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Henrique VIII

Henrique VIII foi um monarca da dinastia Tudor, que reinou na Inglaterra no século XVI. Sua busca por um herdeiro resultou em seis casamentos e na criação da Igreja Anglicana.
Retrato de Henrique VIII.
Retrato de Henrique VIII.

Henrique VIII da dinastia Tudor foi o rei absoluto da Inglaterra entre os anos de 1509 e 1547. O seu violento governo ficou reconhecido pela obsessão em se gerar um herdeiro, tendo como consequências seis casamentos, assassinatos, conspirações e um irreparável rompimento com a Igreja Católica. Henrique VIII mudaria a história de seu país e do Ocidente em decorrência de suas ações, muitas vezes imprevisíveis.

Leia também: Princesa Daiana — a história de uma das mulheres mais populares da família real britânica

Resumo sobre Henrique VIII

  • Henrique VIII foi um rei inglês, filho de Henrique VII da dinastia Tudor.
  • Ele assumiu o trono em 1509, com 18 anos de idade.
  • Seu primeiro casamento ocorreu no mesmo ano com a espanhola Catarina de Aragão, a fim de firmar uma aliança contra a França.
  • Após sucessivas tentativas frustradas de gerar um herdeiro, Henrique procurou anular o casamento com Catarina por meio da aprovação do papa. No entanto, o pedido era inviável de acordo com as leis católicas.
  • A negação do papa levou Henrique VIII a romper completamente com a Igreja Católica.
  • Henrique VIII casou-se com a amante Ana Bolena e apoiou abertamente o protestantismo, atitude que acirrou os atritos com as potências católicas europeias.
  • Ana Bolena também teve problemas com a gestação, algo que revoltou o rei Henrique a ponto de acusá-la de diversos crimes. Como consequência, a rainha, considerada por muitos ilegítima, foi decapitada.
  • A terceira esposa de Henrique VIII finalmente concebeu um herdeiro, mas faleceu após o parto.
  • A esposa sucessora, considerada a “preferida” do rei, entretanto, acabou tendo o mesmo fim de Ana Bolena: acusações de casos extraconjugais vieram a público e ela foi executada.
  • A sexta esposa de Henrique VIII, astuta e diplomática, sobreviveu ao humor instável do rei, que a deixou viúva em 1547.
  • Os três filhos de Henrique VIII que sobreviveram à infância ocuparam o trono inglês em algum momento do século XVI.
  • No entanto, foi Elizabeth I, a última sucessora, que guiou a Inglaterra para se tornar uma potência mundial ao derrotar a Armada Espanhola, de Filipe II.

Biografia de Henrique VIII

→ Infância de Henrique VIII

Henrique Tudor, de nome régio Henrique VIII, nasceu em 28 de junho de 1491 no Palácio de Greenwich, em Londres, Inglaterra. Foi o segundo filho de Henrique VII da Inglaterra e Elizabeth York, irmão de Margaret, de Mary e do sucessor direto ao trono da dinastia Tudor, Arthur Tudor.

Henrique teve uma infância típica aos costumes da nobreza inglesa, educado por meio de professores que lecionavam francês e latim, história, poesia e música. No entanto, a sua educação não foi direcionada a fim de transformá-lo em um rei, e sua ausência aos moldes do ensino aristocrático muito provavelmente fez com que tivesse, quando soberano, um perfil peculiar. Seu pai, Henrique VII, almejava para o filho uma posição de destaque na Igreja Católica, já que o irmão mais velho, Arthur, deveria ser o sucessor na dinastia.

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Entretanto, com o falecimento do herdeiro aos 15 anos de idade causado por uma doença desconhecida na época, Henrique Tudor foi automaticamente nomeado príncipe de Gales, conde de Chester e duque da Cornualha. Os títulos davam ao jovem de 10 anos uma posição estimada, afinal, ele deveria conduzir a dinastia Tudor, oriunda da sangrenta Guerra das Rosas entre os Lancaster e os York pelo trono da Inglaterra.

→ Casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão

Catarina de Aragão, nascida em 1485, no município de Alcalá de Henares, Espanha, teve como primeiro esposo o príncipe Arthur, primogênito de Henrique VII e Elizabeth York. O casamento foi arranjado desde que ambos eram crianças pequenas, conforme se costumava fazer em casos de aliança política entre reinos. O secular inimigo em comum de Inglaterra e Espanha, no contexto, era a França.

Embora o casamento entre os dois tenha ocorrido em 1501, no ano seguinte, Arthur faleceu em decorrência de uma doença respiratória dita “misteriosa” naquela época (algo que poderia significar a tuberculose, por exemplo), mas não há registros mais exatos a respeito da causa. Impelido a manter os benefícios da aliança com a Espanha, o rei Henrique VII renegociou o casamento de Catarina de Aragão, agora com novo sucessor ao trono, seu filho de mesmo nome.

Representação novecentista de Catarina de Aragão, primeira esposa de Henrique VIII.
Representação novecentista de Catarina de Aragão.

O casamento foi realizado no ano do falecimento de Henrique VII, em 11 de junho de 1509, na Igreja Franciscana de Greenwich. Henrique, agora rei da Inglaterra, tinha 18 anos na data do casamento, e Catarina, 24. Conta-se que, a princípio, o casal vivia afetuosamente. Embora Catarina fosse bastante reservada e Henrique VIII tivesse uma personalidade grosseira, os dois se tornaram populares por não inibirem o carinho recíproco em público.

Catarina, agora rainha da Inglaterra, não conseguia ter uma criança que sobrevivesse por muito tempo após o nascimento. Frustrado por não conseguir um possível herdeiro ao trono, afinal, o status de um rei durante a Idade Média dependia da virilidade construída patriarcalmente, o rei se aproximou ainda mais de suas amantes. Na noite de Ano-Novo de 1514, anunciou publicamente seu relacionamento extraoficial com Elizabeth Blount, embora o casamento tenha se mantido firme por mais alguns anos.

Em 1516, Catarina concebeu Maria, a única de seis crianças que conseguiu sobreviver à infância. A rainha tentou criar mais crianças depois de Maria, mas seu útero já deixava de ser tão fértil devido à idade. Enquanto isso, as relações extraconjugais do rei se mantiveram, inclusive dentro da própria corte.

→ Casamento de Henrique VIII com Ana Bolena

Ana Bolena, nascida nos arredores de Londres na primeira década do século XIV (não há um registro oficial da data de seu nascimento), era irmã de uma das ex-amantes de Henrique e dama de companhia de Catarina. O rei, que a conheceu entre 1525 e 1526, tentou cortejá-la, mas a dama deixou explícito que sua relação com ele só se daria de maneira oficial. Isso significava que ela pretendia ser a rainha da Inglaterra, e, para isso, Henrique deveria anular o casamento com Catarina.

Retrato de Ana Bolena, segunda esposa de Henrique VIII.
Retrato de Ana Bolena.[1]

Era o papa Clemente VII quem deveria aprovar a anulação, no entanto, ele não tinha interesse em assinar o documento, já que procurava agradar ao seu antigo detentor, Carlos V, então líder do Sacro Império Romano-Germânico, após o episódio do saque de Roma. Para desgosto de Henrique, Carlos V era sobrinho de Catarina de Aragão, e o papa tinha seus motivos para não aborrecer o homem que outrora o fizera prisioneiro.

A impaciência do casal fez com que se casassem em 1533, com Ana agora grávida. Para isso, o rei contou com a anulação do casamento com Catarina por meio o arcebispo reformista Thomas Cranmer. A antiga rainha foi feita prisioneira domiciliar, e assim faleceu em 1536; já Maria, então princesa, foi declarada filha ilegítima de Henrique.

Em 1534, o papa firmou sua postura em não reconhecer o casamento com Ana Bolena. Henrique VIII rompeu completamente com a Igreja Católica nesse mesmo ano por meio do Ato de Supremacia, em que se autoproclamou chefe de Estado e de sua própria Igreja Inglesa, ou Igreja Anglicana.

