Ultrarromantismo
Ultrarromantismo é como ficou conhecida a segunda fase do romantismo no Brasil e em Portugal. As obras ultrarromânticas manifestam o sofrimento amoroso, além da idealização do amor e da mulher. Também apresentam morbidez, melancolia e pessimismo. Dessa fase, são bastante famosos os escritores Álvares de Azevedo (no Brasil) e Camilo Castelo Branco (em Portugal).
Leia também: O que marcou a terceira fase do romantismo no Brasil?
Resumo sobre ultrarromantismo
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O ultrarromantismo é a segunda fase do romantismo no Brasil e em Portugal.
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Suas principais características são o exagero sentimental, a melancolia e o pessimismo.
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As duas principais temáticas dessa fase romântica são o amor e a morte.
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No Brasil, merecem destaque os poetas ultrarromânticos Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu.
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Em Portugal, Camilo Castelo Branco e Soares de Passos são dois importantes autores desse movimento.
O que é ultrarromantismo?
Ultrarromantismo é um movimento literário referente à segunda fase do romantismo português e brasileiro.
→ Videoaula sobre a geração ultrarromântica
Contexto histórico do ultrarromantismo
Em Portugal, a segunda regência de Maria II (1819-1853) — iniciada em 1834, após uma guerra civil que durou dois anos — foi marcada por conflitos políticos na transição entre o absolutismo e o constitucionalismo. Com a morte da rainha, em 1853, assumiu o poder o rei Pedro V (1837-1861), que conseguiu certa harmonia política no país.
O ultrarromantismo chegou ao Brasil durante o Segundo Reinado, quando o país era governado por D. Pedro II (1825-1891). Seu governo foi marcado pela centralização política, pela economia agroexportadora e pela Guerra do Paraguai, um fator importante para a decadência da monarquia brasileira.
Diante da realidade política desses países, alguns autores românticos optaram pelo escapismo e pela alienação social. Abandonaram os anseios coletivos para se centrarem na dor individual. Eram escritores que valorizavam a inadaptação social inspirada pelo personagem Werther, de Goethe.
Veja também: Características e fases do romantismo em Portugal
Características do ultrarromantismo
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Spleen ou melancolia
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Expressão do tédio
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Temática da morte
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Amor impossível
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Caráter sombrio
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Extrema subjetividade
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Individualismo
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Fuga da realidade
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Aspecto saudosista
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Visão pessimista
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Angústia existencial
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Sofrimento amoroso
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Exagero sentimental
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Defesa do amor e da liberdade
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Idealização do amor e da mulher amada
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Descrição do locus horrendus ou lugar tempestuoso
Exemplo de poesia ultrarromântica
Leia o poema “Por que mentias?”, do livro Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo:
Por que mentias, leviana e bela,
Se minha face pálida sentias
Queimada pela febre?... e minha vida
Tu vias desmaiar... por que mentias?
Acordei da ilusão! a sós morrendo
Sinto na mocidade as agonias.
Por tua causa desespero e morro...
Leviana sem dó, por que mentias?
Sabe Deus se te amei! sabem as noites|
Essa dor que alentei, que tu nutrias!
Sabe este pobre coração que treme
Que a esperança perdeu porque mentias!
Vê minha palidez: a febre lenta...
Este fogo das pálpebras sombrias...
Pousa a mão no meu peito... Eu morro! eu morro!
Leviana sem dó, por que mentias?
Toda aquela mulher tem a pureza
Que exala o jasmineiro no perfume,
Lampeja seu olhar nos olhos negros
Como, em noite d’escuro, um vaga-lume...
Que suave moreno o de seu rosto!
A alma parece que seu corpo inflama...
Simula até que sobre os lábios dela
Na cor vermelha tem errante chama...
E quem dirá, meu Deus! que a lira d’alma
Ali não tem um som — nem de falsete!
E, sob a imagem de aparente fogo,
É frio o coração como um sorvete!
