Tipos de discurso: direto, indireto e indireto livre
Os diferentes tipos de discurso — direto, indireto e indireto livre — são utilizados principalmente em textos de caráter narrativo no intuito de introduzir as diversas vozes disponíveis (personagens e narrador).
O discurso direto pode ser entendido como a reprodução exata da fala de alguém. Já o discurso indireto ocorre quando o autor expressa com suas palavras a fala de outrem. Por fim, o discurso indireto livre é uma mescla entre o direto e o indireto.
Leia também: Tipos de narrador — personagem, observador e onisciente
Resumo sobre discurso direto, indireto e indireto livre
-
Os discursos direto, indireto e indireto livre são tipos de discurso utilizados principalmente em textos do gênero literário a fim de marcar as falas presentes na obra.
-
O discurso direto é a maneira de dizer de forma exata a fala de uma personagem.
-
O discurso indireto é a reprodução da fala de uma personagem por meio do narrador. Assim, ele fala pela personagem.
-
O discurso indireto livre é considerado uma junção entre o discurso direto e o indireto, isso porque há diversas intervenções do narrador na fala das personagens. Assim, não há precisão sobre quem diz o quê, e seus discursos podem ser confundidos.
Discurso direto
O discurso direto é aquele que reproduz exatamente a fala de outrem. Esse tipo de discurso está presente na literatura e também no cotidiano.
Exemplo:
Esses dias minha mãe disse: “Vá trabalhar!”
Para construir um discurso direto, é necessário:
-
inserir um verbo de elocução, isto é, que introduz um discurso direto, indireto ou indireto livre (“ele diz que…”, “ela afirma que…”, “ele perguntou…”, “ela interrogou…”, dentre outros), seguido por dois-pontos e: a) mudar de linha para outro parágrafo e usar o travessão antes da fala ou b) permanecer na mesma linha e usar aspas duplas. Por exemplo: Ela disse: “Não vou sair hoje!”
A literatura é um espaço em que o discurso direto ocorre de forma recorrente. A seguir, analisaremos brevemente uma crônica de Luís Fernando Veríssimo construída por meio desse modelo.
Na festa dos 34 anos da Clarinha, o seu marido, Amaro, fez um discurso muito aplaudido. Declarou que não trocava a sua Clarinha por duas de 17, sabiam por quê? Porque a Clarinha era duas de 17. Tinha a vivacidade, o frescor e, deduzia-se, o fervor sexual somado de duas adolescentes. No carro, depois da festa, o Marinho comentou: ‒ Bonito, o discurso do Amaro. ‒ Não dou dois meses para eles se separarem — disse a Nair. ‒ O quê? ‒ Marido, quando começa a elogiar muito a mulher… Nair deixou no ar todas as implicações da duplicidade masculina. ‒ Mas eles parecem cada vez mais apaixonados — protestou Marinho. ‒ Exatamente. Apaixonados demais. Lembra o que eu disse quando a Janice e o Pedrão começaram a andar de mãos dadas? ‒ É mesmo… ‒ Vinte anos de casados e de repente começam a andar de mãos dadas? Como namorados? Ali tinha coisa. ‒ É mesmo… ‒ E não deu outra. Divórcio e litigioso. ‒ Você tem razão. ‒ E o Mário com a coitada da Marli? De uma hora para outra? Beijinho, beijinho, “mulher formidável” e descobriram que ele estava de caso com a gerente da loja dela. ‒ Você acha, então, que o Amaro tem outra? ‒ Ou outras. Nem duas de 17 estavam fora de cogitação. ‒ Acho que você tem razão, Nair. Nenhum homem faz uma declaração daquelas assim, sem outros motivos. ‒ Eu sei que tenho razão. ‒ Você tem sempre razão, Nair. ‒ Sempre, não sei. ‒ Sempre. Você é inteligente, sensata, perspicaz e invariavelmente acerta na mosca. Você é uma mulher formidável, Nair. Durante algum tempo, só se ouviu, dentro do carro, o chiado dos pneus no asfalto. Aí Nair perguntou: ‒ Quem é ela, Marinho? “Beijinho, beijinho”, de Luís Fernando Veríssimo |
No texto acima, o discurso direto se faz presente no diálogo entre as personagens ao comentarem a fala do colega em uma festa. O discurso direto ocorre sem mediações por parte do narrador. Ele reproduz, de maneira literal, tudo o que foi dito pelas personagens.
Leia também: Elementos da narrativa — os itens indispensáveis para a construção desse tipo textual
Discurso indireto
O discurso indireto é a forma de dizer caracterizada por uma intervenção do autor que interfere na fala ao usar suas próprias palavras para referenciar as de outrem. Ele também é utilizado na literatura e em nosso cotidiano.
Exemplo:
Esses dias minha mãe me disse para ir trabalhar.
Para utilizar o discurso indireto é preciso usar um verbo de elocução seguido de um conectivo (preposição, conjunção etc.) que executa a mudança de voz do narrador para a voz da personagem.
Exemplo:
Eles disseram que não era possível entrar no estabelecimento.
-
disseram = verbo de elocução
-
que = conjunção integrante
-
Eles disseram = voz do narrador
-
Não é possível entrar no estabelecimento = possível voz da personagem
Veja, a seguir, um exemplo de discurso indireto na obra Dom Casmurro. O escritor Machado de Assis faz uso desse tipo de discurso por meio do seu narrador personagem Bentinho, que retoma uma fala de Capitu.
Capitu segredou-me que a escrava desconfiara, e ia talvez contar às outras. Novamente me intimou que ficasse, e retirou-se; eu deixei-me estar parado, pregado, agarrado ao chão. Dom Casmurro, Machado de Assis |
No trecho acima, há um discurso indireto quando o narrador utiliza um verbo com uma elocução na seguinte passagem: “Capitu segredou-me que a escrava desconfiara”. Nesse caso, o narrador apropriou-se da fala de uma das personagens.
Acesse também: Prosa — estrutura básica que comporta diversos gêneros narrativos
Discurso indireto livre
O discurso indireto livre se trata de uma mescla entre os discursos direto e indireto. Nele, o narrador assume o lugar de outro, expressando sentimentos e pensamentos em sua narrativa. Esse tipo de discurso é mais comum em textos literários. Veja um exemplo a seguir:
Flávia estava cansada e logo se deitou. Ela precisava trabalhar em poucas horas. Acordei desesperada. Já era para estar no trabalho. As poucas horas passaram e nem percebi. |
Do ponto de vista estrutural, o discurso indireto livre apresenta maior liberdade para extrapolar o aspecto formal da língua. O principal aspecto composicional do discurso indireto livre é a adesão dos pensamentos e ideias da personagem por parte do narrador. O discurso indireto livre mistura, em diversas ocasiões, a primeira pessoa do singular e plural e/ou terceira pessoa em uma mesma sentença. Vejamos:
-
Vamos! Eu vou conseguir.
-
Ele não queria sair de casa. Não vou, em hipótese alguma, sair de casa.
-
Pense rápido. Pense rápido. Não consegui.
Analisando as sentenças acima, percebe-se que o principal elemento de construção do discurso indireto livre é justamente a imprecisão sobre quem realmente está falando — se é o narrador ou a personagem.