Governo José Sarney

O governo Sarney foi um marco da transição democrática no Brasil após o regime militar, enfrentando desafios econômicos, políticos e sociais.
Foto oficial de José Sarney como presidente do Brasil. Sarney governou o país entre 1985 e 1990.[1]

O governo José Sarney foi o período da história brasileira entre 1985 e 1990, no qual o Brasil foi governado por José Sarney. Esse governo foi um marco da transição democrática no Brasil após o regime militar, enfrentando desafios econômicos, políticos e sociais.

Sarney assumiu a presidência após a morte de Tancredo Neves, num cenário de grande expectativa por reformas e pela estabilização da inflação, que se tornou o maior problema econômico do período. Os principais objetivos do governo eram consolidar a redemocratização, promover a descentralização política e estabilizar a economia por meio de planos como o cruzado, o Bresser e o verão, que fracassaram diante da hiperinflação.

No campo político, o governo teve como grande conquista a promulgação da Constituição de 1988, que garantiu novos direitos civis e sociais.

Leia também: José Sarney — detalhes sobre a vida desse importante político brasileiro

Resumo sobre o governo José Sarney

  • O governo José Sarney foi o período da história brasileira entre 1985 e 1990, no qual o Brasil foi governado por José Sarney.
  • Sarney assumiu a presidência após a morte de Tancredo Neves.
  • Seu governo marcou o início da redemocratização no Brasil após 21 anos de regime militar, sendo um período de transição política, com altos índices de inflação e desafios econômicos herdados da ditadura.
  • Tinha como principais objetivos estabilizar a economia, consolidar a transição democrática e promulgar uma nova Constituição.
  • Lançou uma série de planos econômicos para tentar conter a inflação. No campo político, promoveu a Assembleia Nacional Constituinte.
  • Enfrentou uma hiperinflação persistente, tentativas de estabilização econômica fracassadas e crises fiscais.
  • A crise econômica limitou os investimentos em educação, mantendo altos índices de analfabetismo.
  • Movimentos sociais ganharam força, e a sociedade passou a exigir maior participação política e transparência.
  • O governo Sarney foi incapaz de controlar a inflação, resultando em hiperinflação e crise econômica. No entanto, a sociedade brasileira saiu fortalecida politicamente, com maior organização social e participação democrática.

Contexto histórico do governo Sarney

Posse de José Sarney como presidente do Brasil.

O governo de José Sarney (1985-1990) foi o primeiro após o fim do regime militar no Brasil, que durou de 1964 a 1985. Sarney assumiu a presidência em um contexto de transição política, após a eleição indireta de Tancredo Neves, que faleceu antes de tomar posse.

O período foi marcado pela busca de estabilização política e econômica em um cenário de abertura democrática, inflação descontrolada e tensões sociais. A economia estava em crise, com altos índices de inflação e uma grande dívida externa, herança dos governos militares. Além disso, a sociedade brasileira ansiava por reformas profundas, especialmente no campo político, com a consolidação de uma nova Constituição que garantisse direitos e liberdades.

Objetivos do governo Sarney

Os principais objetivos do governo Sarney estavam centrados em três áreas: a estabilização econômica, a redemocratização e uma nova Constituição. No campo econômico, o governo buscou controlar a inflação galopante, que corroía os salários e dificultava o planejamento de investimentos. Para isso, lançou uma série de planos econômicos, entre os quais o plano cruzado foi o mais ambicioso.

No campo político, o objetivo era consolidar a transição democrática, iniciada com a eleição indireta de Tancredo Neves, e promover a descentralização do poder, fortalecendo as instituições democráticas. Outro objetivo crucial foi a criação de uma Constituição que foi promulgada em 1988 e é, até hoje, a base do sistema político e jurídico do país. A nova Carta Magna trouxe avanços em direitos civis, sociais e trabalhistas.

Veja também: Constituição de 1988 — o símbolo do processo de redemocratização do Brasil durante a década de 1980

Medidas do governo Sarney

Entre as medidas tomadas pelo governo Sarney, as mais notáveis foram os diversos planos econômicos para tentar conter a inflação. O plano cruzado, lançado em 1986, foi o mais significativo e ambicioso. Ele implementou o congelamento de preços e salários e substituiu a moeda corrente, o cruzeiro, pelo cruzado. Inicialmente, o plano obteve sucesso no controle da inflação, mas não foi capaz de sustentar esse resultado a longo prazo.

Outros planos econômicos, como o plano Bresser (1987) e o plano verão (1989), também foram tentativas de estabilizar a economia, mas com menos impacto positivo do que o plano cruzado.

