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Carta

Carta é um texto cuja finalidade é estabelecer um diálogo entre duas partes distintas, podendo ser com um interlocutor próximo ou distante do convívio do autor.
A carta é uma das modalidades textuais mais antigas do mundo e continua a ser utilizada em diversos contextos e situações.
A carta é uma das modalidades textuais mais antigas do mundo e continua a ser utilizada em diversos contextos e situações.

A carta é um gênero textual dialógico, ou seja, ela tem como principal objetivo estabelecer uma conversa entre dois interlocutores específicos. Assim, a carta pode ser utilizada na comunicação entre amigos e familiares (carta pessoal), obtendo um caráter mais subjetivo e informal.

Porém, ela também pode ser direcionada à determinada instituição, ter certo viés crítico social e ser de domínio público (carta aberta), prevalecendo a argumentação e a formalidade; ou, ainda, a carta pode promover uma discussão acerca de um tema específico publicado na mídia (carta do leitor).

O responsável por escrevê-la é chamado de remetente ou signatário (locutor). Já aquele que a recebe é denominado destinatário (interlocutor). O remetente ou destinatário podem ser tanto pessoas (familiares, amigos, namorados etc.) quanto grupos sociais ou instituições (governo, associações, veículos de comunicação etc.).

Leia também: Resenha — o tipo textual em que o autor emite uma opinião sobre determinada produção cultural

Resumo sobre carta

  • A carta é um texto escrito em prosa, destinado a alguém (pessoa, instituição, grupo), a fim de estabelecer-se um diálogo formal ou informal sobre determinado assunto de relevância pessoal ou coletiva.

  • Apresenta os seguintes elementos estruturais: data, vocativo, assunto e despedida.

  • É comumente conhecida pelos seguintes tipos: carta pessoal, carta do leitor e carta aberta, os quais se subdividem de acordo com o conteúdo e a função.

  • Para escrevê-la, é importante definir seu tipo e o assunto a ser tratado. Assim, o autor deve organizá-la de acordo com a estrutura padrão do gênero.

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Características e estrutura da carta

Quanto ao seu aspecto conceitual, a carta pode ser caracterizada como um texto escrito em prosa que se dirige a alguma pessoa ou instituição por meio de uma narração, dissertação, descrição ou uma mistura desses elementos. Com relação à estrutura, a carta pode ser apresentada da seguinte forma:

  • Data: identificação do dia, mês e ano em que o documento foi enviado/publicado.

  • Vocativo: trata-se do chamamento do destinatário; deve ser utilizado de acordo com a posição social do seu interlocutor.

  • Assunto: o que será abordado na carta? Em uma carta pessoal, pode constar uma narração dos últimos acontecimentos da vida do locutor. Já em uma carta ao leitor, pode-se discutir uma matéria lançada recentemente em um veículo de comunicação. Ao escrever uma carta aberta, o remetente pode questionar algumas decisões governamentais prejudiciais a determinado setor da sociedade.

  • Despedida: é o fechamento da carta; geralmente vem com um “Atenciosamente” seguido da assinatura do locutor.

Sobre o uso do vocativo, a tabela a seguir mostra quais pronomes de tratamento utilizar e o seu contexto de uso.

Vocativo utilizado

Pronome utilizado

Contexto

Querido amigo

Prezado amigo

Caro amigo

Você

Tu

Em cartas pessoais direcionadas a familiares, amigos, namorados etc.

Caro Senhor

Cara Senhora

o Senhor

a Senhora

Em cartas direcionadas a pessoas com vínculos mais distantes ou dentro de uma hierarquia.

Prezado

Senhor

Ilustríssimo

Senhor

o Senhor

Vossa Senhoria

 

Em situações formais que envolvam autoridades.

Excelentíssimo

Senhor

Vossa Excelência

No tratamento a autoridades políticas ou juízes.

Veja também: Relato pessoal — o gênero textual que documenta memórias ou vivências

Quais são os tipos de carta?

Como mencionado, a carta pode apresentar alguns tipos com características específicas. A seguir, sintetizamos as principais características veiculadas a cada um dos tipos.

