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Maria Leopoldina

Maria Leopoldina entrou para a história do Brasil por ter sido a primeira imperatriz do país. Casada com d. Pedro I, a arquiduquesa austríaca teve papel fundamental em convencer seu marido a permanecer no Brasil e posicionar-se pela independência brasileira. O casamento de Leopoldina, no entanto, foi infeliz, e ela faleceu como consequência de um aborto espontâneo.

Os historiadores contam que a primeira imperatriz teve o seu papel na independência diminuído e apagado nas gerações seguintes. Sua atuação, nesse sentido, foi para garantir a manutenção da monarquia no Brasil. Da relação dela com d. Pedro I nasceram sete filhos, deles um foi d. Pedro II.

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Nascimento

Maria Leopoldina era austríaca e nasceu, em Viena, no dia 22 de janeiro de 1797. Seus pais eram a imperatriz Maria Teresa e o imperador Francisco I, e Leopoldina foi o quinto filho do casal, sendo a quarta do sexo feminino. Seu nome completo era Carolina Josefa Leopoldina Fernanda Francisca de Habsburgo-Lorena (o Maria só foi acrescentado quando ela veio ao Brasil).

Maria Leopoldina nasceu na Áustria e casou-se com d. Pedro por procuração, em 1817. [1]
Maria Leopoldina nasceu na Áustria e casou-se com d. Pedro por procuração, em 1817. [1]

Leopoldina teve 11 irmãos, e, entre eles, ela teve uma relação muito próxima com Maria Luísa, sua irmã mais velha. Quando Leopoldina casou-se com d. Pedro, ela escreveu várias cartas confidenciando detalhes de sua vida para a irmã. Essas cartas foram (e são) utilizadas pelos historiadores para a reconstrução de parte da vida da imperatriz do Brasil.

Leopoldina, como toda criança da realeza, recebeu uma educação muito boa e foi tutorada por pessoas importantes e influentes, como Goethe. Parte de sua educação era aprender a comportar-se em público e a respeitar as normas de etiqueta praticadas pela aristocracia europeia.

A arquiduquesa (título dela na Áustria) também foi educada a colocar os assuntos de Estado acima dos seus desejos pessoais, assim, se ela precisasse sacrificar suas vontades pelo bem da Áustria, isso seria feito de bom grado. Foi o que ela fez quando se casou com d. Pedro, e os historiadores apontam que ela não reclamou, em nenhum momento, do seu destino.

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Mudança para o Brasil

O grande fato da vida de Leopoldina, e que fez com que sua história cruzasse-se com a do Brasil, foi o seu casamento com o filho de d. João VI, rei de Portugal. O destino inesperado de Leopoldina começou a ser traçado quando portugueses e austríacos negociaram essa possibilidade durante o Congresso de Viena.

Do lado dos portugueses, foi decidido que d. Pedro deveria casar-se porque se acreditava que o matrimônio iria colocá-lo “nos trilhos”. Já na sua juventude, d. Pedro era conhecido por ser mulherengo e ficou marcado por diversos casos amorosos, chegando, inclusive, a envolver-se com mulheres da mesma família.

Fora isso, o casamento de d. Pedro com uma das filhas de Francisco I era muito importante política e economicamente para Portugal. Primeiro porque garantia uma aliança com uma das monarquias mais poderosas e tradicionais da Europa, e, segundo, porque abria possibilidade para Portugal pôr fim na dependência que tinha da Inglaterra.

Para os austríacos, esse casamento era a chance de garantir-lhes uma importante influência na América. O historiador Clóvis Bulcão aponta que o matrimônio foi considerado um grande feito diplomático dos dois lados e causou profundo incômodo na Inglaterra|1|.

Uma vez concluída a negociação, o casamento de d. Pedro e Leopoldina aconteceu, em 13 de maio de 1817, por procuração. Quem representou o noivo na cerimônia foi o arquiduque Carlos, duque de Tuschen e tio de Leopoldina. Foi somente quase seis meses depois que Leopoldina e d. Pedro  conheceram-se pessoalmente.

Pintura retrata a chegada de Leopoldina ao Brasil, em novembro de 1817. [1]
Pintura retrata a chegada de Leopoldina ao Brasil, em novembro de 1817. [1]

Leopoldina mostrou-se animada com a viagem, estudou português e preparou um grupo de cientistas para estudar mineralogia e botânica aqui. Sua viagem foi longa e durou 85 dias, até que desembarcou no Brasil, em 5 de novembro de 1817. A recepção da princesa foi bastante efusiva e uma festa em sua homenagem foi realizada.

Os historiadores contam que Leopoldina ficou encantada com a beleza do Rio de Janeiro e definiu o local como “a Suíça [uma referência à geografia do Rio de Janeiro] unida ao mais belo e ameno céu”|2|. Dias depois, outra recepção foi realizada para ela e membros do corpo diplomático austríaco.

Acesse também: As leis abolicionistas aprovadas ao longo do Segundo Reinado

Como foi o casamento de Leopoldina com d. Pedro?

