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Fagundes Varela

Fagundes Varela é um escritor brasileiro que faz parte do Ultrarromantismo. No entanto, sua poesia apresenta traços tanto da primeira quanto da terceira geração romântica.
Fagundes Varela
Fagundes Varela

 Fagundes Varela nasceu em 17 de agosto de 1841, na cidade de Rio Claro, no Rio de Janeiro. Como um típico autor romântico, sua juventude esteve marcada pelo estilo de vida boêmio. Apesar disso, o autor se casou duas vezes. A primeira delas com uma artista de circo, com quem teve um filho, que morreu com apenas três meses, o que marcou a vida do escritor.

O poeta, que faleceu em 18 de fevereiro de 1875, em Niterói, faz parte da segunda geração romântica, apesar de apresentar traços das outras duas gerações. Seu poema “Cântico do calvário”, do livro Cantos e fantasias, escrito em homenagem ao filho morto, é uma das obras mais conhecidas do autor.

Leia também: Álvares de Azevedo o grande nome da segunda geração do Romantismo brasileiro

Resumo sobre Fagundes Varela

  • O escritor brasileiro Fagundes Varela nasceu em 1841 e faleceu em 1875.

  • O autor é conhecido pelo seu estilo de vida boêmio e sua fama de andarilho.

  • Apesar de fazer parte do Ultrarromantismo, sua poesia apresenta marcas das duas outras gerações românticas.

  • O poema mais conhecido do autor é “Cântico do calvário” e integra seu livro Cantos e fantasias.

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Biografia de Fagundes Varela

Fagundes Varela (Luís Nicolau Fagundes Varela) nasceu em 17 de agosto de 1841, na cidade de Rio Claro, no Rio de Janeiro. Mas quando tinha 10 anos, ele e sua família foram viver em Goiás, na cidade de Catalão, onde seu pai passou a trabalhar como juiz. Em seguida, devido à profissão do pai, morou em Angra dos Reis, Petrópolis e Niterói.

Por volta de 1860, com o objetivo de estudar Direito, o poeta se mudou para São Paulo, onde publicou poemas no Correio Paulistano e se apaixonou por Ritinha Sorocabana. Tal relação provocou escândalo na sociedade da época, já que sua amada trabalhava como prostituta. Além disso, a existência de Varela era típica dos jovens artistas românticos do século XIX. Assim, a vida boêmia lhe trouxe o alcoolismo.

Ao que se sabe, o autor gostava de se deslocar por diversas cidades, para observar a vida e escrever. Então, em 1861, publicou seu primeiro livro — Noturnas. Nesse ano, conheceu a artista de circo Alice Guilhermina Luande. Em 1862, se casou com ela, e tiveram um filho — Emiliano —, que morreu com três meses de vida.

No mais, a vida do casal era bem instável. Os dois artistas não tinham residência fixa e viviam endividados. Além disso, havia as bebedeiras do poeta e a sua tendência à vida de andarilho. Mas, em 1865, Varela decidiu continuar a faculdade de Direito em Recife, e a esposa ficou na casa do pai do autor, onde morreu nesse mesmo ano.

Já no ano seguinte, em 1866, o escritor voltou novamente a São Paulo, para terminar o curso. Mas resolveu regressar à cidade natal, onde se casou pela segunda vez e teve duas filhas. No entanto, não abandonou seu estilo de vida errante, pois continuou a perambular por cidades do Rio de Janeiro. Morreu em 18 de fevereiro de 1875, em Niterói, devido a uma embolia cerebral.

Leia também: Maria Firmina dos Reis — primeira autora negra de um romance abolicionista no Brasil

Características literárias de Fagundes Varela

Fagundes Varela é um autor da segunda geração romântica no Brasil, também chamada de Ultrarromantismo. Tal geração produzia poesias marcadas pela fuga da realidade, já que, para seus poetas, a vida tinha algo de insuportável. Por isso, havia certo desejo pela morte, temática comum em seus textos, carregados de pessimismo.

O egocentrismo dos ultrarromânticos levava a um sentimentalismo exagerado, caracterizado pela idealização do amor e pela busca da mulher perfeita. Assim, o poeta, com a alma atormentada, entregava-se à melancolia e ao tédio, e buscava, na poesia, um sentido para a existência.

