Paulo Leminski
Paulo Leminski foi um poeta e crítico do modernismo brasileiro. Ele é conhecido por sua manipulação da linguagem, com muito humor, elementos de poesia concreta, trocadilhos, palavrões e linguagem coloquial, mas valorizava a boa construção do texto. Ele é mais conhecido por seus livros de poesia, mas escreveu para jornais e revistas, produziu romances, críticas e obras focadas no infantojuvenil.
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Resumo sobre Paulo Leminski
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Paulo Leminski nasceu em Curitiba, em 24 de agosto de 1944.
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Cresceu com interesse no estudo de muitos assuntos.
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Ingressou no Mosteiro de São Bento, mas foi expulso.
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Participou da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em 1963.
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Trabalhou como professor, tradutor, redator e crítico.
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A cultura japonesa é uma grande influência em suas obras.
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Casou-se em 1968 e teve três filhos.
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Morreu em 7 de junho de 1989 por cirrose hepática.
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Faz parte do modernismo brasileiro.
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Apoia a liberdade de forma.
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Usa humor, trocadilhos e ironia.
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A maior parte de sua obra é de poesia.
Biografia de Paulo Leminski
Paulo Leminski Filho nasceu em 24 de agosto de 1944 em Curitiba, no Paraná. Foi filho de Paulo Leminski, um militar da Polônia, e de Áurea Pereira Mendes, de ascendência africana e indígena. Teve contato com a literatura já na infância, pois lia livros, jornais e revistas em sua casa. Pelas transferências do pai, saiu de Curitiba e só retornou aos 12 anos.
Foi com essa idade que ingressou no Mosteiro de São Bento e estudou Latim, Teologia, Filosofia e Literatura Grega e Clássica, como Camões e Homero. Lá, foi conhecido como um aluno dedicado, com uma memória excelente e muita curiosidade. Entretanto, em 1959, o autor foi convidado a se retirar do mosteiro pela descoberta de um álbum de fotos secretas de mulheres famosas.
Após a saída do mosteiro, ele continuou aprofundando seus estudos em diversos campos, como Latim, História, Francês e Hebraico. Paulo participou da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em 1963, e conheceu os criadores do movimento da Poesia Concreta (movimento poético que explora os aspectos gráficos e visuais), Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos.
No ano seguinte, passa a trabalhar como professor de História e Redação para pré-vestibulandos (o que, futuramente, inspiraria seu livro Catatau, publicado em 1976), e seus poemas foram publicados, pela primeira vez, na revista Invenção (editada pelos poetas concretistas). Também trabalhou em agências publicitárias como diretor de criação e redator.
Leminski passou a se interessar pela cultura japonesa e pelo zen-budismo. Além disso, por suas leituras de Bashô (poeta japonês do século XVII), descobriu o haicai (tipo de poema de três versos, o primeiro e o terceiro com cinco sílabas e o segundo com sete). Essa admiração é um dos elementos que mostra a sua valorização da forma da poesia, da construção como uma espécie de artesanato. Ele praticou judô, sendo até professor, e escreveu seus próprios haicais e uma biografia de Bashô. Já a Literatura Grega Clássica inspirou a escrita do poema “Metamorfose”.
Paulo seguiu trabalhando também como tradutor e crítico literário, além de colaborar com revistas e participar de parcerias musicais. Em 1968, casou-se com Alice Ruiz e teve três filhos, Miguel Ângelo (que morreu aos dez anos), Áurea e Estrela. Paulo Leminski morreu em 7 de junho de 1989, por cirrose hepática.
Características literárias de Paulo Leminski
Paulo Leminski faz parte, cronologicamente, da Terceira Geração Modernista (1945-1980), mas está mais alinhado às duas gerações anteriores, com foco na liberdade de forma. Isso não indica desleixo — pelo contrário, já que o autor era muito rigoroso na construção de seus textos, mas não se prendia aos moldes tradicionais. Assim, essas são algumas de suas características:
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Escreve a partir de experiências vividas.
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Humor e ironia.
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Trocadilhos.
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Valoriza a boa construção da poesia, com reflexão sobre o tema e a linguagem.
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Influência da cultura popular.
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Influência da cultura japonesa.
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Influência da poesia marginal.
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Uso de linguagem coloquial.
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Uso de gírias e palavrões.
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Uso de recursos visuais.
Principais obras de Paulo Leminski
→ Poesias de Paulo Leminski
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Quarenta clics em Curitiba (1976)
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Polonaises (1980)
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Caprichos e relaxos (1983)
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Um milhão de coisas (1985)
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Distraídos venceremos (1987)
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La vie en close (1991)
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Metamorfose (1994; ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia de 1995)
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O ex-estranho (1996)
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Winterverno (2001)
→ Romances de Paulo Leminski
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Catatau (1975)
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Agora é que são elas (1984)
→ Biografias de Paulo Leminski
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Cruz e Souza — o negro branco (1983)
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Bashô — a lágrima do peixe (1983)
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Jesus a.C. (1984)
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Trotski — a paixão segundo a revolução (1986)
→ Obras infantojuvenis de Paulo Leminski
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Guerra dentro da gente (1986)
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A lua foi ao cinema (1989)
Análise da obra Catatau, de Paulo Leminski
Catatau foi o primeiro livro publicado do autor, em 1975. A narrativa conta a história de uma hipotética viagem do filósofo francês René Descartes pelo Brasil como parte da expedição de Maurício de Nassau. Esse último administrou a região de Pernambuco durante a invasão holandesa no Brasil, no século XVII. Assim, há um diálogo entre o Brasil Colônia e o Brasil contemporâneo por Leminski.
O livro começa in media res, ou seja, já no meio de um enredo pré-existente, e brinca com a famosa frase do filósofo “Penso, logo existo” (Cogito ergo sum, em latim). Na obra, Descartes, em Olinda, observa com uma luneta a fauna e a flora brasileiras, não as compreende e fica esperando, durante todo o romance, que Articzewski, seu amigo polônes, explique essa questão.
A grande inovação dessa obra, entretanto, veio na forma. É um livro escrito todo em um parágrafo. Assim, Catatau é um romance experimental na linguagem, muito imaginativo e com influência das cinco vanguardas europeias. Dessa forma, ele sai da forma do romance tradicional: usa linguagem coloquial, não é linear, cria palavras novas, entre outros elementos.
Poemas de Paulo Leminski
Os poemas de Paulo Leminski seguem as suas características gerais. O poema “Razão de ser”|1| mostra todo o seu trabalho com a linguagem e, ao mesmo tempo, a mudança da visão dos modernistas sobre a poesia. O tema é metalinguístico, ou seja, ele escreve sobre a própria escrita de poesia. Contudo, desconstrói a visão tradicional de que o poeta é o ser distante e inspirado que trata o escrever como lapidar um diamante, mas mostra a arte como parte da humanidade.
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
Frases de Paulo Leminski
Veja a seguir algumas frases de Paulo Leminski:
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“No fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto.”
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“Os livros sabem de cor milhares de poemas. Que memória! Lembrar, assim, vale a pena. Vale a pena o desperdício.”
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“Amar você é coisa de minutos…”
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“Esta página, por exemplo, não nasceu para ser lida. Nasceu para ser pálida, um mero plágio da Ilíada, alguma coisa que cala, folha que volta pro galho, muito depois de caída.”
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“Este mundo não se justifica, que perguntas perguntar?”
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“O inesperado é sua norma máxima.”
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“Aqui eu sou bárbaro, pois não sou entendido por ninguém.”
Notas
|1| LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
Créditos de imagem
[1] Editora Kotter (reprodução)
[2] Editora Iluminuras (reprodução)