Guerra dos Trinta Anos
A Guerra dos Trinta Anos representou o confronto entre o catolicismo e o protestantismo no contexto da transição do feudalismo para a Modernidade. A Reforma Protestante, iniciada no início do século XVI, não se restringiu apenas ao campo religioso, mas alcançou o campo político.
A Europa na época da guerra assistia à formação dos estados nacionais, e os reis impunham sua fé sobre seu povo ou eram depostos do trono por causa da fé da maioria da população. A guerra aconteceu no Sacro Império Germânico, região onde hoje é a Alemanha, e marcou a formação das monarquias europeias e seus domínios. Marcou também o enfraquecimento da Igreja nas decisões das monarquias em formação.
Leia também: Martinho Lutero – monge alemão que desencadeou a Reforma Protestante
Causas da Guerra dos Trinta Anos
Desde a formação da Idade Média, no século VI, que a Igreja Católica tinha proximidade com os reinos germânicos. A dinastia dos Habsburgo, que dominava vários reinos europeus e de importante participação nessa guerra, fez uma aliança com o Sacro Império Germânico, atual Alemanha, e a Igreja Católica.
A Reforma Protestante começou como um questionamento às regalias e riquezas do alto clero, mas essas críticas motivaram também ações políticas. Os reis questionaram o poder do papa nas decisões terrenas e a influência da Igreja Católica na sociedade. Por outro lado, reis católicos não renunciaram à sua fé e usaram da força para reprimir o avanço do protestantismo em seus reinos. A Guerra dos Trinta Anos foi motivada por essas questões religiosas, e a fé tornou-se fator de união entre reinos para entrarem em uma guerra.
O imperador do Sacro Império Germânico, Rodolfo II, era católico e perseguiu os protestantes destruindo suas igrejas e proibindo suas celebrações. Em 1608, os protestantes uniram-se e criaram a Liga Evangélica para derrotar o imperador e garantir a liberdade de culto dentro do Império Germânico. Em resposta, o rei criou a Liga Católica para reafirmar a fé católica como a dominante na região. A guerra começou por conta dessa perseguição religiosa.
Não demoraria muito para essas duas ligas entrarem em confronto. A parte checa da Boêmia era governada pelo rei Fernando II, da dinastia Habsburgo, um católico fervoroso, mas a maioria da população era protestante. O rei usou todas as suas forças para banir o protestantismo do seu reino e reforçar a fé católica, mas a reação à perseguição foi intensa também. Os protestantes revoltaram-se, invadiram o palácio real em 1618 e atacaram os aliados do rei. Esse episódio ficou conhecido como Defenestração de Praga e marcou o início da guerra.
Período Palatino-Boêmio (1618-1624)
O conde Matias Von Thurn liderou os protestantes nos primeiros anos da guerra e conseguiu expandir o conflito para outras regiões, chegando até Viena, sede da dinastia Habsburgo, em 1619. O reino da Boemia ficou nas mãos de Frederico V, líder da Liga Evangélica. Ele era eleitor do Paladinado, território comandado pelo conde paladino. A falta de unidade entre os protestantes provocou divisões nessa liga, o que facilitou a reação católica. As tropas da Liga Católica atacaram os protestantes na Batalha da Montanha Branca. A vitória dos católicos provocou o banimento dos protestantes e a proibição de suas celebrações.
Em 1623, Fernando II conquistou o Palatinado de Frederico V e a coroa da Boemia retornou para a dinastia dos Habsburgo. O duque de Baviera, Maximiliano I, no final de 1624, conquistou o Palatinado e retomou o controle para os católicos.
Período Dinamarquês (1624-1629)
O conflito entre católicos e protestantes continuou nesse período. A diferença para o período anterior foi o apoio de outros reinos para a causa protestante. Tudo começou quando Fernando II exigiu que os protestantes devolvessem as propriedades que pertenciam aos católicos, mas que estavam em sua posse. O rei Cristiano IV, da Noruega e Dinamarca, foi chamado pelos protestantes para ajudar no enfrentamento da ordem de Fernando II. Prontamente ele atendeu ao pedindo porque, além de também ser protestante, tinha um ducado no Sacro Império e desejava derrotar os Habsburgo para ampliar o seu território.
Cristiano IV não foi sozinho para a guerra contra os Habsburgo. Ele contou com o apoio dos holandeses, que se tornaram independentes da Espanha, governada pela dinastia Habsburgo. A derrota dos holandeses em 1629 significou a assinatura do Édito da Restituição, que anulou os direitos dos protestantes sobre as propriedades católicas. Cristiano IV também foi punido por meio do Tratado de Lubeck, pelo qual ficou privado de alguns territórios, como a Dinamarca.
Período Sueco (1630-1635)
O Período Sueco é marcado pela intensa participação do francês cardeal Richelieu. Apesar de ser católico, nesse período da Guerra dos Trinta Anos, ele esteve do lado dos protestantes. Sua aliança com o rei da Suécia, Gustavo Adolfo, estava nos seus planos para derrotar os Habsburgo. Richelieu convenceu o rei sueco a declarar guerra contra Fernando II, da dinastia Habsburgo.