Com base nos relatos de Leopoldina e em seu estado nos seus últimos anos de vida, pode ser dito que o seu casamento não foi feliz. Os primeiros comentários dela acerca do marido eram sobre seu apetite sexual e sua personalidade. Clóvis Bulcão traz um desses comentários feito para sua irmã:

“Com toda franqueza, diz ele tudo o que pensa, e isso com alguma brutalidade: habituado a executar a sua vontade, todos devem acomodar-se a ele; até eu sou obrigada a admitir alguns azedumes. Vendo, entretanto, que me chocou, chora comigo […].|3|”

A animação e o encantamento inicial de Leopoldina com o casamento e com seu marido logo deixaram de existir. Até 1822 ela tinha grande influência sobre ele, mas, quando tornou-se imperador, o interesse por ela diminuiu consideravelmente, e o tratamento a ela dispensado fez com que a imperatriz fosse bastante infeliz.

O período mais conturbado do casamento iniciou-se pouco antes da independência, durante uma viagem de d. Pedro a São Paulo. Lá ele conheceu Domitila de Castro, futura marquesa de Santos. Domitila foi amante do imperador durante muitos anos, e esse caso foi uma grande humilhação para Leopoldina.

Esse caso extraconjugal era escancarado ao ponto que toda a cidade do Rio de Janeiro sabia dele, até estrangeiros que vieram ao Brasil relataram-no. Domitila enriqueceu com o seu envolvimento com o imperador. Ela adquiriu bens e títulos, assim como seus familiares.

A situação era tão vexatória para Leopoldina que d. Pedro I chegou a nomear sua amante como primeira-dama da esposa. Essa função fazia com que Domitila tivesse contato diário com a imperatriz do Brasil. Esta deixou registrado em carta que d. Pedro I destratava-a na frente da amante e definiu-a como “a causa de todas as minhas desgraças”|4|.

Além de ser maltratada, d. Pedro I fez outras coisas horríveis com a imperatriz, como sofrer proibições e agressões. Proibiu-a de gastar a mesada a que ela tinha direito, cortou pela metade os gastos dela com comida, proibiu-a de passear a cavalo, e existem relatos de que chegou a agredi-la fisicamente, inclusive grávida.

Do casamento de Leopoldina com d. Pedro, nasceram sete filhos, dos quais o mais importante foi Pedro de Alcântara, coroado imperador do Brasil em 1840, tornando-se d. Pedro II.

Falecimento

Os últimos anos de Leopoldina foram marcados pelas decepções causadas pelo imperador. O casamento infeliz deixou-a em um estado de ânimo que alguns historiadores definem como compatível ao que consideramos atualmente como depressão. Isso é confirmado por vários relatos da época.

Além de depressiva, no final de 1826, a imperatriz estava grávida e sofreu um aborto espontâneo. Com a saúde fragilizada, seu quadro agravou-se e ela faleceu no dia 11 de dezembro de 1826, aos 29 anos de idade. Alguns relatos sugerem que o aborto pode ter sido consequência das agressões de d. Pedro I.

Acesse também: A história de uma das netas de Maria Leopoldina: a princesa Isabel

Qual foi o papel de Leopoldina na independência do Brasil?

Leopoldina foi uma figura fundamental durante os acontecimentos que levaram a nossa independência, mas sua atuação foi sendo esquecida. O processo de independência iniciou-se com os esforços da burguesia portuguesa (representada pelas Cortes portuguesas) em recolonizar o Brasil.

As medidas tomadas pelas Cortes e a forma como tratavam os representantes do Brasil começaram a agitar o clima político, sobretudo no Rio de Janeiro. Nesse momento, Maria Leopoldina abriu mão de seus desejos pessoais e focou naquilo que havia sido ensinada a prezar: os valores monárquicos e os interesses do Estado.

Em 1820 o desejo de Leopoldina era retornar para a Europa, mas a leitura que ela fez do cenário político fê-la abrir mão de seu desejo. Ela leu o clima político do Brasil e percebeu que o risco de que uma revolução democrática e republicana acontecesse aqui era considerável, caso os portugueses continuassem pressionando o reino brasileiro.

Assim ela passou a aconselhar seu marido a como agir nesse cenário. D. Pedro era indeciso e ainda apegado ao sentimento de lealdade a Portugal, e, assim, suas ações eram hesitantes. Leopoldina percebeu que a monarquia só se manteria em vigência no Brasil se um monarca dos Bragança tomasse a liderança da situação e conduzisse o processo de independência.

Com isso ela atuou para convencer d. Pedro a permanecer no país (até certo momento ele considerava retornar a Portugal), e depois, quando a relação com Portugal ficou muito ruim, ela, junto de José Bonifácio, convenceu o príncipe regente a romper com o próprio país de origem e declarar a independência do Brasil.

Notas
|1| BULCÃO, Clóvis. Leopoldina, a austríaca que amou o Brasil. In.: FIGUEIREDO, Luciano. História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013, p. 237-238.

|2| Idem, p. 238.

|3| Idem, p. 239.

|4| LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I: um herói sem nenhum caráter. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Crédito das imagens

[1] Commons

Publicado por Daniel Neves Silva
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