Método científico
Método científico é um conjunto de normativas necessárias para a criação ou aprimoramento de um conhecimento confiável, válido e verdadeiro. O método científico traz os caminhos a serem seguidos pelo cientistas, auxiliando-os em suas tomadas de decisão. Não há como fazer ciência sem o método científico.
O método científico moderno possui etapas bem definidas, como uma espécie de teoria da investigação. Toda observação será testada por hipóteses, as quais guiarão experimentos para a produção de resultados. A Filosofia auxiliou, ao longo da história, a moldar o método científico, debatendo a melhor forma de fazê-lo, seja de forma indutiva ou dedutiva.
Leia também: O que é a Filosofia da Ciência?
Resumo sobre método científico
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O método científico constitui um conjunto de regras para produção ou para aprimoramento de conhecimentos confiáveis, válidos e verdadeiros.
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Mesmo respeitando as particularidades de cada área científica, pode-se dizer que não há ciência sem a utilização do método científico.
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As etapas do método científico servem para guiar o cientista em sua trajetória, nas tomadas de decisão para chegar ao conhecimento.
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O método científico sempre se inicia com uma observação de algo, e a partir dessa observação é feita uma pergunta.
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O questionamento gera uma hipótese, testada com experimentos para resolução do problema.
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O método científico evoluiu ao longo dos anos de nossa sociedade, através de diversos trabalhos de filósofos e pensadores da ciência.
Videoaula sobre método científico
Para que serve o método científico?
O método científico agrupa as atividades sistemáticas e racionais necessárias que, com maior segurança e economia, conseguem desenvolver conhecimentos válidos e verdadeiros, sendo que para a atingir tal objetivo, traçam os caminhos a serem seguidos, detectando erros e auxiliando os cientistas em suas tomadas de decisão.
De forma bem simples, é possível dizer que não há ciência sem o emprego do método científico.
Quais são as etapas do método científico?
O método científico atual e moderno é o aprimoramento de diversos métodos, os quais foram desenvolvidos ao longo da humanidade por filósofos e cientistas. Assim, alcança-se o seu objetivo quando o método cumpre ou se propõe a cumprir as etapas a seguir:
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Descobrimento do problema: etapa de observação de uma lacuna de conhecimento. O problema pode ser novo ou ainda ser um velho problema recolocado, porém diante de novos conhecimentos.
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Pesquisa: examinar o que é conhecido para tentar resolver o problema, ou seja, avaliar dados, teorias etc.
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Elaboração de uma nova ideia (hipótese): etapa em que se produzem novos dados empíricos, teorias ou técnicas que prometam resolver o problema posto.
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Análise dos resultados: deve-se investigar as consequências da solução obtida. Se o resultado for satisfatório, a pesquisa se dá por concluída e os resultados devem ser reportados e publicados. Se não, deve-se seguir para a etapa adicional seguinte.
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Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados: o ciclo de investigação deve se reiniciar para se perceber os erros cometidos.
Veja também: René Descartes e suas contribuições para a ciência
Qual a importância do método científico?
Os seres humanos sempre tiveram interesse em explicar a natureza e o Universo. Para as primeiras sociedades que habitaram o nosso planeta, os eventos que envolviam as forças da natureza, como tempestadades, fortes secas e estiagens, além da morte, envolviam muitas dúvidas e questionamentos, sem dúvida alguma.
Tal lacuna permitiu a utilização do sobrenatural e o conhecimento mítico para a explicação de tais fenômenos, e, um pouco mais tarde, a ascensão do conhecimento religioso fez com que a verdade tomasse caráter dogmático. O conhecimento toma um caráter divino, determinando a aceitação do mesmo sem críticas.
O método científico, portanto, objetiva a criação de conhecimento confiável, a partir de etapas e investigações bem definidas, em que o conhecimento é constantemente posto à prova, criticado e aprimorado. Ele alia não só a ciência, mas também o raciocínio; não só a observação da natureza, mas a relação entre as coisas.
No mundo moderno, o método científico tem grande importância para coibir não só o senso comum, algumas vezes inofensivo e caricato (como o antigo mito de que não se deve ingerir manga com leite), mas também o crescente negacionismo científico, quase sempre preocupante, como os movimentos antivacina, terraplanista e negacionistas climáticos.
