Uso da Vírgula

Para a compreensão acerca do uso da vírgula, inicialmente, deve-se saber que ela auxilia na construção de textos mais claros, eliminando, inclusive, a ambiguidade. Nesse sentido, pode separar termos contidos em uma mesma oração, como o vocativo, o aposto, os adjuntos de circunstância, as expressões explicativas e as enumerações, ou ainda indicar a ausência de alguma palavra, como em casos de elipse.

Além disso, esse sinal de pontuação pode ser usado entre orações, a fim de separá-las, como nas orações coordenadas assindéticas e nas subordinadas adjetivas explicativas.

Veja também: Travessão – sinal gráfico que, em casos específicos, pode substituir a vírgula

Vírgula nas intercalações

Para entender esse tópico, faz-se necessário saber quais são os termos essenciais e os integrantes contidos numa oração. Os primeiros são o sujeito, o predicado e o predicativo, enquanto os segundos são os complementos verbais (objetos diretos e indiretos), os complementos nominais e o agente da passiva.

Feita essa recapitulação, pode-se afirmar que não é recomendável colocar vírgula entre os termos essenciais e os integrantes, principalmente se esses estiverem em ordem direta, ou seja, seguirem a estrutura sintática padrão da língua portuguesa, que se pauta, entre outros arranjos, na sequência SVO (sujeito + verbo + objeto).

Eu

dedico

este livro

a minha mãe.

(Sujeito)

(Verbo)

(Objeto direto)

(Objeto indireto)

 

Entretanto, há que se observar se entre esses termos foi inserida uma intercalação, pois, nesse caso, a presença da vírgula será obrigatória para isolar a expressão.

Exemplo:

Eu dedico este livro, baseado na minha infância, a minha mãe.

A intercalação é a parte destacada e está isolada por vírgulas.

Além da intercalação, há outra alternativa de emprego da vírgula entre os termos essenciais e os integrantes: as frases iniciadas com o pronome “quem”, ou a forma “os que”, ou a forma “aqueles que”, quando dois verbos estão próximos ou mesmo juntos.

Exemplo:

  • Quem ama, educa.

  • Os que aqui residem, são íntegros.

  • Aqueles que comem, ficam satisfeitos.

Vale ressaltar que, apesar de existir essa possibilidade de se empregar a vírgula entre os termos essenciais e os integrantes, ela não é unânime entre os gramáticos, de modo que, caso não haja um problema de clareza, ou mesmo estilístico, a vírgula é facultativa. Veja abaixo:

  • Os que persistem alcançam seus objetivos.

  • Quem não chora não mama.

Além desses casos, seguem abaixo aspectos relacionados ao tópico:

→ Vírgula em elementos explicativos

A vírgula é utilizada para separar elementos ou locuções explicativas ou corretivas, como “a propósito”, “além disso”, “digo”,” isto é”, “ou seja” etc.

Exemplo:

  • O Flamengo é o campeão do Brasileirão de 2019, ou seja, venceu vários jogos para se consagrar como o melhor time do ano.

→ Vírgula em normas legais

Em razão da mudança da ordem direta, há a necessidade de se separar os integrantes dos dispositivos de lei.

Exemplo:

  • O Código Civil, art. 1º, prevê que todas as pessoas são capazes de direitos e deveres na esfera civil.

→ Vírgula em “no mínimo” e “pelo menos”

Caso o advérbio de intensidade seja materializado na locução “no mínimo”, não há necessidade do uso de vírgulas para isolá-la. Tal configuração se repete no que diz respeito à expressão “pelo menos”. Entretanto, se o produtor do texto quiser enfatizar qualquer uma das locuções ou marcar que elas estão muitos distantes do verbo, ele poderá empregar tanto uma (em início ou fim de oração) quanto duas vírgulas (no meio de orações).

Exemplo:

  • Esperávamos no mínimo respeito.
O uso da vírgula gera muitas dúvidas aos usuários da língua portuguesa.

Adjuntos de circunstância

A princípio, os adjuntos de circunstância ou adjuntos adverbiais (lugar, modo, meio, tempo, entre outros) não são separados por vírgula quando estão situados no final da oração, tendo em vista que essa é a sua posição padrão, e quando se encontram junto do verbo.