No poema, a voz poética expressa seu amor por uma mulher e o sofrimento causado pela falsidade de sua amada. Nele, é possível apontar algumas características ultrarromânticas, tais como:
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sofrimento amoroso: “Sinto na mocidade as agonias”, “Por tua causa desespero e morro...”;
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individualismo: o eu lírico está centrado em sua própria dor;
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exagero sentimental: “Pousa a mão no meu peito... Eu morro! eu morro!”;
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idealização da mulher: “Toda aquela mulher tem a pureza/ Que exala o jasmineiro no perfume,/ Lampeja seu olhar nos olhos negros”, “Que suave moreno o de seu rosto!”.
No entanto, de forma atípica, o eu lírico realiza um desvio da idealização romântica, ao mostrar que a mulher, apesar de bela, é falsa e fria: “Simula até que sobre os lábios dela/ Na cor vermelha tem errante chama...”, “E, sob a imagem de aparente fogo,/ É frio o coração como um sorvete!”. E, assim, ele mostra a causa de seu sofrimento.
Ultrarromantismo no Brasil
Autores brasileiros do ultrarromantismo
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Álvares de Azevedo (1831-1852)
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Junqueira Freire (1832-1855)
Obras do ultrarromantismo no Brasil
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Lira dos vinte anos (1853), de Álvares de Azevedo.
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Inspirações do claustro (1855), de Junqueira Freire.
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As primaveras (1859), de Casimiro de Abreu.
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Cantos e fantasias (1865), de Fagundes Varela.
Principais autores do ultrarromantismo
Em Portugal, os principais autores ultrarromânticos são:
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Camilo Castelo Branco (1825-1890);
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Soares de Passos (1826-1860).
E, apesar de o Ultrarromantismo ser um movimento literário tipicamente português e brasileiro, o poeta inglês Lord Byron (1788-1824) foi o grande inspirador da segunda geração romântica no Brasil. Já o autor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) legou aos ultrarromânticos a ideia de spleen (melancolia).
Principais obras do ultrarromantismo
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Os sofrimentos do jovem Werther (1774), de Johann Wolfgang von Goethe.
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Poemas (1816), de Lord Byron.
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Poesias (1856), de Soares de Passos.
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Amor de perdição (1862), de Camilo Castelo Branco.
Saiba mais: O que é a poesia condoreira?
Exercícios resolvidos sobre ultrarromantismo
Questão 01 (Enem)
Soneto
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é
A) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte.
B) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda.
C) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade.
D) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.
E) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.
Resolução:
Alternativa B.
A morte de que trata o poema é metafórica, já que se refere ao sofrimento amoroso. Tal sofrimento gera a melancolia do eu lírico, o que o impede de reagir diante da perda da pessoa amada.
Questão 02
Leia o seguinte trecho do poema Meus oito anos, de Casimiro de Abreu:
[...]
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
[...]
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
[...]
ABREU, Casimiro de. As primaveras. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2014.
No poema de Casimiro de Abreu, um dos principais autores ultrarromânticos brasileiros, sobressai:
A) o saudosismo.
B) a sensação de tédio.
C) o aspecto sombrio.
D) o pessimismo.
E) a ironia.
Resolução:
Alternativa A.
No poema, o eu lírico relembra, com saudade, a sua infância, que é por ele idealizada.
Créditos da imagem
[1] L&PM Editores (reprodução)
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
COSTA, Edson Tavares. Licenciatura em Letras/ Português: literatura portuguesa. Campina Grande: EDUEPB, 2011.
INFOPÉDIA. D. Maria II. Infopédia, Porto Editora. Disponível em: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$d.-maria-ii
INFOPÉDIA. D. Pedro V. Infopédia, Porto Editora. Disponível em: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$d.-pedro-v
HIGA, Carlos César. Segundo reinado. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/segundo-reinado.htm
SILVA, Tallyson Tamberg Cavalcante Oliveira da. Das reminiscências trovadorescas na poesia de Álvares de Azevedo: um estudo do aspecto amoroso na “Lira dos vinte anos”. 2021. Dissertação (Mestrado em Letras) – Centro de Ciências, Educação e Linguagens, Universidade Federal do Maranhão, Bacabal, 2021.