Concordância verbal

A concordância verbal é o tipo de concordância que estabelece a harmonia em número e pessoa entre o verbo e os demais termos da oração.
A concordância verbal diz respeito à harmonia entre o verbo e seus sujeitos.

A concordância verbal é o tipo de concordância que orienta que os elementos de um enunciado ligados a um verbo devem concordar em número e pessoa com ele.

Leia também: Regência verbal — a relação entre verbo e seus termos complementares

Resumo sobre concordância verbal

  • A concordância verbal é o tipo de concordância que estabelece a relação de harmonia entre um verbo e os elementos do enunciado ligados a ele.

  • Essa concordância se dá em número e em pessoa.

  • A concordância em número pode ser no singular ou no plural.

  • A concordância em pessoa pode ser na 1ª, na 2ª ou na 3ª pessoa.

  • Em português, há algumas regras básicas para casos específicos, como quando há sujeito simples, sujeito composto, oração sem sujeito ou locução verbal.

  • Os casos especiais de concordância verbal são quando há substantivos coletivos, coletivos partitivos, a expressão “um dos que”, verbos indicando horário, pronomes relativos, sujeitos ligados por “ou”, “nem”, “com” e partícula “se”.

  • Enquanto a concordância verbal estabelece a relação entre o verbo e os demais elementos do enunciado, a concordância nominal estabelece a relação entre um nome e seus elementos na frase.

Videoaula sobre concordância verbal

O que é concordância verbal?

A concordância verbal é o tipo de concordância que estabelece que os elementos que se ligam a um verbo no enunciado concordem com ele em número e em pessoa. Veja:

Os gatos comeram toda a ração.

No enunciado, o sujeito “os gatos” se liga ao verbo “comeram”. Para que não haja confusão para entender o enunciado, ambos estão concordando em número (no plural) e em pessoa (3ª pessoa). Para entender melhor essa regra, veja a tabela, a seguir, que sistematiza essa ideia:

Pessoa

Singular

Plural

1ª pessoa

eu

nós

2ª pessoa

tu

vós

3ª pessoa

ele/ela

eles/elas

A concordância em número pode ser no singular ou no plural. Veja:

Concordância em número

Exemplo

singular

Eu ainda não almocei.

plural

Nós ainda não almoçamos.

Já a concordância em pessoa pode ser em 1ª pessoa (aquela que fala), em 2ª pessoa (aquela para quem se fala) ou em 3ª pessoa (aquela que não é nem a que fala, nem para quem se fala). Veja:

Concordância em pessoa

Exemplo

1ª pessoa

Eu ainda não almocei.

2ª pessoa

Tu ainda não almoçaste.

3ª pessoa

Ele ainda não almoçou.

Importante: Em várias partes do Brasil, usamos o pronome de tratamento “você”/“vocês” para nos referir à pessoa com quem falamos; porém esse pronome de tratamento recebe conjugação na 3ª pessoa. Veja:

Tu ainda não almoçaste.

Ele ainda não almoçou.

Você ainda não almoçou.

Quais são as regras de concordância verbal?

Em geral, há algumas regras básicas de concordância verbal. Conheça-as a seguir.

Concordância verbal quando há sujeito simples

Quando o sujeito é simples, isto é, tem apenas um núcleo, então o verbo concorda em número e em pessoa com esse núcleo. Veja:

Eu farei compras amanhã.

Tu farás compras amanhã.

Ele fará compras amanhã.

Nós faremos compras amanhã.

Vós fareis compras amanhã.

Eles farão compras amanhã.

Concordância verbal quando há sujeito composto

Quando o sujeito é composto, isto é, tem mais de um núcleo, o verbo tende a passar para o plural e a concordar em pessoa da seguinte forma:

  • Se um dos núcleos estiver na 1ª pessoa (“eu” ou “nós”), o verbo costuma ser conjugado na 1ª pessoa do plural (nós):

Eu, tu e meu pai faremos compras amanhã.

