Macunaíma
Macunaíma é um famoso romance da primeira fase do modernismo brasileiro. Narra as aventuras de Macunaíma, herói sem nenhum caráter que sai da floresta amazônica e vai para São Paulo, onde enfrenta o gigante Piaimã. O vilão está de posse de uma muiraquitã, um amuleto que o herói recebeu de Ci, a Mãe do Mato.
A obra possui tempo cronológico e um narrador observador. Conta com personagens do folclore brasileiro, como o curupira e a uiara. Publicado, pela primeira vez, em 1928, esse livro busca valorizar os elementos da cultura nacional. Além disso, apresenta linguagem coloquial e lírica.
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Resumo da obra Macunaíma
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Macunaíma é um romance do escritor modernista Mário de Andrade.
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O protagonista da obra é Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.
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Ele e seus irmãos saem da Floresta Amazônica rumo a São Paulo.
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O herói enfrenta o terrível Piaimã, o gigante comedor de gente.
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Macunaíma quer recuperar o amuleto que a Mãe do Mato lhe deu.
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A obra apresenta elementos folclóricos da cultura nacional.
Videoaula sobre Macunaíma
Análise da obra Macunaíma
→ Tempo da obra Macunaíma
O romance apresenta tempo cronológico e narra ações transcorridas nas primeiras décadas do século XX.
→ Espaço da obra Macunaíma
Os principais espaços de ação são a Floresta Amazônica e a cidade de São Paulo.
→ Narrador da obra Macunaíma
Na maior parte do livro, a história é contada por um narrador observador. A exceção é o epílogo, que conta com um narrador personagem.
→ Personagens da obra Macunaíma
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Cambgique
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Capei
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Ceiuci
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Chuvisco
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Ci
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Currupira
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Denaquê
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Imaerô
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Iriqui
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Jiguê
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Maanape
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Macunaíma
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Mãe de Macunaíma
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Oibê
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Olelê Rui Barbosa
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Sofará
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Suzi
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Taína-Cã
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Tia Ciata
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Titçatê
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Uiara
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Vei
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Venceslau Pietro Pietra
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Zlezlegue
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Zozoiaça
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Enredo da obra Macunaíma
Macunaíma, indígena brasileiro, nasceu na floresta. Durante os primeiros seis anos de sua vida, não gostava de falar. É que o herói era preguiçoso. Quando passou a falar, quis passear no mato. Sofará era a companheira de Jiguê, irmão mais velho de Macunaíma. Ela levou o menino para passear:
A moça botou Macunaíma na praia porém ele principiou choramingando, que tinha muita formiga!... e pediu pra Sofará que o levasse até o derrame do morro lá dentro do mato, a moça fez. Mas assim que deitou o curumim nas tiriricas, tajás e trapoerabas da serrapilheira, ele botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo. Andaram por lá muito.
A partir daí, Sofará levava Macunaíma para passear, e ficavam horas no mato. É que o menino virava “príncipe lindo” e tinha relações sexuais com a cunhada. Dessa forma, a obra apresenta elementos do realismo fantástico. Aliás, em uma dessas ocasiões no mato, Sofará “abocanhou o dedão do pé dele e engoliu”. Isso fez Macunaíma chorar de felicidade.
Mas Jiguê descobriu as “brincadeiras” dos dois e devolveu a moça para o pai dela. Agora Jiguê tinha uma nova companheira, chamada Iriqui. No entanto, Macunaíma cresceu de vez, virou homem e acabou seduzindo Iriqui. Então Jiguê decidiu que “não pagava a pena brigar com o mano e deixou a linda Iriqui pra ele”.
Na floresta, Macunaíma viveu aventuras que envolviam seres lendários, como anhangá e curupira. Além de outros personagens mágicos, como Vei (a Sol) e Ci (a Mãe do Mato). Ci, inclusive, foi subjugada pelo herói, que, assim, teve relações sexuais com ela:
Os manos vieram e agarraram Ci. Maanape trançou os braços dela por detrás enquanto Jiguê com a murucu lhe dava uma porrada no coco. E a icamiaba caiu sem auxílio nas samambaias da serrapilheira. Quando ficou bem imóvel, Macunaíma se aproximou e brincou com a Mãe do Mato. Vieram então muitas jandaias, muitas araras-vermelhas tuins coricas periquitos, muitos papagaios saudar Macunaíma, o novo Imperador do Mato-Virgem.
Dessa relação, nasceu o filho de Macunaíma, mas a criança morreu logo. Então Ci decidiu ir embora para o céu. Antes de partir, deu uma muiraquitã (amuleto) de presente para Macunaíma. Depois, um tracajá comeu a muiraquitã de Macunaíma, que ficou muito triste por isso.
