Independência da América Espanhola
A independência da América Espanhola foi o processo histórico por meio do qual as colônias espanholas na América conquistaram suas independências influenciadas pelos ideais iluministas, pela independência dos EUA, em 1776, e pela Revolução Francesa, iniciada em 1789. As causas da independência da América Espanhola envolvem a insatisfação da elite colonial criolla em relação aos atos de governo espanhóis e as alterações no modelo de colonização no contexto das Guerras Napoleônicas.
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Resumo sobre a independência da América Espanhola
- A independência da América Espanhola foi o processo histórico por meio do qual as colônias espanholas na América conquistaram suas independências.
- Foi influenciada pelos ideais iluministas, pela independência dos EUA, em 1776, e pela Revolução Francesa, iniciada em 1789.
- Suas causas envolvem a insatisfação da elite colonial criolla em relação aos atos de governo espanhóis e as alterações no modelo de colonização no contexto das Guerras Napoleônicas.
- Seu processo é comumente organizado em duas empreitadas revolucionárias: a Revolução Malograda (1810-1814) e a Revolução Vitoriosa (1817-1825).
- O termo “malogrado” significa “aquilo que foi malsucedido”. No entanto, essa fase lançou as bases para as futuras vitórias. Esse período compreendeu o início das guerras de independência do México, Venezuela e Paraguai.
- A Revolução Vitoriosa (1817-1825) foi um movimento organizado e pensado pela elite criolla, sob a liderança de Simón Bolívar e José de San Martin.
- O movimento atingiu as províncias espanholas que correspondem aos atuais Argentina, Venezuela, Peru, Bolívia, Equador e Colômbia.
- A Conferência de Guayaquil (1822) reuniu Simón Bolívar e San Martin, que debateram sobre como organizar melhor as tropas e concordaram em continuar os movimentos sob a liderança de Bolívar e com propostas republicanas.
- O Congresso do Panamá reuniu os principais líderes das independências e discutiu a criação de uma confederação hispano-americana que promovesse a unificação do continente.
- Como consequências da independência da América Espanhola, pode-se apontar: a fragmentação territorial das ex-colônias, que se dividiram até formar as nações contemporâneas; e a organização das novas nações com base no poder local das elites criollas, que passaram a ser conhecidas como caudilhos.
Videoaula sobre a independência da América Espanhola
Contexto histórico da independência da América Espanhola
O contexto histórico da independência da América Espanhola remonta aos séculos XVIII e XIX. No século XVIII, a Europa foi palco do desenvolvimento intelectual do iluminismo, que, entre outras pautas, pregava o liberalismo político, o que, aplicado no contexto colonial, significava a independência das colônias e seu autogoverno.
Ainda nesse século, os Estados Unidos promoveram o primeiro processo de independência colonial, influenciado por ideais liberais, e criaram uma república federalista presidencialista democrática, a primeira de seu tipo, no continente americano, tornando-se uma grande influência.
Outro evento europeu que influenciou os movimentos americanos foi a Revolução Francesa, de orientação iluminista liberal, iniciada em 1789. Nesse contexto, a dinastia Bourbon governava a Espanha, e os eventos que marcaram sua história na Europa influenciaram os acontecimentos na América, sobretudo as Guerras Napoleônicas e a invasão da Espanha em 1807.
No contexto da invasão napoleônica na Espanha, a monarquia Bourbon foi destronada em favor de José Bonaparte, irmão mais velho de Napoleão, que governou a Espanha entre 1808 e 1813. É nesse contexto que os movimentos pela independência da América Espanhola ocorreram.
Causas da independência da América Espanhola
As causas da independência da América Espanhola envolveram:
- a insatisfação da elite colonial criolla em relação aos atos de governo espanhóis,
- as crescentes revoltas sociais promovidas não só pela elite criolla mas também pela população indígena e seus descendentes; e
- as alterações no modelo de colonização no contexto das Guerras Napoleônicas.
Todos esses elementos, catalisados pela influência iluminista e da independência dos EUA em 1776, concorreram para a independência da América Espanhola.
Os criollos eram membros da elite colonial da América Espanhola: nascidos na América, ocupavam destaque na elite econômica por serem fazendeiros e comerciantes. No entanto, eles não eram os únicos membros da elite, perdendo os maiores cargos públicos e o acesso ao poder político governamental e ao rico monopólio da mineração para os chapetones, membros da elite nascidos na Espanha.
O conflito entre criollos e chapentones é um dos mais importantes para compreender a independência da América Espanhola e se deu no campo político e intelectual, até que eclodiram os movimentos emancipacionista analisados a seguir.
Veja também: Queda da Bastilha — marco inicial da Revolução Francesa
Como foi o processo de independência da América Espanhola?
O processo de independência da América Espanhola é comumente organizado em duas empreitadas revolucionárias: a Revolução Malograda (1810-1814) e a Revolução Vitoriosa (1817-1825).
→ Revolução Malograda
O termo “malogrado” significa “aquilo que foi malsucedido”, então essa primeira fase das tentativas de independência fracassou. No entanto, lançou as bases para as futuras vitórias, o que torna sua análise importante.
Três principais movimentos compõem essa fase do processo de independência da América Espanhola:
- México (1810 a 1813): ocorreu um levante indígena chefiado por dois padres espanhóis chamados Miguel Hidalgo e José María Morelos. Esse movimento pretendia o fim da servidão indígena, a igualdade entre os cidadãos e a independência. Como ameaçou a própria estrutura social colonial, foi sufocado pela união de criollos e chapetones.
- Venezuela (1811 a 1813): movimento por independência liderado pelos criollos Francisco Miranda e Simón Bolívar. Chegam a organizar tropas e proclamar a independência, mas foram derrotados por tropas do exército espanhol.
