Poesia social
Poesia social é o texto poético cuja temática principal está relacionada à denúncia de problemas sociais. Esse tipo de poesia surgiu no século XIX, no contexto do romantismo francês. No Brasil, seu principal representante histórico foi o poeta baiano Castro Alves, autor do famoso poema “O navio negreiro”.
Leia também: Afinal, o que é poesia?
Resumo sobre poesia social
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A poesia social é aquela que possui algum tipo de temática social.
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Sua origem se deu no romantismo francês, no século XIX.
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No Brasil, o principal autor histórico de poesia social foi o poeta baiano Castro Alves.
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“O navio negreiro”, de Castro Alves, é a principal obra histórica de poesia social brasileira.
O que é poesia social?
Consideramos como social a poesia que trata de temáticas sociais. A poesia social mostra a realidade de um país e problemas como pobreza, desigualdade, corrupção política, preconceito, discriminação, violência etc.
Principais características da poesia social
A poesia social pode ser escrita em versos ou prosa, pois o que a define é sua temática e seu caráter conotativo. A temática dessa poesia está associada a seu tempo e local de produção. Afinal, cada país ou região possui seus próprios problemas sociais, também condizentes com cada período histórico.
No Brasil, esse tipo de poesia teve maior relevância durante o romantismo e o modernismo. Tais estilos de época, devido às suas características e ao contexto histórico em que estavam inseridos, se mostraram mais propícios ao desenvolvimento da temática social e, portanto, política.
A temática de cunho social é diversificada, engloba temas como escravidão, fome, seca, discriminação, desemprego, abuso de poder etc. A poesia social pretende denunciar problemas sociais, criticar autoridades e instituições. Desse modo, ela leva à reflexão e busca ser um instrumento de mudança da sociedade.
Principais autores da poesia social
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Victor Hugo (1802-1885) — França
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Georg Weerth (1822-1856) — Alemanha
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Castro Alves (1847-1871) — Brasil
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Cesário Verde (1855-1886) — Portugal
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Manuel Bandeira (1886-1968) — Brasil
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Cora Coralina (1889-1985) — Brasil
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Vladimir Maiakovski (1893-1930) — Rússia
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Jorge de Lima (1893-1953) — Brasil
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Cassiano Ricardo (1895-1974) — Brasil
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Federico García Lorca (1898-1936) — Espanha
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Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) — Brasil
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Pablo Neruda (1904-1973) — Chile
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João Cabral de Melo Neto (1920-1999) — Brasil
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Noémia de Sousa (1926-2002) — Moçambique
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Maya Angelou (1928-2014) — Estados Unidos
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Ferreira Gullar (1930-2016) — Brasil
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Mário Chamie (1933-2011) — Brasil
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Cacaso (1944-1987) — Brasil
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Conceição Evaristo (1946-) — Brasil
Principais obras da poesia social
O poema mais emblemático da poesia social brasileira é “O navio negreiro”, de Castro Alves. Vamos ler, a seguir, um fragmento desse poema, que fala do tráfico ilegal de escravos no século XIX:
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
CASTRO ALVES. O navio negreiro: tragédia no mar. In: RIMOGRAFIA, Slim. O navio negreiro. São Paulo: Panda Books, 2011.
Ainda sobre a temática negra, temos o clássico poema da poetisa estado-unidense Maya Angelou. “Ainda assim, eu levanto” é um grito de resistência contra o preconceito e a discriminação, como podemos ver neste trecho da tradução de Jorge Pontual:
Você me relega ao passado,
E pode mentir um tanto,
Pode me jogar na lama,
Como poeira, eu levanto.
Minha petulância dói?
Tristinho você se cala?
Ando como se tivesse
Petróleo na minha sala.
Como a lua e como o sol,
Como a maré por encanto,
Como a esperança que nasce,
Eu levanto.
[...]
Minha altivez o ofende?
Não me leve tão a mal,
Porque eu rio por ter minas
De ouro no meu quintal.
PONTUAL, Jorge. Ainda assim, eu levanto. In: PAGANINE, Carolina. Tradução de poesia e performance: “Still I Rise”, de Maya Angelou. Ilha do Desterro, Florianópolis, v. 72, n. 2, maio/ago. 2019.
Por fim, um fragmento do poema “Canto geral”, épico de Pablo Neruda, um poeta chileno que nos mostrou a história e a realidade do continente americano, que engloba o Brasil:
Castro Alves do Brasil, para quem cantaste?
Para a flor cantaste? Para a água
cuja formosura diz palavras às pedras?
Cantaste para os olhos, para o perfil recortado
da que então amaste? Para a primavera?
Sim, mas aquelas pétalas não tinham orvalho,
aquelas águas negras não tinham palavras,
aqueles olhos eram os que viram a morte,
ardiam ainda os martírios por detrás do amor,
a primavera estava salpicada de sangue.
[...]
— Cantei naqueles dias contra o inferno,
contra as afiadas línguas da cobiça,
contra o ouro empapado de tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os dirigentes de trevas.
[...]
Castro Alves do Brasil, hoje que o teu livro puro
torna a nascer para a terra livre,
deixa-me a mim, poeta da nossa América,
coroar a tua cabeça com os louros do povo.
Tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar.
NERUDA, Pablo. Canto geral. Tradução de Paulo Mendes Campos. 16. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
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Contexto histórico da poesia social
A Revolução Francesa aconteceu em 1789 e foi um movimento político que teve como lema a frase: “liberdade, igualdade, fraternidade”. Essa revolução fez com que a burguesia assumisse o protagonismo na Europa a partir de então. Foi nesse contexto que surgiu o romantismo, um estilo de época marcado pelo sentimento nacionalista, mas também inspirado nos ideais revolucionários.
Assim, a poesia social teve início na França, durante o século XIX. O escritor francês Victor Hugo foi o principal nome desse tipo de poesia em sua origem, o seio do romantismo. Já no Brasil, o principal representante histórico da poesia social foi o poeta baiano Castro Alves. A obra desse poeta romântico e abolicionista está inserida no contexto do Segundo Reinado, em que a Lei Eusébio de Queirós (1850) e a Lei do Ventre Livre (1871) precederam a abolição da escravatura (1888).
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