Guerra Civil Síria

A Guerra Civil Síria se iniciou em 2011 como desdobramento da Primavera Árabe e foi responsável pela morte de milhares de pessoas e pela destruição da Síria.
Soldado sírio em ação durante a Guerra Civil Síria.[2]

A Guerra Civil Síria é um conflito que está em curso desde 2011 e que foi iniciado como consequência da Primavera Árabe. A população insatisfeita passou a protestar contra o governo de Bashar al-Assad, e a repressão violenta motivou opositores a se armarem para a guerra. Acredita-se que cerca de 600 mil pessoas tenham morrido na Síria.

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Primavera Árabe e o início da guerra civil

A Síria é um país do Oriente Médio governado pela família al-Assad desde a década de 1970. O atual governante, Bashar al-Assad, controla o país de maneira corrupta e ditatorial desde 2000. Bashar al-Assad era filho do antigo governante Hafez al-Assad e tornou-se presidente da Síria após eleições nas quais, supostamente, 99,7% dos eleitores aprovaram o seu governo.

Em 2011, o governo de Bashar al-Assad enfrentou protestos no que ficou conhecido como Primavera Árabe.[1]

Ao final de 2010, uma onda de protestos espalhou-se pelos países árabes a partir da Tunísia. Esses protestos, em geral, pediam mais democracia, mais empregos e melhor qualidade de vida e foram chamados de Primavera Árabe. A onda de protestos iniciada na Tunísia espalhou-se pela Líbia, Egito e chegou à Síria em janeiro de 2011.

Os protestos na Síria concentravam-se em grandes cidades, como a capital — Damasco —, Aleppo e Deraa. A cidade de Deraa foi palco de um dos episódios mais dramáticos da Primavera Árabe na Síria, pois a polícia secreta síria foi mobilizada pelo governo para prender estudantes menores de 15 anos que picharam palavras contra o governo de Bashar al-Assad.

Esses estudantes foram levados para interrogatório e foram brutalmente torturados pelos agentes do governo. Essa situação escandalizou o país e fez com que os protestos se espalhassem pelas grandes cidades da Síria. A população que manifestava sua insatisfação teve como resposta do governo uma violenta repressão, que resultou na morte de protestantes e motivou a população a continuar se manifestando. Quanto mais protestos aconteciam, mais violenta ficavam as forças enviadas por Bashar al-Assad.

A repressão do governo sírio aos protestos levou civis, militares desertores e grupos de oposição a formarem o Exército Livre da Síria (ELS). O ELS é uma entidade armada, formada em julho de 2011, que se insurgiu para expulsar as tropas de Bashar al-Assad das grandes cidades sírias. Tanto a ONU quanto a Liga Árabe tentaram negociar entre as partes para impedir que o confronto se transformasse em guerra civil, mas não houve acordo.

Assim, o governo al-Assad mandou tropas para retomar o controle sobre as cidades que haviam sido tomadas pelo ELS. Os grupos de oposição exigiam a renúncia de Bashar al-Assad. Como o presidente não aceitou renunciar ao cargo, as negociações fracassaram, e os dois lados partiram para o confronto armado aberto.

Com isso, foi iniciada a Guerra Civil Síria. O conflito tomou grandes proporções em julho de 2011, mas considera-se que o início dessa guerra se deu em março de 2011.

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Guerra civil espalha-se por toda a Síria

A Guerra Civil Síria cresceu à medida que novos grupos rebeldes aderiram ao conflito a partir de 2012. Primeiramente, o Exército Livre da Síria autoproclamou-se como grupo secular (sem vinculação religiosa) e era considerado como um representante da ala moderada da oposição. O ELS teve forte atuação até o ano de 2012 e, depois disso, perdeu parte de sua força.

Além disso, o Exército Livre da Síria passou por uma mudança ideológica radical ao longo do conflito. Ele defendia o estabelecimento de um governo democrático e tinha uma posição secular. A partir de 2018, o ELS passou a ser fortemente influenciado por ideologias fundamentalistas e aliou-se com a Turquia.

Isso alterou radicalmente o foco de luta do ELS. Se antes eles queriam lutar contra Bashar al-Assad para implantar um governo democrático, a partir de 2018 eles passaram a focar sua luta contra o movimento de curdos que se desenvolveu no norte da Síria. A alegação para atacar os curdos é o temor de que estes proclamem a sua independência, fragmentando o país.

Outro grupo importante que aderiu ao conflito é conhecido como Hayat Tahrir al-Sham. Esse é um grupo abertamente jihadista e, portanto, defende ideais fundamentalistas islâmicos. Esse grupo já foi conhecido como Fateh al-Sham e Frente Al-Nusra. Até meados de 2016, o Hayat Tahrir al-Sham era aliado da Al-Qaeda, mas esses laços foram rompidos.

Atualmente, o grupo fundamentalista na Síria que possui uma aliança com a Al-Qaeda é o Hurras al-Din, grupo que, ao longo da Guerra Civil Síria, já lutou contra o Hayat Tahrir al-Sham. Podemos perceber aqui que o quadro de forças na Síria é bastante variado e os grupos rebeldes lutam entre si e contra o governo de al-Assad.

