Revolta de Beckman

A Revolta de Beckman ficou marcada na história brasileira como uma revolta que aconteceu no Estado do Maranhão e do Grão-Pará. Essa revolta começou em 1684 e estendeu-se até o ano seguinte, quando, então, foi contida pelas forças enviadas por Portugal.

A Revolta de Beckman aconteceu pela insatisfação da população de São Luís, no Maranhão, com o monopólio exercido pela Companhia de Comércio do Maranhão e com a ação dos jesuítas contra a escravização dos indígenas.

Acesse também: Capitanias hereditárias – a divisão implantada por Portugal, na década de 1530

Maranhão no século XVII

O Estado do Maranhão foi uma criação dos espanhóis, durante a União Ibérica, o período em que o trono de Portugal e da Espanha era ocupado pelo mesmo rei. No ano de 1621, por ordem de Filipe II da Espanha, foi criado o Estado do Grão-Pará e Maranhão, o que fez parte de um esforço realizado por espanhóis e portugueses para expulsar invasores que tentavam se fixar naquela região.

O primeiro governador desse estado foi o capitão-general Francisco Coelho de Carvalho, que esteve à frente do Maranhão por dez anos. A partir de 1654, esse estado passou a ser designado como Estado do Maranhão e Grão-Pará (a ordem dos nomes inverteu-se). Essa região englobava territórios que se estendiam do Ceará até a vastidão da Amazônia brasileira.

Era um estado pouco habitado e que sobrevivia, principalmente, de atividades de subsistência, como a produção de alguns itens agrícolas, como algodão, tabaco e cacau. Existiam também muitos que sobreviviam da extração das drogas do sertão (itens como canela, anil e alecrim) e alguns poucos donos de engenho que produziam açúcar.

Como a economia do Maranhão era muito simples, havia pouca circulação de dinheiro e o estado dependia bastante do trabalho escravo realizado pelos indígenas, uma vez que a compra de africanos para cumprir esse papel era bastante dispendioso. Portanto, era muito comum que fossem realizadas incursões que caçavam, capturavam e revendiam indígenas como escravos.

A questão indígena, por sua vez, era muito conflituosa no período colonial por conta da rivalidade existente entre os padres que formavam a Companhia de Jesus, conhecidos como jesuítas, e os colonos. Os segundos desejavam que os indígenas pudessem ser capturados e escravizados, já os primeiros defendiam que a escravização dos indígenas não fosse permitida, pois assim eles poderiam controlar o trato dos indígenas, educando-os, catequizando-os e explorando o trabalho deles.

A partir da década de 1680, a administração colonial determinou que todo o comércio em São Luís fosse realizado pela Companhia de Comércio do Maranhão. Essa companhia entrou em atividade, em 1682, e recebeu da Coroa a autorização para monopolizar o comércio local, assim, essa empresa era a única que poderia comprar o que fosse produzido pelos moradores do Maranhão e era a única que poderia vender as mercadorias. Esse monopólio era conhecido como estanco.

Na questão dos escravos, a Companhia de Comércio do Maranhão tinha como promessa a entrega de remessas regulares de escravos africanos como forma de substituir os indígenas, controlados pelos jesuítas. A promessa era de enviar dez mil escravos em até 20 anos, mas as remessas de escravos não eram cumpridas.

Acesse também: Diferenças entre escravidão indígena e escravidão africana

Causas da Revolta de Beckman

São Luís, capital do Maranhão, foi palco para a Revolta de Beckman em 1684 e 1685.

O Estado do Maranhão vivia um contexto conturbado no final do século XVII, que foi fruto da insatisfação dos moradores de São Luís com as medidas tomadas pela Coroa, por meio da Companhia de Comércio do Maranhão, na questão do monopólio comercial e no descumprimento das remessas de escravos africanos. Outro fator era a insatisfação local com a ação dos jesuítas no controle das populações indígenas.

