Doutrina Truman
A Doutrina Truman foi a política externa dos Estados Unidos que teve por objetivo combater o avanço do comunismo. No pensamento de Harry S. Truman, após a derrota do nazifascismo, as nações do mundo se encontravam diante de uma escolha entre dois modelos políticos e econômicos antagônicos: a democracia liberal, representada pelos EUA, e o comunismo, representado pela URSS. Em razão disso, a proposta da Doutrina Truman era oferecer apoio político, estratégico e financeiro a países ameaçados pelo domínio e influência comunista da União Soviética.
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Resumo sobre a Doutrina Truman
- A Doutrina Truman foi a política externa dos EUA que teve por objetivo o combate ao comunismo, no contexto da Guerra Fria.
- O pedido de ajuda da Grécia e Turquia no início do ano de 1947, ambas sob ameaça de domínio soviético, foi um dos principais aspectos históricos que levaram à Doutrina Truman.
- Os objetivos da Doutrina Truman foram oferecer apoio político e econômico a países que estivessem sob ameaça de serem integrados ao Bloco Soviético e combater o comunismo em escala global.
- As principais características da Doutrina Truman foram: ser uma política externa anticomunista que pretendia apoiar qualquer país sob ameaça de adesão ao comunismo; promover auxílio político e econômico a esses países.
- As principais consequências da Doutrina Truman são seus desdobramentos concretos nos campos econômico e militar: o Plano Marshall e a Otan.
- O Plano Marshall objetivava fortalecer as economias para que os governos e a sociedade não fossem conquistados pelo comunismo soviético e era uma forma de aplicar as ideias da Doutrina Truman.
O que foi a Doutrina Truman?
A Doutrina Truman foi o conjunto de medidas de política externa dos Estados Unidos que teve por objetivo o suporte a democracias contra ameaças autoritárias, o que no contexto da Guerra Fria (1947-1981) significava o combate ao crescimento do comunismo.
Em 12 de março de 1947, o então presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, do Partido Democrata, em um discurso proferido ao Congresso Nacional, apresentou a nova postura de seu governo em relação à política externa: apoio político, estratégico e financeiro a países ameaçados pelo domínio e influência comunista da União Soviética. Em suas palavras:
(...) no momento atual da história mundial, quase todas as nações devem escolher entre dois modos de vida alternativos. A escolha muitas vezes não é livre. Um modo de vida é baseado na vontade da maioria e se distingue por instituições livres, governo representativo, eleições livres, garantias de liberdade individual, liberdade de expressão e religião e liberdade da opressão política. O segundo modo de vida é baseado na vontade de uma minoria imposta à força sobre a maioria. Baseia-se no terror e na opressão, numa imprensa e rádio controlados, em eleições fixas e na supressão das liberdades pessoais. Acredito que deve ser política dos Estados Unidos apoiar os povos livres que resistem às tentativas de subjugação por minorias armadas ou por pressões externas1.
A proposta da Doutrina Truman era combater o avanço do comunismo, pois, no pensamento de Truman, após a derrota do nazifascismo, as nações do mundo se encontravam diante de uma escolha, nem sempre livre, entre dois modelos políticos e econômicos antagônicos: a democracia liberal, representada pelos EUA, com respeito às liberdades individuais, liberdades coletivas, governo representativo e economia livre; e o comunismo, representado pela URSS, que centralizava a estrutura de Estado e governo no Partido Comunista e suprimia todas essas liberdades em prol de seu projeto ideológico.
Contexto histórico da Doutrina Truman
O contexto histórico imediato da Doutrina Truman foi o pedido de ajuda da Grécia e Turquia no início do ano de 1947. As duas nações saíram da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em situações políticas, econômicas e sociais delicadas: inicialmente, a ocupação alemã resultou na disseminação da pobreza e no enfraquecimento da infraestrutura econômica dos países. Após o fim da guerra, a União Soviética iniciou uma política de adesão das nações libertadas do domínio nazista ao seu território e ao modelo comunista, o que resultou em pedidos de ajuda dos governos gregos e turcos à Inglaterra e, posteriormente, aos EUA.
Outro aspecto importante nesse contexto foi a preocupação dos EUA com o avanço do comunismo no mundo e com as consequências desse avanço. Assim, o cenário reconhecido pelo governo dos Estados Unidos foi: de um lado, países que se libertaram há pouco do domínio autoritário estrangeiro da Alemanha Nazista enfrentavam a possibilidade de outro domínio autoritário estrangeiro por parte da União Soviética; de outro lado, a aglutinação desses territórios à União Soviética a tornaria uma grande potência detentora de territórios-chave na Europa, como o mar Mediterrâneo, o que, somado à expansão soviética na Ásia, Oriente Médio e África e à clara postura anticapitalista da ideologia do bloco, oferecia uma ameaça direta ao modelo democrático-liberal e capitalista defendido pelos EUA.
