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Literatura fantástica

A literatura fantástica apresenta personagens e/ou fatos extraordinários, ilógicos ou sobrenaturais. Edgar Allan Poe foi um dos principais autores da literatura fantástica.
Monstro do doutor Frankenstein, personagem da literatura fantástica.
O monstro criado pelo doutor Frankenstein é um conhecido personagem da literatura fantástica.[1]

Literatura fantástica é aquela que apresenta elementos extraordinários ou sobrenaturais. O fantástico, portanto, contraria as leis da natureza ao apresentar acontecimentos ou personagens surreais. Desse modo, a obra acaba apresentando um caráter ilógico. Esse tipo de literatura surgiu no século XVIII, provavelmente na França.

Leia também: O que é o conto fantástico?

Resumo sobre literatura fantástica

  • O fantástico é qualquer elemento literário relacionado ao sobrenatural e ao extraordinário.

  • A literatura fantástica apresenta personagens e/ou fatos que contrariam as leis da física.

  • Os principais nomes mundiais desse tipo de literatura foram o estado-unidense Allan Poe e o alemão Hoffman.

  • Os dois principais autores da literatura fantástica brasileira foram Murilo Rubião e José J. Veiga.

O que é o fantástico na literatura?

Em literatura, consideramos fantástico qualquer elemento sobrenatural, extraordinário, que vai de encontro às leis naturais, por exemplo, um personagem que voa ou que sofre alguma transformação física radical e inexplicável. O fantástico pode estar presente tanto em livros de entretenimento quanto em obras mais críticas, tanto na literatura infantil quanto na literatura para adultos.

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Principais características da literatura fantástica

A literatura fantástica é composta por obras que apresentam personagens ou fatos insólitos, surpreendentes, impossíveis de existir ou ocorrer na vida real. Isso porque eles contrariam os fenômenos naturais, as leis da física. Apesar disso, narrativas fantásticas contam também com elementos identificáveis no plano da realidade.

Assim, os elementos reais e fantásticos se misturam, de forma a gerar uma espécie de deformação da realidade como a conhecemos provocada pelos elementos sobrenaturais. Algumas vezes, esse caráter absurdo pode causar o nonsense, isto é, a falta de sentido, já que os componentes fantásticos da obra são inexplicáveis.

Temos, portanto, uma valorização do ilógico tão típica de obras surreais, que privilegiam o mistério em detrimento da clareza e da racionalidade. Desse modo, estão inseridas na categoria de literatura fantástica, por exemplo, obras de terror, infantis e de aventura, desde que apresentem esse caráter extraordinário.

Veja também: Realismo mágico — vertente literária marcada pelo uso de metáforas

Quais são os principais autores da literatura fantástica?

  • Jacques Cazotte (1719-1792) — francês

  • Jan Potocki (1761-1815) — ucraniano

  • E. T. A. Hoffman (1776-1822) — alemão

  • Mary Shelley (1797-1851) — inglesa

  • Hans Christian Andersen (1805-1875) — dinamarquês

  • Edgar Allan Poe (1809-1849) — estado-unidense

  • Lewis Carroll (1832-1898) — inglês

  • Teófilo Braga (1843-1924) — português

  • Bram Stoker (1847-1912) — irlandês

  • Robert Louis Stevenson (1850-1894) — escocês

  • Oscar Wilde (1854-1900) — irlandês

  • Horacio Quiroga (1878-1937) — uruguaio

  • Franz Kafka (1883-1924) — tcheco

  • J. R. R. Tolkien (1892-1973) — inglês

  • F. Scott Fitzgerald (1896-1940) — estado-unidense

  • Alejo Carpentier (1904-1980) — cubano

  • Italo Calvino (1923-1985) — italiano

  • Gabriel García Márquez (1927-2014) — colombiano

  • Manuel Scorza (1928-1983) — peruano

  • Milan Kundera (1929-) — tcheco

  • Isabel Allende (1942-) — chilena

  • Reinaldo Arenas (1943-1990) — cubano

  • Stephen King (1947-) — estado-unidense

  • Mia Couto (1955-) — moçambicano

  • J. K. Rowling (1965-) — inglesa

Obras da literatura fantástica

Monstro com vários braços na capa do livro de literatura fantástica A metamorfose, de Franz Kafka.
Capa do livro A metamorfose, de Franz Kafka, publicado pela editora Planeta.[2]
  • O diabo apaixonado (1772), de Jacques Cazotte

