Guerra Civil Síria
![Soldado sírio em ação durante a Guerra Civil Síria. Soldado sírio em ação durante a Guerra Civil Síria.](https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2021/04/soldado-sirio.jpg)
A Guerra Civil Síria é um conflito que está em curso desde 2011 e que foi iniciado como consequência da Primavera Árabe. A população insatisfeita passou a protestar contra o governo de Bashar al-Assad, e a repressão violenta motivou opositores a se armarem para a guerra. Acredita-se que cerca de 600 mil pessoas tenham morrido na Síria.
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Primavera Árabe e o início da guerra civil
A Síria é um país do Oriente Médio governado pela família al-Assad desde a década de 1970. O atual governante, Bashar al-Assad, controla o país de maneira corrupta e ditatorial desde 2000. Bashar al-Assad era filho do antigo governante Hafez al-Assad e tornou-se presidente da Síria após eleições nas quais, supostamente, 99,7% dos eleitores aprovaram o seu governo.
![Em 2011, o governo de Bashar al-Assad enfrentou protestos no que ficou conhecido como Primavera Árabe.[1]](https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2021/04/bashar-al-assad.jpg)
Ao final de 2010, uma onda de protestos espalhou-se pelos países árabes a partir da Tunísia. Esses protestos, em geral, pediam mais democracia, mais empregos e melhor qualidade de vida e foram chamados de Primavera Árabe. A onda de protestos iniciada na Tunísia espalhou-se pela Líbia, Egito e chegou à Síria em janeiro de 2011.
Os protestos na Síria concentravam-se em grandes cidades, como a capital — Damasco —, Aleppo e Deraa. A cidade de Deraa foi palco de um dos episódios mais dramáticos da Primavera Árabe na Síria, pois a polícia secreta síria foi mobilizada pelo governo para prender estudantes menores de 15 anos que picharam palavras contra o governo de Bashar al-Assad.
Esses estudantes foram levados para interrogatório e foram brutalmente torturados pelos agentes do governo. Essa situação escandalizou o país e fez com que os protestos se espalhassem pelas grandes cidades da Síria. A população que manifestava sua insatisfação teve como resposta do governo uma violenta repressão, que resultou na morte de protestantes e motivou a população a continuar se manifestando. Quanto mais protestos aconteciam, mais violenta ficavam as forças enviadas por Bashar al-Assad.
A repressão do governo sírio aos protestos levou civis, militares desertores e grupos de oposição a formarem o Exército Livre da Síria (ELS). O ELS é uma entidade armada, formada em julho de 2011, que se insurgiu para expulsar as tropas de Bashar al-Assad das grandes cidades sírias. Tanto a ONU quanto a Liga Árabe tentaram negociar entre as partes para impedir que o confronto se transformasse em guerra civil, mas não houve acordo.
Assim, o governo al-Assad mandou tropas para retomar o controle sobre as cidades que haviam sido tomadas pelo ELS. Os grupos de oposição exigiam a renúncia de Bashar al-Assad. Como o presidente não aceitou renunciar ao cargo, as negociações fracassaram, e os dois lados partiram para o confronto armado aberto.
Com isso, foi iniciada a Guerra Civil Síria. O conflito tomou grandes proporções em julho de 2011, mas considera-se que o início dessa guerra se deu em março de 2011.
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Guerra civil espalha-se por toda a Síria
A Guerra Civil Síria cresceu à medida que novos grupos rebeldes aderiram ao conflito a partir de 2012. Primeiramente, o Exército Livre da Síria autoproclamou-se como grupo secular (sem vinculação religiosa) e era considerado como um representante da ala moderada da oposição. O ELS teve forte atuação até o ano de 2012 e, depois disso, perdeu parte de sua força.
Além disso, o Exército Livre da Síria passou por uma mudança ideológica radical ao longo do conflito. Ele defendia o estabelecimento de um governo democrático e tinha uma posição secular. A partir de 2018, o ELS passou a ser fortemente influenciado por ideologias fundamentalistas e aliou-se com a Turquia.
Isso alterou radicalmente o foco de luta do ELS. Se antes eles queriam lutar contra Bashar al-Assad para implantar um governo democrático, a partir de 2018 eles passaram a focar sua luta contra o movimento de curdos que se desenvolveu no norte da Síria. A alegação para atacar os curdos é o temor de que estes proclamem a sua independência, fragmentando o país.
Outro grupo importante que aderiu ao conflito é conhecido como Hayat Tahrir al-Sham. Esse é um grupo abertamente jihadista e, portanto, defende ideais fundamentalistas islâmicos. Esse grupo já foi conhecido como Fateh al-Sham e Frente Al-Nusra. Até meados de 2016, o Hayat Tahrir al-Sham era aliado da Al-Qaeda, mas esses laços foram rompidos.
Atualmente, o grupo fundamentalista na Síria que possui uma aliança com a Al-Qaeda é o Hurras al-Din, grupo que, ao longo da Guerra Civil Síria, já lutou contra o Hayat Tahrir al-Sham. Podemos perceber aqui que o quadro de forças na Síria é bastante variado e os grupos rebeldes lutam entre si e contra o governo de al-Assad.
