Ana Cristina Cesar
Ana Cristina Cesar, poetisa brasileira, nasceu em 2 de junho de 1952, no Rio de Janeiro. Aos sete anos de idade, publicou suas primeiras poesias, no jornal Tribuna da Imprensa. Anos depois, fez faculdade de Letras, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), e dois mestrados — Comunicação, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Teoria e Prática da Tradução Literária, pela Universidade de Essex, na Inglaterra.
A autora é considerada, pela crítica especializada, como pertencente à geração mimeógrafo; vinculada, portanto, à poesia marginal dos anos 1970. Seus textos são caracterizados por um discurso confessional, tom coloquial, ironia e fragmentação. Sua obra mais conhecida é A teus pés, publicada em 1982, um ano antes da morte da escritora, que se suicidou em 29 de outubro de 1983, no Rio de Janeiro, em consequência da depressão.
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Biografia
Ana Cristina Cesar nasceu em 02 de junho de 1952, no Rio de Janeiro, em uma família protestante. Seu pai era sociólogo e jornalista; e sua mãe, professora. Antes mesmo de aprender a escrever, a menina poetisa ditava poemas para a sua mãe. Com apenas sete anos de idade, publicou poemas no jornal Tribuna da Imprensa. Assim, antes de fazer faculdade de Letras, estudou na Richmond School for Girls, em Londres, por meio de um programa de intercâmbio, em 1969 e 1970.
Iniciou, em 1971, o curso de Letras na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Nesse mesmo ano, começou a dar aulas no ensino médio e também em escolas de idiomas. Ao terminar a faculdade, em 1975, passou a escrever para periódicos como Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo. Seu primeiro livro — Cenas de abril — foi publicado em 1979, com recursos próprios.
A escritora começou a trabalhar com traduções, fez mestrado em Comunicação, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e concluiu, em 1981, seu segundo mestrado, em Teoria e Prática da Tradução Literária, pela Universidade de Essex, na Inglaterra. Passou, então, a trabalhar como analista de textos para a TV Globo. Porém, em 29 de outubro de 1983, devido à depressão, cometeu suicídio, no Rio de Janeiro.
Características literárias
Ana Cristina Cesar é uma autora vinculada à chamada poesia marginal dos anos 1970; pertencente, portanto, à geração mimeógrafo. Os textos dos poetas dessa geração são chamados de “marginais” devido à forma como eram divulgados, isto é, de forma independente, sem contar com editoras ou livrarias. Essas poesias circulavam em cópias mimeografadas, eram distribuídas de mão em mão nas ruas e praças, ou mesmo jogadas do alto de edifícios.
Além disso, é possível mencionar também as seguintes características da poesia da autora:
- discurso confessional;
- tom coloquial;
- paródias de textos da literatura tradicional.;
- ambiguidade;
- ironia;
- fragmentação;
- crítica à sociedade conservadora;
- reflexão sobre o lugar social da mulher;
- versos longos;
- quebra com a estrutura tradicional do poema;
- ficção autobiográfica.
Obras
→ Poesia
Cenas de abril (1979)
Correspondência completa (1979)
Luvas de pelica (1980)
A teus pés (1982)
Inéditos e dispersos (1985)
→ Crítica
Literatura não é documento (1980)
Crítica e tradução (1999)
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Poesia
No poema “Flores do mais”, do livro Inéditos e dispersos, é possível verificar, no título, uma paródia ao livro Flores do mal, do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867). No texto, o eu lírico ordena a alguém — possivelmente o leitor ou leitora — que realize, devagar, determinadas ações, como escrever, medir, impor, imprimir e pedir. Os versos livres (sem metrificação e sem rimas) são carregados de estranheza e plurissignificação:
Devagar escreva
uma primeira letra
escreva
nas imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais
Já no trecho do poema a seguir, sem título, do livro A teus pés, sobressaem o tom coloquial e a fragmentação:
Trilha sonora ao fundo: piano no bordel, vozes barganhando
uma informação difícil. Agora silêncio; silêncio eletrônico,
produzido no sintetizador que antes construiu a ameaça das
asas batendo freneticamente.
Apuro técnico.
Os canais que só existem no mapa.
O aspecto moral da experiência.
Primeiro ato da imaginação.
Suborno no bordel.
Eu tenho uma ideia.
Eu não tenho a menor ideia.
Uma frase em cada linha. Um golpe de exercício.
Memórias de Copacabana. Santa Clara às três da tarde.
Autobiografia. Não, biografia.
Mulher.
Papai Noel e os marcianos.
[…]
Na mesma ordem de coisas.
Não, não na mesma ordem de coisas.
É domingo de manhã (não é dia útil às três da tarde).
Quando a memória está útil.\
Usa.
Agora é a sua vez.
Do you believe in love...?
Então está.
Não insisto mais.
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