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Atentado do Riocentro

O Atentado do Riocentro foi um atentado terrorista frustrado praticado por militares brasileiros na Ditadura Civil-Militar. Ocorreu em 30 de abril de 1981.
Fotografia do carro onde a bomba do Atentado do Riocentro explodiu.
Fotografia do carro no qual a bomba do Atentado do Riocentro explodiu. Nela é possível ver o corpo do sargento Guilherme Pereira do Rosário.

O Atentado do Riocentro foi um ato terrorista fracassado perpetrado por militares da chamada linha dura, no período final da Ditadura Civil-Militar. O objetivo dos terroristas era explodir diversas bombas em um show no Riocentro, famoso centro de eventos do Rio de Janeiro.

Na noite de 30 de abril de 1981, quando o show já ocorria, uma bomba explodiu no carro em que estavam dois militares, ligados ao DOI-CODI, ferindo gravemente um deles e matando outro. Pouco tempo depois, outro dispositivo explodiu na casa de força do Riocentro.

Após as explosões, investigações dos militares e da polícia atribuíram o atentado a um extinto grupo de esquerda, a VPR; mas a versão não foi aceita pela opinião pública e o caso se tornou o maior escândalo do Governo Figueiredo. O objetivo dos terroristas era enfraquecer o processo de reabertura política, mas o atentado teve o efeito reverso, e o seu fracasso fortaleceu ainda mais os movimentos que reivindicavam democracia.

Leia também: Golpe de 1964 — como a ditadura começou

Resumo sobre o Atentado do Riocentro

  • O Atentado do Riocentro foi praticado por militares de extrema-direita em 30 de abril de 1981.
  • O atentado foi frustrado, uma vez que uma das bombas explodiu dentro do automóvel em que dois militares a armavam, e um deles morreu no local.
  • Na noite do atentado, ocorria no Riocentro um show de MPB, com cerca de 20 mil espectadores.
  • O objetivo dos militares envolvidos no atentado era enfraquecer o apoio ao processo de abertura política pelo qual o Brasil passava.
  • Após o atentado, duas investigações, ambas manipuladas, culpabilizaram um antigo grupo de esquerda.
  • Depois da ditadura, outras investigações foram abertas, mas todas foram arquivadas.

O que foi o Atentado do Riocentro?

O Atentado do Riocentro foi uma tentativa de ato terrorista perpetrada por militares de extrema-direita em 30 de abril de 1981, no centro de eventos Riocentro, daí seu nome. O objetivo dos militares era detonar diversas bombas em um show de MPB, causando pânico no público, e, posteriormente, acusar grupos de esquerda pelo atentado.

Na prática o atentado não aconteceu. Algumas bombas foram instaladas por militares no local do show, mas uma delas detonou acidentalmente dentro do carro em que estavam dois militares, deixando um deles gravemente ferido e o outro morto. Com o acidente, as bombas instaladas foram removidas do local.

Após a explosão, um inquérito militar fraudulento foi realizado, concluindo que grupos terroristas de esquerda haviam praticado o atentado contra os militares.

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Contexto histórico do Atentado do Riocentro

João Figueiredo, o militar no comando do Brasil na ocasião do Atentado do Riocentro.
João Figueiredo, o militar no comando do Brasil na ocasião do Atentado do Riocentro.

O Atentado do Riocentro ocorreu durante a Ditadura Civil-Militar, no seu de declínio, marcado pelo processo de redemocratização. Esse processo durou aproximadamente uma década, de 1974 até 1985, e foi controlado pelos militares, contando com momentos de avanços e recuos. Geisel foi o presidente que iniciou o processo de abertura política, a qual, nas suas próprias palavras durante sua posse, seria “lenta, gradual e segura”.

Em 1975, Vladimir Herzog, um jornalista da TV Cultura, em São Paulo, foi assassinado sob tortura no DOI-CODI. Os torturadores afirmaram que Herzog havia cometido suicídio na cadeia, mas a fotografia dele morto deixou claro para a maior parte da população que ele foi assassinado.

Em janeiro de 1976, o operário Manoel Fiel Filho foi capturado por agentes do Estado em seu local de trabalho e levado para o DOI-CODI, onde também foi morto durante sessão de tortura. As notícias vazaram na mídia, o que levou o presidente Geisel a admitir que houve assassinato nas duas situações. As mortes sob tortura diminuíram ainda mais o apoio popular à ditadura.

O general João Figueiredo foi eleito pelo colégio eleitoral como presidente do Brasil, assumindo seu cargo em 1979. Em dezembro do mesmo ano, o pluripartidarismo voltou a ser permitido no Brasil, e foram fundados partidos como o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Popular (PP). Além disso, a Arena passou a se chamar Partido Democrático Social (PDS), e o MDB passou a ser nomeado como PMDB.