Objetivos da Doutrina Truman
Os principais objetivos da Doutrina Truman foram os seguintes:
- oferecer apoio político e econômico a países que estivessem sob ameaça de serem integrados ao Bloco Soviético;
- combater o comunismo em escala global, defendendo o que, nas palavras de Truman, era o modelo da democracia liberal, com liberdades individuais, coletivas, de imprensa, de voto e de mercado.
Características da Doutrina Truman
A Doutrina Truman caracterizou-se por ser uma política externa anticomunista que pretendia apoiar qualquer país sob ameaça de adesão ao comunismo e promover auxílio político e econômico a esses países. Diversos historiadores americanos analisaram as características e efeitos da Doutrina Truman sob um olhar crítico, como Eric Foner. Na obra Give me Liberty! An American History (em tradução livre: “Dê-me liberdade! Uma História Americana”), Foner analisa que a Doutrina Truman abriu precedentes para a assistência anticomunista em escala global, inclusive a regimes antidemocráticos, e para a criação de forças militares antissoviéticas. Exemplos desse apoio a regimes antidemocráticos incluem os períodos ditatoriais do Brasil e diversos países da américa latina e o fascismo em Portugal e Espanha.
Consequências da Doutrina Truman
As principais consequências da Doutrina Truman são seus desdobramentos concretos nos campos econômico e militar, como a criação do Plano Marshall, criado com o objetivo de promover a assistência econômica dos países auxiliados pelos EUA, e a criação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar antissoviética que serviu como braço armado da luta contra o comunismo.
Além disso, outra importante consequência da Doutrina Truman foi o apoio dos EUA, tanto político quanto econômico, a governos antidemocráticos na América e Europa, como é o caso da Ditadura no Brasil e do fascismo em Portugal e Espanha.
Doutrina Truman e o Plano Marshall
O Plano Marshall foi o Programa de Recuperação Europeia desenvolvido pelo secretário do governo dos EUA George Marshall. Sua intenção era aplicar na prática os ideais da Doutrina Truman através da ajuda econômica estadunidense às demais economias europeias. Com isso, o plano objetivava fortalecer as economias para que os governos e a sociedade não fossem conquistados pelo comunismo soviético. Para saber mais sobre o Plano Marshall, clique aqui.
Exercícios resolvidos sobre a Doutrina Monroe
Questão 1
(UERR) Truman presidiu os Estados Unidos da América (EUA) entre os anos de 1945 e 1953. Durante seu governo criou-se a Doutrina de Segurança Nacional, uma estratégia geopolítica para assegurar o modelo capitalista e coibir o avanço do comunismo no mundo. Assinale a alternativa que corresponde à política externa dos EUA que visava impedir o avanço comunista.
A) Plano Marshall
B) Primeira Conferência Pan-Americana
C) Tratado de Bryan-Chamorro
D) Doutrina Truman
E) Conferência de Haia
Resolução:
Alternativa D.
A Doutrina Truman corresponde à política externa dos EUA que visava impedir o avanço comunista.
Questão 2
(Fundatec) Para Harry Truman, presidente dos Estados Unidos, o mundo estava dividido em dois sistemas políticos. Observe como o presidente estadunidense se posicionou diante do Congresso dos Estados Unidos, em um discurso proferido em 12 de março de 1947:
“No presente momento da história mundial, é provável que cada nação tenha de escolher entre modos alternativos de vida. E tal escolha tem sido bem frequente. Um modo de vida é baseado na vontade da maioria e é caracterizado por instituições livres, governo representativo, eleições livres, garantias de liberdade para os indivíduos, liberdade de expressão e de religião e liberdade para evitar a opressão política. O segundo sistema de vida se baseia na vontade de uma minoria que se opõe à maioria pela força. Ela implica em terror e opressão, controle da imprensa e do rádio, eleições fabricadas e supressão de liberdade pessoal.”
(MARQUES, Ademar; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo. História do tempo presente. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2007. P. 19. (Col. Textos e Documentos, 7).
O discurso qualifica dois modos de vida, que são uma referência, respectivamente, ao:
A) nazismo e fascismo.
B) nazismo e stalinismo.
C) capitalismo e socialismo.
D) socialismo e capitalismo.
E) salazarismo e cartismo.
Resolução:
Alternativa C.
O texto se refere, respectivamente, ao capitalismo e ao socialismo, descritos pelo presidente Truman em seu discurso ao Congresso em 1947.
Notas
1EUA. Address given by President Truman to the US Congress, 12 March 1947. Disponível em: https://www.trumanlibrary.gov/library/research-files/address-president-congress-recommending-assistance-greece-and-turkey?documentid=NA&pagenumber=3.
Crédito de imagem
[1] Discombobulates / Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
EUA. Address given by President Truman to the US Congress, 12 March 1947. Disponível em: https://www.trumanlibrary.gov/library/research-files/address-president-congress-recommending-assistance-greece-and-turkey?documentid=NA&pagenumber=3.
FONER, Eric. Give me liberty! An american history. vol. 2. New York: W.W. Norton & Company, 2020.
MARQUES, Ademar; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo. História do tempo presente. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2007.