Exemplos:

  • Eu costumo ler artigos sobre Língua Portuguesa aos sábados.

  • Ela não me contou ainda sobre o término do relacionamento dela.

Além desses casos, o uso das vírgulas é dispensável quando os advérbios ou locuções adverbiais de pequeno porte, ou seja, as compostas por poucas palavras – em média três –, estão no início das orações, a não ser que haja um interesse do redator em dar ênfase a esses termos.

Exemplos:

  • Felizmente as chuvas cessaram em Belo Horizonte.

  • Com certeza a estrada estará congestionada.

  • Em 1988 foi editada a Constituição Federal do Brasil.

Na hipótese de os adjuntos de circunstância longos estarem deslocados de sua posição original, isto é, localizados ou no início da frase, ou no meio dessa, é recomendado o uso da vírgula. Observe os exemplos abaixo:

  • A mãe, durante a fase estressante do pós-parto, pode desenvolver depressão.

  • Na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, aconteceram protestos contra a gestão do reitor.

Observação 1: Não se deve usar uma vírgula depois do adjunto que está situado entre duas orações e que já vem precedido por uma vírgula, pois o leitor não saberá com qual oração ele se conecta.

Exemplo:

  • Antes de sair do ônibus, sorrateiramente o ladrão furtou o celular da moça.

Percebe-se que, caso estivesse isolado entre vírgulas, o termo “sorrateiramente” poderia se referir à saída do ônibus ou ao furto.

Observação 2: Em orações com verbo de ligação (ser, estar, permanecer etc.), a expressão que aparenta ser um adjunto adverbial pode ser, na verdade, predicativo locativo (termo que atribui ao sujeito ou ao objeto uma característica fundada na ideia de posição), então esse não deve ser separado por vírgula.

Exemplo:

  • No terceiro grupo estão as consequências negativas sobre o organismo animal.

Observação 3: No início da oração, se um adjunto adverbial de tempo ou lugar estiver seguido por outro, deve-se separá-los, podendo, inclusive, colocar uma segunda vírgula, conforme se verifica abaixo.

Exemplo:

  • Na quinta-feira, em visita a Belo Horizonte, Bolsonaro sobrevoa a cidade atingida pelas chuvas.

Primeira vírgula: obrigatória;
Segunda vírgula: facultativa.

Acesse também: Incorências gramaticais

Vírgula na omissão de termos

Primeiramente, ao tratar acerca da omissão de termos, é imperativo que se faça uma revisão de duas figuras de linguagem, a zeugma e a elipse. A primeira ocorre quando há uma supressão de um verbo mencionado anteriormente, enquanto na segunda há uma omissão de uma palavra que será identificada por meio do contexto ou da desinência verbal.

Feita essa retomada, serão apresentados dois casos e como a vírgula impacta em cada um.

→ Duas orações separadas pela conjunção “e”

Nesse caso, a omissão de um termo pode ser resolvida por meio da utilização da vírgula no local do verbo, da palavra ou da expressão subentendida.

Exemplo:

  • Coube ao representante de classe contar que, na avaliação de Língua Portuguesa, alguns alunos se mantiveram concentrados e outros, dispersos.

Além disso, ela também pode ser solucionada pela colocação de uma vírgula antes da partícula “e”, desencadeando, assim, a separação das duas orações.

Exemplo:

  • Coube ao representante de classe contar que, na avaliação de Língua Portuguesa, alguns alunos se mantiveram concentrados, e outros dispersos.

→ Duas orações sem a conjunção “e”

Nessa situação, a utilização de vírgula para evidenciar o termo omitido só se justificaria na hipótese de as duas orações serem separadas por ponto e vírgula, pois haveria a necessidade de maior clareza referencial.

Exemplo:

  • A internet possibilita contatos com pessoas de todo o mundo; encontrar ao vivo, verdadeiras conexões.

Perceba que a vírgula omite o verbo “possibilita”, que, assim como está presente na primeira oração, deveria estar marcado na segunda, dada a semelhança das estruturas sintáticas e semânticas das duas.

Vírgula nas enumerações

A vírgula é recomendável para dividir uma enumeração, entretanto, há possibilidade de substituí-la pelas conjunções “e”, “nem”, “ou” e “como” e pelas locuções “bem como” e “assim como”.