No entanto, seus esforços não permitiriam que o rei conseguisse gerar um herdeiro. Estima-se que Ana Bolena tenha passado por três gestações malsucedidas, exceto por Elizabeth, que futuramente seria coroada rainha da Inglaterra. A frustração novamente pesou sobre o rei, mas contrariar o próprio Ato de Supremacia para anular o segundo casamento ameaçava o seu status de chefe supremo.

A solução, dessa vez, foi mais radical e desesperada: Henrique acusou Ana Bolena de cometer inúmeros crimes, entre adultérios, incesto e até mesmo uma conspiração regicida. Esses crimes nunca foram provados, mas o rei conseguiu o que almejava: a execução de Ana por decapitação junto de seus supostos amantes, entre os quais, seu irmão. A pena foi cumprida em 19 de maio de 1536; agora, Henrique estava livre para se casar não apenas mais uma vez, mas quatro.

Quantos filhos Henrique VIII teve?

Oficialmente, ou seja, sem se considerar o número incerto de bastardos, Henrique VIII teve três filhos que sobreviveram à infância e, em algum momento, governaram a Inglaterra. Foram eles: Eduardo VI, Maria I e Elizabeth I.

→ O reinado de Henrique VIII

Henrique Tudor sucedeu ao trono da Inglaterra em 1509, diretamente após o falecimento de seu pai, Henrique VII. Na ocasião, tinha 17 anos e deu sequência ao número régio do antigo rei, nomeando-se Henrique VIII. Seu governo foi longo, violento e absoluto.

A primeira medida radical do novo monarca foi tomada apenas dois dias após a coroação, conforme demonstrou ao ordenar a execução de dois ministros do rei anterior, impopulares devido ao ofício de coletores de impostos. Acusados de extorsão e traição, embora não houvesse provas para a condenação de ambos, seus arrecadamentos foram redistribuídos entre a população, estratégia que demonstraria a sua autoridade e preocupação com o próprio status perante o povo.

Em seus 38 anos de reinado, Henrique ordenou a execução de grande parte de políticos contrários à sua vontade ou que procuraram contestar o Ato de Supremacia. A sucessão de violentas censuras fez com que muitos também se demitissem de seus cargos, temerosos com a própria vida. Enquanto isso, o rei sentia-se à vontade para demitir e nomear cargos, beneficiando parentes e aliados políticos.

Mesmo assim, o rei era admirado por muitos; belo, inteligente e culto, exprimia-se por meio da composição de canções, além de se destacar nos esportes praticados pela nobreza (tiro com arco, caça e justas). Amante de banquete e bebedeiras, não tinha grande compromisso com a administração do reino, mas usufruía de seu status e perfil de soberano.

Na política, as relações diplomáticas da Inglaterra de Henrique VIII eram frágeis e tensas. No período do casamento com Catarina de Aragão, por exemplo, a Espanha se fazia uma vital aliada, mas a ruptura com o matrimônio automaticamente fez com que a relação entre ambos se tornasse hostil. A França, histórica rival da Inglaterra, também foi combatida nas Guerras Italianas. Após uma assinatura de paz, em 1526, os franceses mantiveram uma relação próxima com outra inimiga de Henrique, a Escócia.

Uma das particularidades de Henrique VIII, no entanto, foi sua sucessão de seis casamentos, que resultaram até mesmo em uma ruptura com a Igreja Católica Apostólica Romana, sua excomunhão por parte do papa e um violento conflito entre protestantes e católicos na Inglaterra. Suas disputas políticas e religiosas refletiriam por gerações, continuadas por seus três herdeiros ao trono da Inglaterra.

Veja também: Como funciona uma monarquia?

Quais foram as esposas de Henrique VIII?