A pedra foi parar nas mãos do vilão, o temido gigante Piaimã, também conhecido como Venceslau Pietro Pietra. Para recuperar o presente de Ci, o herói e seus dois irmãos (Jiguê e Maanape) seguiram rumo a São Paulo. O gigante não vivia sozinho, mas com “uma caapora velha sempre cachimbando que se chamava Ceiuci e era muito gulosa”.
Depois de tentar recuperar a muiraquitã, sem sucesso, o herói entendeu que a única forma de conseguir alcançar seu objetivo era matando o gigante. Com a ajuda de Exu, o herói maltratou Piaimã:
Macunaíma ordenou que o eu do gigante fosse tomar um banho salgado e fervendo e o corpo de Exu fumegou molhando o terreno. E Macunaíma ordenou que o eu do gigante fosse pisando vidro através dum mato de urtiga e agarra-compadre até as grunhas da serra dos Andes pleno inverno e o corpo de Exu sangrou com lapos de vidro, unhadas de espinhos e queimaduras de urtiga, ofegando de fadiga e tremendo de tanto frio. Era horroroso. E Macunaíma ordenou que o eu de Venceslau Pietro Pietra recebesse o guampaço dum marruá, o coice dum bagual, a dentada dum jacaré e os ferrões de quarenta vezes quarenta mil formigas-de-fogo [...].
No entanto, isso tudo não foi suficiente para matar o vilão, que passou meses se recuperando, deitado em uma rede, ainda mantendo a muiraquitã “guardada dentro do caramujo”, que ficava “por debaixo do corpo do gigante”. Ele se recuperou e viajou para bem longe. Entretanto, voltou para São Paulo, onde encontrou a morte.
Assim, o gigante comedor de gente morreu quando caiu dentro do tacho em que a caapora, sua companheira, fazia uma macarronada:
O gigante caiu na macarronada fervendo e subiu no ar um cheiro tão forte de couro cozido que matou todos os tico-ticos da cidade e o herói teve uma sapituca. Piaimã se debateu muito e já estava morre-não-morre. Num esforço gigantesco inda se ergueu no fundo do tacho. Afastou os macarrões que corriam na cara dele, revirou os olhos pro alto, lambeu a bigodeira:
— Falta queijo! exclamou...
E faleceu.
Agora, de posse do amuleto, Macunaíma e seus irmãos voltaram para a floresta. Ao encontrar Iriqui, o herói festejou e “brincou” muito com ela, mas acabou abandonando-a para ficar com uma princesa. Com o tempo, todos da tribo foram morrendo, e Macunaíma sentia a solidão. Assim, decide ir para o céu, viver em companhia de Capei, a Lua:
Ia pro céu viver com a marvada. Ia ser o brilho bonito mas inútil porém de mais uma constelação. Não fazia mal que fosse brilho inútil não, pelo menos era o mesmo de todos esses parentes, de todos os pais dos vivos da sua terra, mães, pais manos cunhãs cunhadas cunhatãs, todos esses conhecidos que vivem agora do brilho inútil das estrelas.
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Características da obra Macunaíma
Macunaíma é um romance de 1928. Ele é dividido em 17 capítulos, além de apresentar um epílogo. A obra Macunaíma integra a primeira fase do modernismo brasileiro e possui estas características do estilo:
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caráter nacionalista;
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crítica sociopolítica;
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antirromantismo;
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coloquialismo;
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valorização da cultura indígena;
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elementos afro-brasileiros.
Mário de Andrade: autor de Macunaíma
O escritor Mário de Andrade nasceu na cidade de São Paulo, no dia 09 de outubro de 1893. Ele foi um dos principais nomes do modernismo brasileiro e participou da Semana de Arte Moderna de 1922. O autor estudou piano e canto. Assim, trabalhou como professor de Estética e História da Música no Conservatório Dramático e Musical.
Também dedicou bastante tempo em pesquisas acerca do folclore brasileiro e trabalhou no Departamento de Cultura de São Paulo. Já no Rio de Janeiro, assumiu a direção do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal. O poeta, romancista e contista morreu no dia 25 de fevereiro de 1945, em São Paulo.
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Contexto histórico de Macunaíma
Nas duas primeiras décadas do século XX, o Brasil vivenciava um contexto histórico hoje conhecido como República Velha. Nesse período, iniciado com a Proclamação da República, em 1889, o poder político do país alternava entre lideranças de Minas Gerais e de São Paulo.
Tais lideranças eram representadas pelos fazendeiros (os coronéis), que tinham enorme poder econômico e político. Durante esse período, predominou o conservadorismo das elites. Portanto, o modernismo surgia como um movimento artístico que se opunha a essa tradição e valorizava a cultura popular.
Créditos das imagens
[1] Editora FTD (reprodução)
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.
ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
CASA MÁRIO DE ANDRADE. Morada do coração perdido. Disponível em: http://casamariodeandrade.org.br/morada-coracao-perdido/.
JOBIM, José Luís. O movimento modernista como memórias de Mário de Andrade. Revista IEB, São Paulo, n. 55, p. 13-26, 2012.