José Saramago

José Saramago, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1998, consagrou-se como um escritor extremamente original. Suas obras, com enredos inusitados e intrigantes, chamam a atenção de leitores do mundo todo, não só pela originalidade das histórias narradas, mas sobretudo em razão do modo criativo com que a linguagem, principalmente no aspecto sintático, é formulada. Muito crítico da desigualdade e da injustiça social, o autor, que teve uma origem extremamente humilde, figura como um dos mais importantes escritores contemporâneos, tendo inúmeras de suas obras adaptadas para o cinema.

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Biografia de José Saramago

José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, em Portugal, no dia 16 de novembro de 1922. Os seus pais, que eram camponeses, emigraram para Lisboa quando ele  tinha por volta de 2 anos de idade.

De origem humilde, fez os estudos secundários e técnico, mas não prosseguiu no ensino superior em razão das dificuldades econômicas que afetavam sua família. Seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico e posteriormente atuou em diversas profissões: desenhista, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor e jornalista.

José Saramago inovou o jeito de se fazer narrativa em língua portuguesa. [1]

O seu primeiro livro, o romance Terra do Pecado, foi publicado em 1947. Saramago trabalhou durante doze anos em uma editora, onde exerceu funções de direção literária e de produção. Colaborou também como crítico literário na revista Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redação do jornal Diário de Lisboa, no qual foi comentador político, tendo também coordenado, durante cerca de um ano, o seu suplemento cultural. Em 1975 foi diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias.

 Filiado desde 1969 ao Partido Comunista Português (PCP), em novembro de 1975 perdeu, como retaliação a seu posicionamento político, o cargo que ocupava no jornal Diário de Lisboa.

De 1985 a 1994, foi presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores, além de pertencer à Direção da Associação Portuguesa de Escritores. De 1976 até o fim de sua vida, viveu exclusivamente do seu trabalho literário, inicialmente como tradutor, depois como autor.

Em 1988, casou-se com Pilar del Río. Em 1993 passou a repartir o seu tempo entre a sua residência em Lisboa e a sua casa de veraneio na ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha). Em 1998, foi agraciado com o mais importante prêmio concedido a um escritor: o Prêmio Nobel de Literatura, sendo o primeiro autor de língua portuguesa a ser agraciado com essa honraria. José Saramago faleceu em 18 de junho de 2010, tendo deixado uma vasta obra, traduzida para muitos países.

José Saramago e Pilar del Río, sua esposa. [1]

Características literárias de José Saramago

José Saramago escreveu uma vasta obra, composta por romances, contos, textos teatrais, textos memorialísticos. De modo geral, as temáticas abordadas pelo autor em suas obras giram em torno das injustiças que afligem o ser humano, o qual tem sua subjetividade impactada pelas tensões sociais e políticas que o cercam.

Em relação aos aspectos formais, a obra de Saramago é famosa principalmente por conta do modo peculiar com que o autor constrói a sintaxe, caracterizada pela ocorrência de frases e períodos extensos. Muitos períodos ocupam o espaço de mais de uma página. O autor, assim, utiliza vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos-finais para encerrar os períodos e parágrafos. Essa construção, associada a um uso não convencional da pontuação, resulta em uma sequência rítmica intensa, em que as ações se sucedem com uma rapidez similar ao ritmo cinematográfico.

 Os diálogos dos personagens, por exemplo, não são marcados pelo travessão, sendo  inseridos nos próprios parágrafos, sem que haja distinção, por meio da pontuação, entre o discurso do narrador e o discurso direto das personagens. Esse modo organizacional contribui para que prevaleça, nas diferentes obras de Saramago, um tom narrativo próximo do fluxo de consciência.

Esse estilo inusitado, considerado pelos estudiosos de literatura como um estilo original e muito contemporâneo, porém, não se torna uma dificuldade para o leitor, que logo se habitua ao ritmo do autor, tido como um dos mais importantes escritores em língua portuguesa.

Leia um trecho do romance Ensaio sobre a cegueira, publicado em 1995, cujo enredo retrata uma cidade acometida por uma cegueira geral. Veja o estilo criativo e intrigante com que José Saramago narra suas obras.