  • Manuscrito encontrado em Saragoça (1805), de Jan Potocki

  • Contos fantásticos (1815), de E. T. A. Hoffman

  • Frankenstein (1818), de Mary Shelley

  • Histórias extraordinárias (1833-1845), de Edgar Allan Poe

  • A pequena sereia (1837), de Hans Christian Andersen

  • Alice no País das Maravilhas (1865), de Lewis Carroll

  • Contos fantásticos (1865), de Teófilo Braga

  • O médico e o monstro (1886), de Robert Louis Stevenson

  • O retrato de Dorian Gray (1890), de Oscar Wilde

  • Drácula (1897), de Bram Stoker

  • A metamorfose (1915), de Franz Kafka

  • Contos da selva (1918), de Horacio Quiroga

  • O curioso caso de Benjamin Button (1922), de F. Scott Fitzgerald

  • O reino deste mundo (1949), de Alejo Carpentier

  • O senhor dos anéis (1954-1955), de J. R. R. Tolkien

  • O mundo alucinante (1966), de Reinaldo Arenas

  • Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez

  • As cidades invisíveis (1972), de Italo Calvino

  • Garabombo, o invisível (1972), de Manuel Scorza

  • Carrie (1974), de Stephen King

  • O livro do riso e do esquecimento (1979), de Milan Kundera

  • A casa dos espíritos (1982), de Isabel Allende

  • A varanda do frangipani (1996), de Mia Couto

  • Harry Potter (1997-2007), de J. K. Rowling

Literatura fantástica no Brasil

O escritor mineiro Murilo Rubião (1916-1991) foi o principal autor de nossa literatura fantástica. Escritor exigente, objetivo, todos os seus contos estão publicados no livro Obra completa. São destaques os contos “O pirotécnico Zacarias”, “O ex-mágico da Taberna Minhota”, “Os dragões”, “Teleco, o coelhinho” e “A casa do girassol vermelho”.

Ele foi seguido pelo escritor goiano José J. Veiga (1915-1999), autor do livro de contos Os cavalinhos de Platiplanto e do romance A hora dos ruminantes, suas duas principais obras. Além desses dois autores brasileiros, outros, de forma menos frequente, também utilizaram elementos fantásticos em suas obras.

Assim, podem ser consideradas como pertencentes à literatura fantástica brasileira obras como:

  • A luneta mágica, de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)

  • Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-1908)

  • Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato (1882-1948)

  • Macunaíma, de Mário de Andrade (1893-1945)

  • Incidente em Antares, de Erico Verissimo (1905-1975)

  • O coronel e o lobisomem, de José Cândido de Carvalho (1914-1989)

  • A guerra no Bom Fim, de Moacyr Scliar (1937-2011)

  • Hora de alimentar serpentes, de Marina Colasanti (1937-)

Saiba mais: José Saramago — escritor brasileiro que inseriu o elemento fantástico em seus textos

Como surgiu a literatura fantástica?

Não existe consenso acerca da origem da literatura fantástica. No entanto, seu surgimento é comumente situado entre os séculos XVIII e XIX. O sucesso desse tipo de literatura, contudo, ocorreu a partir do século XX, quando ele despertou o interesse da crítica e do público leitor.

