Whatsapp icon Whatsapp

Jorge de Lima

Jorge de Lima, escritor brasileiro, nasceu em 23 de abril de 1893, em União dos Palmares, Alagoas. Fez faculdade de medicina e trabalhou como médico e professor. Também foi deputado estadual por Alagoas, eleito em 1919, e vereador do Rio de Janeiro, na década de 1930. Além disso, era pintor de quadros. Porém, é mais conhecido pela sua obra poética. Seu livro mais famoso é Poemas negros, publicado em 1947.

O autor faz parte da segunda geração modernista (1930-1945), e suas obras apresentam reflexão sobre o mundo contemporâneo, temática sociopolítica, liberdade formal, além de traços surrealistas e elementos da tradição católica, já que o poeta, que morreu no Rio de Janeiro, em 15 de novembro de 1953, professava o catolicismo, o que, inevitavelmente, passou a exercer influência sobre suas obras.

Leia também: Carlos Drummond de Andrade – grande expoente da poesia modernista

Biografia

Jorge de Lima nasceu em 23 de abril de 1893, em União dos Palmares, Alagoas. Em 1902, mudou-se para Maceió. Com 17 anos de idade, escreveu o poema O acendedor de lampiões. Mais tarde, em Salvador, ingressou na faculdade de medicina, curso concluído no Rio de Janeiro, em 1914. No ano seguinte, passou a trabalhar como médico em Maceió e também como professor e diretor da Escola Normal e do Liceu Alagoano.

Jorge de Lima, nos anos 1940.  |1|
Jorge de Lima, nos anos 1940.|1|

Em 1919, foi eleito deputado estadual por Alagoas. Anos depois, em 1930, tornou-se professor de literatura brasileira da Universidade do Brasil e da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Em 1935, foi eleito vereador dessa cidade. Nesse mesmo ano, passou a professar a fé católica, a qual se tornou grande influência em sua poesia. Além disso, Jorge de Lima também se dedicava à pintura. Em 1939, pintou a sua primeira tela: Quadro com mulher ou Mulher sonhando.

No ano seguinte, recebeu o Grande Prêmio de Poesia, da Academia Brasileira de Letras. Porém, ao tentar ingressar nessa instituição, não teve sucesso. Anos depois, em 1952, tornou-se presidente da Sociedade Carioca de Escritores, um ano antes de sua morte, ocorrida em 15 de novembro de 1953, no Rio de Janeiro.

Leia também: Murilo Mendes — poeta da segunda geração do modernismo

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Características literárias

Jorge de Lima é um poeta da segunda fase do modernismo brasileiro, que apresenta as seguintes características:

  • reflexão sobre o mundo contemporâneo;
  • conflito existencial e espiritual;
  • temática sociopolítica;
  • resgaste da poesia tradicional;
  • liberdade formal, com uso de versos:
  • livres (sem rimas e sem métrica);
  • brancos (com métrica e sem rimas); e
  • regulares (com métrica e rimas).

Além dessas características, as obras do autor apresentam estas peculiaridades:

Obras literárias

Capa do livro Poemas negros, de Jorge de Lima, publicado pela editora Alfaguara, do grupo Companhia das Letras. |2|
Capa do livro Poemas negros, de Jorge de Lima, publicado pela editora Alfaguara, do grupo Companhia das Letras. |2|

→ Poesia

  • XIV alexandrinos (1914)
  • Poemas (1927)
  • Essa negra fulô (1928)
  • Novos poemas (1929)
  • A túnica inconsútil (1938)
  • Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
  • Poemas negros (1947)
  • Livro de sonetos (1949)
  • Vinte sonetos (1949)
  • Invenção de Orfeu (1952)
  • Castro Alves. Vidinha (1952)

→ Romances

  • Salomão e as mulheres (1927)
  • O anjo (1934)
  • Calunga (1935)
  • A mulher obscura (1939)
  • Guerra dentro do beco (1950)

Em seu poema “Distribuição da poesia”, do seu livro Poesia completa, as marcas da tradição católica estão presentes. Portanto, o eu lírico oferece seus versos a Deus e trata a poesia como algo divino. Segundo ele, é possível tirar poesia de tudo. Assim, reafirma sua crença em Deus. E, no meio da escuridão (metáfora para o mundo contemporâneo), o eu lírico oferece poesia a seus irmãos, pois tem um sentimento fraterno pela humanidade:

Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo
para oferecer ao Senhor.
Não tirei ouro da terra
nem sangue de meus irmãos.
[...]

