Helena Morley e sua obra Minha Vida de menina

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A autora
Helena Morley foi uma escritora brasileira que nasceu em Diamantina, Minas Gerais, no ano de 1880. Seu nome de batismo é Alice Daurell Caldeira Brant. Ela frequentou a Escola Normal e no ano de 1900 casou-se com Augusto Caldeira Brant, com quem teve seis filhos. Viveu durante 90 anos, falecendo no Rio de Janeiro.
Foi escritora de uma única obra, Minha vida de Menina, que já foi traduzida para o francês, Inglês e Italiano. Essa obra teve uma repercussão significativa, conseguindo a atenção e a reflexão de importantes escritores, como Raquel de Queiróz, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e outros.
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A obra
O livro, Minha vida de Menina, trata-se de um diário escrito por Morley durante os seus 13 e 15 anos, mas somente publicado em 1942, quando a autora expressou o desejo de deixar para as netas e parentes suas lembranças e experiências da época de menina, possibilitando-os, assim, a identificarem as diferenças entre a vida atual de sua família e a então vida simples experienciada por ela no passado.
A obra é narrada em primeira pessoa, apresentando uma narradora-personagem que mostra sua visão dos acontecimentos que moviam o cotidiano de Diamantina. Assim, a autora narra sobre festas populares, supertições, causos de parentes, comidas e bebidas típicas, narra sobre a escravidão, sobre o convívo familiar, fala sobre esperanças futuras etc., organizando tudo em uma sequência cronológica, apesar de muitos eventos não terem relação entre si.
Alguns nomes de parentes e conhecidos são trocados por pseudônimos para evitar desentendimento com os envolvidos nos fatos narrados. Assim, o pai, Felisberto, na obra é chamado de Alexandre e a mãe, Alexandrina, é chamada de Carolina.
Além de narrar os fatos, a autora tece também comentários e críticas sobre os acontecimentos, apresentando sua visão de mundo e deixando claro que possui opinião crítica sobre o que lhe acontece.
→ O tempo e o espaço
Os acontecimentos tem como pano de fundo o Brasil entre os anos 1893 e 1985, onde acabava de ocorrer a abolição da escravatura, e a Proclamação da República era ainda um fato recente, quando a autora mostra ser um momento de mudança tanto pessoal quanto nacional.
Assim, é possível verificar em sua escrita a presença de experiências e reflexões sobre a constituição social da época, apresentando o patriarcalismo escravocrata, as regras estabelecidas pela escola, pela igreja, como as relações de trabalho se estabeleciam, a exclusão econômica etc.
Os fatos são narrados, predominantemente, dentro da cidade de Diamantina, Minas Gerais, em fins do século XIX, local onde a autora nasceu e viveu, época caracterizada também pelo declínio do diamante. É, portanto, um espaço que mistura a vida urbana/mineração e a vida familiar, fazendo reflexões desde os conselhos dados pelo pai até as relações sociais, o que mostra o seu processo de constituição feminina.
→ A narradora-personagem
Helena aparece como a própria autora e personagem protagonista de sua obra e traz uma retomada muito próxima dos acontecimentos vividos durante a sua infância. Ela nos revela que o início de seu diário surgiu de um conselho de seu pai para que escrevesse o que lhe ocorria, ao invés de compartilhar com as amigas. Ela mostra, inicialmente, uma insatisfação ao seguir tal conselho, mas, porteriormente, ao viver decepções com quem compartilhava suas experiências, começa a dar razão ao pai.
Dessa perspectiva é possível observar uma personagem observadora e crítica de sua realidade, mostrando, muita vezes, uma visão inconformada dos fatos que circundam sua vida familiar.
Por se apresentar assim, nota-se um processo de crescimento e amadurecimento da personagem, que é influenciado tanto por fatos internos (reflexões, sentimentos, posicionamento crítico) quanto por fatos externos (imposições e regras da Igreja e da escola etc). Assim, há um amadurecimento na forma de pensar, agir e sentir da jovem, que a obriga a encarar os desafios da vida adulta e a assumir as responsabilidades de sua forma de ser.
De caráter inovador, já que, ao pensar sobre seu contexto, Helena propunha-se agir para modificá-lo, ela é vista muitas vezes como alguém que está além de seu tempo, pois ironiza, critica e se sente inconformada com o que lhe ocorria. Com isso, o leitor tem a possibilidade de participar de sua evolução, percebendo as mudanças em sua visão e atuação no mundo.
→ Estrutura Textual
O gênero narrativo diário é caracterizado por uma estrutura que apresenta fatos cotidianos muito próximos do momento que ocorreram, ou seja, é uma reconstituição de experiências do dia a dia do narrador. Assim, esses fatos muitas vezes não possuem relação entre si e podem, inclusive, ficar inacabados, mostrando uma narrativa que se aproxima mais do momento presente da ação.
O diário é o interlecutor do narrador-personagem, mostando sua existência e confidência.
Possui, como princípio para a escrita, uma data que o caracteriza como caderno de anotações e, por isso, a narrativa mostra maior precisão e fidelidade no registro dos fatos.

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