Adolfo Caminha
Adolfo Caminha nasceu em 29 de maio de 1867, em Aracati, no Ceará. Com aproximadamente dez anos de idade, ficou órfão de mãe e foi morar no Rio de Janeiro, onde estudou, na Escola Naval. Em 1888, passou a trabalhar na Escola de Aprendizes-Marinheiros, em Fortaleza.
O autor, que morreu em 1º de janeiro de 1897, no Rio de Janeiro, é um dos principais nomes do Naturalismo brasileiro. Ele escreveu obras caracterizadas pelo determinismo e pela zoomorfização, como é possível verificar em seu livro mais famoso, o romance Bom-Crioulo.
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Resumo sobre Adolfo Caminha
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O escritor brasileiro Adolfo Caminha nasceu em 1867 e faleceu em 1897.
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Além de escritor, o autor também trabalhou para a Marinha do Brasil.
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As obras do romancista estão inseridas no Naturalismo brasileiro.
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O determinismo e a zoomorfização são as principias características de seus livros.
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Sua obra mais famosa e polêmica é o romance Bom-Crioulo.
Biografia de Adolfo Caminha
Adolfo Caminha nasceu em 29 de maio de 1867, em Aracati, no estado do Ceará. Dez anos depois, em 1877, ficou órfão de mãe. Então, se mudou para o Rio de Janeiro, onde viveu na casa de seu tio materno. Três anos depois, ingressou na Escola Naval, onde estudou até 1885.
Na função de guarda-marinha, viajou aos Estados Unidos — viagem relatada em seu livro No país dos ianques, de 1894. Já em 1888, trabalhou em Fortaleza, na Escola de Aprendizes-Marinheiros, e foi um dos fundadores do Centro Republicano Cearense. Porém, acabou se apaixonando pela esposa de um oficial do Exército.
Ela se chamava Isabel de Paula Barros e abandonou o marido para viver com o escritor. Mais tarde, ele dedicaria o livro Cartas literárias à sua amada: “Quero que o nome dela fulgure como uma legenda de ouro à primeira página de meu livro.” O caso de amor escandaloso fez com que Caminha fosse obrigado a pedir demissão.
Assim, em 1890, assumiu o cargo de amanuense. No ano seguinte, se juntou à Padaria Espiritual (agremiação literária), responsável pelo jornal O Pão. Além disso, fundou a Revista Moderna. Em 1892, se mudou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista. Já em 1895, publicou seu livro mais famoso — Bom-Crioulo —, uma obra que gerou polêmica, pois a temática é a homossexualidade masculina.
No entanto, o autor escreveu uma obra de cunho racista e, principalmente, homofóbica, como é possível verificar em sua resposta às críticas, no artigo “Um livro condenado”, publicado, em 1896, na Nova Revista, onde afirma-se que, em Bom-Crioulo, “se estuda e condena o homossexualismo”. Quase um ano depois, o romancista faleceu, em 1º de janeiro de 1897, no Rio de Janeiro, por complicações causadas pela tuberculose.
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Características da obra de Adolfo Caminha
Adolfo Caminha é um autor do Naturalismo brasileiro. Suas obras, portanto, possuem uma linguagem objetiva. O narrador supervaloriza os métodos científicos, de forma que os utiliza na construção dos personagens, cujas existências estão atreladas ao determinismo.
Na teoria determinista, o indivíduo sofre influência da raça à qual pertence, do meio e da época em que vive. Os personagens de Caminha também experimentam a zoomorfização, e, assim, adquirem características animalescas. Desse modo, o instinto (principalmente, o sexual) prevalece em detrimento da razão.
É preciso destacar que nos romances naturalistas há predominância de personagens de classe baixa ou marginalizados, que são analisados a partir de um olhar, muitas vezes, preconceituoso. No entanto, o racismo, a homofobia e a misoginia dessas obras eram confundidos, na época, com práticas científicas.
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Videoaula sobre o naturalismo
Obras de Adolfo Caminha
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Voos incertos (1886) — poesia.
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Judith e Lágrimas de um crente (1887) — contos.
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A normalista (1893) — romance.
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No país dos ianques (1894) — romance.
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Bom-Crioulo (1895) — romance.
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Cartas literárias (1895) — crítica literária.