A vida está malograda,
creio nas mágicas de Deus.
Os galos não cantam,
a manhã não raiou.
Vi os navios irem e voltarem.
Vi os infelizes irem e voltarem.
Vi homens obesos dentro do fogo.
Vi ziguezagues na escuridão.
[...]

Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Só tenho poesia para vos dar.
Abancai-vos, meus irmãos.

Já no poema “Exu comeu tarubá”, do livro Poemas negros, sua obra mais famosa, o autor empreende a valorização da cultura afro-brasileira. Dessa forma, o eu lírico mostra uma mulher negra, sonolenta, meio que a sonhar com “bruxas desenterradas”. Então, exu, um orixá mensageiro, “comeu tarubá”, uma aguardente indígena feita de mandioca, e meteu a figa (possivelmente, um amuleto) na “mixira de peixe-boi” (conserva de peixe-boi).

Outros personagens vêm “parar na madorna”, provocada pelo ar “duro, gordo, oleoso” do Brasil: sóror Adelaide (que era branca, mas ficou queimada de sol), D. Diogo de Holanda e Isabel Lopo de Sampaio. Dessa maneira, o eu lírico mostra a diversidade étnica do país. Por fim, ele reverencia a magia que combate o que não é loucura ou poesia:

O ar estava duro, gordo, oleoso:

a negra dentro da madorna;

e dentro da madorna — bruxas desenterradas.

No chão uma urupema com os cabelos da moça.

Foi então que Exu comeu tarubá

e meteu a figa na mixira de peixe-boi.

Aí na distância sem-fim, moças foram roubadas,

e sóror Adelaide veio viajando de rede,

era alva ficou negra, era santa ficou lesa:

caiu na madorna, o ar duro, gordo, oleoso.

Exu começou a babar a mixira de peixe-boi,

[...].

Aí na distância sem-fim, viajando de rede

D. Diogo de Holanda veio parar na madorna, o ar duro, gordo, oleoso.

Exu começou a lamber a mixira de peixe-boi:

Isabel Lopo de Sampaio desvirginou o moleque,

[...].

Eis aí três cirurgiões cosendo retrós,

a bela adormecida no século vindouro

que esquecerá por certo a magia

contra tudo que não for loucura

ou poesia.

A poesia cria e recria mundos mágicos.
A poesia cria e recria mundos mágicos.

Veja também: Cinco poemas de Cora Coralina

Frases

A seguir, vamos ler algumas frases de Jorge de Lima, extraídas de entrevista concedida a Homero Senna (1919-2004), em 1945:

“Soneteei que não foi brincadeira.”

“Surdo aos ataques que me fizeram, continuei a trilhar a mesma estrada.”

“Minha infância me fez místico.”

“Os primeiros anos de vida marcam a pessoa.”

“O homem maduro volta, afinal, a reencontrar o menino que foi.”

“Desde que se dê à poesia a incumbência de puxar a sardinha para que lado for, ela deixa de ser poesia.”

“O poeta foi sempre o anunciador das grandes reformas universais.”

“Desconfie dos que saem à rua anunciando que vão fazer poesia nova, poesia burguesa, protestante, católica, social ou monarquista, porque não há poesia com tais rótulos.”

“Não acredite nos especialistas em poesia.”

“Penso que a poesia pode existir em potencial dentro de qualquer pessoa, em estado quase de pureza química.”

Veja também: Vida e obra de Clarice Lispector

Resumo

  • Biografia

- Nascimento: 23 de abril de 1893.

- Local de nascimento: União dos Palmares, Alagoas.

- 1914: formatura em medicina.

- 1915: professor e diretor da Escola Normal e do Liceu Alagoano.

- 1919: deputado estadual por Alagoas.

- 1930: professor de literatura brasileira da Universidade do Brasil e da Universidade do Distrito Federal.

- 1935: vereador do Rio de Janeiro; conversão ao catolicismo.

- 1939: primeira pintura — Quadro com mulher ou Mulher sonhando.

- 1940: Grande Prêmio de Poesia, da Academia Brasileira de Letras.

- 1952: presidente da Sociedade Carioca de Escritores.

- Falecimento: 15 de novembro de 1953.

- Local de falecimento: Rio de Janeiro.