- Paraguai (1811): por ser uma região periférica e distante do controle espanhol, foi o único movimento da época a obter êxito.
→ Revolução Vitoriosa
A Revolução Vitoriosa (1817-1825) foi um movimento organizado e pensado pela elite criolla, sob a liderança de Simón Bolívar e José de San Martin. O movimento atinge as províncias espanholas que correspondem aos atuais Argentina, Venezuela, Peru, Bolívia, Equador e Colômbia. Bolívar era partidário de um projeto de unidade territorial em toda a América Espanhola, chamado de Pan-americanismo, e defendia a adoção da forma de governo republicana.
Desse modo, diversos movimentos por independência na América Espanhola aconteceram, como listados a seguir:
- Argentina: 1810
- Paraguai: 1811
- Chile: 1818
- México: 1821
- Peru: 1821
- Bolívia: 1825
- Uruguai: 1828
- Equador: 1830
- Venezuela: 1830
- Nova Granada: 1831
- Costa Rica: 1838
- El Salvador: 1838
- Guatemala: 1838
- Honduras: 1838
- República Dominicana: 1844
- Colômbia: 1886
- Cuba: 1898
- Panamá: 1903
É importante observar que algumas dessas datas se localizam durante a Revolução Malograda, o que não é contraditório. A historiografia da maioria desses países estabelece uma distinção entre o início do movimento por independência, a declaração de independência e o reconhecimento estrangeiro da independência, todos ocorridos em anos diferentes.
Tomemos, por exemplo, a Venezuela: o movimento por independência iniciou-se em 1810, a declaração ocorreu em 1811, e a consolidação aconteceu apenas em 1830. Então, ao analisar as datas acima, é necessário ter em mente que muitas delas se referem ao início dos processos de independência, não à sua consolidação. As datas foram reproduzidas respeitando o que a historiografia dos países aponta como corretas.
Principais eventos da independência da América Espanhola
→ Conferência de Guayaquil
Os dois maiores líderes criollos dos movimentos por independência da América espanhola, Simón Bolívar e San Matin, tinham projetos diferentes para a América independente. Era evidente que nenhum movimento por independência seria vitorioso sem a união dos dois líderes e, por isso, foi organizada a Conferência de Guayaquil em julho de 1822, no Equador.
Nela, os dois líderes debateram sobre como organizar melhor as tropas, as pautas para garantir a independência, e concordaram em continuar os movimentos sob a liderança de Bolívar e com propostas republicanistas.
→ Congresso do Panamá
Entre junho e julho de 1826, ocorreu o Congresso do Panamá, no qual os principais líderes das independências, liderados por Simón Bolívar, discutiram a criação de uma confederação hispano-americana, ou seja, que existisse uma única grande nação hispano-americana no continente, com governo e instituições centralizadas, promovendo a unificação do continente.
Participaram do congresso Colômbia, México, Peru, Bolívia e a República Federal da América Central (atualmente Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Guatemala e El Salvador), porém a unificação não foi aprovada e o projeto foi abandonado.
Consequências da independência da América Espanhola
Como consequências da independência da América Espanhola, pode-se apontar:
- a fragmentação territorial das ex-colônias, que se dividiram até formar as nações contemporâneas;
- a organização das novas nações com base no poder local das elites criollas, que passaram a ser conhecidas como caudilhos, lideranças carismáticas que conquistaram grande apoio popular e desenvolveram governos autocráticos;
- manutenção da estrutura econômica agroexportadora e industrialização tardia, gerando países com economias dependentes de importações.
Saiba mais: Destino Manifesto e o real interesse dos EUA pela independência das terras americanas
Exercícios resolvidos sobre a independência da América Espanhola
1. O Congresso Nacional de Lima, a capital do Peru, situa-se na Praça Bolívar. A principal praça de Bogotá, capital da Colômbia, tem o mesmo nome: Praça Bolívar. A Bolívia recebeu esse nome para homenagear Simon Bolívar. Sobre Simón Bolívar, pode-se afirmar corretamente que
A) liderou um movimento a favor da independência da América do Sul e idealizou uma unidade continental chamada Pan-americanismo.
B) lutou ao lado de José de San Martín, na Argentina, e Bernardo O’Higgins, no Chile, pela libertação desses países do domínio espanhol.
C) foi um revolucionário criador do nacionalismo venezuelano e liderou a Revolução Bolivariana.
D) era um monarquista convicto; por isso, defendeu a centralização do poder, para uma América emancipada.
Resposta: A. Bolívar foi o grande libertador das colônias da América Espanhola, sendo conhecido por suas pautas republicanas e pan-americanas.
2. Na América Portuguesa (Brasil colonial), o termo crioulo designava o negro nascido no Brasil, submetido ou não ao regime de escravidão.
Na América Espanhola (do México ao Prata), o termo criollo designava
A) mestiços de espanhóis e indígenas, privilegiados na hierarquia social de seus povos de origem.
B) qualquer habitante da América Espanhola que apresentasse sinais de mestiçagem em sua aparência física.
C) mestiços de indígenas e negros, condenados ao trabalho forçado nas minas de prata do Peru e do México.
D) chefes indígenas cristianizados, que funcionavam como elos entre os conquistadores e as populações autóctones.
E) filhos de espanhóis nascidos na América, sem sombra de mestiçagem, com situação social privilegiada, geralmente fazendeiros e comerciantes.
Resposta: E. Os criollos eram parte da elite americana, formada por fazendeiros e comerciantes que nasceram na América.
Fontes
BETHEL, Leslie. História da América Latina: da Independência a 1870. São Paulo: EDUSP, 2018
BETHEL, Leslie. História da América Latina: América Latina Colonial, Vol. II. São Paulo: EDUSP, 2018
PRADO, Maria Lígia. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2018.