Exposição de manequins no castelo britânico de Sudeley, representando o rei Henrique VIII e suas seis esposas.
Exposição de manequins no castelo britânico de Sudeley, representando o rei Henrique VIII e suas seis esposas.[2]

Henrique VIII desposou seis vezes com o objetivo de conceber um herdeiro ao trono real inglês. Foram esposas do rei, cronologicamente:

  1. Catarina de Aragão: primeira esposa de Henrique, viúva de seu irmão, Arthur. Após diversas tentativas de conceber um filho que sobrevivesse à infância, Henrique se uniu à amante Ana Bolena antes de adquirir uma anulação de casamento. Após a ruptura com a Igreja Católica, o rei ordenou o confinamento de Catarina, que morreu em domicílio 1536. Ela deixou como filha Maria I, que seria a segunda herdeira ao trono.
  2. Ana Bolena: antes, amante do rei durante a união com Catarina, Ana Bolena também era dama de companhia da corte. A nova rainha, vista popularmente por muitos como ilegítima, também teve problemas na gravidez, tendo apenas Elizabeth I como filha. Irritado com a frustração de seu objetivo, Henrique VIII a acusou de diversos crimes, levando-a à execução por decapitação em 1536.
  3. Jane Seymour: também dama de companhia da corte e amante do rei, o noivado com Jane foi anunciado no mesmo dia da execução de Ana Bolena. Realizou o objetivo de Henrique ao conceber um filho que sobreviveu à infância, Eduardo VI. No entanto, não sobreviveu ao pós-parto e foi sepultada no Castelo de Windsor em 1537.
  4. Ana de Cleves: esposa mais por regalias diplomáticas que afetivas, Ana era filha herdeira do duque alemão de Cleves. Com o casamento, Henrique buscou se aproximar dos protestantes luteranos, mas conta-se que ficou extremamente decepcionado com a aparência da moça ao vê-la pessoalmente pela primeira vez, alegando nítidas diferenças com o que havia testemunhado pelas pinturas. O casamento foi cancelado e Ana de Cleves recebeu uma generosa pensão, além de várias propriedades, incluindo um castelo, onde, adoecida, morreu convertida ao catolicismo em 1557.
  5. Catarina Howard: mais uma dama de honra da corte, era prima de Ana Bolena. Diz-se ter sido a esposa mais agraciada pelo rei, mas manteve relações extraconjugais que vieram ao conhecimento público. Três supostos amantes, que foram torturados, confessaram o envolvimento com a rainha, que teve seu fim por decapitação em 1542.
  6. Catarina Parr: a última esposa de Henrique era inteligente, diplomática e experiente (já havia chegado à segunda viuvez). Atenciosa aos três filhos de Henrique, Catarina adquiriu confiança suficiente para reger o trono na ausência do rei. Viuvou-se pela terceira vez quando da morte de Henrique, em 1547, e casou-se novamente pouco depois, com o político Thomas Seymour, irmão da ex-rainha Jane. Com ele, teve uma filha, Mary Seymour, mas não sobreviveu ao pós-parto, em 1548.

Henrique VIII e o anglicanismo

A Igreja Anglicana surgiu em 1534 como resultado da ruptura de Henrique VIII com a Igreja Católica, oriunda da negação do papa em anular o casamento do rei inglês com sua primeira esposa, Catarina de Aragão. Agora, não era a religião que se encontrava no topo da pirâmide social inglesa, mas o rei, algo que, na prática, significava que a Igreja Anglicana estava submetida às vontades do monarca.

Interior de uma igreja anglicana inglesa em texto sobre Henrique VIII.
Interior de uma igreja anglicana na Inglaterra. Algumas características do anglicanismo diferem-no do catolicismo.[3]

O anglicanismo obteve suas próprias características no decorrer do tempo, algo que o diferiria da religião católica. Entre essas características, pode-se citar a permissão de casamento entre clérigos e a não adoração a imagens santas. Além disso, quando de sua fundação, as missas conduzidas na Igreja Anglicana abandonaram a língua em latim para dar lugar ao idioma de seus fiéis, o inglês.

→ Contexto histórico do surgimento do anglicanismo

A partir do século XVI, as religiões protestantes ascenderam em diversos lugares da Europa como alternativas ao catolicismo. Embora fossem fundamentadas sobre a religião católica, essas religiões tinham, cada uma, determinadas características que propunham reinterpretações da Bíblia e a contestação de diversos abusos realizados pela instituição chefiada pelo papa.

Não coincidentemente, elas surgiram em um momento de fortalecimento dos Estados centralizados, governados por soberanos que desejavam a diminuição da influência católica e maior autonomia de decisões perante os dogmas da Igreja.