No entanto, algumas obras de Fagundes Varela apresentam características que destoam da idealização ultrarromântica, além de fazerem crítica social, o que as aproxima da terceira geração. Por esse motivo, o poeta é considerado, por alguns críticos, um autor de transição. Além disso, ele também dialoga com a primeira geração romântica.

Obras de Fagundes Varela

  • Noturnas (1861)

  • O estandarte auriverde (1863)

  • Vozes da América (1864)

  • Cantos e fantasias (1865)

  • Cantos meridionais (1869)

  • Cantos do ermo e da cidade (1869)

  • Anchieta ou O Evangelho nas selvas (1875)

  • Cantos religiosos (1878)

  • Diário de Lázaro (1880)

Cântico do calvário

Capa do livro Cantos e fantasias, de Fagundes Varela, publicado pela editora Martins Fontes.[1]
Capa do livro Cantos e fantasias, de Fagundes Varela, publicado pela editora Martins Fontes.[1]

Cântico do calvário”, poema do livro Cantos e fantasias, possui versos decassílabos, condizentes com estilos de época mais antropocêntricos, como o Parnasianismo. No entanto, o teocentrismo romântico aparece nas menções a elementos religiosos. Além disso, o exagero sentimental, a morbidez, o pessimismo e a melancolia inserem tal obra no Ultrarromantismo brasileiro.

Nesse famoso poema, Fagundes Varela presta uma homenagem a seu filho, Emiliano, que morreu com três meses de vida. Assim, o eu lírico idealiza a existência do filho, pois o compara à pomba da esperança, a uma estrela, à colheita (“messe de um dourado estio”) e ao idílio de amor. Mas, em seguida, a voz poética se mostra pessimista:

Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,

O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,

Pomba, — varou-te a flecha do destino!

Astro, — engoliu-te o temporal do norte!

Teto, caíste! — Crença, já não vives!

[...]

Não mais te embalarei sobre os joelhos,

Nem de teus olhos no cerúleo brilho

Acharei um consolo a meus tormentos!

Não mais invocarei a musa errante

Nesses retiros onde cada folha

Era um polido espelho de esmeralda

Que refletia os fugitivos quadros

Dos suspirados tempos que se foram!

Não mais perdido em vaporosas cismas

Escutarei ao pôr do sol, nas serras,

Vibrar a trompa sonorosa e leda

Do caçador que aos lares se recolhe!

O eu lírico se entrega à dor e percebe que se tornou “o eco das tristezas todas”. E conclui: “Por toda a parte em que arrastei meu manto/ Deixei um traço fundo de agonias!...”. Além do mais, seu sofrimento é acentuado pelo saudosismo:

Ah! quando a vez primeira em meus cabelos

Senti bater teu hálito suave;

Quando em meus braços te cerrei, ouvindo

Pulsar-te o coração divino ainda;

Quando fitei teus olhos sossegados,

Abismos de inocência e de candura,

E baixo e a medo murmurei: meu filho!

A voz poética diz que a morte do filho foi um castigo pelos atos de soberba do pai:

Cegou-me tanta luz! Errei, fui homem!

E de meu erro a punição cruenta

Na mesma glória que elevou-me aos astros,

Chorando aos pés da cruz, hoje padeço!

Porém, afirma que a criança lhe deu inspiração, alegria e esperança para o futuro:

E eu dizia comigo: — teu destino

Será mais belo que o cantar das fadas

Que dançam no arrebol, mais triunfante

Que o sol nascente derribando ao nada

Muralhas de negrume!... Irás tão alto

Como o pássaro-rei do Novo Mundo!

No mais, o eu lírico também se agarra ao pensamento de que a morte não existe:

Mas não! Tu dormes no infinito seio

Do Criador dos seres! Tu me falas

Na voz dos ventos, no chorar das aves,

Talvez das ondas no respiro flébil!

Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,

No vulto solitário de uma estrela,

E são teus raios que meu estro aquecem!

Dessa forma, a voz poética se reconforta com a ideia de que existe vida após a morte:

[...]! Quando a morte fria

Sobre mim sacudir o pó das asas,

Escada de Jacob serão teus raios

Por onde asinha subirá minh’alma.

Crédito da imagem

[1] Editora Martins Fontes (reprodução) 

Publicado por Warley Souza
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