Exemplos:

  • Ele comprou pães, bolos e rosquinhas para o lanche.

  • O Super-Homem bem como o Batman são heróis.

Observação: Percebe-se, a partir do exemplo acima, que a conjunção dispensa o uso da vírgula, mas ela se torna imprescindível antes do “e” ou do “ou” quando se coloca uma intercalação entre os dois termos que eles coordenam.

Exemplos:

  • Adoraria visitar a minha avó paterna, caso não seja um incômodo, ou a minha avó materna.

  • Adquiri uma casa na praia, embora não goste do litoral, e um chalé numa cidade montanhosa.

Veja que o uso da vírgula não é requerido pelas conjunções, pois, na verdade, advém da necessidade de marcar a quebra da associação lógica entre os termos. Nesse sentido, sem a intercalação, não haveria pontuação, conforme se constata a seguir:

  • Adoraria visitar a minha avó paterna ou a minha avó materna.

  • Adquiri uma casa na praia e um chalé numa cidade montanhosa.

Observação 2: Diante da existência de um sujeito composto, as locuções “bem como” e “assim como” podem vir entre vírgulas se o objetivo é enfocar um dos sujeitos e privilegiar a concordância verbal com o núcleo do sujeito mais importante.

Exemplo:

  • O presidente da República, assim como os ministros do Estado, administra o país.

Observação 3: No caso de números, é facultativo o uso da vírgula para separar o milhar da centena.

Exemplo:

  • Dois mil trezentos e trinta e três ou dois mil, trezentos e trinta e três.

Veja também: Demais ou de mais: quando usar cada caso?

Vírgula no vocativo

A função do vocativo é chamar alguém, seja uma personagem interpelando a outra, seja o narrador mantendo contato com o leitor. Em virtude desse elemento ser estranho ao sistema oracional, ele sempre será separado por vírgula.

Exemplo:

  • Matheus, arrume o seu quarto!
    Vocativo

Vírgula entre as orações coordenadas

As coordenadas assindéticas, ou seja, as orações que se relacionam sem conjunção, são separadas por vírgula.

Exemplo:

  • “[...] A caatinga ressuscitaria, a semente do gado voltaria ao curral, ele, Fabiano, seria o vaqueiro daquela fazenda morta. [...] Encheu a cuia, ergueu-se, afastou-se, lento […]” (Graciliano Ramos)

As conjunções que iniciam as orações coordenadas sindéticas adversativas, conclusivas e explicativas são precedidas de vírgula. Além disso, as duas primeiras podem ser seguidas de vírgulas, a fim de dar ênfase a elas.

Exemplos:

  • O Holocausto nos mostrou a necessidade de uma educação voltada para a autonomia, mas os modelos de ensino ainda se pautam no autoritarismo.

  • Acabou o prazo para as inscrições no concurso público e, portanto, não será possível a sua participação no certame.

  • "Sucedeu, porém, que como eu vinha cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes" (Machado de Assis).

É recomendável que as correlações conjuntivasora...ora”, “quer...quer”, “ou...ou” sejam separadas por vírgula ao se passar para a outra oração.

Exemplo:

  • Ora sai com Marcelo, ora com Fernando.

No que toca às correlações conjuntivas “tanto...quanto”, “não só...mas também”, é preferível não utilizar vírgulas para separá-las, entretanto essa pontuação é bastante vista nas produções textuais.

Exemplo:

  • O recrudescimento da aids no Brasil é resultado do aumento de casos tanto entre os jovens quanto entre as pessoas da terceira idade.

Vírgula nas orações subordinadas

Costuma-se empregar a vírgula quando a oração subordinada precede a principal, ou seja, quando a ordem sintática está indireta.

Exemplos:

  • Por atacar PPPs, empreiteiros criticam Tasso.

  • Quando houve o ataque às torres gêmeas no EUA, muitas pessoas ainda estavam trabalhando nos prédios.

As orações subordinadas adjetivas restritivas não recebem vírgula, tendo em vista que a função delas é, conforme o nome prediz, restringir o antecedente.

