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João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto foi um autor da geração de 1945. A principal característica de suas obras é o rigor formal. Seu livro mais famoso é Morte e vida severina.
João Cabral de Melo Neto, em 1970.
João Cabral de Melo Neto, em 1970.

João Cabral de Melo Neto nasceu em 09 de janeiro de 1920, em Recife. Mais tarde, em 1945, prestou concurso para o Itamarati e se tornou diplomata. Portanto, viveu em diversos países. Contudo, em 1952, quase perdeu o cargo ao ser acusado de subversão. Anos depois, em 1968, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.

O poeta, que faleceu em 09 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, fez parte da geração de 1945. Suas obras são caracterizadas pelo rigor formal, temática social e elementos da cultura popular brasileira. Assim, o livro mais famoso do escritor é o auto de Natal pernambucano Morte e vida severina.

Leia também: Graciliano Ramos – importante representante da geração de 1930

Resumo sobre João Cabral de Melo Neto

  • João Cabral de Melo Neto nasceu em 1920 e morreu em 1999.

  • Além de escritor, foi também diplomata e atuou em vários países.

  • O poeta fez parte da geração de 1945, caracterizada pelo rigor formal.

  • A obra mais conhecida do autor é Morte e vida severina.

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Videoaula sobre João Cabral de Melo Neto

Biografia de João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto nasceu em 09 de janeiro de 1920, em Recife. Foi criado nos engenhos que pertenciam à família, nas cidades de São Lourenço da Mata e de Moreno. Em 1930, voltou a morar em Recife, onde estudou em um Colégio Marista. Mais tarde, em 1940, ele e sua família se mudaram para o Rio de Janeiro.

Em 1942, o escritor publicou seu primeiro livro de poesias — Pedra do sono. Três anos depois, prestou concurso no Itamarati. O poeta se casou, com Stella Maria Barbosa de Oliveira (1920-1986), em 1946. Como diplomata, viajou para vários países. O primeiro foi Espanha, onde atuou em Barcelona. Ali, tornou-se, também, proprietário de uma tipografia.

Voltou ao Brasil em 1952, já que, acusado de ações subversivas relacionadas ao Partido Comunista, teve que responder a um inquérito. Durante o processo, ficou em disponibilidade inativa, sem remuneração, e atuou como secretário de redação do periódico A Vanguarda. No entanto, em 1954, retomou seu trabalho como diplomata.

Estava em Lisboa no ano de 1960. No ano seguinte, foi morar em Brasília, ao assumir o cargo de chefe de gabinete do Ministério da Agricultura. Em 1962, voltou à Espanha. Seis anos depois, em 15 de agosto de 1968, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tomando posse em 06 de maio de 1969, ano em que foi transferido para o Paraguai.

Nos próximos anos, continuou a conciliar sua carreira de escritor com a de diplomata. Assim, em 1984, foi trabalhar como cônsul em Portugal. Em 1986, sua primeira esposa faleceu. Nesse mesmo ano, casou-se com a poetisa Marly de Oliveira (1935-2007). No ano seguinte, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Três anos depois, em 1990, João Cabral de Melo Neto se aposentou como funcionário do Itamaraty. Nessa mesma época, começou a ficar cego e, assim, não pôde mais ler e escrever. Morreu em 09 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro. Durante sua vida, recebeu os seguintes prêmios:

  • Prêmio José de Anchieta (1954)

  • Prêmio Olavo Bilac (1955)

  • Prêmio Jabuti (1967)

  • Prêmio da União Brasileira de Escritores (1988)

  • Prêmio Camões (1990)

  • Prêmio Pedro Nava (1991)

  • Neustadt International Prize (1992) - Estados Unidos

  • Prêmio Rainha Sofia (1994) - Espanha

Veja também: Ariano Suassuna – autor paraibano que uniu a cultura erudita à cultura nordestina

Características da obra de João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto foi um autor da geração de 1945, e suas obras apresentam as seguintes características:

  • Rigor formal

  • Temática social

  • Plurissignificação

  • Realismo

  • Engajamento político

  • Elementos da cultura popular

Obras de João Cabral de Melo Neto

  • Considerações sobre o poeta dormindo (1941)

  • Pedra do sono (1942)

  • Os três mal-amados (1943)

  • O engenheiro (1945)

  • Psicologia da composição com a fábula de Anfion e Antiode (1947)

  • O cão sem plumas (1950)

  • Poesia e composição (1952)

  • Joan Miró (1952)

  • O rio ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife (1953)

  • Morte e vida severina (1955)

  • Uma faca só lâmina (1955)

  • Da função moderna na poesia (1957)

  • Dois parlamentos (1960)

  • Quaderna (1960)

  • Terceira feira (1961)

  • A educação pela pedra (1966)

  • Museu de tudo (1975)

  • A escola das facas (1980)

  • Auto do frade (1984)

  • Agrestes (1985)

  • Crime na calle Relator (1987)

  • Primeiros poemas (1990)

  • Sevilha andando (1990)

  • Prosa (1998)

  • Tecendo a manhã (1999)

Morte e vida severina

Capa de “Morte e vida severina”, publicado com o selo Alfaguara, do Grupo Companhia das Letras.[1]
Capa de “Morte e vida severina”, publicado com o selo Alfaguara, do Grupo Companhia das Letras.[1]

Morte e vida severina, a obra mais famosa de João Cabral de Melo Neto, pode ser considerada, a princípio, como um poema narrativo, já que conta uma história em versos. No entanto, seu subtítulo, “auto de Natal pernambucano”, sugere uma vinculação ao gênero dramático.

