Ludismo
A revolução industrial foi o berço de grandes inovações e de mudanças que ainda hoje vemos reverberar. Foi nesse contexto que surgiram os ludistas, nome dado aos trabalhadores que se revoltaram contra sua condição de crescente miséria e que atribuíram essa realidade como resultado do surgimento do maquinário industrial, que tornava parte da força de trabalho humana obsoleta.
Contexto histórico do Ludismo
O final do século XVIII e o início do século XIX na Europa foram marcados por profundas mudanças que alteraram todo o curso da história humana. As guerras napoleônicas ainda se desdobravam e os países envolvidos lutavam com inimigos dentro e fora de seus territórios. Desses inimigos, o mais temido era a crise na economia que os países enfrentavam diante do quase isolamento econômico que o exército francês impôs àqueles que não se subjugaram ao seu poder militar. O controle francês sobre as usuais rotas de comércio entre países como Inglaterra, Áustria, Espanha e Portugal acarretava grandes perdas e encolhimento das economias desses países. Para a Inglaterra, a situação era ainda mais grave, uma vez que a sua luta acontecia em duas frentes: na Europa e em sua colônia nas Américas.
Mesmo após o fim das guerras napoleônicas, a crise econômica britânica continuou a crescer. A perda de uma de suas maiores colônias — conhecida como Estados Unidos da América após o processo de independência —, os custos com as batalhas travadas contra o exército francês e a manutenção de seus próprios exércitos pesavam sobre a economia inglesa. A rápida industrialização da Inglaterra tornou-se o estopim para os eventos que causaram a revolta trabalhadora que se seguiu a esses fatos em território inglês.
Os ludistas e suas motivações
A busca pela diminuição dos custos e pelo aumento na eficácia da produção estimulou o surgimento de máquinas que automatizavam o trabalho manual de centenas de homens, mulheres e crianças. Por essa razão, muitas pessoas passaram a se ver sem trabalho e sem nenhuma fonte de renda. Essa realidade era motivo para revoltas, que foram encabeçadas por aqueles que ficaram conhecidos como “ludistas”, que receberam esse nome em razão da associação com a figura de um homem de nome Ned Ludd, mas que, no entanto, não se sabe se realmente existiu.
A classe trabalhadora via na automação do trabalho industrial a fonte de todos os seus problemas. Foi o grande estresse social resultante da situação econômica e da perseguição pelo corte no custo de produção que levou ao surgimento do ludismo, uma vez que esses fatos implicaram a degeneração das condições de sobrevivência dos trabalhadores.
A destruição de maquinário industrial, principalmente das máquinas de confecção têxtil, era o objetivo dos revoltosos. Entre 1811 e 1816, o movimento ludista encarregava-se de destruir as máquinas que reduziam significativamente a necessidade de mão de obra humana e que desempregava artesãos que trabalhavam na produção de roupas e na confecção de tecido. Os revoltosos ameaçavam os proprietários das indústrias no intuito de intimidar a aquisição das máquinas têxteis. Em alguns casos, as ameaças concretizavam-se, e o assassinato de grandes capitalistas levou a uma repressão muito maior por parte do Estado britânico sobre o movimento.
Os ludistas perderam força a partir de 1813 principalmente pelo início da recuperação econômica do país, mas também pela promulgação de uma lei que punia os crimes de destruição de maquinário industrial com enforcamento. No entanto, em 1816, com o advento de uma péssima colheita, que resultou no encarecimento dos alimentos e na diminuição de salários, reacendeu-se a revolta dos trabalhadores. Os novos ataques resultaram em prejuízo de mais de £ 6.000, na prisão de nove pessoas e na execução de seis. A partir de 1819, o luddismo deixou de ser uma ameaça novamente com a retomada de uma estabilidade financeira maior. Todavia, vale ressaltar que esse movimento deixou como herança o grande poder de mobilização da classe trabalhadora em prol da defesa de suas necessidades.