Gustavo Adolfo tinha interesses comerciais nessa investida contra os Habsburgo. O rei sueco queria conquistar o Mar do Norte e o Mar Báltico para obter o controle comercial da região. Para alcançar esse objetivo, ele teria que obter uma ilha ao norte da Dinamarca, que pertencia aos Habsburgo. De 1630 a 1632, Gustavo Adolfo foi o vencedor da batalha contra os Habsburgo, mas, na Batalha de Lutzen, o rei sueco morreu. Os seus sucessores no trono da Suécia não conseguiram manter as vitórias conseguidas pelo pai e foram derrotados por tropas inimigas.
Em 1634, os suecos perderam a guerra na Baviera e tiveram que se retirar do território do Sacro Império. Com a derrota dos suecos, o cardeal Richelieu não desistiu do seu plano de derrotar os Habsburgo. Dessa vez, ele colocaria a França em campo de batalha contra a dinastia. O cardeal era ministro do rei Luís XIII e era quem de fato governava a França.
Veja mais: Concílio de Trento – processo de ação contrarreformista da Igreja Católica no século XVI
Período Francês (1635-1648)
A dinastia dos Habsburgo dominava grande parte dos reinos europeus. Richelieu declarou guerra à Espanha e Áustria, que estavam sob o domínio da dinastia. A sua justificativa para pegar em armas era a não interferência religiosa nas decisões políticas dos reinos. O francês conseguiu reunir os Países Baixos, a Suécia e outros reinos protestantes para lutarem contra os Habsburgos. Essa união de forças foi determinante para que a França obtivesse importantes vitórias na guerra.
Fim da Guerra dos Trinta Anos
Em 1645, o rei Fernando II quis estabelecer um tratado de paz, mas sem sucesso. As batalhas continuaram até 1648, quando o rei deixou o trono germânico. Em 1648, foi assinado o Tratado de Vestfália, que não só confirmou a derrota dos Habsburgos, como também alterou o mapa político da Europa.
Consequências da Guerra dos Trinta Anos
As consequências da Guerra dos Trinta Anos foram a independência dos Países Baixos, que até então estavam sob o domínio espanhol, e o uso da diplomacia e do direito internacional para a realização de acordos externos. Se a guerra começou tendo como motivação o confronto entre católicos e protestantes, ela terminou com o enfraquecimento do poder religioso sobre as decisões políticas e o fortalecimento do poder temporal sobre o religioso. Uma das características da Europa moderna foi justamente a razão tornando-se a principal fonte de conhecimento e a base das decisões reais em contraposição à fé.
Resumo da Guerra dos Trinta Anos
- Guerra dos Trinta Anos começou com o embate entre católicos e protestantes dentro do Sacro Império Germânico.
- A dinastia Habsburgo dominava vários reinos europeus e manteve sua fidelidade à Igreja Católica proibindo as celebrações protestantes em seus domínios, gerando revoltas e ataques de outros reinos protestantes.
- A participação francesa na guerra, por meio do Cardeal Richelieu, foi importante para a derrota dos Habsburgo e para o enfraquecimento da religião nas decisões das monarquias nacionais em formação na Europa.
Exercícios resolvidos
Questão 1 - Assinale a alternativa correta que aponta uma característica do período francês na Guerra dos Trinta Anos:
a) Os Habsburgo derrotaram a França e a sua dinastia ocupou o trono francês.
b) O cardeal Richelieu manteve-se fiel ao catolicismo e propôs o tratado de paz com os Habsburgo.
c) Os franceses, com outros reinos protestantes, derrotaram os Habsburgos e fortaleceram o poder terreno.
d) Na Guerra dos Trinta Anos, a França optou pela neutralidade e não teve nenhuma participação.
Resolução
Alternativa C. A França, liderada por Richelieu, declarou guerra aos Habsburgo e derrotou-os. Isso modificou o panorama político europeu, pois outros reinos tornaram-se independentes e a religião deixou de ser a fonte das decisões reais.
Questão 2 - As consequências da Guerra dos Trinta Anos foram:
a) a independência dos reinos que estavam sob domínio da dinastia dos Habsburgo e a não intervenção religiosa nas decisões políticas.
b) o fortalecimento dos Habsburgo e a interferência do Vaticano nas disputas pelos reinos europeus.
c) o direito internacional pautando os acordos externos e a vitória dos Habsburgo sobre os franceses.
d) a derrota dos Habsburgo e o fortalecimento do poder espiritual na figura do papa.
Resolução
Alternativa A. Ao final da Guerra dos Trinta Anos, a dinastia dos Habsburgo foi derrotada pelos franceses e seus aliados protestantes. Outra consequência foi o enfraquecimento do poder da Igreja nas monarquias europeias, que estavam em formação na Europa.