Contudo, militares da chamada linha dura eram contrários ao processo de reabertura e decidiram utilizar o terrorismo como principal estratégia para enfraquecê-lo. No final da década de 1970 e início da década de 1980, militares da extrema-direita perpetraram dezenas de atentados a bomba no Brasil, a maioria deles em bancas de jornais que vendiam jornais e revistas contrários à ditadura.

A “direita explosiva”, ainda, praticou atentados a bomba em outras entidades que lutavam pela democracia, em jornais de movimentos de esquerda e até mesmo em escolas. Muitas bancas de jornal deixaram de vender os periódicos contrários à ditadura por medo.

A maior parte desses ataques foi organizada por membros do CIE, o Centro de Informações do Exército, criado na ditadura e que atualmente é chamado Centro de Inteligência do Exército. Também participaram membros do Serviço Nacional de Informação (SNI). Foi nesse contexto de abertura política e atentados terroristas de extrema-direita que o Atentado do Riocentro ocorreu.

Leia também: Atos Institucionais — decretos com poder de Constituição emitidos durante a Ditadura Militar

Quais os objetivos do Atentado do Riocentro?

O principal objetivo dos terroristas do Atentado do Riocentro era explodir simultaneamente diversos explosivos em um show que ocorria no Riocentro e que teve um público de aproximadamente 20 mil pessoas. O show foi organizado por Chico Buarque de Hollanda e por movimentos pela redemocratização do país e contou com a apresentações de diversos artistas, entre eles Elba Ramalho, que se apresentava na hora da explosão do carro no estacionamento do Riocentro, Alceu Valença, Beth Carvalho, Clara Nunes, Fagner, Gal Costa, entre outros.

Os militares acreditavam que as explosões causariam pânico no público e que haveria correria, provocando pisoteamento e, assim, aumentando o número de vítimas. A maioria das portas de saída foi fechada durante o show, e uma bomba explodiu próximo da casa de força, com o objetivo de apagar a luz no auditório do evento. Essas duas medidas foram planejadas para aumentar o número de vítimas do atentado. Especula-se que as bombas que estavam no carro seriam instaladas nas possíveis rotas de fuga do público e seriam as últimas a explodirem.

Politicamente os militares envolvidos pretendiam atribuir o atentado a grupos de esquerda, fazendo com que parte da opinião pública se assustasse e deixasse de apoiar o processo de abertura política pelo qual o Brasil passava. Enquanto um grupo de militares preparava o atentado no Rio Centro, outro grupo realizou pichações em diversos muros e placas de trânsito do Rio de Janeiro, com a sigla VPR, da Vanguarda Popular Revolucionária, grupo, havia anos, extinto.

Mesmo com o ataque frustrado, foi essa a versão divulgada pelo governo após um inquérito militar manipulado, assim como uma investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro. As duas investigações apontaram a VPR como grupo responsável pelo Atentado do Riocentro.

Quem é o responsável pelo Atentado do Riocentro?

Os responsáveis pelo Atentado do Riocentro foram militares da chamada linha dura, de extrema-direita, contrários ao processo de abertura política. Após o atentado, os militares promoveram investigações falsas, destruíram provas, criaram falsas provas, pressionaram testemunhas e censuraram veículos de comunicação. No dia posterior ao atentado, a Rede Globo foi invadida pelos militares, que passaram a conduzir o que o departamento de jornalismo divulgaria sobre o ocorrido.

Por diversas vezes, após o fim da Ditadura-Civil Militar, inquéritos foram abertos para a investigação do Atentado do Riocentro, mas todas eles foram arquivados pela Justiça, que primeiro alegou que os criminosos não poderiam ser punidos graças à Lei de Anistia e, posteriormente, que os crimes prescreveram. Por todos esses motivos, não é fácil apontar todos os envolvidos no atentado. Alguns historiadores defendem que o próprio presidente da ditadura no período, o general João Figueiredo, participou do seu planejamento.

Em 2012, procuradores da república reabriram novamente o caso e apresentaram denúncia, que foi aceita pela Justiça no ano seguinte. O Ministério Público apontou que o capitão do exército Wilson Machado dirigiu o próprio carro, um Puma marrom metálico, até o estacionamento do Riocentro. Com ele estava o sargento Guilherme Pereira do Rosário, no banco do carona. Ao preparar o explosivo, por um motivo ainda desconhecido, ele explodiu no colo do sargento Guilherme, que faleceu na hora. Wilson Machado ficou gravemente ferido, mas se recuperou totalmente nos anos seguintes.

Ele jamais foi condenado pelo atentado e se manteve por muitos anos no Exército, sendo agraciado, em 2001, com a Medalha do Pacificador, pelos serviços prestados às Forças Armadas. Foi para a reserva em 2002, mas continuou trabalhando para o Exército por mais uma década. Em 2024, segundo o Portal da Transparência, ele recebia uma aposentadoria mensal de R$ 29,6 mil.