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Tentação (1896) — romance.
Bom-Crioulo
Bom-Crioulo conta a história de Amaro e Aleixo, a partir de uma perspectiva naturalista, isto é, de condenação da homossexualidade. Além disso, traz uma visão determinista, em que o meio corruptor (a Marinha) e a raça (Amaro é negro) determinam as atitudes dos dois personagens.
Desse modo, Amaro é assim retratado pelo narrador: “um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura colossal de cafre, desafiando, com um formidável sistema de músculos, a morbidez patológica de toda uma geração decadente e enervada [...]”. Esse marinheiro é chamado de Bom-Crioulo, “na gíria de bordo”.
Ele se apaixona pelo jovem Aleixo e começa a seduzir o rapaz com promessas. Por fim, o grumete se rende após sentir “uma como vontade ingênita de ceder aos caprichos do negro, de abandonar-se-lhe para o que ele quisesse”. E o narrador se refere à primeira relação sexual entre os dois desta maneira: “E consumou-se o delito contra a natureza”.
Além disso, Aleixo, um adolescente de quinze anos, é descrito como tendo formas femininas: “[...] formas de homem tão bem torneadas, braços assim, quadris rijos e carnudos como aqueles... Faltavam-lhe os seios para que Aleixo fosse uma verdadeira mulher!...”.
Bom-Crioulo, então, aluga um quartinho, na rua da Misericórdia, no Rio de Janeiro. É ali que os amantes se encontram quando estão em terra. O quarto é alugado por dona Carolina, uma portuguesa, ex-prostituta e grande amiga de Amaro, pois, em uma ocasião, ele a salvou de um assalto.
No entanto, Carolina, uma mulher quarentona, fica interessada em Aleixo e seduz o rapaz. Após ele ceder ao desejo da mulher, a transformação em seu corpo é visível. Desse modo, o narrador sugere que manter relações sexuais com uma mulher fez com que Aleixo adquirisse características masculinas:
Estava gordo, forte, sadio, muito mais homem, apesar da pouca idade que tinha, os músculos desenvolvidos como os de um acrobata, o olhar azul penetrante, o rosto largo e queimado. Em pouco tempo adquirira uma expressão admirável de robustez física, tornando-se ainda mais belo e querido.
E quando Amaro descobre a dupla traição, ele mata, violentamente, o seu amante. Dessa forma, o narrador tem a intenção de demonstrar a impossibilidade de um final feliz para esse tipo de relação.
No entanto, apesar de ser uma obra visivelmente racista e homofóbica, Bom-Crioulo tem valor histórico. Afinal, essa obra de Adolfo Caminha é o primeiro romance brasileiro cuja temática principal é a homossexualidade. Assim, apesar do tom condenatório e punitivo, pela primeira vez na história da literatura brasileira, o protagonismo é dado a personagens homossexuais.
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Homenagens a Adolfo Caminha
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Escola Adolfo caminha, em Aracati (CE).
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Avenida Adolfo Caminha, em Fortaleza (CE).
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Rua Adolfo Caminha, no Rio de Janeiro (RJ).
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Rua Adolfo Caminha, em São Paulo (SP).
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Rua Adolfo Caminha, em Sorriso (MT).
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Rua Adolfo Caminha, em Recife (PE).
Frases de Adolfo Caminha
Vamos ler, a seguir, algumas frases de Adolfo Caminha, retiradas de seu livro Cartas literárias:
“Cruz e Souza é um dos pouquíssimos que no Brasil têm ideias seguras sobre arte.”
“A literatura e as artes de um país são coisas muito mais sérias do que vulgarmente se julga.”
“Ah! o dinheiro...Toda a gente o ama, ninguém o despreza.”
“Ser talentoso é quanto basta para que um rapaz veja-se antipatizado, odiado, cercado de inimigos.”
“A Arte é sempre a Arte, verdadeira e bela, intransigente e nobre.”
“O mundo da lenda é infinito.”
“O dever de todo artista é produzir e produzir sempre.”
“A perfeição é inimiga do homem.”
“A forma é quase tudo na Arte, dizem; creio, porém, que a sinceridade é tudo…”
Créditos da imagem
[1] Editora Martin Claret (reprodução)