→ Carta pessoal

  • Prevalece a narração ou descrição dos fatos.

  • Trata de temas e assuntos pessoais.

  • Utiliza a linguagem informal e tem caráter subjetivo.

  • É escrita em 1ª pessoa.

  • Dirige-se a um interlocutor específico (parente, amigo, namorado etc.).

→ Carta do leitor

  • Debate e discute temas presentes em matérias ou jornais, propondo discussões e apresentando opiniões.

  • Faz uso da linguagem formal e prevalece a objetividade.

  • É escrita em 1ª pessoa.

  • É destinada a um jornalista responsável pela matéria lida pelo remetente, que decidiu emitir sua opinião acerca do tema.

→ Carta aberta

  • É de interesse público e discute temas relevantes socialmente.

  • Faz uso da linguagem formal, e nela prevalece a objetividade.

  • Pode ser escrita em 3ª pessoa ou 1ª do singular ou plural, o que dependerá de quem seja o autor (autoridade, instituição, grupo social etc.).

  • É de domínio público; geralmente é publicada em veículos de comunicação de ampla divulgação. Caso queira saber mais sobre esse tipo textual, leia: Carta aberta.

Importante: O gênero carta subdivide-se dentro dessas categorias, baseadas no conteúdo e na função que possuem, podendo ser, entre outras, carta de reclamação, carta de apresentação, carta de amor, carta de solicitação e carta argumentativa.

Saiba mais: Notícia — texto do campo jornalístico cuja função é relatar acontecimentos cotidianos

Como escrever uma carta?

Para escrever uma carta, é necessário:

  • Ter definido o seu destinatário (interlocutor). Isso é importante para que se saiba o tipo de linguagem e, consequentemente, o tipo de carta a serem utilizados.

  • Definir o assunto. Se for uma carta pessoal, o locutor deve decidir o que ele pretende abordar. Trata-se de contar os últimos acontecimentos de uma viagem? Ou é um texto saudosista direcionado aos familiares? Uma declaração de amor ao seu par romântico? Se for uma carta do leitor, é preciso saber o tema que será abordado com o veículo de comunicação. Já em uma carta aberta, é necessário definir os argumentos a serem defendidos a fim de persuadir o interlocutor a tomar providências ou atuar a favor do remetente.

  • Escrever o texto dentro dos parâmetros estruturais estabelecidos na carta (data, vocativo, assunto e despedida). Quando se tratar de uma carta aberta, é importante ter conhecimento do público leitor a fim de se adequar a linguagem e os argumentos à audiência.

→ Videoaula sobre como escrever uma carta

Exemplos de carta

  • Exemplo 1

Em primeiro lugar, queríamos saber se as verbas destinadas para a educação são distribuídas pelo senhor. Se não, esta carta deveria se dirigir ao presidente da República. A este não me dirijo por uma espécie de pudor, enquanto me sinto com mais direito de falar com o ministro da Educação por já ter sido estudante.

O senhor há de estranhar que uma simples escritora escreva sobre um assunto tão complexo como o de verbas para educação – o que, no caso, refere-se à abertura de vaga para os excedentes. Mas o problema é tão grave e, por vezes, patético que mesmo a mim, não tendo ainda filhos em idade universitária, me toca.

O MEC, visando evitar o problema do grande número de candidatos para poucas vagas, resolveu fazer constar nos editais de vestibular que os concursos seriam classificatórios, considerando aprovados apenas os primeiros colocados dentro do número de vagas existentes. Essa medida impede qualquer ação judicial por parte dos que não são aproveitados, não impedindo, no entanto, que os alunos tenham o impulso de ir às ruas reivindicar as vagas que lhe são negadas.

Senhor ministro ou senhor presidente: “excedentes” num país que ainda está em construção e que precisa com urgência de homens e mulheres que o construam? Deixar entrar nas faculdades somente os que tirarem melhores notas é fugir completamente do problema. O senhor já foi estudante e sabe que nem sempre os alunos que tiram as melhores notas terminam sendo os melhores profissionais, os mais capacitados para resolver na vida real os grandes problemas que existem. E nem sempre quem tira as melhores notas e ocupa uma vaga tem pleno direito a ela. Eu mesma fui universitária e, no vestibular, classificaram-me entre os primeiros candidatos. No entanto, por motivos que aqui não importam, sequer segui a profissão. Na verdade eu não tinha direito à vaga.