A primeira religião protestante foi difundida pelo monge alemão Martinho Lutero, um dos primeiros personagens da história a confrontarem publicamente o poder da Igreja, algo que incentivou questionamentos sobre o catolicismo em vários outros lugares. Na França e Suíça, por exemplo, João Calvino disseminou o calvinismo; na Inglaterra, Henrique VIII fundou o anglicanismo (palavra que se refere a “anglo”, “inglês”).

Como foi a morte de Henrique VIII?

Henrique VIII morreu com 55 anos em 27 de janeiro de 1547, embora a sua causa não seja consensual entre os historiadores. No entanto, a maioria afirma ter sido motivada por complicações no sistema digestivo, provenientes de sua obesidade.

Na data do falecimento, a saúde do monarca já havia visivelmente se deteriorado. Henrique necessitava constantemente ser movimentado por uma espécie de cadeira de rodas, em decorrência de sua dolorosa úlcera em uma de suas pernas. Sua morte ocorreu nas primeiras horas da madrugada, no Palácio de Whitehall.

Quem foi o sucessor de Henrique VIII?

Três filhos de Henrique VIII sobreviveram à infância e, em algum momento, governaram a Inglaterra. Leia abaixo sobre cada um deles, em ordem cronológica de governo:

  • Eduardo VI

Reinou de 1547 a 1553. Entretanto, por ser menor de idade — assumiu o trono aos nove anos de idade o governo inglês foi exercido por um conselho de regentes. A chefia da regência foi supervisionada pelo tio de Eduardo, o lorde Edward Seymour, que por sua vez utilizou-se da alta posição política para se beneficiar, autodenominando-se conde de Hertford e duque de Somerset. Sufocou a influência do conselho, tornando-se o único regente; ordenou também a execução do irmão católico, Thomas Seymour.

Enquanto isso, Eduardo era educado aos costumes da nobreza na época — aprendia latim, grego, arte e teologia. Assim como todos os governantes da dinastia que vieram antes e depois dele, o jovem era extremamente arrogante e inclinado à crueldade, mas não chegou a exercer efetivamente a política, já que faleceu em 1553. Conforme havia documentado Henrique VIII antes do falecimento, se Eduardo não tivesse herdeiros, a sucessora ao trono deveria ser sua meia-irmã, Maria I.

  • Maria I

Reinou de 1553 a 1558. Única filha do rei com Catarina de Aragão, Maria havia sido considerada ilegítima por Henrique VIII após o seu casamento com Ana Bolena. No entanto, a execução da madrasta a colocaria novamente em prioridade na sucessão do trono, exceto por um porém: Henrique conseguiu gerar seu herdeiro com a terceira esposa, Jane Seymour.

Com a morte do rei, o sucessor Eduardo VI da Inglaterra exerceria o poder de 1547 a 1553, quando faleceu. Embora um golpe de Estado tenha procurado manter a viúva de Eduardo, lady Jane Grey, no poder, Maria I contou com o apoio de diversos nobres, que lhe serviram cerca de 30 mil soldados para recuperar o trono.

O seu ressentimento com o protestantismo era profundo: em apenas quatro anos, a rainha exerceu uma rígida postura antirreforma, anulando o Ato de Supremacia e restituindo o poder do papa sobre o Estado. Calcula-se que 287 protestantes foram queimados em fogueiras dentro de apenas quatro anos, algo que rendeu à rainha o apelido de Bloody Mary, a Rainha Sangrenta.

  • Elizabeth I

Reinou de 1558 a 1603. Sucessora de Maria I e última da linhagem direta de Henrique VIII, Elizabeth foi responsável por restaurar a religião protestante e restabelecer o Ato de Supremacia, que havia sido revogado pela meia-irmã, Maria I. Contudo, o resultado disso foi turbulento e entrou em conflito com os interesses da Escócia, que tinha como governante a rainha Maria Tudor, irmã de Henrique VIII e que seria crucial para a história de Elizabeth e da Inglaterra.

