Classe social

Classe social é um grupo dentro de uma sociedade que se diferencia de outros em decorrência de características econômicas, políticas ou culturais. A classe social é composta por indivíduos que ocupam posição próxima na escala da produção e do consumo, por isso têm em comum um padrão de vida, hábitos culturais, poder de influência, mentalidade e interesses.

Na literatura sociológica, esse conceito abrange diferentes concepções, que divergem conforme o critério que adotam para classificar as classes. Nas sociedades capitalistas, esse critério é predominantemente econômico, mas, em algumas concepções, pode vincular a renda a outros aspectos, como escolaridade, aporte cultural ou poder político.

Leia também: Friedrich Engels – teórico que propôs a revolução para o fim da divisão de classes

As classes sociais distinguem as pessoas de acordo com alguns critérios, como condição financeira, acesso à cultura, escolaridade etc.

Classe social para Karl Marx

Karl Marx (1818-1883), em sua análise econômica da história, observou que em todos os períodos as bases econômicas eram estruturadas pelo antagonismo entre grupos de opressores e oprimidos. Essa luta movia as sociedades e promovia a transição de um modelo econômico para outro. Assim, na sociedade antiga, havia senhores e escravos; na sociedade medieval, suseranos e vassalos; na sociedade moderna, capitalistas e trabalhadores. No capitalismo esse antagonismo é expresso nas classes sociais.

Para Marx, há dois grandes grupos de interesse de classe contrários um ao outro: o grupo dos que possuem os meios de produção (terra, fábrica, banco, etc.), também denominado burguesia, e o grupo dos que possuem apenas sua força de trabalho, também denominado proletariado. O grupo de proprietários é formado por uma minoria de indivíduos, já o grupo do proletariado é formado pela maioria dos indivíduos. Estes vendem sua força produtiva aos donos do capital, que pode ser produtivo (indústria, agricultura e pecuária), financeiro (bancos, seguradoras) ou ligado ao setor de serviços (comércio, transportes, comunicação, etc.). A desigualdade nas relações de trabalho e na divisão da riqueza produzida permite a acumulação de mais capital.

Para Karl Marx, a definição de classe social é essencialmente econômica.

Para Marx, as classes são um fenômeno social de motivação econômica, e o conflito entre elas também é de natureza econômica, isto é, conflitos de interesse material entre proprietários e não proprietários dos meios de produção da riqueza. Os interesses comuns na medida em que são identificados como tais geram consciência, e esta gera ação, portanto a classe social também tem uma dimensão política, já que pode promover mudanças sociais por meio da ação coletiva.

Em síntese, na teoria marxista, as classes sociais são grupos de indivíduos que partilham de uma posição similar nas relações de produção, quais sejam elas, sejam os proprietários dos meios de produção, sejam os que vendem sua força de trabalho. A estrutura de classes é caracterizada pelo antagonismo entre elas. A classe burguesa monopoliza o poder econômico, político e cultural de modo a disseminar para a classe proletária uma ideologia que distorce a realidade e a leva a acreditar que as desigualdades são naturais e não podem ser minoradas. Por sua vez, quando a classe proletária desenvolve a consciência de classe e se organiza politicamente, ela cria condições para mudanças sociais. Marx avaliava que a vitória da classe operária levaria ao fim do capitalismo e à construção de uma sociedade igualitária. Para saber mais sobre esse filósofo e sociólogo, leia: Karl Marx.

Classe social para Max Weber

Max Weber (1864-1920) não se restringe ao critério econômico para definir classe social. Para ele, a posição social de um indivíduo é resultado da combinação de três fatores:

  • o status (honra, prestígio);

  • a riqueza (renda, posses);

  • o poder, isto é, a capacidade de influência sobre outros segmentos da sociedade.

Weber não minimiza a preponderância do aspecto econômico, sendo esse o fator que gera uma “situação de classe”, em que um grupo possui condições similares quanto à possibilidade de possuir ou não bens materiais ou simbólicos. Todavia, esse autor avalia que há outros aspectos importantes que não se explicam exclusivamente pela renda, pois o status remete a uma dimensão subjetiva, simbólica, cultural, sendo um atributo de posição dentro da estratificação social que confere privilégios e deferências.