A Guerra Civil Síria também contou com a entrada do Estado Islâmico a partir de 2014. O grupo já atuava no Iraque e aproveitou-se da guerra civil para tomar o controle de grande parte do território sírio. O Estado Islâmico lutava autonomamente contra todas as forças presentes na Síria, com o objetivo de alcançar a soberania total no país.

O Estado Islâmico chegou a dominar grande parte da Síria, mas esforços conduzidos por Rússia e Estados Unidos, além do governo sírio, curdos e outros grupos rebeldes, contribuíram para o enfraquecimento dessa organização terrorista. Atualmente, eles não controlam mais nenhum território na Síria, mas ainda são vistos como uma grande ameaça.

A atuação do Estado Islâmico na Síria levou povos curdos a se mobilizarem para se defender da violência que estavam sofrendo. Para isso, foi formada a Unidade de Proteção Popular (YPG, na sigla em curdo) na autoproclamada Rojava, República do Curdistão Sírio, que leva o nome de Federação Democrática do Norte da Síria.

Os curdos da Síria alegam que não têm objetivo de autoproclamar a sua independência, apesar de existir uma luta histórica do povo curdo por sua autodeterminação. Eles se organizaram militarmente única e exclusivamente para combater o avanço do Estado Islâmico e contaram com o apoio dos Estados Unidos, mas desde 2019 esse apoio foi retirado.

O fim do apoio dos Estados Unidos deixou os curdos fragilizados e, apesar do papel importante deles no combate ao Estado Islâmico, o grupo foi alvo da Turquia. Os turcos acusam os curdos sírios de manterem contato com uma organização curda da Turquia que é acusada de terrorismo.

Os curdos negam defender qualquer tipo de separatismo e ter ligações com grupos terroristas. Para evitar serem massacrados pela Turquia, realizaram um acordo com o governo de Bashar al-Assad e com a Rússia para que ambos enviassem tropas para o norte da Síria. Isso garantiu mais estabilidade para a situação curda na Síria.

Influência estrangeira

O conflito na Síria tem essa longa duração, principalmente, pela interferência estrangeira, que garante o financiamento dos grupos armados e a manutenção da luta. Primeiramente, a participação dos Estados Unidos no conflito ocorreu pelo apoio financeiro que o país ofereceu ao ELS e aos curdos.

Além disso, o crescimento do Estado Islâmico motivou os Estados Unidos a bombardearem constantemente as posições dominadas por esse grupo. O governo norte-americano também bombardeou instalações do Hezbollah na Síria, bem como instalações do governo sírio depois de ataques químicos realizados por esse governo contra sua própria população.

A Rússia atua no conflito como principal aliada do governo de Bashar al-Assad. Os russos impedem na ONU que o governante sírio sofra sanções e enviou tropas à Síria, a partir de 2015, para auxiliar o exército sírio, que estava perdendo posições para os rebeldes. O apoio dado pelos russos aos sírios foi fundamental para sustentar Bashar al-Assad no poder em seu pior momento na guerra. Outro país que apoia o governo sírio é o Irã, com envio de tropas, armas e dinheiro.

A Turquia apoia o ELS e luta abertamente contra a milícia curda formada no norte da Síria. Os curdos na Turquia são uma minoria perseguida, e o governo turco teme que o fortalecimento dos curdos sírios influencie os curdos turcos. Inúmeros outros países atuaram direta ou indiretamente no conflito, como Arábia Saudita e o Reino Unido.

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Saldo da Guerra Civil Síria

A Guerra Civil Síria é um conflito que tem mais de 10 anos de duração, e o resultado de tantos anos de conflito não poderia ser diferente: o país está destruído. O preço mais alto é pago pela população, que viu suas casas serem destruídas e suas vidas serem radicalmente transformadas e colocadas em risco.

A Guerra Civil Síria foi responsável pela destruição das grandes cidades sírias.

Dados do Observatório Sírio para os Direitos Humanos apontam que, até dezembro de 2020, um total de 593 mil pessoas haviam perdido suas vidas na guerra. Além das mortes, o conflitou tornou a vida dos sírios muito mais difícil e essa entidade aponta também que mais de 90% das mulheres sírias empobreceram, por exemplo.

Além disso, a guerra fez com que milhões de pessoas fugissem de suas casas. Ao todo, cerca de 13 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar seus lares para garantir sua segurança. A maioria manteve-se no país, mas 6 milhões de pessoas decidiram abandonar a Síria e se mudaram, principalmente para nações vizinhas, como a Turquia e o Líbano, e para a Europa.

A situação da Síria segue vista como uma grande incógnita para os observadores internacionais. O empobrecimento do país é evidente, mas a guerra não tem prazo para acabar, uma vez que os atores envolvidos no conflito não demonstram ter interesse em encerrar o conflito.

Créditos das imagens

[1] Valentina Petrov e Shutterstock

[2] ART production e Shutterstock

Publicado por Daniel Neves Silva
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