Tipos de métodos científicos
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Método científico indutivo
A indução é um processo mental em que, partindo de dados particulares suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral, porém não contida nas partes examinadas. Ou seja, a ideia da indução é levar a uma conclusão muito mais ampla do que as premissas nas quais ela se baseou.
Exemplo: se a prata conduz eletricidade, se o ouro conduz eletricidade e se o ferro conduz eletricidade, logo conclui-se que todos os metais conduzem eletricidade. O problema do método indutivo é que ele é muito dependente da amostra. Em caso de amostra insuficiente ou tendenciosa, seus dados podem ter problema de legitimidade.
Por exemplo, se você realiza uma pesquisa com 20 alunos de uma universidade e constata que eles são bons alunos de cálculo, você não poderia concluir que todos os alunos da universidade são bons em cálculo, já que a amostra é muito pequena (insuficiente).
Já uma amostra tendenciosa pode afetar os resultados apresentados, por exemplo, em uma pesquisa eleitoral. Por mais que a amostragem seja suficiente, se os dados coletados não forem bem distribuídos, a pesquisa pode apresentar dados finais tendenciosos, pois as preferências por um candidato mudam de acordo com diversos fatores socioeconômicos.
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Método científico dedutivo
Diferentemente do método indutivo, no método dedutivo você parte da ideia de que se todas as premissas são verdadeiras, logo a conclusão deve ser verdadeira. No método indutivo, não: se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provavelmente verdadeira (mas não necessariamente).
Por exemplo: todos os metais conduzem eletricidade. O zinco é um metal. Logo, o zinco conduz eletricidade.
Dentro do método dedutivo, para que a conclusão “o zinco conduz eletricidade” seja falsa, uma das duas premissas deve ser falsa: ou o zinco não é um metal, ou nem todos os metais conduzem eletricidade.
Saiba mais: Seis tópicos fundamentais sobre a relação entre Filosofia e ciência
Contribuições da Filosofia para o método científico
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Método científico na Grécia Antiga
A concepção de ciência foi feita, provavelmente, nos tempos da Grécia Antiga, com a ideia de que ela objetiva buscar verdades universais. Dessa época destacam-se Platão, que acreditava que tais verdades universais existiriam independentemente do que é percebido pelos sentidos, e Aristóteles, seu discípulo, o qual considerava que tais verdades universais estariam presentes em objetos ou fenômenos concretos e percebidos por nossos sentidos.
Na visão aristotélica, a chegada ao conhecimento verdadeiro necessitaria da nossa experiência sensorial com os objetos e fenômenos de nosso cotidiano. A partir disso, memórias seriam geradas e, com um processo de intuição, poderíamos discernir as verdades universais das coisas.
Observe abaixo a obra de Rafael Sanzio (ou Rafaello) A Escola de Atenas (ou Scuola di Atenas, no original). Ao centro, vê-se Platão (à esquerda), apontado para cima, fazendo referência à sua forma de pensamento metafísico, enquanto à direita se vê Aristóteles, apontando para o que está ao seu redor, em referência ao mundo terrestre e à sua visão empírica acerca do conhecimento.
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Método científico na Idade Média
Apesar de ter sido um período considerado nefasto para a história da ciência, houve cientistas que se interessaram pelo método científico durante o intervalo entre os séculos IX e XV, como alguns muçulmanos (al-Haytham, Avicenna, entre outros) e cristãos (Oresme, Occam, entre outros).
De certa forma, o pensamento medieval foi muito eclipsado pela influência aristotélica. A popularização das suas traduções a partir do século XIII fez com que deturpações de suas ideias ocorressem por escolásticos medievais. Para saber mais sobre esse tópico, clique aqui.
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Método científico para Francis Bacon
O prenúncio do nascimento da ciência moderna deve ser creditado a Francis Bacon, filósofo e jurista inglês. Para ele, o objetivo da ciência deve ser melhorar a vida do ser humano no planeta, e a maneira certa de fazer isso é por meio das experimentações.
Bacon era partidário do método indutivo puro, baseado na acumulação de resultados experimentais e sem o uso de hipóteses, sendo assim suficiente para descobrir todas as verdades naturais. Para ele, o método dedutivo era o porquê de os filósofos anteriores se alongarem em discussões e nunca chegarem a respostas concretas.
Ele atacou escolásticos medievais e a certeza do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento de uma ciência que dependa de uma experimentação formal como uma forma adequada de testar hipóteses. Para saber mais sobre Bacon, clique aqui.