Não estou de modo algum entrando em seara alheia. Esta seara é de todos nós. E estou falando em nome de tantos que, simbolicamente, é como se o senhor chegasse à janela de seu gabinete de trabalho e visse embaixo uma multidão de rapazes e moças esperando seu veredicto.

Ser estudante é algo muito sério. É quando os ideais se formam, é quando mais se pensa num meio de ajudar o Brasil. Senhor ministro ou presidente da República, impedir que jovens entrem em universidade é crime. Perdoe a violência da palavra, mas é a palavra certa.

Se a verba para universidades é curta, obrigando a diminuir o número de vagas, por que não submetem os estudantes, alguns meses antes do vestibular, a exames psicotécnicos, a testes vocacionais? Isso não só serviria de eliminatória para as faculdades, como ajudaria aos estudantes em caminho errado de vocação. Essa ideia partiu de uma estudante.

Se o senhor soubesse do sacrifício que, na maioria das vezes, a família inteira faz para que um jovem realize o seu sonho, o de estudar. Se soubesse da profunda e muitas vezes irreparável desilusão quando entra a palavra “excedente” na vida dessas pessoas. Falei como uma jovem que foi excedente, perguntei-lhe como se sentia. Respondeu-me que se sentia desorientada e vazia, enquanto, ao seu lado, rapazes e moças, ao se saberem excedentes, ali mesmo começaram a chorar. E nem poderiam sair à rua para uma passeata de protesto porque sabem que a polícia poderia espancá-los.

O senhor sabe o preço dos livros para pré-vestibulares? São caríssimos, comprados à custa de grandes dificuldades, pagos em prestações, para, no fim, terem sido inúteis.

Que estas páginas simbolizem uma passeata de protesto de rapazes e moças.

Clarice Lispector, publicada em 17 de fevereiro de 1968

Acima temos o exemplo de uma carta aberta publicada, em 1968, pela escritora Clarice Lispector. A autora direciona seu texto ao ministro da Educação à época. O tema é de interesse público, pois trata da questão do ensino no Brasil, mais especificamente sobre as verbas destinadas ao ensino no país.

Assim, a autora se utiliza de argumentos para convencer o ministro de seu ponto de vista e, ainda, fazer com que o leitor se posicione ao seu lado a fim de pressionar as autoridades por melhorias na educação do país.

  • Exemplo 2

Paris, 15 de fevereiro de 2020

Querida mãe,

Estou escrevendo esta carta para te contar um pouco mais da viagem. Eu cheguei exatamente na quinta-feira passada. O voo foi tranquilo, sem sustos. No primeiro dia, como você já deve saber, passei o dia dormindo para me adaptar ao fuso. Na manhã seguinte, visitamos a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo. Você amaria estar aqui. A França é um lugar é cheio de igrejas medievais e históricas. Há sempre um evento cultural acontecendo e as pessoas estão sempre engajadas social e politicamente.

A faculdade começa apenas daqui duas semanas. Vou aproveitar para conhecer outros lugares. É claro que acabei gastando algum tempo resolvendo algumas questões burocráticas. Mamãe, você sabe, essas coisas, infelizmente existem no mundo todo. Mas vai dar certo! Espero que você venha com minha irmã nas férias de verão. Eu já entrei em contato com ela, e a maninha está a par de tudo e louca para vir conhecer a Cidade Luz.

Espero que você esteja bem e que nos vejamos em breve.

Um beijo,

Seu filho

O segundo texto é uma carta pessoal. Ela traz alguns traços subjetivos por meio de assuntos mais pessoais (a mudança do locutor para Paris) e pelo uso de uma linguagem mais informal e mais próxima (“mamãe” e “maninha”). Na carta prevalecem a descrição de situações e a narração de fatos recentes ocorridos com o remetente.

Publicado por Rafael Camargo de Oliveira
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