Exploração do pau-brasil

A exploração do pau-brasil foi a primeira atividade realizada pelos portugueses no Brasil durante o século XVI e aconteceu por meio da exploração da mão de obra dos indígenas.
A cor vermelha extraída do pau-brasil fazia dele um item valioso para os portugueses.

O pau-brasil é uma árvore nativa do Brasil e sua exploração foi a primeira atividade econômica realizada pelos portugueses, quando chegaram aqui, no século XVI. A exploração dessa árvore foi tão intensa que a árvore quase foi extinta. O trabalho de derrubada da árvore era realizado pelos indígenas com base no escambo.

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Contexto histórico

A exploração do pau-brasil foi iniciada poucos anos depois da chegada dos portugueses na América. Eles chegaram no Brasil, no dia 22 de abril de 1500, quando a expedição de treze navios (um havia se perdido) liderada por Pedro Álvares Cabral avistou o Monte Pascoal, na região onde atualmente se encontra Porto Seguro (Bahia). Isso marcou o início da presença portuguesa na América.

Apesar da relevante descoberta (na ótica dos portugueses), a América Portuguesa não teve grande importância, em um primeiro momento, para os portugueses. Isso porque no começo do século XVI, a prioridade econômica para os portugueses era o comércio de especiarias da Índia, atividade extremamente lucrativa.

Isso fez com que a América Portuguesa fosse colocada em um segundo plano, e as iniciativas de exploração foram poucas. A implantação de um processo colonizatório no Brasil ocorreu somente a partir da década de 1530, quando foram implantadas as capitanias hereditárias e a produção de açúcar.

Essas primeiras décadas dos portugueses no Brasil ficaram conhecidas como Período Pré-Colonial, e a presença tímida dos portugueses aliada à falta de conhecimento do território fez com que a principal atividade do país, nesse período, fosse a exploração do pau-brasil.

Pau-brasil

O pau-brasil (Paubrasilia echinata) é uma árvore nativa do Brasil, típica da Mata Atlântica e era chamada pelos tupis de ibirapitanga. A árvore pode alcançar até 15 metros de altura e é conhecida por ter galhos com espinhos. No século XVI, a árvore ganhou importância, porque sua madeira era usada na construção de objetos. Mas a real importância do pau-brasil derivava da resina vermelha encontrada na madeira e que era utilizada na produção de um corante que tingia tecidos.

Na época, os europeus conheciam uma árvore parecida com o pau-brasil, que era denominada como Biancaea sappan. Essa árvore também tinha uma resina na madeira que era utilizada para tingir tecidos, e registros apontam que essa árvore era conhecida por nomes como “brezil” e “brazily”, e seu corante já era utilizado na Europa medieval, desde os séculos XII e XIII.

Quando os portugueses chegaram aqui, em 1500, logo identificaram que a árvore poderia suprir a demanda por esse corante na Europa e com isso foi iniciada a exploração. A primeira pessoa que recebeu o direito de exploração do pau-brasil na América foi um cristão-novo (judeu convertido ao cristianismo) chamado Fernão de Loronha, em 1501.

Em 1501, Fernão de Loronha recebeu o direito de explorar a ilha de São João (atual Fernando de Noronha) como sua capitania. Em seguida, recebeu o direito de explorar o pau-brasil existente na sua capitania, desde que não importasse mais a variedade asiática do pau-brasil. Na sua capitania, Fernão de Loronha deveria repassar uma parcela de seu lucro pelas atividades que realizassem, mas em relação ao pau-brasil, o lucro obtido era integralmente da Coroa portuguesa.

Em 1511, aconteceu a primeira exportação de pau-brasil para Portugal, com o embarque de 5 mil toras da árvore em um navio chamado Bretoa. Nesse mesmo ano, o arrendamento que havia sido dado a Fernão de Loronha foi transferido para Jorge Lopes Bixorda e, dois anos depois, em 1513, o arrendamento passou a ser livre e todos os interessados poderiam explorar o pau-brasil, desde que fossem pagos os impostos da Coroa (20%).

Por que o pau-brasil chama-se pau-brasil?

Discutiu-se muito a origem do nome “pau-brasil” entre os historiadores. Hoje, sabe-se que o termo “brasil” era uma referência ao tom avermelhado da resina, que era encontrada na madeira da árvore. Como mencionamos nesse texto, na Europa, já circulava uma série de variações do termo e todos eles tinham origem no termo “brasilia”, retirado do idioma latino e que significava “cor de brasa” ou “vermelho”, segundo as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling|1|.