“O médico perguntou-lhe, Nunca lhe tinha acontecido antes, quero dizer, o mesmo de agora, ou parecido, Nunca, senhor doutor, eu nem sequer uso óculos, E diz-me que foi de repente, Sim, senhor doutor, Como uma luz que se apaga, Mais como uma luz que se acende, Nestes últimos dias tinha sentido alguma diferença na vista, Não, senhor doutor, Há, ou houve, algum caso de cegueira na sua família, Nos parentes que conheci ou de quem ouvi falar, nenhum, Sofre de diabetes, Não, senhor doutor, De sífilis, Não, senhor doutor, De hipertensão arterial ou intracraniana, Da intracraniana não sei, do mais sei que não sofro, lá na empresa fazem-nos inspecções, Deu alguma pancada violenta na cabeça, hoje ou ontem, Não, senhor doutor, Quantos anos tem, Trinta e oito, Bom, vamos lá então observar esses olhos. O cego abriu-os muito, como para facilitar o exame, mas o médico tomou-o por um braço e foi instalá-lo por trás de um aparelho que alguém com imaginação poderia ver como um novo modelo de confessionário, em que os olhos tivessem substituído as palavras, com o confessor a olhar directamente para dentro da alma do pecador, Apoie aqui o queixo, recomendou, mantenha os olhos abertos, não se mexa.”

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Obras de José Saramago

  • Romance

Terra do Pecado (1947)

Manual de Pintura e Caligrafia (1977)

Levantado do Chão (1980)

Memorial do Convento (1982)

O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984)

A Jangada de Pedra (1986)

História do Cerco de Lisboa (1989)

O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991)

Ensaio sobre a Cegueira (1995)

Todos os Nomes (1997)

A Caverna (2000)

O Homem Duplicado (2002)

Ensaio sobre a Lucidez (2004)

As Intermitências da Morte (2005)

A Viagem do Elefante (2008)

Caim (2009)

Claraboia (2011)

Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas (2014)

  • Poesia

Os Poemas Possíveis (1966)

Provavelmente Alegria (1970)

O Ano de 1993 (1975)

  • Dramaturgia

A Noite (1979)

Que farei com Este Livro? (1980)

A Segunda Vida de Francisco de Assis (1987)

In Nomine Dei (1993)

Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido (2005)

  • Literatura de viagens

Viagem a Portugal (1981)

  • Memórias

As Pequenas Memórias (2006)

  • Crônicas

Deste Mundo e do Outro (1971)

A Bagagem do Viajante (1973)

Os Apontamentos (1976)

Poética dos Cinco Sentidos – O Ouvido (1979)

Moby Dick em Lisboa (1996)

Folhas Políticas (1976-1998)

  • Contos

Objecto Quase (1978)

O Conto da Ilha Desconhecida (1997)

  • Diários

Cadernos de Lanzarote I (1994)

Cadernos de Lanzarote II (1995)

Cadernos de Lanzarote III (1996)

Cadernos de Lanzarote IV (1998)

Cadernos de Lanzarote V (1998)

Último Caderno de Lanzarote (2018)

O Caderno (2009)

O Caderno 2 (2009)

  • Infantil

A Maior Flor do Mundo (2001)

O Silêncio da Água (2011)

Acesse também: Graciliano Ramos – autor de importantes romances regionalistas

Adaptações de livros de José Saramago para o cinema

  • Ensaio sobre a cegueira: lançado em 2008, é um filme dirigido pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles.
  • A maior flor do mundo: lançado em 2006, é um filme dirigido pelo uruguaio Juan Pablo Etcheverry.
  • Embargo: lançado em 2011, é um filme dirigido pelo português Antonio Marcos Ferreira.
  • A jangada de pedra: lançado em2008, é um filme dirigido pelo francês George Sluizer.
  • O Homem Duplicado: lançado em 2014, é um filme dirigido pelo canadense Denis Villeneuve.
  • O evangelho segundo Jesus Cristo: lançado em 2015, é um filme dirigido pelo português Miguel Gonçalves Mendes.

Principais prêmios de José Saramago

  • Prêmio Camões, pelo conjunto da sua obra, concedido em Portugal, em 1995;
  • Prêmio Nobel de Literatura, pelo conjunto de sua obra, concedido na Suécia, em 1998.

Frases de José Saramago

"Não é a pornografia que é obscena, é a fome que é obscena."

"Se sou pessimista é porque o mundo é péssimo, só isso."

"Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe"

"A vida é assim, faz-se muito de coisas que acabam, Também se faz de coisas que principiam, Nunca são as mesmas."

"Cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança."

"Na morte a cegueira é igual para todos."

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

"A morte conhece tudo a nosso respeito, e talvez por isso seja triste."

"Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós"

"A verdadeira prisão é aceitar estar preso."

"O universo não tem notícia da nossa existência."

"Nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida".

Crédito das imagens

[1] JHC_photo / Shutterstock

Publicado por Leandro Guimarães
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