Raul Pompeia

Raul Pompeia, escritor brasileiro do século XIX, é associado geralmente ao naturalismo, apesar de suas obras apresentarem traços simbolistas ou impressionistas.
Raul Pompeia

Raul Pompeia, escritor brasileiro, nasceu em 12 de abril de 1863. Quando criança, foi mandado pelos pais para um colégio interno, fato que marcou a vida do autor. Mais tarde, em 1880, publicou seu primeiro livro — Uma tragédia no Amazonas. No ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito, em São Paulo, e, ao ser reprovado, decidiu terminar o curso em Recife. De volta ao Rio de Janeiro, o romancista, abolicionista e republicano atuou como jornalista.

No entanto, em razão de sua admiração exagerada pelo presidente e ditador Floriano Peixoto (1839-1895), o autor ficou politicamente isolado. Tal situação, possivelmente, levou-o a cometer suicídio em 25 de dezembro de 1895.

Uma de suas obras acabou sendo consagrada pela crítica, O Ateneu, de 1888, na qual o autor, considerado simbolista ou impressionista por alguns, mas reconhecido como naturalista, expressa sua visão objetiva e determinista da realidade brasileira.

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Biografia

Raul Pompeia nasceu em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, no dia 12 de abril de 1863. Ainda criança, o escritor se mudou com sua família para a cidade do Rio de Janeiro e foi estudar em um colégio interno de propriedade do Barão de Macaúbas, Abílio César Borges (1824-1891). Esse fato marcou tanto a vida do autor que serviu de inspiração para a sua obra mais conhecidaO Ateneu (1888).

Seu primeiro livroUma tragédia no Amazonas — foi publicado em 1880. No ano seguinte, o autor ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Logo se mostrou abolicionista e republicano e se tornou amigo de Luiz Gama (1830-1882), escritor negro e abolicionista. Como foi reprovado na Faculdade de Direito, em 1883, decidiu concluir o curso em Recife.

Em 1885, voltou ao Rio de Janeiro para trabalhar como jornalista. Usou alguns pseudônimos para escrever em jornais do Rio e de São Paulo. Mais tarde, foi professor de Mitologia da Escola de Belas Artes e diretor da Biblioteca Nacional, pois, após a Proclamação da República, tornou-se um dos maiores defensores de Floriano Peixoto, em oposição ferrenha ao escritor Olavo Bilac (1865-1918), a quem desafiou para um duelo, que não ocorreu.

Porém, seu posicionamento político lhe rendeu a demissão da Biblioteca Nacional, em 1895, pelo presidente Prudente de Morais (1841-1902). Além disso, a sua defesa do ditador acabou fazendo com que ficasse isolado, sendo rejeitado por intelectuais da época. Talvez por isso que ele se matou, com um tiro no peito, em 25 de dezembro de 1895, depois de escrever o seguinte bilhete: “Ao jornal A Notícia, e ao Brasil, declaro que sou um homem de honra”.

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Características literárias

Apesar de alguns críticos apontarem traços simbolistas ou impressionistas na obra de Raul Pompeia, o escritor ainda é associado ao naturalismo brasileiro, que apresenta as seguintes características:

  • Visão realista e objetiva da realidade.
  • Cientificismo: a ciência é usada para analisar a sociedade.
  • Determinismo: os personagens são condicionados por sua raça, meio e momento histórico em que vivem.
  • Foco nas motivações biológicas dos personagens.
  • Visão de que o ser humano é um animal como outro qualquer; portanto, seus instintos superam a razão.
  • Nos personagens, o instinto sexual sobressai a todos os outros.
  • As classes mais pobres se transformam em objeto de análise do escritor.
  • Devido a condições subumanas de vida, personagens perdem a humanidade e se entregam a seus instintos animais.
  • Visão pseudocientífica e preconceituosa em relação às mulheres (“histéricas”), negros (“inferiores”) e homossexuais (“doentes ou criminosos”).
  • Zoomorfização: atribuição de características animais a seres humanos.