De qualquer forma, segundo Amanda Berchez, mestra em Teoria e História Literária:

A história das literaturas fantástica e neofantástica já acumula mais de 200 anos, tendo nascido no século XVIII com o Romantismo europeu. Desde Jacques Cazotte, amiúde reputado como precursor da literatura fantástica por Le diable amoureux, publicado na França em 1772, são muitas manifestações marcadas, similarmente a tal romance, pelos gestos simultâneos do pacto e da rescisão com as ordens do real e do sobrenatural.|1|

Exercícios resolvidos sobre literatura fantástica

Questão 01

Leia este fragmento do conto Os cavalinhos de Platiplanto:

Não sei se foi nesse dia mesmo, ou poucos dias depois, eu fui sozinho numa fazenda nova e muito imponente, de um senhor que tratavam de major. A gente chegava lá indo por uma ponte, mas não era ponte de atravessar, era de subir. Tinha uns homens trabalhando nela, miudinhos lá no alto, no meio de uma porçoeira de vigas de tábuas soltas. Eu subi até uma certa altura, mas desanimei quando olhei para cima e vi o tantão que faltava. Comecei a descer devagarinho para não falsear o pé, mas um dos homens me viu e pediu-me que o ajudasse. Era um serviço que eles precisavam acabar antes que o sol entrasse, porque se os buracos ficassem abertos de noite muita gente ia chorar lágrimas de sangue, não sei por que era assim, mas foi o que ele disse.

[...]

Parece que eu estava com sorte naquele dia, senão eu não teria encontrado o menino que tinha medo de tocar bandolim. Ele estava tristinho encostado numa lobeira olhando o bandolim, parecia querer tocar mas nunca que começava.

[...]

Por minha vontade eu ficava ouvindo aquele menino a vida inteira; mas estava ficando tarde e eu tinha ainda muito que andar. Expliquei isso a ele, disse adeus e fui andando.

Após a análise do fragmento, é possível verificar o caráter fantástico dessa obra de José J. Veiga no seguinte trecho:

a) “Não sei se foi nesse dia mesmo, ou poucos dias depois, eu fui sozinho numa fazenda nova e muito imponente, de um senhor que tratavam de major.”

b) “A gente chegava lá indo por uma ponte, mas não era ponte de atravessar, era de subir.”

c) “Parece que eu estava com sorte naquele dia, senão eu não teria encontrado o menino que tinha medo de tocar bandolim.”

d) “Ele estava tristinho encostado numa lobeira olhando o bandolim, parecia querer tocar mas nunca que começava.”

e) “Por minha vontade eu ficava ouvindo aquele menino a vida inteira; mas estava ficando tarde e eu tinha ainda muito que andar.”

Resolução:

Alternativa “B”

O caráter fantástico nesse trecho do conto reside na existência de uma ponte que “não era ponte de atravessar, era de subir”. O narrador ainda diz que havia “uns homens trabalhando nela, miudinhos lá no alto”, ou seja, a ponte vertical era muito alta, em direção ao céu. Lembremos que o menino precisava “subir” a ponte para chegar a uma fazenda.

Questão 02

A seguir, leia um trecho do famoso romance Memórias póstumas de Brás Cubas:

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”

[...]

Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.

Após a leitura atenta do fragmento, é possível afirmar que essa obra de Machado de Assis apresenta um elemento fantástico, pois

a) ela é narrada por um “defunto autor”, isto é, Brás Cubas já está morto ao contar a própria história.

b) revela que Moisés, um personagem bíblico, contou a própria morte no final do Pentateuco.

c) revela que o fantasma de Brás Cubas foi “acompanhado ao cemitério por onze amigos”.

d) personifica a chuva, considerada, pelo narrador, como “triste e constante, tão constante e tão triste”.

e) personifica a Natureza ao atribuir-lhe uma “dor crua e má” que atinge as suas “mais íntimas entranhas”.

Resolução:

Alternativa “A”

O caráter fantástico do romance de Machado de Assis consiste no fato de a história ser narrada por um morto, o defunto Brás Cubas. A obra, portanto, apresenta caráter sobrenatural. Contudo, não é uma história de terror, pois o fantástico é utilizado de forma irônica pelo autor.

Nota

|1| BERCHEZ, Amanda. O engenho do indelimitável: história e teoria(s) dos gêneros literários fantástico e neofantástico. Revista X, v. 16, n. 3, p. 903-927, 2021.

Créditos das imagens

[1] Willrow Hood/ Shutterstock

[2] Editora Planeta (reprodução) 

Publicado por Warley Souza

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