Literatura de cordel
A literatura de cordel tornou-se uma tradicional forma de narrativa no Nordeste brasileiro, sendo, há algumas décadas, não apenas um elemento da cultura nordestina e nortista, mas um propagador das tradições dessas regiões. Sua origem vem dos trovadores medievais e da Renascença, que, com a possibilidade de imprimir em grande escala, criaram não só os cordéis, como deram início à imprensa.
Origem
O cordel foi originado em Portugal pelos trovadores medievais, que, nos séculos XII e XIII, cantavam poemas, espalhando histórias para a população a qual, em sua grande maioria, não era letrada. Com a criação de métodos de impressão em larga escala na Renascença, possibilitou-se a grande distribuição da palavra, que, até então, era apenas cantada. Assim o cordel nasceu, popularizando-se pelo povo por meio da exposição dos papéis pendurados em cordas — ou cordéis, como são chamadas em Portugal.
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Chegou ao Brasil por meio dos colonizadores, popularizando-se e auxiliando na criação e manutenção do imaginário popular e folclórico dos estados do Norte e do Nordeste brasileiros. Os cordéis até hoje são muito importantes para a preservação dos costumes regionalistas e pelo incentivo à leitura, ajudando na diminuição de analfabetismo nesses locais.
Com linguagem simples, os cordéis espalharam-se pelo Brasil por meio dos repentistas — violeiros que cantavam as histórias escritas pelos poetas de bancada, nome esse atribuído aos autores de cordéis que manufaturavam suas próprias publicações.
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Principais características
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No geral, o cordel é escrito em métrica com rimas que fazem a musicalidade dos versos.
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Torna-se uma forma de resistência para o folclore da região de onde surge, já que o gênero cordel trata dos costumes locais, fortalecendo as identidades regionais.
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A literatura de cordel é muito conhecida por suas xilogravuras, as quais ilustram as páginas dos poemas. Essa técnica é muito usada na literatura de cordel porque, uma vez que a matriz do desenho é feita, é possível imprimir o desenho inúmeras vezes.
Principais autores
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Leandro Gomes de Barros
Foi o primeiro brasileiro a escrever cordéis. Produziu 240 obras que ficaram muito conhecidas pelo imaginário popular do Nordeste brasileiro e também pelo Brasil todo. É o caso da peça “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, baseada nos cordéis de Barros.
Capa do livro "Auto da Compadecida" de Ariano Suassuna (EDITORA AGIR).
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João Martins de Athayde
Ficou conhecido por utilizar imagens de artistas de Hollywood em seus cordéis. Após a morte de Leandro Gomes de Barros, Athayde adquiriu alguns dos direitos de publicação de seus cordéis, sendo descoberto, recentemente, que a verdadeira autoria deles, na verdade, é de Barros.
Exemplo de verso solto de cordel
“Galopo pensando no tempo que passa,
Tão vertiginoso qual sopro do vento
Que varre caminhos e até pensamento,
Deixando pra trás, nevoeiro, fumaça…
O sopro é o que traz um alento e abraça
A vida que segue traçando caminho.
O tempo é o relógio no redemoinho
Dos dias, semanas, dos meses, dos anos
Passados, presentes, anelos e planos,
Que foram, por certo, gerados no ninho.
Seguindo o caminho de curva fechada,
Um forte arrepio na espinha dorsal;
Na beira da mata, um estranho arsenal
De tocos, garranchos e pedra lascada
Vedando o acesso, atrasam a jornada,
Cansaço medonho desse galopar
São léguas à frente e o tempo a rolar
No despenhadeiro do dia que morre
Nos braços da noite, um pranto escorre
Em gotas que banham a terra e o ar.
E quando amanhece, o sol ilumina
A estrada de pedra que resta a seguir.
Sem olhar para trás, à frente, há porvir,
Na noite cinzenta, ficou a neblina
No leito do rio de água cristalina,
O corpo tão frágil se banha sedento.
Erguendo o olhar ao azul firmamento,
Tentando alcançar a linha do horizonte
Que tece a beleza que nasce da fonte
E expressa a grandeza da força do vento.”
“Galopando no tempo e no vento”, de Creusa Meira.
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Resumo
A literatura de cordel aconteceu no Brasil graças às influências que Portugal trouxe consigo. Os cordéis medievais e trovadorescos aqui ganharam outros temas, fortalecendo a cultura regionalista (que hoje representa todo o Norte e Nordeste do Brasil) e tornando-se, no ano de 2018, patrimônio imaterial brasileiro.
O cordel é uma impressão de baixo custo feita com prensas, que facilitam sua grande produção e distribuição. Suas temáticas variam muito, mas os mais comuns contam casos e histórias tradicionais da região. Alguns contam com personagens folclóricos, o que fortalece mais ainda a cultura local. Os textos são rimados e metrificados por virem de histórias cantadas por repentistas — tradicionais violeiros do Nordeste brasileiro que cantam histórias improvisadas e rimadas.