  • Características literárias:

   - reflexão sobre o mundo contemporâneo;

   - conflito existencial e espiritual;

   - temática sociopolítica;

   - liberdade formal;

   - resgaste da poesia tradicional;

   - traços surrealistas;

   - símbolos do catolicismo.

  • Obras literárias

→ Poesia:

  • XIV alexandrinos (1914)
  • Poemas (1927)
  • Essa negra fulô (1928)
  • Novos poemas (1929)
  • A túnica inconsútil (1938)
  • Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
  • Poemas negros (1947)
  • Livro de sonetos (1949)
  • Vinte sonetos (1949)
  • Invenção de Orfeu (1952)
  • Castro Alves. Vidinha (1952)

→ Romances:

  • Salomão e as mulheres (1927)
  • O anjo (1934)
  • Calunga (1935)
  • A mulher obscura (1939)
  • Guerra dentro do beco (1950)

Créditos das imagens

|1| Domínio público / Acervo Arquivo Nacional

|2| Editora Alfaguara — Companhia das Letras / Reprodução 

Publicado por Warley Souza

Artigos Relacionados

Carlos Drummond de Andrade
Entenda a importância de Carlos Drummond de Andrade para a literatura brasileira. Leia sua biografia, suas características literárias, principais obras e poemas.
Casimiro de Abreu
Conheça o poeta Casimiro de Abreu: sua vida, sua obra, e características que marcam sua literatura. Leia alguns de seus principais poemas.
Castro Alves
Saiba quem foi Castro Alves e entenda o contexto histórico em que esse poeta viveu. Conheça também a sua obra-prima, “O navio negreiro”, além de outros poemas.
Cruz e Sousa
Conheça quem é Cruz e Sousa, grande nome da poesia simbolista brasileira. Veja quais são as características de suas obras e leia poesias do autor.
Ferreira Gullar
Clique aqui e conheça Ferreira Gullar, um importante nome da poesia engajada do Brasil. Leia uma breve biografia do autor assim como um de seus poemas.
Gonçalves Dias
Saiba quem foi Gonçalves Dias e de quais livros ele é autor. Entenda as características de suas obras e como elas influenciaram o romantismo brasileiro.
João Cabral de Melo Neto
Conheça o escritor João Cabral de Melo Neto. Saiba quais são as principais características de suas obras. Além disso, veja algumas frases do autor.
Manuel Bandeira
Conheça mais sobre a temática desse importante autor!
Mario Quintana
Saiba quem foi Mario Quintana, o mais bem-humorado poeta gaúcho. Leia sua biografia, entenda suas características literárias e conheça suas obras, poemas e frases.
Olavo Bilac
Conheça Olavo Bilac, conhecido como o Príncipe dos Poetas. Saiba qual é o seu estilo literário. Leia algumas poesias e frases do autor.
Patativa do Assaré
Clique aqui e saiba quem foi o famoso poeta brasileiro Patativa do Assaré. Veja as principais características de suas obras.
Paulo Leminski
Clique aqui, conheça o poeta e crítico literário Paulo Leminski e saiba quais são as principais características de suas obras.
Semana de Arte Moderna de 1922
Descubra como foi a Semana de Arte Moderna de 1922. Conheça as principais obras e artistas que participaram desse evento e conheça a sua importância.
Sousândrade
Saiba quem foi o escritor brasileiro Sousândrade. Descubra quais são as principais características de suas obras. Conheça um pouco da poesia desse autor romântico.
video icon
Escrito"Matemática do Zero | Moda e Mediana" em fundo azul.
Matemática do Zero
Matemática do Zero | Moda e Mediana
Nessa aula veremos como calcular a moda e a mediana de uma amostra. Mosrarei que a moda é o elemento que possui maior frequência e que uma amostra pode ter mais de uma moda ou não ter moda. Posteriormente, veremos que para calcular a mediana devemos montar o hall (organizar em ordem a amostra) e verificar a quantidade de termos dessa amostra.

Outras matérias

Biologia
Matemática
Geografia
Física
Vídeos
video icon
Pessoa com as pernas na água
Saúde e bem-estar
Leptospirose
Foco de enchentes pode causar a doença. Assista à videoaula e entenda!
video icon
fone de ouvido, bandeira do reino unido e caderno escrito "ingles"
Gramática
Inglês
Que tal conhecer os três verbos mais usados na língua inglesa?
video icon
três dedos levantados
Matemática
Regra de três
Com essa aula você revisará tudo sobre a regra de três simples.