Mangue Beat

O Mangue Beat foi um movimento de contracultura que surgiu com a proposta de realizar uma renovação no cenário cultural de Recife e Pernambuco no começo da década de 1990.
Monumento ao Manguebeat em Recife-PE.

O Mangue Beat foi um movimento de contracultura que surgiu em Recife, em 1991, sendo motivado pela estagnação do cenário cultural pernambucano e pela pobreza da cidade. Seu objetivo era denunciar os problemas de Recife e propôs uma renovação cultural com o aparecimento de ritmos que misturavam elementos da cultura tradicional com a cultura pop.

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O que foi o Mangue Beat?

O Mangue Beat foi um movimento de contracultura que surgiu em Recife, capital de Pernambuco. Foi criado em 1991 com o objetivo de promover uma renovação no cenário cultural e artístico do estado de Pernambuco. A ideia do “mangue” como manifestação artística partiu de Chico Science, mas o Mangue Beat contou com uma série de nomes de expressão que contribuíram para o seu desenvolvimento.

No cenário da música, o Mangue Beat promoveu a junção de ritmos e batidas tradicionais da cultura nordestina com ritmos oriundos da cultura pop. Assim, estilos e ritmos como o maracatu e o coco foram incorporados ao hip-hop e rock. Essa mistura de elementos tradicionais e modernos foi a forma encontrada pelos representantes do Mangue Beat para valorizar a cultura regional.

Como citado, a ideia de criação do mangue como manifestação artística partiu de Chico Science, vocalista da banda mais conhecida desse movimento de contracultura, a Chico Science e Nação Zumbi. Por meio do mangue (nome que ele deu a essa nova manifestação artística), Chico queria criar novas batidas e novas maneiras de manifestação artística.

O Mangue Beat, além de buscar novas formas de manifestação cultural, foi também um movimento que trouxe mensagens de questionamento e protesto contra a ordem estabelecida. Os representantes do Mangue Beat pretendiam difundir ideias que incentivassem mudanças sociais.

A mensagem crítica do Mangue Beat ao quadro da sociedade recifense no começo da década de 1990 pode ser identificada pela parabólica na antena, um símbolo que expressava a contradição que vivia a capital pernambucana: as inovações tecnológicas em meio a uma cidade que vivia em estado de pobreza.

Além da música, o Mangue Beat incentivou manifestações artísticas em outras áreas, como o teatro. Os representantes do Mangue Beat na música também procuraram trazer inovação na forma como se vestiam, mesclando roupas tradicionais, como chapéus típicos da cultura nordestina, com roupas modernas, como tênis.

Vale mencionar também que o movimento também ecoou sua mensagem por meio de um manifesto: o Caranguejo com cérebro. Esse manifesto conceituava o que era o mangue, tecendo críticas ao estado em que a cidade de Recife estava (definido no manifesto como de esclerose econômica) e falava que a cidade vivia um agravamento do quadro de miséria e caos.

O manifesto também propunha que a renovação cultural seria uma das formas de retirar Recife do marasmo que vivia. O despertar artístico era entendido como a forma de “deslobotomizar” as mentes, de forma que a população pudesse enxergar a precariedade da situação da cidade.

O Mangue Beat acabou contribuindo para dar um grande impulso às manifestações culturais em Recife. Ele não procurava desrespeitar as culturas tradicionais, mas integrá-las às manifestações culturais modernas, a fim de alimentar o interesse dos jovens e mantê-las vivas.

Além de Chico Science, que faleceu precocemente em 1997, e sua banda, Nação Zumbi, o Mangue Beat teve outros representantes, como Fred Zero Quatro, que elaborou o manifesto Caranguejo com cérebro e foi membro da banda Mundo Livre S/. DJ Dolores.

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Contexto

No começo da década de 1990, o cenário do Brasil como um todo era complicado, sobretudo pela alta inflação. A situação na cidade de Recife era mais delicada ainda porque a cidade vinha de décadas de abandono do poder público. A pobreza e a desigualdade social eram fortes problemas na capital pernambucana.

A estagnação econômica era acompanhada de uma estagnação cultural, fruto do Movimento Armorial, surgido na década de 1970. Esse movimento, que teve em Ariano Suassuna um de seus grandes nomes, defendia uma preservação mais rígida da cultura nordestina, ou seja, que ela não fosse influenciada pela cultura de massa.

O Mangue Beat surgiu justamente com uma mensagem contrária, defendendo essa mistura do tradicional com o moderno. Além disso, o Brasil vivia o contexto de abertura democrática pós-ditadura. O país tinha passado nos últimos anos pelo desmanche dos aparatos autoritários, pela promulgação de uma Constituição e pelo retorno das eleições diretas.

Todo esse contexto de estagnação cultural e abertura democrática serviu de incentivo para que novas manifestações culturais surgissem.

Qual origem do termo?

O caranguejo, crustáceo presente nos mangues, tornou-se um dos símbolos do Mangue Beat.

A origem do nome Mangue Beat tem uma explicação simples. O termo mangue foi a forma encontrada por Chico Science para nomear as novas batidas e manifestações culturais propostas por ele. A palavra faz referência a um ecossistema muito presente em Pernambuco: o manguezal.

Esse ecossistema surge em locais de clima tropical e subtropical e acontece em regiões em que ocorre o encontro da água doce de rios com a água salgada do mar. Os mangues são locais de grande diversidade, e a riqueza de recursos atrai uma série de espécies, como os caranguejos, um dos símbolos do movimento.

O termo beat, por sua vez, é derivado da palavra em inglês que significa “batida”. Fala-se que esse termo foi adicionado ao nome do movimento pela imprensa na década de 1990.

Créditos da imagem

[1] Cacio Murilo | Shutterstock

Publicado por Daniel Neves Silva
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