Exemplo:

  • - Olha o ovo que a galinha botou. (Ruth Rocha)

As orações subordinadas adjetivas explicativas recebem vírgulas, a fim de distingui-las da restritivas, uma vez que a função daquela é apresentar uma informação sobre o antecedente.

Exemplo:

  • As cobras, que são répteis, são responsáveis pela morte de cerca de 200 pessoas por dia.

É indicado o uso de vírgulas entre as orações subordinadas adverbiais temporais e a oração principal.

Exemplo:

  • Quando o tempo está nublado, as pessoas tendem a ficar em suas casas.

Veja também: Funções sintáticas dos pronomes relativos

Resumo

  • Termos e orações que rompem com a união dos termos essenciais e integrantes devem ser isolados por vírgulas.

  • Adjuntos de circunstância, quando estão na posição inicial ou no meio da oração, podem ser acompanhados por vírgula (uso facultativo), pois a pontuação traz um destaque a eles. Entretanto, se dois adjuntos adverbiais estiverem juntos, no início da oração, deve-se inserir uma vírgula entre eles.

  • A omissão de termos é marcada por meio da colocação da vírgula.

  • É recomendável utilizar vírgulas para separar enumerações.

  • Vocativo deve ser isolado por meio do uso da vírgula.

  • Orações coordenadas assindéticas normalmente são separadas por vírgulas.

  • Nas orações coordenadas assindéticas, o uso da vírgula é necessário.

  • Nas orações coordenadas sindéticas conclusivas, adversativas e explicativas, a vírgula precede a conjunção.

  • Quando a oração subordinada estiver antes da oração principal, o uso da vírgula é obrigatório.

  • As orações subordinadas adjetivas explicativas são separadas por vírgula.

Exercícios resolvidos

Questão 1 - (Fuvest) Em qual destas frases a vírgula foi empregada para marcar a omissão do verbo?

  1. Ter um apartamento no térreo é ter as vantagens de uma casa, além de poder desfrutar de um jardim.

  2. Compre sem susto: a loja é virtual; os direitos, reais.

  3. Para quem não conhece o mercado financeiro, procuramos usar uma linguagem livre do economês.

  4. A sensação é de estar perdido: você não vai encontrar ninguém no Jalapão, mas vai ver a natureza intocada.

  5. Esta é a informação mais importante para a preservação da água: sabendo usar, não vai faltar.

Resolução

Alternativa “b”, pois a vírgula marca a omissão da forma conjugada verbal “são”.

Questão 2 - (IFCE/2016) Há uso inadequado da vírgula em:

  1. Eu gosto muito de chocolate, mas não posso comer para não engordar.

  2. São somente estas, a não ser que existam outras, as cartas que deverão ser entregues.

  3. E agora, minha mulher, aceito ou não a oferta?

  4. A bicicleta está sem freio, e o pneu, está furado.

  5. Ele trabalha, e estuda, e faz serviços extras, e ainda encontra tempo para se divertir.

Resolução

Alternativa “d”, pois não se pode, salvo exceções, separar elementos essenciais contidos numa oração.

Questão 3 – (UFV/2001) Assinale a alternativa em que a presença/ausência da(s) vírgula(s) acarreta alteração semântica:

a) A sociedade seria talvez mais feliz se fosse menos egoísta. / A sociedade seria, talvez, mais feliz se fosse menos egoísta.

b) Na Holanda, houve a liberação geral do uso do tóxico! / Na Holanda houve a liberação geral do uso do tóxico!

c) O Governo tem, na Colômbia, um problema imenso com o narcotráfico. / O Governo tem na Colômbia um problema imenso com o narcotráfico.

d) O traficante, que é viciado, precisa de polícia e de família. / O traficante que é viciado precisa de polícia e de família.

e) Que a sociedade seja mais altruísta, e os jovens mais felizes! / Que a sociedade seja mais altruísta e os jovens mais felizes!

Resolução

Alternativa “d”, pois o uso da vírgula traz uma explicação acerca do traficante (oração subordinada adjetiva explicativa), de modo que considera os traficantes como viciados e, consequentemente, necessitados da presença da família e da polícia. Caso essa pontuação seja retirada, haverá uma restrição (oração subordinada adjetiva restritiva), ou seja, apenas os traficantes viciados precisam da polícia e da família, os demais não.

Publicado por Diogo Berquó
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