A Guerra Civil Síria também contou com a entrada do Estado Islâmico a partir de 2014. O grupo já atuava no Iraque e aproveitou-se da guerra civil para tomar o controle de grande parte do território sírio. O Estado Islâmico lutava autonomamente contra todas as forças presentes na Síria, com o objetivo de alcançar a soberania total no país.
O Estado Islâmico chegou a dominar grande parte da Síria, mas esforços conduzidos por Rússia e Estados Unidos, além do governo sírio, curdos e outros grupos rebeldes, contribuíram para o enfraquecimento dessa organização terrorista. Atualmente, eles não controlam mais nenhum território na Síria, mas ainda são vistos como uma grande ameaça.
A atuação do Estado Islâmico na Síria levou povos curdos a se mobilizarem para se defender da violência que estavam sofrendo. Para isso, foi formada a Unidade de Proteção Popular (YPG, na sigla em curdo) na autoproclamada Rojava, República do Curdistão Sírio, que leva o nome de Federação Democrática do Norte da Síria.
Os curdos da Síria alegam que não têm objetivo de autoproclamar a sua independência, apesar de existir uma luta histórica do povo curdo por sua autodeterminação. Eles se organizaram militarmente única e exclusivamente para combater o avanço do Estado Islâmico e contaram com o apoio dos Estados Unidos, mas desde 2019 esse apoio foi retirado.
O fim do apoio dos Estados Unidos deixou os curdos fragilizados e, apesar do papel importante deles no combate ao Estado Islâmico, o grupo foi alvo da Turquia. Os turcos acusam os curdos sírios de manterem contato com uma organização curda da Turquia que é acusada de terrorismo.
Os curdos negam defender qualquer tipo de separatismo e ter ligações com grupos terroristas. Para evitar serem massacrados pela Turquia, realizaram um acordo com o governo de Bashar al-Assad e com a Rússia para que ambos enviassem tropas para o norte da Síria. Isso garantiu mais estabilidade para a situação curda na Síria.
Influência estrangeira
O conflito na Síria tem essa longa duração, principalmente, pela interferência estrangeira, que garante o financiamento dos grupos armados e a manutenção da luta. Primeiramente, a participação dos Estados Unidos no conflito ocorreu pelo apoio financeiro que o país ofereceu ao ELS e aos curdos.
Além disso, o crescimento do Estado Islâmico motivou os Estados Unidos a bombardearem constantemente as posições dominadas por esse grupo. O governo norte-americano também bombardeou instalações do Hezbollah na Síria, bem como instalações do governo sírio depois de ataques químicos realizados por esse governo contra sua própria população.
A Rússia atua no conflito como principal aliada do governo de Bashar al-Assad. Os russos impedem na ONU que o governante sírio sofra sanções e enviou tropas à Síria, a partir de 2015, para auxiliar o exército sírio, que estava perdendo posições para os rebeldes. O apoio dado pelos russos aos sírios foi fundamental para sustentar Bashar al-Assad no poder em seu pior momento na guerra. Outro país que apoia o governo sírio é o Irã, com envio de tropas, armas e dinheiro.
A Turquia apoia o ELS e luta abertamente contra a milícia curda formada no norte da Síria. Os curdos na Turquia são uma minoria perseguida, e o governo turco teme que o fortalecimento dos curdos sírios influencie os curdos turcos. Inúmeros outros países atuaram direta ou indiretamente no conflito, como Arábia Saudita e o Reino Unido.
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Saldo da Guerra Civil Síria
A Guerra Civil Síria é um conflito que tem mais de 10 anos de duração, e o resultado de tantos anos de conflito não poderia ser diferente: o país está destruído. O preço mais alto é pago pela população, que viu suas casas serem destruídas e suas vidas serem radicalmente transformadas e colocadas em risco.
![A Guerra Civil Síria foi responsável pela destruição das grandes cidades sírias.](https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2021/04/guerra-civil-siria.jpg)
Dados do Observatório Sírio para os Direitos Humanos apontam que, até dezembro de 2020, um total de 593 mil pessoas haviam perdido suas vidas na guerra. Além das mortes, o conflitou tornou a vida dos sírios muito mais difícil e essa entidade aponta também que mais de 90% das mulheres sírias empobreceram, por exemplo.
Além disso, a guerra fez com que milhões de pessoas fugissem de suas casas. Ao todo, cerca de 13 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar seus lares para garantir sua segurança. A maioria manteve-se no país, mas 6 milhões de pessoas decidiram abandonar a Síria e se mudaram, principalmente para nações vizinhas, como a Turquia e o Líbano, e para a Europa.
A situação da Síria segue vista como uma grande incógnita para os observadores internacionais. O empobrecimento do país é evidente, mas a guerra não tem prazo para acabar, uma vez que os atores envolvidos no conflito não demonstram ter interesse em encerrar o conflito.
Créditos das imagens
[1] Valentina Petrov e Shutterstock
[2] ART production e Shutterstock
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