai – poema de forma fixa de origem japonesa

Textos épicos

A seguir, vamos ler um trecho de cada um dos principais textos épicos da literatura mundial.

  • A epopeia de Gilgámesh, de autor anônimo

Conta as aventuras do herói Gilgámesh|1|:

Proeminente entre os reis, herói de imponente físico,

Valente rebento de Úruk, touro selvagem indomável:

Vai à frente, é o primeiro,

Atrás vai e protege os irmãos.

 

Margem firme, abrigo da tropa,

Corrente furiosa que destroça baluartes de pedra.

Amado touro de Lugalbanda, Gilgámesh perfeito em força,

Cria da sublime vaca, a vaca selvagem Nínsun.

 

Alto é Gilgámesh, perfeito, terrível:

Abriu passagens nas montanhas,

Cavou cisternas nas encostas do monte,

Atravessou o mar, o vasto oceano, até onde nasce Shámash

[...]

  • Ilíada, de Homero

Capa do livro Ilíada, de Homero, publicado pela editora Companhia das Letras.[1]
Capa do livro Ilíada, de Homero, publicado pela editora Companhia das Letras.[1]

Relata as aventuras dos heróis da Guerra de Troia (1250-1180 a. C.)|2|:

Da nau fervia o prélio, e ao divo Aquiles

Vem Pátroclo a verter cálido choro,

Como de celsa rocha em fio brota

Fundo olho d’água. [...]

Gemente assim Pátroclo: “Não te agastes,

Aqueu sem par; dor grave oprime os nossos:

Os mais valentes já feridos jazem,

De lança o Atrida e Ulisses, e frechados

Na coxa Eurípilo e no pé Diomedes.

Médicas mãos os curam cuidadosas;

Mas não se dobra teu rancor, Pelides.

Nunca ira tal me cegue, herói funesto!

Quem mais em teu valor fiar-se pode,

Quando não livras da ruína os Gregos?

[...]

  • Odisseia, de Homero

Narra as peripécias de Ulisses (ou Odisseu), que volta para casa, após a Guerra de Troia, e precisa se vingar dos pretendentes de sua esposa Penélope, os quais acreditavam que o herói estava morto|2|:

Ulisses ao vestíbulo descansa:

Em cru taurino coiro estende peles

De imoladas ovelhas, e por cima

Eurínoma lhe deita espessa manta;

Lá, na vingança meditando, vela.

[...]

Bate nos peitos e cogita: “Cala,

Meu coração! mais suportaste quando

O atroz Ciclope devorou-me os sócios:

Com prudência da cova te livraste,

Onde supunhas trucidado seres.”

Assim reprime o palpitar interno,

Tem-se; mas anda pela cama às voltas.

[...]

  • Eneida, de Virgílio

Conta a história do herói troiano Eneias, o principal ancestral do povo romano|2|:

Ei-lo em secreto vale descortina

Selva escusa de arbustos sussurrantes:

[...]

Se em flores várias por sereno estio

Senta o enxame e se espalha entre açucenas,

Do estrépito murmura o campo todo.

Ínscio, atalhado, a causa indaga Eneias,

Que rio este é, que gente em cópia tanta

Lhe enche as ribas. “Aos corpos destinados,

Disse o padre, almas são que eterno olvido

N’água leteia descuidosa bebem.

Muito há que tas mostrar e expor-te anelo

Dos meus a descendência; a fim que ainda

Te regozijes mais da Itália achada.”

“Pois é crível, meu pai, que almas sublimes

Aos tardos corpos, ressurgindo, voltem?

Oh! desejo de vida insano e triste!”

[...]

  • Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões

Narra as aventuras do herói Vasco da Gama (1469-1524) a caminho da Índia:

“Esta é, por certo, a terra que buscais

Da verdadeira Índia, que aparece;

E se do mundo mais não desejais,

Vosso trabalho longo aqui fenece.”

Sofrer aqui não pôde o Gama mais,

De ledo em ver que a terra se conhece;

Os giolhos no chão, as mãos ao Céu,

A mercê grande a Deus agradeceu.

[...]

Notas

|1| Tradução de Jacyntho Lins Brandão.

|2| Tradução de Manoel Odorico Mendes.

Crédito da imagem

[1] Companhia das Letras (reprodução)

Publicado por Warley Souza

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