Nesse caso, há três núcleos: “eu” (1ª pessoa), “tu” (2ª pessoa) e “meu pai” (“ele”, 3ª pessoa). O verbo é conjugado na 1ª pessoa do plural: “nós faremos”.

  • Se nenhum dos núcleos estiver na 1ª pessoa, mas um deles estiver na 2ª pessoa, o verbo costuma ser conjugado na 2ª pessoa do plural (vós):

Tu e meu pai fareis compras amanhã.

Nesse caso, há dois núcleos: “tu” (2ª pessoa) e “meu pai” (“ele”, 3ª pessoa). O verbo é conjugado na 2ª pessoa do plural: “vós fareis”.

  • Não havendo 1ª nem 2ª pessoa em nenhum dos núcleos, o verbo é conjugado na 3ª pessoa:

Meu tio e meu pai farão compras amanhã.

Nesse caso, há dois núcleos: “meu tio” (“ele”, 3ª pessoa) e “meu pai” (“ele”, 3ª pessoa). O verbo é conjugado na 3ª pessoa do plural: “eles farão”.

Concordância verbal quando há oração sem sujeito

Quando a oração não tem sujeito, o verbo é conjugado na 3ª pessoa do singular. Em geral, são casos de verbos impessoais, ou seja, verbos que indicam fenômenos naturais ou o verbo “haver” com sentido de “existir”. Assim:

Neva muito no seu país?

Haverá muitas novidades em breve…

Concordância verbal quando há locução verbal

Nas locuções verbais, o verbo principal permanece em sua forma nominal, enquanto o verbo auxiliar é o que concorda com o sujeito:

Meus pais e minha irmã teriam avisado algo.

Eu estou almoçando agora…

Casos especiais de concordância verbal

Na língua portuguesa, certas construções linguísticas podem gerar dúvidas de concordância verbal. Veja alguns casos específicos que costumam gerar dúvidas.

Concordância verbal quando há substantivos coletivos

Quando o sujeito é um substantivo coletivo, o verbo é conjugado no singular.

O enxame veio em nossa direção para nos picar.

A multidão estava muito animada.

Concordância verbal quando há coletivos partitivos

Quando o sujeito apresenta um coletivo partitivo, ou seja, uma parte de um grande número de seres ou coisas, o verbo pode ser conjugado tanto no singular quanto no plural, concordando com o termo mais próximo ou com o termo mais distante. São construções como “a maioria de”, “grande parte de” etc.

Grande parte dos estudantes tirou uma nota boa.

Grande parte dos estudantes tiraram uma nota boa.

Concordância verbal quando há a expressão “um dos que”

Do mesmo modo, quando o sujeito é composto por expressões como “um dos que”, vale a mesma regra: é possível concordar no singular ou no plural:

Ela foi uma das que mais fez gols no campeonato!

Ela foi uma das que mais fizeram gols no campeonato!

Concordância verbal quando há verbos indicando horário

O verbo “ser” concorda em número com o horário informado; porém, quando o horário é informado pelas construções “dar”, “bater”, “soar”, “passar de”, esse verbo fica na 3ª pessoa do singular.

É meio-dia.

São seis da tarde.

passava das seis horas quando ele chegou.

Concordância verbal quando há pronomes relativos

Quando a construção do sujeito envolve os pronomes relativos “que” e “quem”, a regra muda:

  • com o pronome “que”, o verbo concorda com o sujeito que antecede o pronome;

  • com o pronome “quem”, o verbo pode tanto concordar com o sujeito que antecede o pronome quanto ficar na 3ª pessoa do singular.

Fui eu que cheguei primeiro.

Fui eu quem cheguei primeiro.

Fui eu quem chegou primeiro.

Concordância verbal quando há sujeitos ligados por “ou”, “nem” e “com”

Quando o verbo estiver se referindo a todos os elementos do sujeito, ele é conjugado no plural (pois há sentido de adição).

Vôlei ou futebol são os esportes que eu mais pratico.

Nem vôlei nem futebol são os esportes que eu mais pratico.

Eu com meu irmão somos os melhores jogadores do bairro.