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Influência do positivismo no método científico
Os séculos seguintes aos trabalhos de Bacon ajudaram os filósofos a desenvolverem a ciência por meio do método indutivo com simples generalizações a partir de uma série de observações. O método científico ficou restrito a três etapas:
◦ descrição;
◦ indução das generalizações;
◦ testes das generalizações, observando-se novamente os mesmos fenômenos a fim de verificar se as generalizações ainda eram válidas.
Tal forma de fazer ciência permaneceu dominante até o fim do século XIX (ou até o século XX, no caso da Biologia e as Ciências Sociais), sob o nome de positivismo (cunhado por Augusto Comte) ou positivismo-lógico (cunhado por filósofos e matemáticos do Círculo de Viena).
Segundo essa vertente, só é possível produzir um conhecimento verdadeiro se for possível demonstrá-lo logicamente ou empiricamente. Ou seja, era uma visão linear da ciência, em que dados brutos experimentais poderiam ser transformados, de forma metódica, em verdades. Essa visão não tinha o interesse em produzir explicações para fenômenos, mas sim proliferar generalizações descritivas.
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Método científico para David Hume
O filósofo escocês David Hume teceu uma importante crítica ao método indutivo ao dizer que a única garantia que temos para o sucesso do método indutivo é o seu sucesso no passado. Suas ideias foram importantes para demonstrar que o método indutivo não poderia justificar, racionalmente, qualquer forma de ciência experimental, pois esse método carece de certeza quanto a conhecimentos de Lógica e de Matemática.
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Método científico para Karl Popper
Popper foi um dos mais importantes filósofos a tentarem resolver as questões levantadas por Hume. Segundo ele, cientistas não trabalham apenas fazendo observações sobre um dado fenômeno, mas também produzem hipóteses sobre a natureza, as quais são submetidas a testes rigorosos.
Segundo o próprio Popper, esses testes serviriam para refutar uma teoria, e não prová-la, pois segundo o filósofo, provar algo é uma coisa logicamente impossível. Ou seja, apenas podemos ter certeza ao refutar, uma única contraprova pode ser capaz de refutar uma generalização.
Assim, segundo Popper, os experimentos devem ser projetados para falsificar ou refutar hipóteses sob teste, e não para demonstar sua verdade, assim rompendo o ciclo vicioso do método indutivo. Para Popper, a contraprova é a maior marca da ciência.
Contudo, na prática, nem sempre cientistas descartam teorias assim que ocorrem erros em suas previsões. Muitas vezes, eles preferem encontrar formas de justificar seus erros. Se assim o fosse, rapidamente os cientistas ficariam sem hipóteses para testar, já que seu conhecimento do mundo é limitado.
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Método científico para Thomas Kuhn
O físico e historiador da ciência norte-americano Thomas Kuhn percebeu que a ciência caminha aos arrancos, o que quer dizer que grandes novas ideias dão origens às chamadas “revoluções científicas”. Nesse ponto, todos os atores de uma disciplina concordam sobre uma nova abordagem ou interpretação, o chamado paradigma. Depois que ocorre uma mudança de paradigma, segundo Kuhn, todos os cientistas tornam a trabalhar dentro do que ele chamou de “ciência normal”.
Nesse período, os cientistas atuam de forma conservadora: estendem o novo paradigma, testam suas implicações e realizam experimentos que se acomodem a ele, assim definindo seus limites, ou seja, sua fronteira. Porém, chegará um ponto em que novas previsões dentro dessa teoria serão falseadas.
Segundo Kuhn, em um primeiro instante, os cientistas agirão para defendê-lo, criando hipóteses auxiliares, até que, eventualmente, o peso das previsões falsas se tornem tão significativas que a teoria tem que ser abandonada. Então, algum cientista vai sugerir um novo paradigma, e o ciclo será reiniciado. Para saber mais sobre Kuhn, clique aqui.
Créditos da imagem
Fontes
MARCELLO, C. A Escola de Atenas de Rafael Sanzio: análise detalhada da obra. Cultura Genial. Disponível em: https://www.culturagenial.com/a-escola-de-atenas-de-rafael-sanzio/.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.
ROQUE, A. C. O método científico. Evolução dos Conceitos da Física. FFCLRP – USP. Disponível em: http://sisne.org/Disciplinas/Grad/EvolConcFis/metodo%20cient%EDfico.pdf.