Cidades e Globalização

Há uma relação mútua entre cidades e globalização, pois o meio urbano estrutura e é estruturado pelo processo de integração espacial e econômica da sociedade global.
Vista da cidade de Londres, um dos principais centros das estruturas da globalização

O processo de expansão das tecnologias de transporte, comunicação e outros é, entre outros aspectos, profundamente espacial. Sendo assim, o meio urbano é uma das diretrizes mais afetadas no cerne desse contexto. Há, portanto, uma profunda relação entre cidades e globalização, haja vista que o papel do espaço dessas cidades modificou-se profundamente ao longo das últimas décadas, sobretudo os grandes aglomerados urbanos.

Com o advento do sistema capitalista e, mais tarde, dos sucessivos processos de industrialização, as grandes cidades do mundo estavam atreladas ao desenvolvimento de suas indústrias, com suas respectivas capacidades de geração de emprego. Foi assim, por exemplo, com locais como Londres, Paris, Nova York e outras áreas, que conheceram a industrialização em seu período clássico, ou até com cidades como São Paulo, Cidade do México e outras, que passaram por uma industrialização mais tardia.

No entanto, houve inúmeros efeitos da Globalização sobre as cidades, pois, à medida que ela se consolidava e se expandia no planeta, mais o papel das empresas e suas localizações se alteravam no contexto do espaço geográfico. A primeira grande expressão nesse sentido foi a formação das grandes metrópoles e suas regiões metropolitanas com grandes aglomerados populacionais em cidades conurbadas, isto é, agrupadas em um espaço contínuo.

Além das metrópoles, surgiram também com a expansão do processo de globalização pelo mundo as chamadas cidades globais, que podem ser definidas como os verdadeiros “nós” ou “pontos” da rede econômica e política global. É a partir da integração entre as diferentes cidades globais do mundo (e destas com as cidades menores) que a Globalização se estrutura nas diferentes áreas do planeta, muito embora esse processo não atue de forma igualitária em todas as partes.

Graças aos avanços promovidos pela globalização no que se refere aos meios de transporte e globalização, as grandes indústrias e empresas deslocam os seus processos produtivos para as cidades médias e, até mesmo, para zonas rurais. Mas, ao contrário do que se espera, as metrópoles e cidades globais não se desestruturam, e sim modificam o seu papel. De centros industriais, essas cidades estão, em maior ou menor grau, transformando-se em centros decisórios, burocráticos e de poder, uma vez que abrigam as principais sedes de corporações, empresas e instituições públicas e privadas, além das bolsas de valores e estruturas que se encontram no centro da economia global atual.

Existem autores que colocam esse processo de transição a partir da gradativa formação das chamadas metápoles, ou meta-metrópoles. Nesse sentido, é dito que os aspectos espaciais das metrópoles são substituídos por formações urbanas heterogêneas, descontínuas, compostas por grandes cidades e sem uma limitação ou separação precisa entre o campo e a cidade, o que caracterizaria, portanto, as metápoles, chamadas também de “cidades do futuro”.

Mas como já mencionamos, o processo de globalização não se dissemina de maneira homogênea e igualitária pelo mundo, estruturando-se, na verdade, a partir de hierarquias. Essas, quase sempre, obedecem às lógicas econômicas internacionais, pois mesmo as cidades globais dos países subdesenvolvidos ou emergentes (tais como São Paulo, Xangai, Buenos Aires e outras) encontram-se submetidas hierarquicamente a outras cidades globais (tais como Nova York, Londres, Tóquio e outras). Além disso, no espaço intraurbano, essas desigualdades também se apresentam, haja vista que mesmo as cidades economicamente mais desenvolvidas e estruturadas não conseguem eliminar os guetos, as favelas e a periferização da população mais pobre.

Portanto, as cidades na era global são verdadeiras estruturas que aglomeram pessoas, capitais e também inúmeros desafios. A cidade na globalização é tida como a principal estrutura de reprodução do capital, refletindo, assim, as mudanças que ocorrem no contexto desse sistema, a exemplo dos processos de metropolização e desmetropolização. Assim sendo, cada vez mais o mundo se urbaniza e, paradoxalmente, cada vez mais a atuação de empresas, indústrias e serviços descentraliza-se.

Publicado por Rodolfo F. Alves Pena
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