Criacionismo

O criacionismo é a visão religiosa de acordo com a qual a vida, o universo e toda a existência foram criados intencionalmente por uma divindade.
“A criação de Adão”, obra de Michelangelo que retrata evento que é parte do criacionismo cristão.

O criacionismo é a crença na concepção intencional do universo e da diversidade da vida na Terra por uma entidade divina, em contraposição à teoria da evolução de Darwin. Na mitologia grega existem mitos que explicam a criação do mundo e dos seres humanos. O cristianismo baseia o criacionismo na narrativa de Gênesis, enquanto outras perspectivas, como o "criacionismo da Terra Antiga", buscam reconciliar a fé com a evolução.

O contraste entre criacionismo e evolucionismo levou a controvérsias, principalmente no ensino nas escolas, o que foi debatido em diversos processos judiciais. A teoria do Design Inteligente postula a intervenção de um designer inteligente na complexidade do universo e da vida, sendo controversa e muitas vezes considerada como uma forma de criacionismo disfarçado.

Críticas ao criacionismo incluem falta de evidência científica sólida, interpretações seletivas da Bíblia, falta de consenso religioso, implicações legais e educacionais, e incompatibilidade com a diversidade religiosa e cultural, refletindo tensões históricas entre fé e ciência.

Leia também: Big Bang — teoria sobre a origem do universo mais aceita atualmente no meio científico

Resumo Sobre o Criacionismo

  • O criacionismo é uma crença que afirma que o universo e a diversidade da vida na Terra foram propositadamente concebidos por uma entidade divina ou forças sobrenaturais, opondo-se à teoria da evolução de Charles Darwin, que explica a variedade de seres vivos ao longo de bilhões de anos.
  • A mitologia grega contém mitos que explicam a criação do mundo e dos seres humanos de acordo com suas crenças. Gaia e Urano, a Terra e o Céu, desempenham papéis fundamentais na genealogia divina.
  • No cristianismo, o criacionismo encontra sua base na narrativa do livro de Gênesis, em que Deus é retratado como o criador que formou o mundo e a vida em seis dias literais de 24 horas, em contraste com outras perspectivas, como o "criacionismo da Terra Antiga".
  • O contraste entre criacionismo e evolucionismo gera controvérsias, especialmente no ensino da evolução nas escolas, resultando na decisão de que essas perspectivas não são científicas e não devem fazer parte do currículo científico.
  • O Design Inteligente postula que a complexidade do universo e da vida não pode ser totalmente explicada pela evolução e processos naturais, sugerindo a intervenção de um "designer inteligente". Essa perspectiva tem sido controversa e considerada por muitos cientistas como uma forma de criacionismo disfarçado.
  • Críticas ao criacionismo incluem sua falta de evidência científica sólida, falta de consenso religioso, implicações legais e educacionais, e preocupações com sua incompatibilidade com a diversidade religiosa e cultural.

O Que é o Criacionismo?

O criacionismo é a crença de que o universo, a Terra e a vida em todas as suas formas foram criados por uma entidade divina ou por forças sobrenaturais. Essa perspectiva contrasta com a visão evolucionista, que se baseia na teoria da evolução de Charles Darwin e postula que a diversidade de seres vivos na Terra é o resultado de processos naturais ao longo de milhões de anos.

O criacionismo tem suas raízes em várias tradições religiosas, culturais e mitológicas em todo o mundo. Em muitos casos, o criacionismo é associado a narrativas mitológicas que explicam a origem do universo e da vida de acordo com as crenças de um grupo específico.

Criacionismo na Mitologia Grega

A mitologia grega é rica em histórias que explicam a origem do mundo e dos seres humanos. Um exemplo notável é o mito de Gaia, a deusa da Terra, e Urano, o deus do céu. Gaia e Urano são considerados os progenitores do mundo, e sua união resultou na criação dos Titãs, dos Ciclopes e dos Hecatônqueiros.

A "Teogonia" do poeta Hesíodo é uma epopeia grega que descreve a origem e a genealogia dos deuses e deusas do panteão grego. A obra oferece uma visão abrangente do processo de criação do mundo e da ascensão dos deuses olímpicos ao poder. O poema começa com o Caos, uma condição primordial de confusão e desordem, e narra a criação das primeiras divindades, como Gaia (a Terra) e Urano (o Céu), que, por meio de sua união, geraram os Titãs, os Ciclopes e os Hecatônqueiros. A partir desses seres, a linhagem divina se desenrola, culminando na ascensão de Zeus como o governante supremo do Olimpo.

É importante notar que a mitologia grega também apresenta uma diversidade de mitos que descrevem a criação de seres humanos e de outras criaturas por deuses e deusas específicos. Por exemplo, Prometeu é creditado com a criação dos seres humanos a partir da argila. Esses mitos podem ser considerados como expressões incipientes de criacionismo, embora a mitologia grega não tenha uma visão unificada da criação do universo.

Hesíodo, o poeta grego autor da “Teogonia”.

Criacionismo no Cristianismo

O criacionismo tem uma presença significativa no cristianismo e no judaísmo, que compartilham a mesma base teológica sobre o assunto. A visão criacionista judaico-cristã é derivada da narrativa da criação encontrada na Bíblia, mais especificamente no livro de Gênesis.

De acordo com o relato bíblico, Deus criou o mundo em seis dias, começando com a criação da luz e terminando com a criação do ser humano. No sétimo dia, Deus descansou, definindo o dia de sábado como de descanso.