No campo político, Sarney foi responsável por medidas que consolidaram o processo de redemocratização, como o apoio à Assembleia Nacional Constituinte, que resultou na promulgação da Constituição de 1988. Outra medida importante foi a descentralização do poder, com o fortalecimento das administrações estaduais e municipais, o que foi fundamental para o processo de democratização do país.

Características do governo Sarney

A seguir, as principais características do governo Sarney.

→ Economia no governo Sarney

Legenda

A economia do governo Sarney foi marcada por uma inflação crescente e tentativas frustradas de estabilização. O Brasil enfrentava uma crise de dívida externa, o que forçava o país a buscar novos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Os altos níveis de inflação, que chegaram a ultrapassar 80% ao mês, minaram a confiança da população nos planos econômicos implementados.

A crise econômica afetou diretamente o poder de compra das famílias e gerou instabilidade no setor produtivo. Embora o plano cruzado tenha tido um sucesso inicial no controle da inflação, seu fracasso posterior contribuiu para o desgaste político do governo.

Durante o governo de José Sarney, foram implementados vários planos econômicos, todos com o objetivo de controlar a inflação galopante e estabilizar a economia. No entanto, os resultados foram, em sua maioria, insuficientes para solucionar os problemas estruturais da economia brasileira. Abaixo estão os principais planos econômicos desse período.

  • Plano cruzado (1986)

O plano cruzado foi o mais emblemático e ambicioso dos planos econômicos do governo Sarney. Entre as principais medidas, estavam: o congelamento de preços e salários; o corte de três zeros da moeda, substituída pelo cruzado (CZ$); e a criação de um gatilho salarial que previa o aumento automático dos salários caso a inflação ultrapassasse 20%.

Inicialmente, o plano foi bem recebido, com a inflação caindo rapidamente, mas seu sucesso durou pouco. A alta demanda provocada pela política de congelamento de preços gerou desabastecimento e um mercado paralelo, levando ao fracasso do plano.

  • Plano cruzado II (1986)

Diante das falhas observadas no plano cruzado original, especialmente com o desabastecimento de produtos e a volta gradual da inflação, foi lançado o plano cruzado II. Este tentou corrigir os problemas do anterior, promovendo ajustes nos preços de alguns itens e desregulando parcialmente o congelamento. No entanto, não conseguiu conter a escalada inflacionária, e a economia continuou instável.

  • Plano Bresser (1987)

Nomeado em referência ao então Ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, o plano Bresser foi lançado como uma nova tentativa de conter a inflação, que já havia voltado a níveis alarmantes. Entre suas medidas estavam o congelamento de preços e salários por 90 dias e o ajuste fiscal para reduzir o déficit público. No entanto, assim como o plano cruzado, o plano Bresser não conseguiu controlar a inflação no longo prazo, e sua eficácia foi limitada.

  • Plano verão (1989)

O plano verão foi o último grande plano econômico do governo Sarney, elaborado pelo então Ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega. O plano promoveu a troca da moeda novamente, desta vez do cruzado para o cruzado novo (NCZ$), além de tentar congelar preços e salários mais uma vez. Outra medida foi o fim do gatilho salarial. O plano também não conseguiu controlar a inflação de forma eficiente, e a economia brasileira continuou a se deteriorar até o final do governo Sarney.

→ Política no governo Sarney

A política do governo Sarney foi de transição para a democracia. Um dos principais desafios foi governar em um cenário onde ainda havia resquícios do autoritarismo militar, ao mesmo tempo que novas demandas populares por direitos e liberdades surgiam com a abertura democrática.

O governo Sarney enfrentou uma pressão constante de diferentes grupos políticos e sociais, que exigiam reformas e mudanças rápidas, especialmente no campo dos direitos trabalhistas e sociais. A convocação da Assembleia Nacional Constituinte foi um marco político, resultando na Constituição de 1988, que consolidou a democracia no Brasil.

→ Educação no governo Sarney

Na área da educação, o governo Sarney enfrentou grandes desafios, especialmente devido à crise econômica, que limitava os investimentos públicos. Durante o seu governo, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE) de 1986, que objetivou melhorar o acesso e a qualidade da educação no Brasil. No entanto, a implementação de reformas profundas foi dificultada pela falta de recursos financeiros e pela instabilidade econômica. A educação básica ainda enfrentava altos índices de analfabetismo e baixas taxas de matrícula, especialmente nas regiões mais pobres do país.

→ Sociedade no governo Sarney

A sociedade brasileira, durante o governo Sarney, vivia um período de grande expectativa por mudanças. Após décadas de repressão e censura durante o regime militar, os movimentos sociais ganharam força e reivindicavam melhorias nas áreas de saúde, educação e trabalho. O movimento sindical, por exemplo, se consolidou como uma força política importante durante o governo Sarney. No entanto, a crise econômica, com inflação alta e queda no poder de compra, gerou um descontentamento crescente entre as camadas populares, o que resultou em manifestações e greves. Além disso, o governo foi pressionado por grupos que exigiam maior participação política e transparência na administração pública.