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Obras

Capa do livro O Ateneu, de Raul Pompeia, publicado pela editora L&PM. |1|
  • Uma tragédia no Amazonas (1880)

  • Um réu perante o futuro (1880)

  • Canções sem metro (1881)

  • As joias da Coroa (1882)

  • O Ateneu (1888)

  • Alma morta (1888)

  • Agonia (1895)

A obra mais famosa de Raul Pompeia — O Ateneu — narra, em primeira pessoa, as memórias de Sérgio, centradas em sua experiência no Ateneu, colégio interno para meninos. Como o autor teve experiência semelhante, alguns críticos consideram a obra autobiográfica. Assim, o livro começa com o pai de Sérgio levando o filho de 11 anos para o colégio: “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta”.

O diretor do Ateneu, Aristarco Argolo de Ramos, é considerado um grande pedagogo. Porém, o suposto educador, segundo suas atitudes, é defensor de uma educação mercantilista, que visa mais ao lucro do que à instrução. Aliás, segundo o narrador, a verdadeira “educação” recebida pelos internos é realizada pela dinâmica daquele meio corruptor. Assim, a obra mostra e condena, como típico exemplar naturalista, a má influência do meio (o Ateneu) sobre a formação do caráter dos alunos.

Desse modo, o narrador defende, a partir de uma visão determinista, que aquele ambiente, isto é, um colégio interno, é capaz de corromper o caráter de seus alunos, que, para sobreviverem, precisam usar a força, sujeitar os mais fracos ou mesmo fazer concessões consideradas imorais. Portanto, o colégio se configura como retrato da própria sociedade brasileira.

Assim, no seu primeiro contato com os internos, Sérgio se aproxima de Rabelo, um menino mais velho, que lhe mostra a realidade do lugar.

Aí vão as carinhas sonsas, generosa mocidade... Uns perversos! Têm mais pecados na consciência que um confessor no ouvido; uma mentira em cada dente, um vício em cada polegada de pele. [...]. São servis, traidores, brutais, adulões. Vão juntos. Pensa-se que são amigos... Sócios de bandalheira! Fuja deles, fuja deles. Cheiram a corrupção, empestam de longe. Corja de hipócritas! Imorais! [...] Este que passou por nós, olhando muito, é o Cândido, com aqueles modos de mulher, aquele arzinho de quem saiu da cama, com preguiça nos olhos... [...].”

O Rabelo, então, aconselha Sérgio a não demonstrar fraqueza, não se deixar submeter, pois, naquele ambiente, os fracos são tratados como mulheres. Desse modo, o personagem, em acordo com a visão preconceituosa e pseudocientífica da época, condena as relações homoeróticas:

Isto é uma multidão; é preciso força de cotovelos para romper. Não sou criança, nem idiota; vivo só e vejo de longe; mas vejo. Não pode imaginar. Os gênios fazem aqui dois sexos, como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. Quando, em segredo dos pais, pensam que o colégio é a melhor das vidas, com o acolhimento dos mais velhos, entre brejeiro e afetuoso, estão perdidos... Faça-se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores.”

Em seguida, Sérgio se torna amigo de Sanches, quando é salvo por ele de um afogamento. Antes o narrador sentia repugnância pelo colega, mas, então, passa a sentir gratidão e a confiar no novo amigo, um protetor que o ajuda com os estudos. Porém, por trás dessa proteção, há a intenção sexual por parte de Sanches, o que faz com que Sérgio rompa a amizade: “Afinal, porém, tornou-me a aparecer o afastamento instintivo que me separava do rapaz”.

Franco é o próximo amigo de Sérgio. Indisciplinado, sofre humilhações e castigos do diretor, e, no final, morre, de certa forma, devido aos maus-tratos. Na sequência, a próxima influência para o narrador é Barreto, extremamente religioso. Já a amizade de Bento Alves ultrapassa os muros do colégio, e ele chega a visitar Sérgio em sua casa durante as férias. Por fim, destaca-se Egbert, com quem Sérgio vai jantar na casa de Aristarco como prêmio por serem bons alunos.

No jantar, é predominante a figura feminina de D. Ema, esposa de Aristarco, por quem Sérgio sente atração sexual, como também pela camareira Ângela, durante cerca de dois anos em que o narrador vive no internato, período que se encerra quando Aristarco, depois de ser homenageado pela sociedade, vê seu Ateneu pegar fogo.

Simbolicamente, o narrador parece indicar a necessidade de acabar com meios corruptores como aquele.

Crédito da imagem

|1| Editora L&PM / Reprodução

Publicado por Warley Souza
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