Esse auto é dividido em 18 partes:

  1. O retirante explica ao leitor quem é e a que vai. O retirante se apresenta como Severino, um emigrante, e tenta buscar características que o diferenciem dos inúmeros Severinos existentes na região.

  2. Encontra dois homens carregando um defunto numa rede, aos gritos de: “Ó irmãos das almas! Irmãos das almas! Não fui eu que matei não!”. Ao ver os dois homens, Severino quer saber quem é o defunto e tem como resposta que é “um defunto de nada”, de nome Severino Lavrador.

  3. O retirante tem medo de se extraviar porque seu guia, o rio Capibaribe, cortou com o verão. Severino, o protagonista, diz estar consciente de que passará por várias vilas em sua “longa descida”, e compara tais vilas a contas de um rosário. Ele pensou que, ao seguir o rio, jamais se perderia, mas ele não contava com a seca no verão, que interrompe o curso das águas.

  4. Na casa a que o retirante chega estão cantando excelências para um defunto, enquanto um homem, do lado de fora, vai parodiando as palavras dos cantadores. No caminho, ele se depara com um velório, e o morto também se chama Severino.

  5. Cansado da viagem, o retirante pensa interrompê-la por uns instantes e procurar trabalho ali onde se encontra. O protagonista vai refletindo sobre tanta morte e depois decide procurar um emprego. Ao ver uma mulher na janela, resolve perguntar se ela sabe de algum trabalho.

  6. Dirige-se à mulher na janela, que depois descobre tratar-se de quem se saberá. Ela, uma rezadora, responde que “— Trabalho aqui nunca falta/ a quem sabe trabalhar”. Mas como ele é lavrador, não consegue nada, já que ali “pouco existe o que lavrar”.

  7. O retirante chega à zona da mata, que o faz pensar, outra vez, em interromper a viagem. Ao chegar à zona da mata, ele se enche de esperança.

  8. Assiste ao enterro de um trabalhador de eito e ouve o que dizem do morto os amigos que o levaram ao cemitério. Ouve comentários dos amigos de um morto, todos de caráter pessimista (ou realista) ao falarem da condição social do defunto.

  9. O retirante resolve apressar os passos para chegar logo ao Recife. Severino explica por que se tornou um retirante.

  10. Chegando ao Recife, o retirante senta-se para descansar ao pé de um muro alto e caiado e ouve, sem ser notado, a conversa de dois coveiros. Ao chegar ao Recife, ouve os lamentos de dois coveiros, que falam sobre as dificuldades do trabalho. Além disso, mostram que, até na morte, é significativa a desigualdade social.

  11. O retirante aproxima-se de um dos cais do Capibaribe. Em Recife, Severino entende que “nessa viagem que eu fazia,/ sem saber desde o Sertão,/ meu próprio enterro eu seguia”.

  12. Aproxima-se do retirante o morador de um dos mocambos que existem entre o cais e a água do rio. Severino pergunta ao Seu José, mestre carpina, se o rio ali é fundo, pois o protagonista pretende se matar.

  13. Uma mulher, da porta de onde saiu o homem, anuncia-lhe o que se verá. José é informado de que seu filho nasceu.

  14. Aparecem e se aproximam da casa do homem vizinhos, amigos, duas ciganas etc. Algumas pessoas celebram o nascimento do filho de José.

  15. Começam a chegar pessoas trazendo presentes para o recém-nascido. Os presentes dados à criança são coisas simples, pois todos são pobres.

  16. Falam as duas ciganas que haviam aparecido com os vizinhos. Ciganas do Egito fazem previsões sobre a vida do menino.

  17. Falam os vizinhos, amigos, pessoas que vieram com presentes etc. Vizinhos e amigos descrevem a criança: magro, pálido, franzino etc.

  18. O carpina fala com o retirante que esteve de fora, sem tomar parte em nada. José, então, dirige-se a Severino e, acerca do seu desejo suicida, diz a ele: “mas se responder não pude/ à pergunta que fazia,/ ela, a vida, a respondeu/ com sua presença viva”.

Veja também: Poemas de João Cabral de Melo Neto

Frases de João Cabral de Melo Neto

A seguir, vamos ler algumas frases de João Cabral de Melo Neto, retiradas de suas obras O cão sem plumas e Morte e vida severina. Para isso, fizemos uma adaptação, pois transformamos seus versos em prosa:

“O rio ora lembrava a língua mansa de um cão, ora o ventre triste de um cão.”

“Aquele rio era como um cão sem plumas.”

“Liso como o ventre de uma cadela fecunda, o rio cresce sem nunca explodir.”

“Um cão sem plumas é quando uma árvore sem voz.”

“O que vive não entorpece.”

“Viver é ir entre o que vive.”

“É muito mais espesso o sangue de um homem do que o sonho de um homem.”

“Só morte tem encontrado quem pensava encontrar vida.”

“Tua roupa melhor será de terra e não de fazenda: não se rasga nem se remenda.”

Crédito da imagem

[1] Companhia das Letras (reprodução)

Publicado por Warley Souza
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