Importante: Se a conjunção “ou” tiver sentido de alternância em vez de adição, então o verbo é conjugado no singular.

Você ou meu irmão será o escolhido para o time.

Concordância verbal quando há partícula “se”

Há dois casos em que o verbo se liga à partícula “se”: quando ela tem função de índice de indeterminação do sujeito e quando ela é uma partícula apassivadora.

  • Se for como índice de indeterminação do sujeito, significa que a ação do verbo não tem um sujeito definido; portanto, o verbo é conjugado na 3ª pessoa do singular.

Fez-se um silêncio sepulcral...

Neste lugar, reclama-se de tudo.

  • Se for como partícula apassivadora, significa que a ação do verbo tem um sujeito definido, mas o verbo está conjugado na voz passiva, então ele deve concordar em número com o termo que acompanha.

Vende-se um carro em ótimo estado.

Vendem-se veículos.

Diferenças entre concordância verbal e concordância nominal

  • Concordância verbal: estabelece a relação entre o verbo e os demais elementos do enunciado. Veja:

A escritora habilidosa escreveu muitos romances bem-sucedidos, que renderam diversos prêmios.

Nesse enunciado, há concordância verbal entre o verbo “escreveu” e o sujeito “escritora”, ambos no singular, e entre o verbo “renderam” e o sujeito “romances”, ambos no plural.

  • Concordância nominal: estabelece a mesma relação, mas entre um nome (como um substantivo ou adjetivo) e seus elementos na frase. Veja:

A escritora habilidosa escreveu muitos romances bem-sucedidos, que renderam diversos prêmios.

No mesmo enunciado, os exemplos de concordância nominal também podem ser vistos:

  • O artigo “a” e o adjetivo “habilidosa” concordando com o substantivo escritora (feminino e singular).

  • O advérbio “muitos” e o adjetivo “bem-sucedidos” concordando com o substantivo “romances” (masculino e plural).

  • O advérbio “diversos” concordando com o substantivo “prêmios” (masculino e plural).

Para saber mais detalhes sobre concordância nominal, clique aqui.

Exercícios resolvidos sobre concordância verbal

Questão 1

(Vunesp – Adaptada) Leia o texto para responder à questão.

O trânsito brasileiro, há muito tempo, tem sido responsável por verdadeira carnificina. São cerca de 40 mil mortes a cada ano; quase metade delas, segundo especialistas, está associada ao consumo de bebidas alcoólicas.

Não é preciso mais do que esses dados para justificar a necessidade de combater a embriaguez ao volante. Promulgada em 2008, a chamada lei seca buscava alcançar precisamente esse objetivo. Sua aplicação, porém, vinha sendo limitada pelos tribunais brasileiros.

O problema estava na própria legislação, segundo a qual era preciso comprovar “concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a seis decigramas” a fim de punir o motorista bêbado.

Tal índice, contudo, só pode ser aferido com testes como bafômetro ou exame de sangue. Como ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, o condutor que recusasse os procedimentos dificilmente seria condenado.

Desde dezembro de 2012, isso mudou. Com nova redação, a lei seca passou a aceitar diversos outros meios de prova - como testes clínicos, vídeos e depoimentos. Além disso, a multa para motoristas embriagados passou de R$ 957,70 para R$ 1.915,40.

(Folha de S.Paulo, 03.01.2014)

Considere o trecho:

Tal índice, contudo, só pode ser aferido com testes como bafômetro ou exame de sangue. Como ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, o condutor que recusasse os procedimentos dificilmente seria condenado.

Assinale a alternativa correta quanto à concordância:

A) Como as pessoas não são obrigado a produzir provas contra si mesmo, aquelas que recusasse os procedimentos dificilmente seria condenada.

B) Como as pessoas não são obrigadas a produzir provas contra si mesmo, aquelas que recusasse os procedimentos dificilmente seriam condenadas.

C) Como as pessoas não é obrigada a produzir provas contra si mesmas, aquelas que recusasse os procedimentos dificilmente seria condenada.

D) Como as pessoas não são obrigadas a produzir provas contra si mesmas, aquelas que recusassem os procedimentos dificilmente seriam condenadas.