Principais acontecimentos do governo Sarney

José Sarney assinando a Constituição de 1988.[2]

Entre os principais acontecimentos do governo Sarney, destaca-se a promulgação da Constituição de 1988, um marco na história democrática do Brasil. Essa nova Constituição foi responsável por consolidar direitos individuais e coletivos, como a liberdade de expressão, o direito à greve, a ampliação dos direitos trabalhistas e a criação de um sistema de saúde pública universal, o SUS.

Outro acontecimento relevante foi o lançamento do plano cruzado, que inicialmente controlou a inflação, mas cujo fracasso posterior resultou em desabastecimento e na volta da inflação.

No cenário internacional, o governo Sarney também enfrentou desafios. Durante seu mandato, o Brasil vivia um período de transição geopolítica, com o fim da Guerra Fria e a reorganização da ordem mundial. Em 1989, o Brasil realizou sua primeira eleição presidencial direta, após mais de duas décadas de regime militar, que marcou o fim do mandato de Sarney e a transição para um governo eleito diretamente pela população liderado por Fernando Collor de Mello.

Acesse também: Como foi o governo Collor?

Consequências do governo Sarney

O governo de José Sarney deixou um legado ambíguo. No campo político, a promulgação da Constituição de 1988 foi o maior marco positivo, consolidando o processo de redemocratização e criando as bases para uma democracia moderna no Brasil. A descentralização política e a criação de novos direitos sociais foram conquistas que beneficiaram amplamente a sociedade brasileira.

No entanto, no campo econômico, as consequências foram mais problemáticas. A inflação desenfreada e o fracasso dos sucessivos planos econômicos desgastaram a imagem do governo e afetaram profundamente a economia brasileira, que permaneceu instável até o início da década de 1990. As tentativas de controle inflacionário não foram suficientes para reverter a crise econômica, e o país continuou a sofrer com a falta de crescimento econômico e altos índices de pobreza.

A sociedade brasileira, por outro lado, saiu fortalecida no sentido de sua organização política e social, com o fortalecimento dos movimentos sociais, sindicais e da participação democrática. As eleições diretas para presidente em 1989 foram a conclusão de um processo de abertura democrática que começou durante o governo Sarney, marcando uma nova era política no Brasil.

Exercícios resolvidos sobre o governo José Sarney

Questão 1

Durante o governo de José Sarney (1985-1990), o Brasil enfrentou uma profunda crise econômica, especialmente no que se refere à inflação, que chegou a atingir níveis de hiperinflação em diversos momentos. Com base no contexto do governo Sarney, qual foi o principal motivo do fracasso dos planos econômicos implementados durante seu mandato?

A) A falta de apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a implementação dos planos.

B) O congelamento de preços, que gerou desabastecimento e aumento da informalidade.

C) O aumento significativo dos investimentos públicos em áreas sociais durante o período.

D) A impossibilidade de renegociar a dívida externa acumulada pelo país.

E) A transição democrática, que desestabilizou o mercado financeiro nacional.

Resolução:

Alternativa B

O congelamento de preços, uma das principais medidas do plano cruzado, inicialmente controlou a inflação, mas logo gerou desabastecimento de produtos, o que alimentou o surgimento de um mercado paralelo e informal. Esse cenário acabou minando a eficácia do plano e contribuindo para o fracasso de outras tentativas de estabilização econômica.

Questão 2

O governo Sarney foi um período de importantes transformações políticas no Brasil, destacando-se pela promulgação da Constituição de 1988, considerada um marco na redemocratização do país. Qual das opções a seguir representa uma importante inovação trazida pela Constituição de 1988 no contexto do governo Sarney?

A) A criação de um sistema nacional de previdência privada.

B) A extensão do direito ao voto apenas para cidadãos alfabetizados.

C) A garantia de um sistema de saúde público, universal e gratuito.

D) A redução do mandato presidencial para quatro anos sem reeleição.

E) A privatização de empresas estatais para estimular a economia.

Resolução:

Alternativa C

A Constituição de 1988 garantiu a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), que estabeleceu o direito à saúde como um dever do Estado, assegurando atendimento público, universal e gratuito para todos os cidadãos, independentemente de classe social. Esse foi um dos grandes avanços sociais da nova Constituição.

Créditos de imagem

[1] Empresa Brasil de Comunicação / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] Escola Brasiliense de Fotografia / Agência Senado / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

CAMPOS, Tiago. Compêndio de História do Brasil – Volume III: República. São Paulo: Cosenza, 2024

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2012.

Publicado por Tiago Soares Campos

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