Carta argumentativa

A carta argumentativa, de natureza persuasivo-argumentativa, necessita de uma estrutura em que se apresente a tese ou ideia central a ser defendida no ato comunicativo, os argumentos pertinentes aos objetivos do texto, bem como um desfecho, em que o autor sintetiza a discussão realizada na carta; e também, caso queira, apresenta suas propostas ou reivindicações. Isso significa que, mesmo em estrutura própria de carta, verificam-se, no corpo do texto, algumas partes específicas, a saber: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Podendo abordar diferentes assuntos, na carta argumentativa o que predomina são as questões polêmicas e, usualmente, este tipo de texto se caracteriza pela contraposição de ideias, isto é, locutor e interlocutor pensam de maneira distinta a respeito de determinada questão, e este tenta convencer aquele de que deve mudar de opinião.

As cartas argumentativas ainda resistem ao tempo, mesmo com o advento de novas tecnologias da comunicação.

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Características da carta argumentativa

Embora no próprio nome esteja presente o caráter do texto – argumentativo - é essencial diferenciar a carta argumentativa de outros gêneros dessa natureza. Nela, há uma característica importantíssima, que é a presença de um locutor conhecido, específico, ou seja, as marcas linguísticas presentes no texto devem indicar uma comunicação direta, o que reforça a persuasão ou o convencimento.

Assim, é autorizado o uso da primeira pessoa do singular, bem como expressões que deem a impressão de que um diálogo está em curso. Nesse sentido, pode-se chamar, dirigir-se diretamente ao interlocutor, inclusive, fazendo-lhe perguntas retóricas.

Estrutura da carta argumentativa

A carta argumentativa, assim como a maioria das cartas, à exceção da carta aberta, apresenta uma estrutura mais ou menos fixa, considerando que o caráter persuasivo-argumentativo, com interlocutor específico, exige uma formatação própria. Vale lembrar que, a despeito das novas formas comunicativas intercedidas pelas mídias digitais, esse tipo de carta ainda circula em nossa sociedade, realizando intervenções sociais, sobretudo, diante de necessidades de reivindicação de direitos.

A despeito das novas formas comunicativas intercedidas pelas mídias digitais, a carta manuscrita ainda circula em nossa sociedade.

Seguem, abaixo, os elementos essenciais constitutivos do gênero.

  1. Local e data: elementos presentes em todos os tipos de cartas, colocado no canto superior direito, conforme normas de redação oficial, e que, por analogia, se aplica a esse texto.

  2. Vocativo: é uma das formas de se marcar a interlocução, uma vez que o vocativo, ou chamamento, indica o interlocutor específico do ato comunicativo. O vocativo pode ser cerimonioso, respeitoso ou familiar.

  3. Desenvolvimento ou corpo do texto: aqui, o autor deverá introduzir o assunto, dizer sobre as motivações de se escrever a carta, apresentar a tese a ser defendida, bem como os argumentos pertinentes, e, ainda, estimular o interlocutor à mudança de ideia. Geralmente, as partes do desenvolvimento se estruturam em cerca de quatro a cinco parágrafos, a depender do assunto tratado.

  4. Fórmula de fechamento: garantia de cordialidade no encerramento da carta, até porque, o debate deve ser de ideias para que os argumentos sejam válidos. Pode-se usar: “Cordialmente”, “Atenciosamente”, “Sem mais” etc.

  5. Assinatura: se a carta for produzida para processos seletivos, é importante verificar se a proposta prevê assinatura.

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Exemplo de Carta Argumentativa

Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954

Brasileiros,

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e desencadeiam-se sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci.

Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo.

A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo desencadearam-se os ódios.

Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação avoluma-se. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre, não querem que o povo seja independente.

Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.

Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação.

Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

Getúlio Vargas

Publicado por Sara de Castro
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