E) Como as pessoas não são obrigadas a produzir provas contra si mesma, aquelas que recusassem os procedimentos dificilmente seria condenada.

Resolução:

Alternativa D

Essa é a única alternativa em que não há nenhum problema de concordância verbal ou nominal.

Questão 2

(Consulpam – Adaptada) Leia o texto para responder à questão.

Inteligência artificial: as promessas e as ameaças

Computadores e robôs estão aprendendo a tomar decisões! É claro, “decidir” é uma palavra forte demais para máquinas que não têm consciência e cujo nível de “raciocínio” não é sequer evoluído como o de um sapo. Mas os últimos desenvolvimentos em Inteligência Artificial (IA) são suficientes para assustar alguns e despertar a imaginação de outros.

Entre o mito e a realidade, onde se situa exatamente a atual pesquisa sobre esta tecnologia que ameaça desestabilizar todas as outras? [...]

Para muitos, a palavra “inteligência” é apenas uma metáfora quando aplicada a máquinas ou robôs que são destinados — nos foi garantido — a permanecerem como simples e humildes assistentes dos humanos. A IA nos ajuda a transcender as barreiras da linguagem por meio da tradução automática, a desempenhar muitas tarefas da nossa rotina, ou mesmo a fazer trabalhos domésticos, fabricar produtos, detectar doenças mais cedo do que poderiam os médicos e criar próteses que podem ser ativadas pelo pensamento.

Mesmo assim, a combinação de aprendizagem profunda e big data não está apenas provocando uma revolução em IA, mas também está ativando a Quarta Revolução Industrial, para a qual nossas sociedades podem não estar preparadas ainda. Muitos especialistas acreditam que a IA é mais uma revolução cultural do que tecnológica, e que a educação terá de adaptar-se rapidamente às novas realidades — para que gerações futuras aprendam a viver em um mundo radicalmente diferente do mundo que nós conhecemos hoje.

A questão que já está sendo discutida é: não há o risco de que os dados disponíveis para a IA possam ser utilizados para confirmar ideias pré-fabricadas e preconceitos? Perfil racial, censura, previsão de personalidade criminal etc. Estes critérios discriminatórios já estão sendo usados por máquinas que são ensinadas a analisar padrões de comportamento. Quanto mais complexo o desenvolvimento tecnológico se torna, mais complexas são as questões éticas levantadas. O desenvolvimento de robôs assassinos é um exemplo evidente disso.

Junto destes desafios éticos, existe o risco da monopolização do poder. Enquanto a IA está dando seus primeiros passos na África, um pequeno número de países está investindo bilhões de dólares em pesquisa básica – que está quase completamente nas mãos de alguns poucos gigantes da computação, como sabemos. Estes desafios internacionais pedem por uma coordenação internacional. Isto é essencial se desejamos que a IA se desenvolva de maneira responsável.

Disponível em: https://pt.unesco.org/courier/2018-3.

As regras de concordância verbal e nominal estão totalmente respeitadas na alternativa:

A) Hoje, muitos empreendedores, elaboradores de políticas e cientistas procuram proibirem o uso de sistemas bélicos autônomos.

B) Devemos nos lembrar de que as armas nucleares — que nunca deveriam ter visto a luz do dia — foi, entretanto, de fato bastante utilizada.

C) Assim como em todas as outras esferas de atividade humana, a IA poderá facilitar e acelerar enormemente o trabalho no campo da segurança.

D) Embora as autoridades militares insistam que, em combate, a decisão final — a de matar ou não matar — serão sempre tomadas por um ser humano.

Resolução:

Alternativa C

Nessa alternativa, todos os elementos estão adequados em relação à concordância verbal e nominal.

Fontes

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Parábola, 2021.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.

Publicado por Guilherme Viana
Filosofia
Dilema do prisioneiro
Saiba o que é o dilema do prisioneiro, um problema da Teoria dos Jogos que interessa as ciências sociais, economia, ciência política, sociologia e a biologia evolutiva.
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