O Ministério Público denunciou, ainda, na época, o delegado de polícia do Rio de Janeiro, Cláudio Guerra, responsável por incriminar falsamente um extinto grupo de esquerda pelo atentado. Newton Cerqueira, então comandante da PM do Rio de Janeiro, foi acusado de ter suspendido o esquema de policiamento do show do Riocentro.

Newton Cruz, o então chefe do Serviço Nacional de Informações, o SNI, foi denunciado por conhecer o plano previamente e ser conivente com ele, e existem suspeitas de que ele foi um dos seus criadores. Também foi denunciado Divany Carvalho Barros, militar que removeu provas na cena do atentado.

Na época das denúncias, a Rede Globo entrevistou dois acusados: Newton Cerqueira afirmou ser réu confesso, e Newton Cruz afirmou que já havia sido absolvido no caso. Ambos afirmaram que não acreditavam que seriam presos ou mesmo condenados, o que de fato aconteceu. Em 2019, a denúncia foi novamente arquivada, dessa vez pelo STJ.

Como aconteceu o Atentado do Riocentro?

O atentado foi planejado durante semanas, desde que o grupo terrorista soube que o show em comemoração ao Dia do Trabalhador seria realizado no dia 30 de abril de 1981. O show contou com público de cerca de 20 mil pessoas. Ele foi organizado por grupos que lutavam pela democracia, e público e artistas eram considerados inimigos pelo grupo terrorista.

Antes do atentado, o chefe da PM do Rio de Janeiro, Newton Cerqueira, cancelou a participação da PM na segurança que seria feita no local do evento e nos arredores. Com a conivência da direção do Riocentro, militares instalaram previamente duas bombas no palco do show.

No dia do atentado, os terroristas chegaram ao centro de convenções por volta das 20h30. O capitão Wilson Luís Chaves Machado e o sargento Guilherme Pereira do Rosário pararam o Puma marrom metálico em uma vaga do estacionamento do Riocentro. Por volta das 21h, eles passaram a armar o dispositivo que explodiu no colo do sargento por volta das 21h20.

A teoria mais aceita é a de que o relógio metálico de Guilherme do Rosário fechou o circuito de acionamento, detonado o explosivo. Um jovem, amante de automóveis, viu o Puma em que estavam os militares e viu os dois homens mexendo em um dispositivo. Os militares gritaram para que ele saísse de perto; minutos depois, ele ouviu a explosão e foi até o carro, quando viu os militares feridos.

Por ironia do destino, a neta de Tancredo Neves, eleito anos depois como presidente e candidato da oposição à ditadura, passou pelo local e socorreu o capitão Wilson Luís Chaves Machado, levando-o para o hospital. Alguns minutos depois da explosão, outra bomba explodiu no complexo do Riocentro, dessa vez próximo da casa de força, mas sem conseguir atingir o equipamento responsável pela iluminação do show.

Dentro do auditório onde o show era realizado, as explosões foram ouvidas, mas ninguém se apavorou, pensando que eram fogos de artifício. No final do evento, Gonzaguinha explicou para o público que um carro-bomba havia explodido perto do local e pediu para que todos se retirassem de forma ordeira, o que aconteceu.

Ao serem informados de que a bomba havia explodido ainda dentro do automóvel, os demais terroristas suspenderam o ataque, desarmando as bombas do palco.

Leia também:  AI-5 — ato que inaugurou o período mais repressivo da Ditadura Militar

Consequências do Atentado do Riocentro

Após o atentado, o Governo Figueiredo tentou culpar, como havia sido planejado, grupos de esquerda, mas grande parte da população não acreditou nessa versão e o desgaste da ditadura piorou. O chefe da Casa Civil, o general Golbery do Couto e Silva, perdeu seu cargo pela pressão que Figueiredo sofreu com o pior escândalo do seu governo.

Após o atentado, os movimentos que lutavam pela democracia ganharam força, e, nas eleições indiretas de 1985, o candidato dos militares, Paulo Maluf, perdeu para o candidato da oposição, Tancredo Neves. Tancredo Neves faleceu dias antes de tomar posse e, no seu lugar, foi empossado o vice, José Sarney, no dia 15 de março de 1985, marco final da ditadura para muitos historiadores.

Fontes

CHAGAS, Carlos. A ditadura militar e a longa noite dos generais: 1970-1985. Editora Record, São Paulo, 2015.

PEREIRA, Antony W. Ditadura e repressão: o autoritarismo e o estado de direito no Brasil, Chile e Argentina. Editora Paz e Terra, São Paulo, 2012.

Publicado por Jair Messias Ferreira Junior

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