Cultura no Estado Novo
Durante o Estado Novo, observamos a criação de uma série de mecanismos de censura que representavam a instalação de um regime ditatorial no Brasil. Contudo, ao contrário do que se possa deduzir, essa situação de ordem restritiva não implicou na diminuição das manifestações culturais pelo país. Entre as décadas de 1930 e 1940, observamos uma eclosão do uso dos meios de comunicação e o consequente desenvolvimento de várias manifestações artísticas.
Sem dúvida, o rádio ocupou uma posição privilegiada, no qual as estações disseminavam novelas, programas de auditório e notícias. Aproveitando-se da popularização do veículo em questão, o governo de Vargas estabeleceu a criação de rádios, agências de notícias e programas que disseminavam as ações oficiais. Entre os programas mais conhecidos estava a “Hora do Brasil”, transmitido para os quatro cantos do território e precursor do ainda veiculado “A voz do Brasil”.
No mesmo embalo dessas ondas, o rádio abriu caminho para que uma expressiva geração de cantores, músicos e compositores ficasse conhecida pelo país. Nomes como os de Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Orlando Silva, Nora Ney, Emilinha Borba, Vicente Celestino, Jorge Goulart e Marlene, compunham um time de estrelas que ganhavam fama com a gravação de marchas, boleros e sambas-canção. Usufruindo da situação, o governo incentivava a composição e a gravação de canções ufanistas.
Pelos grandes centros urbanos da época, observamos a organização de uma agitada vida noturna, em que os cassinos, o teatro de revista e os bailes promoviam as atrações de uma época lendária para a boemia. Ao mesmo tempo, as salas de cinema apareciam divulgando as produções hollywoodianas e os enredos de um meteórico cinema brasileiro, apoiado pelas instituições oficiais e marcado pela ação de companhias de cinema, como a Atlântida e a Cinédia.
Na arquitetura, a figura do jovem Oscar Niemeyer despontava na elaboração de projetos arquitetônicos que mudaram a paisagem de Belo Horizonte e, posteriormente, da nova capital federal, Brasília. Passando às letras, vemos uma impecável geração de modernistas traçando uma nova forma de se pensar o seu tempo, na busca por temas de peso inovador. Entre outros escritores, destacamos o surgimento de Graciliano Ramos, Jorge Amado e Clarice Lispector.
Com a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, observamos que o controle imposto pelo governo sob as manifestações culturais e os meios de comunicação, alcançaram um delicado limite. Afinal, nossa ditadura estava engajada na luta em prol da democracia no Velho Mundo. Em face de tamanha contradição, Getúlio Vargas viu-se obrigado a aceitar os trilhos da redemocratização brasileira.
Por Rainer Sousa
Mestre em História