Poder

Poder é ato de uma potência, é dominação ou é força natural. Independentemente da teoria, o poder é algo que fascina o ser humano desde os primórdios da existência.
O poder é a capacidade de domínio, de expressão da vontade ou até mesmo uma ação natural que se sobrepõe à vontade individual.

Poder é uma palavra originada do latim e tem a mesma raiz que a palavra potência. Ambas remetem à capacidade de fazer algo, de empreender algo. Com o passar do tempo, poder também passou a significar a capacidade de impor, de mandar e de submeter os outros à própria vontade. Podendo ser político, econômico, familiar ou de persuasão, esse elemento social acompanha a humanidade desde os seus primórdios. A fascinação com o poder rendeu boas teorias filosóficas, antropológicas e sociológicas na tentativa de desvendar o que há por trás dele.

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O que é poder para a filosofia

Poder é potência, não é à toa que as duas palavras têm a mesma origem e praticamente o mesmo significado. A única diferença semântica de potência para poder é que a primeira denota uma capacidade futura, virtual, de transformar-se ou fazer-se. A palavra poder denota a capacidade presente de fazer.

O poder é força, capacidade e, ao mesmo tempo, autoridade. Trata-se da capacidade de imposição ou de conquista, seja pela força bruta, seja pelo convencimento. A capacidade de convencimento torna as pessoas poderosas, tanto pela argumentação, quanto pelo charme carismático e apaixonante.

Diante de tanto fascínio com algo tão singular e tão sedutor na humanidade, vários pensadores tentaram explicar, racionalizar, entender o poder. Nesse sentido, os filósofos Aristóteles, Nicolau Maquiavel, Friedrich Nietzsche, Karl Marx, Norberto Bobbio e Michel Foucault desenvolveram curiosas e intensas teorias sobre o poder, entendendo-o como artifícios do âmbito político e social e como um aspecto natural da vida.

Para o filósofo grego antigo Aristóteles, o poder é um elemento natural que permeia as relações animais, mas há um animal que transpassa o meio selvagem com o poder justamente por sua capacidade de falar: o ser humano. Nesse sentido, o poder não é somente o ato de dominação pela força, mas um atributo que o ser humano leva consigo como elemento-chave para o entendimento das relações sociais.

  • Conceito de poder na visão de alguns filósofos

O filósofo e teórico político renascentista Nicolau Maquiavel entendeu o poder como o principal elemento da política. A atitude política, na visão do pensador, deve visar à conquista e à manutenção do poder. Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, poder é uma força natural que impulsiona a vida, e é a vontade de poder, não no sentido político, de simples dominação, mas num sentido ontológico, de querer viver, que faz com que todo o Universo movimente-se.

Karl Marx, filósofo, sociólogo e economista alemão vê o poder como um jogo de dominação política existente na humanidade, desde o seu princípio, por meio do embate entre classes diferentes, o que se evidenciou com o desenvolvimento do capitalismo industrial.

As teorias que explicam o poder de maneira mais próxima com a nossa sociedade parecem ser a de Norberto Bobbio, filósofo italiano, e a de Michel Foucault, filósofo francês (ambos contemporâneos). Para Bobbio, o poder é uma teia de relações entre elementos em diferentes posições na sociedade, enquanto, para Foucault, o poder é uma relação que se dá, na contemporaneidade, entre pessoas e instituições. A esse fenômeno, Foucault denominou microfísica do poder, pois, ao contrário do que ocorria no antigo regime, o poder deixa de ser central e dissolve-se na humanidade por meio das diversas relações.

Formas de poder

Max Weber formulou uma teoria do poder baseada na dominação.

O poder tornou-se objeto central do pensamento político no renascimento, mas, antes disso, ele já era discutido na obra política dos autores clássicos. No entanto, as relações de poder passam a ser amplamente discutidas a partir do século XVII, em meio à crise e ao início do declínio do antigo regime (as monarquias absolutistas).

Os filósofos ingleses Thomas Hobbes e John Locke já discutiam esse tema em meio à situação em que se encontrava a Inglaterra naquela época (contexto da Revolução Gloriosa e da luta contra o absolutismo inglês). Hobbes defendia o poder total do Estado por um governo monarquista, enquanto Locke defendia um poder dissolvido nas instituições para garantir certos direitos à população. O poder, nesse caso, era iminentemente político e do âmbito do domínio pela esfera estatal.