Com o tempo e a popularização da atividade realizada no Brasil, o nome utilizado para se referir à árvore foi usado para mencionar a terra da qual ela era extraída, e o ponto de partida para isso foi em 1512, quando a madeira chegou à Europa. Nos primeiros anos da presença portuguesa na América, os nomes utilizados para se referir ao Brasil variaram bastante, por exemplo:

  • Ilha de Vera Cruz

  • Terra de Santa Cruz

  • Terra dos Papagaios

  • Brasil

A variação dos nomes desagradou a muitos na época e existem relatos que comprovam isso. Um deles foi escrito por um cronista português chamado Pero Magalhães de Gandavo, que em 1576 publicou um livro chamado “História da Província de Santa Cruz”, no qual, em determinado momento, critica a adesão do nome Brasil por questões religiosas. Ele preferia que o nome fosse Terra de Santa Cruz, porque evocava a lembrança da cruz em que Cristo foi crucificado|2|.

Já os nativos (no caso, os índios tupis) não chamavam a árvore de “pau-brasil”, mas de “ibirapitanga”, termo que significava “árvore vermelha” e, como percebemos, também mencionava a cor existente na madeira.

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Feitorias portuguesas

A exploração do pau-brasil concentrava seus esforços nas feitorias que foram construídas pelos portugueses no litoral da América Portuguesa. Durante o período pré-colonial, existiam três grandes feitorias no Brasil: Cabo Frio, Porto Seguro e Igarassu (Pernambuco).

Essas feitorias eram, em uma definição simples, locais onde a madeira extraída era armazenada. Essas feitorias, na maior parte do ano, eram ocupadas por pouquíssimas pessoas e, por questões de segurança, eram cercadas por paliçadas de madeira. Essa cerca protegia a feitoria de ataques de indígenas e de estrangeiros, como os franceses.

O funcionamento dessas feitorias foi conhecida, em grande parte, por conta dos registros referentes à embarcação Bretoa. Nessas feitorias, os portugueses contratavam os indígenas para que eles realizassem todo o trabalho de extração e transporte das toras de madeira até a feitoria.

O trabalho dos índios era útil, principalmente, porque eles sabiam localizar as árvores mais rapidamente. A relação dos indígenas com os portugueses era por meio do escambo, isto é, da troca. Os indígenas extraíam a madeira e eram pagos com utensílios como machados, facas, espelhos, canivetes etc.

O historiador Jorge Couto afirma que essa estrutura foi estabelecida, porque, durante a expedição de Gonçalo Coelho, entre 1501 e 1502, os portugueses perceberam que realizar o trabalho de extração da madeira com os navios ancorados no litoral brasileiro tornava o negócio muito mais caro. Assim, a construção de uma feitoria que armazenasse as toras para a chegada da embarcação, a fim de ela ser rapidamente carregada foi o modelo adotado pelo portugueses|3|.

Para o sucesso do empreendimento dos portugueses na extração do pau-brasil, a boa relação com os indígenas era fundamental, porque eram esses que realizavam o trabalho de extração. Em relação aos povos hostis com os portugueses, era fundamental que as feitorias fossem reforçadas e construídas perto de alguma fortificação que lhes protegesse.

Além dos indígenas, os franceses eram uma ameaça aos portugueses, uma vez que, ao longo do século XVI, os franceses realizaram uma série de iniciativas para ocupar e colonizar territórios que, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, pertenciam aos portugueses. A primeira expedição francesa no Brasil foi a de Paulmier de Gonneville, que veio para cá em 1503 para explorar pau-brasil.

A presença francesa levou os portugueses a tomar iniciativas para resguardar seu domínio sobre o território, o que incluía o envio de expedições com o objetivo de monitorar a costa brasileira. Com o tempo, até mesmo embarcações comerciais de Portugal tinham autorização para abrir fogo contra corsários franceses na costa brasileira. Os franceses tentaram estabelecer duas colônias no Brasil, uma no Rio de Janeiro e outra no Maranhão, mas ambos projetos fracassaram por ação dos portugueses.

Consequências da exploração do pau-brasil

Até hoje, o pau-brasil é uma árvore ameaçada de extinção.

A exploração do pau-brasil foi uma atividade que deu início à ocupação portuguesa da América, estabeleceram suas feitorias e criaram relações com os indígenas. A exploração intensa dessa árvore quase a extinguiu, já que milhões de árvores foram derrubadas pelos portugueses já no século XVI. O pau-brasil ainda é uma árvore em risco de extinção, mas o status dessa árvore melhorou progressivamente ao longo do século XX, sobretudo, a partir da segunda metade desse século.

Notas

|1| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 32.

|2| GANDAVO, Pero Magalhães. História da província Santa Cruz. São Paulo: Hedra, 2008, p. 66-67.

|3| COUTO, Jorge. A gênese do Brasil. In.: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta: A experiência brasileira. São Paulo: Editora Senac, 1999, p. 57-58.

Publicado por Daniel Neves Silva
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