Em síntese, para Weber, as sociedades são divididas em estratos, e a posição das classes é condicionada pela renda, poder e status. O status é um fenômeno típico da estratificação social, segundo o qual ocupar determinada posição na estrutura da sociedade implica tratamento de honra, privilégios.

Para Max Weber, o conceito de classe social envolve renda, poder e status.

Um grande sociólogo que desenvolveu seu conceito de classes na linha teórica de Weber foi Pierre Bourdieu (1930-2002), para quem os grupos de classe são definidos não só pela posição que ocupam no processo produtivo, mas pelo acesso que têm a bens materiais e culturais. Assim, nas sociedades de massas, a distinção de classe engloba outro aspecto além da posse dos meios de produção: o poder de consumo. Essa capacidade de consumir bens culturais não necessariamente está ligada à renda ou à ocupação profissional. Ela está ligada à posse de determinados conhecimentos que permitem apreciar certos bens culturais — obras de arte, por exemplo. A delineação das classes agrega ao capital econômico o capital cultural (saberes artísticos, científicos, literários, entre outros), que permeia a construção dos gostos, hábitos, padrões de consumo e pode ser motivador de tratamento honroso perante os demais e também da diferenciação entre classes sociais. Saiba mais sobre esse outro pensador considerado como um dos clássicos da sociologia em: Max Weber.

Classe social para Durkheim

Èmile Durkheim (1858-1917) estudou a divisão social do trabalho. Em seu livro, fruto de sua tese de doutorado e publicado em 1893, reforçou a ideia da predominância do coletivo sobre o indivíduo. Para ele, a divisão do trabalho gera uma solidariedade entre aqueles que desempenham a mesma função e um sistema de direitos e deveres entre eles. Sociedades complexas, com alto grau de diversificação do sistema produtivo e, por isso, incontáveis ocupações reforçam essa preponderância do social, de forma que o indivíduo não pode ser autossuficiente em um sistema altamente integrado e complexo.

Dentro da dinâmica da sociedade e conforme seu sistema de valores, as atividades laborais são classificadas como mais ou menos importantes e, a partir dessa escala valorativa, delineiam-se os agrupamentos sociais, o que Marx chamaria de classes, e Weber, grupos de status. Para Durkheim, a divisão do trabalho é norteada por princípios morais, e não econômicos. Seu impacto na vida social também é mais moral que econômico. E quanto mais complexa é uma sociedade, maior é a divisão social do trabalho.

Para Durkheim, os grupos sociais adquirem status, honraria ou prestígio em razão das posições profissionais ou funcionais que são mais valorizadas na sociedade e mais bem integradas. A vinculação entre os indivíduos se dá por meio da complementaridade das posições que ocupam na divisão do trabalho. Para saber mais sobre o criador do método sociológico, leia: Émile Durkheim.

Para Èmile Durkheim, grupos obtêm prestígio e inserção social a partir da ocupação profissional.

Estratificação social e as classes sociais

Os conceitos de estratificação social são tentativas de explicar como as sociedades são divididas. Essa divisão, diferenciação e hierarquização dos grupos sociais se dá mediante a sobreposição de fatores como

  • a renda;

  • o poder político;

  • a profissão;

  • o prestígio;

  • a bagagem cultural;

  • a profissão;

  • os hábitos de consumo.

A classe social é uma divisão predominantemente econômica, a estratificação social não. Ela abrange aspectos culturais, subjetivos, que geram sentimento de pertencimento a posições sociais, que, por sua vez, são elencadas conforme o que é mais valorizado nessa sociedade. O conceito de estratificação abarca o conceito de status desenvolvido por Weber, que aponta o prestígio de grupos com base no conhecimento que eles dispõem, na atividade honrosa que exercem, na influência que detêm, seja no campo religioso, seja militar, científico, etc., sem necessariamente passar pelo componente econômico, embora em muitos casos esteja ligado a ele.

