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Gonçalves Dias

Gonçalves Dias é um escritor brasileiro da primeira geração romântica. Ele nasceu em 10 de agosto de 1823, no estado do Maranhão, e morreu, vítima de um naufrágio, em 3 de novembro de 1864. Filho de um português e de uma brasileira descendente de índios e negros, o poeta estudou em Portugal, onde compôs o seu famoso poema Canção do exílio, em 1843.

Como principal representante da primeira fase da poesia romântica brasileira, suas obras trazem uma perspectiva indianista e nacionalista, em que o índio idealizado e a floresta são símbolos máximos da nacionalidade brasileira. Além de poemas nativistas, ele escreveu poesia de cunho amoroso, em que se percebe a idealização da figura feminina tão característica do romantismo.

Leia também: Romantismo no Brasil – características do movimento em terras brasileiras

Biografia de Gonçalves Dias

Gonçalves Dias.
Gonçalves Dias.

Gonçalves Dias (Antônio Gonçalves Dias) nasceu em 10 de agosto de 1823, em Caxias, no Maranhão, e morreu em 3 de novembro de 1864, em um naufrágio. Seu pai era português e sua mãe, de descendência indígena e negra. Era, portanto, o poeta resultado da mistura das três raças que deram origem ao povo brasileiro. No entanto, em 1829, o pai casou-se com outra mulher e levou o filho com ele.

Em 1838, após a morte do pai, Gonçalves Dias foi para Portugal, com o intuito de estudar Direito, em Coimbra, e formou-se em 1845. No ano seguinte, em 1846, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde viveu até 1854. Em 1846, sua peça de teatro Leonor de Mendonça foi censurada pelo Conservatório Dramático do Rio de Janeiro com a justificativa de que havia incorreções na linguagem. Em 1849, passou a trabalhar como professor de latim e história no Colégio Pedro II. No mesmo ano, foi um dos fundadores da revista Guanabara.

Em 1851, viveu uma desilusão amorosa, quis casar-se com a jovem Ana Amélia Ferreira do Vale (1831-1905), mas a mãe da moça não permitiu o casamento, por ser o poeta “bastardo” e filho de uma “mestiça”. Ele acabou se casando, em 1852, com Olímpia Coriolano da Costa. O casamento não deu certo e, legalmente, acabou em 1856.

“De 1854 a 1858, Gonçalves Dias morou na Europa, onde trabalhou na Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Já no Brasil, em 1861, ele viajou pelo Norte do país, pois fazia parte da Comissão Científica de Exploração. No entanto, em 1862, voltou à Europa para tratar de problemas de saúde relacionados à tuberculose, e foi na volta para o Brasil que ele perdeu a vida no naufrágio do navio Ville de Boulogne.”

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Características literárias de Gonçalves Dias

Gonçalves Dias faz parte da primeira geração do romantismo no Brasil, também chamada de “indianista” ou “nacionalista”, portanto, são características de suas obras:

  • Perspectiva indianista: o índio como personagem principal

  • Nacionalismo ufanista: enaltecimento da pátria

  • Cor local: características da floresta e da cultura indígena

  • Herói nacional: indígena brasileiro

  • Símbolos nacionais: índio e floresta

  • Bucolismo: idealização da natureza

  • Amor idealizado

  • Mulher idealizada

  • Perspectiva teocêntrica

  • Retomada de valores medievais

Leia mais: Álvares de Azevedo – principal nome da segunda geração romântica brasileira

Obras de Gonçalves Dias

Poesia

  • Primeiros cantos (1846)

  • Segundos cantos (1848)

  • Sextilhas de frei Antão (1848)

  • Últimos cantos (1851)

  • Os timbiras (poema épico indianista) (1857)

Prosa

  • Meditação (1846)

  • Memórias de Agapito (1846)

Teatro

  • Patkull (1843)

  • Beatriz Cenci (1843)

  • Leonor de Mendonça (1846)

  • Boabdil (1850)

Exemplos de poemas de Gonçalves Dias

Apesar de ter escrito algo de prosa e peças de teatro, Gonçalves Dias é mais conhecido e respeitado pela sua poesia. Entre as suas “poesias americanas”, isto é, indianistas, um dos poemas mais aclamados é “I-Juca-Pirama”, publicado no livro Últimos cantos. Esse poema épico conta a história de um guerreiro indígena tupi, capturado pela tribo rival, que será devorado em um ritual de antropofagia:

Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras: — no extenso terreiro

Assola-se o teto que o teve em prisão,
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.

Esse guerreiro tem um pai velho e cego. Preocupado com o pai, ele pede para continuar a viver, pois é seu único apoio. Os timbiras entendem esse apelo como um ato de covardia, e, na prática antropofágica, os índios acreditavam que assimilavam as características da pessoa devorada, então jamais devorariam um covarde. O chefe da tribo manda soltar o prisioneiro e justifica-se:

— Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste!... parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.

Humilhado, o índio tupi volta para o seu pai. Ao saber do que aconteceu, o pai pede ao filho que o leve até a tribo dos timbiras, onde entrega seu filho ao chefe para ser devorado. No entanto, o chefe rejeita a oferta, pois acredita que o jovem guerreiro é um covarde. O pai, revoltado, diz ao filho:

Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Ser a presa de vis Aimorés.

Esse é o ápice do poema, que, na sequência, vai centrar-se na honra do povo tupi, pois o jovem guerreiro precisa mostrar que é corajoso, voltar a ser o orgulho de seu pai e de sua tribo, mas, para isso, o chefe timbira precisa ser convencido. Dessa forma, esse poema indianista e nacionalista é uma metáfora do Brasil. O povo tupi representa o povo brasileiro, que precisa mostrar sua coragem e que não pode perder a sua honra, o seu orgulho nacional.

Nesse mesmo livro, é possível ler o seu poema lírico amoroso “Olhos verdes”. Nele, o eu lírico usa uma metonímia — olhos verdes — para referir-se ao ser amado:

São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Tem luz mais branda e mais forte,
Diz uma — vida, outra — morte;
Uma — loucura, outra — amor.
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
[...]

Como se lê num espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
[...]

Dizei vós; Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem espr’ança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mi!
Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!

Veja também: Castro Alves – vida e obra do “Poeta dos Escravos”

Canção do exílio

O sabiá é um de nossos símbolos nacionais.
O sabiá é um de nossos símbolos nacionais.

Canção do exílio, poema escrito em 1843, quando Gonçalves Dias estudava em Portugal, é a obra mais popular do autor. Aliás, um trecho desse poema foi inserido na letra de nosso Hino Nacional: “Nossos bosques têm mais vida/ Nossa vida, no teu seio, mais amores”.

É um poema que simboliza bem a essência da primeira geração romântica brasileira, pois tem cunho nacionalista. Obviamente, trata-se de um nacionalismo ufanista, que enaltece o país, com ausência de críticas, já que objetiva despertar nos brasileiros e brasileiras o amor pela sua pátria.

O poema já foi parafraseado e parodiado diversas vezes, e continua sendo um símbolo de nacionalidade. É composto em redondilha maior (sete sílabas poéticas), em consonância com a retomada que o romantismo faz da Idade Média, em que esse tipo de verso era usado em algumas cantigas trovadorescas. Nesse poema, o eu lírico afirma que não há lugar melhor do que o seu país e termina por criar dois símbolos nacionais: a palmeira e o sabiá:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Publicado por Warley Souza

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