Embora estivesse na França, Maria significava uma esperança para a restituição do catolicismo na Inglaterra. Paralelamente, Maria também significava uma ameaça a Elizabeth, pois tinha fortes aliados na França e na Espanha (nesta, o soberano era Filipe II, viúvo da ex-rainha protestante Maria I).

Maria tentou reconciliar as religiões na Escócia, reconhecendo o protestantismo e proibindo missas públicas. Após o assassinato de seu marido, Henrique Stuart, e suspeitas de envolvimento com o conde de Bothwell, Maria foi destronada e presa. Fugiu para a Inglaterra, onde buscou refúgio na sua prima Elizabeth I, mas acabou passando quase 20 anos presa. Em 1587, foi decapitada, principalmente por Elizabeth temer insurreições católicas contra seu governo.

Elizabeth I, última sucessora direta de Henrique VIII representada em pintura.
A rainha Elizabeth I foi a última sucessora direta do rei Henrique VIII.

A morte de Maria serviu de estopim para que Filipe II da Espanha organizasse uma invasão à Grã-Bretanha e extirpasse o poder da rainha Elizabeth e a influência protestante sobre os demais países da Europa, com quem tinha importantes laços comerciais. O governante reuniu mais de 130 de seus navios mais poderosos e avançou contra a Marinha Real inglesa.

A frota, chamada Armada Espanhola ou Armada Invencível, mostrou-se não ser tão invencível assim. A marinha inglesa prevaleceu, destruindo metade dos navios de Filipe II, que tentou outras malsucedidas incursões, fracassadas principalmente devido ao mau tempo. As consecutivas vitórias da marinha real significaram a soberania da marinha inglesa, que se tornou, doravante, um ícone do poderio militar marítimo, e, consequentemente, a ascensão da Inglaterra como uma das maiores potências do mundo.

A população da Inglaterra, no entanto, pagou caro pela vitória: a inflação disparou, os impostos aumentaram e, consequentemente, o país passou por uma crise alimentícia. Elizabeth morreria aos 69 anos, em 1603, em decorrência de doenças respiratórias.

Saiba mais: Elizabeth II — a rainha mais longeva da história do Reino Unido

Importância de Henrique VIII

A figura do rei Henrique VIII foi importante para a história do Ocidente não apenas por suas ações imediatas, a exemplo do reformismo religioso e da fundação da Igreja Luterana. No longo prazo, a consolidação da figura absoluta, acima do Estado e do clero, pavimentou as vias para a Inglaterra se tornar uma das nações mais poderosas e ricas dos séculos seguintes.

Isso se deu por meio de conquistas como a parcial colonização da América, a vitória sobre os franceses nas Guerras Napoleônicas e até mesmo a Revolução Industrial. No entanto, esses eventos históricos de relevância mundial só seriam firmados por meio de seus herdeiros, que transmitiram, sem receios, a violenta cobiça da dinastia Tudor.

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons

[2] PJ photography/ Shutterstock

[3] PhotoFires/ Shutterstock

Fontes

CARTWRIGHT, Mark. Henrique VIII da Inglaterra, 2020. Disponível em: https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18637/henrique-viii-de-inglaterra/

GUY, John; FOX, Julia. Hunting the Falcon: Henry VIII, Anne Boleyn and the Marriage That Shook Europe. Nova York: Harper, 2023.

LEITE, Gisele. Cenário de Henrique VIII: o rei inglês que rompeu com a Igreja Católica, 2021. Disponível em: https://www.jornaljurid.com.br/colunas/gisele-leite/cenario-de-henrique-viii-o-rei-ingles-que-rompeu-com-a-igreja-catolica#:~:text=O%20eleito%20foi%20Henrique%20VIII,sua%20esposa%20Isaque%20de%20York.

MINOIS, George. Henrique VIII. São Paulo: Unesp, 2022.

MORRILL, John S.; GEOFFREY, Elton R. Henry VIII: King of England, 2024. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Henry-VIII-king-of-England

FRASER, Antonia. As seis mulheres de Henrique VIII. Rio de Janeiro: Best Bolso, 2010.

Publicado por Cassio Remus de Paula

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