As classes sociais compõem a estrutura social. As sociedades, em sua maioria, apresentam divisões em camadas ao longo de sua estrutura, de modo que os grupos são condicionados a determinadas posições conforme a hierarquia social. Quanto mais rígida é uma estratificação social, menor é a mobilidade, isto é, a possibilidade de indivíduos mudarem de posição, galgando posições mais altas ou declinarem a posições mais baixas.

Veja também: Desigualdade social – diferença existente entre as classes sociais

Classe social no Brasil

Nas sociedades capitalistas, a mobilidade social é viabilizada por fatores como

  • ampliar a escolaridade;

  • galgar uma ocupação de trabalho prestigiada;

  • ter participação política.

Porém, a estrutura social, especialmente em economias emergentes como a brasileira, afunila as possibilidades para que essa mudança de posição na hierarquia seja atingida por meio do estudo, da profissão ou da conquista de direitos. Outros fatores como gênero e etnia se somam aos vetores renda e escolaridade para complicar essa equação, de forma que uma mulher negra, pobre e com ensino fundamental incompleto terá uma gama de possibilidades de ascensão social bastante reduzida comparada a um homem branco, com ensino superior e rico.

O Brasil é o segundo país mais desigual do mundo, atrás apenas do Catar. Aqui, 1% da população (cerca de 1,5 milhão de pessoas) concentra 23,2% da renda total declarada ao Imposto de Renda. Desde os anos 1930, esse 1% detém de 20% a 25% da renda total do país, ou seja, nesse grupo não há variação significativa.

Conforme dados da FGV Social, no ano de 2018, o percentual de famílias ricas e de classe média alta (A e B) no Brasil era de 14,4%, o que corresponde a cerca de 30 milhões de pessoas. Esse grupo também é denominado “classe média tradicional”. A escolaridade média desse grupo é de 13,2 anos contra 8,7 da média brasileira. A taxa dos que cursam MBA nessas classes é cinco vezes maior que a média nacional. Esses grupos concentram também uma quantidade maior de empregadores, empresários e comerciantes, além de deter uma taxa de empreendedorismo de 12,9% contra 4,8% da média da população.

Em 2018, a classe C, também conhecida como “nova classe média”, correspondia a 55,3% da população brasileira, em torno de 115,3 milhões de pessoas. Esse agrupamento incorporou famílias que melhoraram de vida no ciclo econômico positivo da primeira década de 2000, mas também inclui famílias da classe B que empobreceram. Todavia, se comparada a 2003, quando comportava cerca de 67,1 milhões de pessoas, é perceptível um grande crescimento desse grupo, que se estabilizou, mesmo com as sucessivas crises econômicas, na faixa de 55% da população.

Segundo a mesma pesquisa, as classes D e E, que abrangem a população pobre, em 2018, representava 30,3% da população do Brasil, aproximadamente 62,3 milhões de pessoas. Esse grupo possui rendimento volátil, isto é, é composto por um grande contingente de trabalhadores informais. Nesse grupo 70% das famílias não dispõem de reserva financeira para uma situação de crise, por isso é a mais afetada em termos de endividamento e mesmo pela fome em situações excepcionais, como a pandemia do novo coronavírus.

Classe social para o IBGE

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, órgão que provê as informações estatísticas oficiais que orientam o governo federal no planejamento, formulação e gestão de políticas públicas, utiliza uma definição de classe social baseada na faixa salarial. A renda é dividida em cinco classificações, conforme a quantidade de salários mínimos na renda mensal das famílias. As classes são categorizadas em:

  • A (acima de vinte salários mínimos);

  • B (dez a vinte salários mínimos);

  • C (quatro a dez salários mínimos);

  • D (dois a quatro salários mínimos),

  • E (até dois salários mínimos).

Outro instituto cuja métrica é a base de muitas pesquisas brasileiras é a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), cuja metodologia, conhecida como Critério Brasil, levanta, além da renda, características domiciliares que mensuram o grau de conforto e também a escolaridade. Cada item somado gera uma pontuação enquadrada na classificação A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E.

Publicado por Milka de Oliveira Rezende
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