Karl Marx, situado historicamente no século XIX, entendeu o poder como uma relação de dominação econômica. O pensador via na história da humanidade uma relação material e contraditória, de maneira dialética, que sintetizava a vida e o desenvolvimento na luta entre diferentes camadas da população. Isso se evidenciou na Europa industrializada de seu tempo, que dividiu as pessoas em duas classes sociais: burguesia (os donos dos meios de produção) e proletariado (os trabalhadores). A luta dessas classes mostrava o conflito de poder como uma relação essencialmente econômica.

Para o sociólogo alemão Max Weber, poder é a imposição da vontade de uma pessoa ou instituição sobre os indivíduos. Essa imposição é direta e deliberada e pode ter aceitação como força de ordem ou não. Quando as pessoas submetidas ao poder de alguém aceitam a ordem, há uma transição de forças do âmbito do poder para o âmbito da dominação, sendo que a pessoa que aceita a imposição de ordem fica submetida à autoridade da outra.

Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu, o poder é compreendido em uma esfera social e coletiva permeada pelo que o pensador chamou de habitus. O habitus é um conjunto de valores, normas, regras, gostos e elementos culturais, como religião, arte etc., que moldam a sociedade e têm a capacidade de juntar e de separar as pessoas. O habitus é completamente inconsciente, e a sua assimilação dá-se por meio das representações culturais a que somos submetidos e pela interiorização e imitação dessas representações.

Para Bourdieu, há um poder por trás disso tudo que faz com que as pessoas, inconscientemente, busquem consumir, gostar, adequar-se a certos elementos em detrimento de outros. O comando coletivo e inconsciente dessas preferências confere a certos atores um poder econômico ou social no sentido em que criam representações simbólicas a serem seguidas por outras pessoas.

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Formas de exercício do poder

Essa imagem sintetiza o poder para Marx. Os piões (peças fracas e de poucos movimentos) juntos formam uma rainha (peça mais estratégica do xadrez).

O poder é, na sociedade atual, classificado e entendido de diversas maneiras, de acordo com o modo como ele é exercido e o meio em que ele se encontra. Norberto Bobbio classificou-o em três formas, sendo elas:

  • Poder econômico: é exercido por quem possui a propriedade privada. Quem tem terras, dinheiro e bens exerce influência sobre os despossuídos.

  • Poder ideológico: é exercido por quem pode criar e influenciar as massas com suas criações, seja no âmbito midiático, seja no religioso. Geralmente, os atores desse tipo de poder trabalham para os atores dos outros dois poderes: o político e o econômico.

  • Poder político: é exercido pelas instituições oficiais, ligadas ao Estado. Pode ser legítimo, quando visa a finalidade da vida política, ou ilegítimo, quando é usurpado para gerar uma situação de dominação simples de certas classes ou pessoas.

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Exemplos de poder

Ficou exposto que o poder dá-se, em nosso tempo, como uma relação que passa pelos âmbitos públicos e privados da vida. Nesse sentido, ter poder é exercer mando sobre alguém por meio da posse (material ou imaterial) de algo.

Então podemos encontrar exemplos de poder nas seguintes relações:

  • Chefe de família e filhos: uma mãe ou um pai que chefia uma família exerce poder sobre seus filhos. Durante muito tempo, a nossa sociedade entendeu esse poder como pátrio (patriarcal, delegado naturalmente ao homem). No entanto, hoje percebemos que em muitos lares é uma mulher quem exerce poder sobre a prole.

  • Patrão e empregado: nessa relação, temos uma força poderosa de poder emanada por quem detém a posse (patrão) sobre quem trabalha para o que possui (empregado).

  • Professor e aluno: professor (entendido como uma autoridade no assunto, não necessariamente alguém que ensina no âmbito acadêmico ou escolar) é alguém que detém o poder pela posse do conhecimento. O aluno (também não necessariamente um aprendiz formal matriculado na escola ou na universidade, mas alguém que não detém aquele conhecimento da autoridade) é quem tem menos força, portanto, menos poder nessa relação. O conhecimento é poder, do mesmo modo que, em nossa sociedade, diplomas e chancelas emitidas por instituições oficiais conferem a certas pessoas uma posição de poder.

  • Governante e governado: no âmbito político, aquele que governa e os que são governados têm poderes distintos. Para solucionar o problema da falta de distribuição do poder nessa relação, as democracias contemporâneas deram aos governados a capacidade de escolher seus governantes.

Publicado por Francisco Porfírio
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