A insatisfação dos moradores de São Luís com a Companhia de Comércio do Maranhão diz respeito ao fato de a empresa pagar preços muito baixos pela produção dos locais, por favorecer terceiros, por não cumprir suas obrigações em relação aos escravos africanos e por oferecer mercadorias em péssima qualidade.

O descontentamento causado pelos jesuítas relaciona-se à criação de leis, por parte da Coroa, que concedia o monopólio do controle dos indígenas a esses religiosos. No caso do Maranhão, foi decretada uma lei em 1º de abril de 1680, que proibia a escravização dos indígenas no estado. Essa lei foi resultado direto dos esforços dos jesuítas para impedir que os colonos escravizassem e aprisionassem os indígenas.

Essa situação revoltava as pessoas mais influentes de São Luís, conhecidas como homens-bons. Para agravar todo esse cenário, os homens-bons de São Luís não aceitavam o fato de o governador da província, Francisco de Sá e Menezes, morar em Belém, cidade que na época era considerada rival de São Luís, fazendo com que eles se sentissem desprezados por sua autoridade.

Leia mais: Ciclo do açúcar - um dos ciclos econômicos mais importantes no período colonial

Revolta de Beckman

Esses fatores levaram os homens-bons de São Luís a se reunirem para conspirar contra o domínio local. Duas pessoas que faziam parte desse grupo eram Manuel Beckman e Tomás Beckman, dois portugueses que ficaram conhecidos pelo envolvimento com a revolta e por darem o nome ao movimento.

Pessoas importantes da região, como Manuel Beckman e Francisco Teixeira de Morais, começaram a difundir ideias de rebelião e conquistaram um grupo determinado a revoltar-se. Homens-bons e outros moradores do Maranhão, insatisfeitos com as autoridades locais, decidiram rebelar-se no dia de uma importante procissão que acontecia em São Luís: Nosso Senhor dos Passos.

No dia 24 de fevereiro de 1684, a rebelião teve início, quando homens armados conseguiram render os guardas que ficavam na Casa de Estanco, o local onde a Companhia comprava e vendia mercadorias. Em seguida, eles ocuparam locais estratégicos de São Luís e aprisionaram o capitão-mor, representante do governador.

Depois de iniciada a revolta e tomado o poder, os rebelados formaram um governo provisório conhecido como Junta Geral de Governo, que era formada por homens-bons, homens comuns e membros do clero local, que não eram jesuítas. Entre as medidas tomadas por essa junta, estão a deposição do governador do Maranhão, o fechamento da Companhia de Comércio do Maranhão e a expulsão dos jesuítas.

Os rebelados de São Luís tentaram levar o movimento para outros locais da província, mas não tiveram sucesso. A cidade de Belém, por exemplo, não aderiu à revolta.

Acesse também: Balaiada – a rebelião que se espalhou pelo Maranhão no século XIX

Desfecho da Revolta de Beckman

Os rebelados controlaram São Luís por mais de um ano, mas, a partir de 1685, eles começaram a perder força. Nesse ano, Portugal enviou uma esquadra a São Luís com a função de retomar o controle sobre a cidade. Como o movimento tinha perdido força, a esquadra portuguesa conseguiu conquistar São Luís.

A etapa seguinte consistiu na punição dos envolvidos da Revolta de Beckman. Os dois grandes líderes, Manuel Beckman e Jorge de Sampaio, foram condenados à forca e executados em novembro de 1695. O irmão de Manuel, Tomás Beckman, foi condenado à prisão pelo período de 20 anos.

Outros membros da revolta foram condenados à prisão perpétua, outros foram degredados (expulsos da colônia) e alguns foram condenados ao açoitamento público. Depois que o movimento foi derrotado, os jesuítas retornaram ao Maranhão e o direito deles de explorar os indígenas foi restabelecido, mas mecanismos legais para obtenção de indígenas como escravos foram criados em 1688. A Companhia de Comércio do Maranhão foi extinta pelo novo governador, Gomes Freire de Andrade.

Publicado por Daniel Neves Silva

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