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Anacoluto

Anacoluto é uma figura de sintaxe na qual um termo do enunciado perde sua função sintática, ficando desconectado do restante do período, o que afeta a lógica do enunciado.
Anacoluto é uma figura de linguagem que se relaciona com a sintaxe do enunciado.
Anacoluto é uma figura de linguagem que se relaciona com a sintaxe do enunciado.

O anacoluto é uma figura de sintaxe caracterizada pela quebra da estrutura do enunciado, fazendo com que um elemento perca sua função sintática, ficando desconectado do restante do período. O anacoluto se difere do hipérbato, uma figura de sintaxe em que ocorre a inversão da ordem dos elementos do enunciado.

Saiba mais: Quais são as figuras de pensamento?

Resumo sobre anacoluto

  • É uma figura de linguagem que afeta a estrutura do enunciado; desse modo, trata-se de uma figura de sintaxe (ou figura de construção).
  • Faz com que um elemento da oração perca sua função sintática, ficando desconectado do restante do enunciado.
  • Diferentemente do anacoluto, o hipérbato é uma figura de sintaxe caracterizada pela inversão na ordem dos elementos que compõem o enunciado, sem que eles deixem de perder suas respectivas funções sintáticas.

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O que é anacoluto?

O anacoluto é uma figura de linguagem que se caracteriza pela quebra na estrutura sintática do enunciado, fazendo com que um elemento perca a sua função sintática, ficando desconectado do restante do período em que apareceria. Isso altera a organização lógica do enunciado. Por isso, o anacoluto faz parte do grupo de figuras de sintaxe, ou figuras de construção, aquelas que afetam a estrutura e a organização do enunciado.

→ Videoaula sobre as figuras de sintaxe ou de construção

Usos do anacoluto

O anacoluto é um recurso muito utilizado na linguagem coloquial e oral. Isso porque, durante a fala, fazemos naturalmente muitas retomadas de ideia e reorganizações improvisadas do discurso, o que acaba se refletindo em anacolutos.

Veja, nos exemplos dessa figura de sintaxe, os elementos destacados, que perderam sua função sintática e ficaram desconectados do restante dos enunciados:

  • Essas cartas, eu as lia o tempo todo quando adolescente...
  • Eu não aguento mais as confusões dele, esse garoto!
  • “Quando vou, bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo” (Chico Buarque)
  • O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu.” (Rubem Braga)
  • A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha.” (Camilo Castelo Branco)

Veja também: Pleonasmo — a figura de estilo que usa uma expressão redundante para reforçar uma ideia

Qual a diferença entre anacoluto e hipérbato?

O hipérbato é uma figura de sintaxe, assim como o anacoluto. Todavia, na figura do hipérbato, os elementos sintáticos aparecem fora da ordem comum, mas mantêm suas funções sintáticas. Trata-se, portanto, de uma inversão. O anacoluto, por sua vez, é o fenômeno em que um elemento fica desconectado da oração, perdendo sua função sintática.

→ Exemplo da diferença entre anacoluto e hipérbato

  • Meu cachorro é muito divertido.

Anacoluto: Meu cachorro, ele é muito divertido.

Hipérbato: Muito divertido meu cachorro é.

Leia também: Anáfora — a figura de linguagem que repete uma mesma palavra como recurso expressivo

Exercícios resolvidos sobre anacoluto

Questão 1

(Quadrix)

Mineirinho

É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. [...]

Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro. Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. [...]

Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver. [...] Sua assustada violência. Sua violência inocente — não nas consequências, mas em si inocente como a de um filho de quem o pai não tomou conta. Tudo o que nele foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco de nos entendermos. Para que a casa não estremeça. A violência rebentada em Mineirinho que só outra mão de homem, a mão da esperança, pousando sobre sua cabeça aturdida e doente, poderia aplacar e fazer com que seus olhos surpreendidos se erguessem e enfim se enchessem de lágrimas. [...]

A justiça prévia, essa não me envergonharia. Já era tempo de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser um doente do crime. Continuo, porém, esperando que Deus seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro homem. E continuo a morar na casa fraca. Essa casa, cuja porta protetora eu tranco tão bem, essa casa não resistirá à primeira ventania que fará voar pelos ares uma porta trancada. [...] o que me sustenta é saber que sempre fabricarei um deus à imagem do que eu precisar para dormir tranquila e que outros furtivamente fingirão que estamos todos certos e que nada há a fazer. [...] Feito doidos, nós o conhecemos, a esse homem morto onde a grama de radium se incendiara. Mas só feito doidos, e não como sonsos, o conhecemos. [...]

Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização. Uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo. Sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro homem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento.

Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. [...]

Clarice Lispector

(Disponível em ip.usp.br. Adaptado.)

Veja esta definição: “Período iniciado por uma palavra ou locução, seguida de pausa, que tem como continuação uma oração em que essa palavra ou locução não se integra diretamente, embora esteja integrada pelo sentido e, de alguma forma, retomada sintaticamente”. No texto apresentado, há algumas ocorrências dessa estrutura, denominada anacoluto. Assinale a alternativa que contenha um período do texto em que isso aconteça.

A) O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.

B) Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela.

C) Tudo o que nele foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro.

D) Se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade.

E) Uma justiça que não se esqueça de [...] que na hora em que o justiceiro mata, [...] ele está cometendo o seu crime particular.

Resolução:

Alternativa B

O termo “essa justiça que vela meu sono”, que inicia a oração, fica desconectado do restante dela, perdendo sua função sintática.

Questão 2

(Fuvest) O anacoluto (quebra de estruturação lógica da frase), presente no provérbio “Quem ama o feio, bonito lhe parece”, também se verifica em:

A) Quem o mal deseja ao seu vizinho, vem o seu pelo caminho.

B) Quem anda sem dinheiro, não arranja companheiro.

C) Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

D) Quem anda depressa é quem mais tropeça.

E) Quem com o demo anda, com o demo acaba.

Resolução:

Alternativa A

A partir da segunda oração “vem o seu pelo caminho”, a primeira oração perde sua função sintática no enunciado.

Publicado por Guilherme Viana

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