A narrativa da criação em Gênesis é frequentemente interpretada literalmente por muitos cristãos, que acreditam que a Terra e todos os seres vivos foram criados em um período de seis dias de 24 horas cada, há cerca de seis mil anos. Essa visão é conhecida como "criacionismo da Terra Jovem" e é uma parte fundamental do movimento criacionista, que promove a ideia de que a ciência e a evolução são incompatíveis com a fé.

No entanto, é importante ressaltar que nem todos os cristãos compartilham dessa interpretação literal do relato da criação. Muitos aceitam a evolução como um processo real e acreditam que a Bíblia pode ser interpretada de maneira acomodatícia em relação à ciência. Essa perspectiva é conhecida como "criacionismo da Terra Antiga" ou "criacionismo teísta", e busca reconciliar as descobertas científicas com a fé religiosa.

“A queda de Adão e Eva”, parte do criacionismo cristão, pintura de Michelangelo.

Criacionismo x Evolucionismo

A questão da relação entre criacionismo e evolucionismo tem sido um tema de debate contínuo ao longo dos anos. Enquanto o criacionismo se baseia em explicações religiosas e mitológicas para a origem da vida e do universo, o evolucionismo é uma teoria científica que busca entender a diversidade de seres vivos por meio de processos naturais.

A teoria da evolução, proposta por Charles Darwin no século XIX, postula que as espécies mudam ao longo do tempo por meio da seleção natural, resultando na adaptação a diferentes ambientes e na origem de novas espécies. A evidência acumulada ao longo de décadas de pesquisa científica apoia fortemente a teoria da evolução.

Essa diferença fundamental entre criacionismo e evolucionismo levou a uma série de controvérsias, especialmente em relação ao ensino da evolução nas escolas. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve debates legais sobre a inclusão do criacionismo ou do "design inteligente" nas aulas de ciências, com o argumento de que essas perspectivas deveriam ser apresentadas como alternativas à evolução. No entanto, o supremo tribunal americano decidiu que o criacionismo e o design inteligente não são científicos e não devem ser ensinados nas aulas de ciências.

O debate entre criacionismo e evolucionismo também se estende a outras partes do mundo, com várias abordagens legais e educacionais. No entanto, é importante notar que a maioria dos cientistas e educadores concorda que a teoria da evolução é uma parte fundamental do currículo de ciências, enquanto o criacionismo é considerado uma crença religiosa e não uma teoria científica.

Charles Darwin, autor do evolucionismo.

O Design Inteligente

A teoria do design inteligente (Intelligent Design, em inglês) é uma perspectiva que sugere que a complexidade observada no universo e na vida não pode ser explicada completamente pela evolução ou por processos naturais, mas sim que um "designer inteligente" deve ter desempenhado um papel na criação e na complexidade dos seres vivos e do cosmos. Em outras palavras, argumenta que certas características da natureza e dos organismos são tão complexas que não podem ser o resultado do acaso ou da seleção natural, mas devem ser o produto de uma inteligência deliberada.

A teoria do design inteligente ganhou destaque no final do século XX, principalmente nos Estados Unidos, e foi promovida por Michael Behe, um bioquímico, e Phillip E. Johnson, um jurista. No entanto, a teoria não é uma teoria científica amplamente aceita, mas sim uma visão defendida por um grupo de pensadores, principalmente no campo da filosofia e da teologia.

É importante destacar que a teoria do design inteligente é frequentemente criticada pela comunidade científica, que a considera uma versão disfarçada do criacionismo, projetada para contornar a proibição legal do ensino do criacionismo em escolas públicas nos Estados Unidos.

O movimento do design inteligente se envolveu em controvérsias legais significativas nos Estados Unidos, onde houve tentativas de sua introdução nas escolas como alternativas à teoria da evolução. No entanto, em 2005, no caso Kitzmiller v. Dover Area School District, um tribunal federal dos EUA determinou que o design inteligente não é uma teoria científica e não deve ser ensinado como tal nas escolas públicas.

Leia também: Neodarwinismo — teoria que alinhou os conhecimentos em genética com a teoria de Darwin

Críticas ao Criacionismo

O criacionismo tem sido objeto de críticas ao longo dos anos, principalmente devido à sua incompatibilidade com a teoria da evolução e a falta de evidências científicas que o sustentem. Dentre elas, pode-se destacar:

  1. Falta de Evidência Científica: O criacionismo, em sua forma mais literal, carece de evidências científicas sólidas para sustentar suas alegações. A teoria da evolução, por outro lado, é amplamente apoiada por uma vasta quantidade de evidências provenientes de campos como a paleontologia, genética, biologia molecular e geologia.
  2. Falta de Consenso Religioso: Mesmo entre os cristãos, não há um consenso sobre o criacionismo. Muitos teólogos e líderes religiosos aceitam a teoria da evolução como compatível com a fé, enquanto outros aderem ao criacionismo. Isso demonstra que a crença no criacionismo não é universal dentro da própria comunidade religiosa.
  3. Questões Legais e Educacionais: A tentativa de inserir o criacionismo ou o design inteligente nas escolas públicas como alternativas à evolução tem enfrentado desafios legais significativos em várias jurisdições.
  4. Incompatibilidade com a Diversidade Religiosa e Cultural: O criacionismo, principalmente em sua forma cristã literalista, pode parecer exclusivo em relação a outras crenças religiosas e culturas que têm suas próprias histórias de criação. Isso levanta preocupações sobre a diversidade e a tolerância religiosa.

Fontes:

SILVA, Rodrigo. O Ceticismo da Fé. São Paulo: Ágape, 2018

PAGLIARINO, Guido. Criação e Evolução: Um confronto entre Evolucionismo teísta, Darwinismo casualista e Criacionismo – Ensaio. Ebook: Tektime, 2019

Publicado por Tiago Soares Campos

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